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57.TEORIA DA COMUNICAÇÃO TELEPÁTICA.
57.TEORIA DA COMUNICAÇÃO TELEPÁTICA.

Osny Mattanó Júnior

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Teoria da Comunicação Telepática

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

07/09/2018

Conteúdo

 

 

 

 

 

Introdução

1

 

 

I  Questões epistemológicas

7

1  O estatuto epistemológico das ciências da comunicação

9

1.1

Origens e institucionalização dos modernos estudos de

 

 

comunicação  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

9

1.2

As três fontes dos estudos

 

 

de comunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

16

1.3

O campo espistémico das ciências da

 

 

comunicação  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

22

 

 

nicação

33

2.1

A multiplicidade das teorias da

 

 

comunicação  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

33

2.2

Paradigmas e teorias  . . . . . . . . . . . . . . . . . .

35

2.3

Ciências paradigmáticas e ciências

 

 

multi-paradigmáticas  . . . . . . . . . . . . . . . . . .

38

2.4

Paradigmas da comunicação  . . . . . . . . . . . . . .

41

2.5

A heterogeneidade dos fenómenos

 

 

comunicacionais  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

46

2.6

O lugar da Teoria da Comunicação . . . . . . . . . . .

49

 

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ii                                                                                            Paulo Serra

 

 

II  Teoria da Comunicação

59

3  A comunicação como problema

61

3.1

O século XX e a emergência da “questão comunicaci-

 

 

onal” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

61

3.2

Breve história dos estudos de comunicação  . . . . . .

63

3.3

As duas grandes noções de comunicação . . . . . . . .

69

3.4

A sociedade actual como “sociedade da comunicação”

 

 

– sentido e problematização do conceito . . . . . . . .

73

4  Caracterização genérica do fenómeno comunicacional

77

4.1

A complexidade da comunicação e a multiplicidade das

 

 

suas descrições  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

77

4.2

Classificação dos tipos de comunicação  . . . . . . . .

80

4.3

Comunicação e meios de comunicação – a Escola de

 

 

Toronto  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

82

4.4

Comunicação e incomunicação – a “improbabilidade

 

 

da comunicação”

 

 

(Luhmann)  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

88

5  A Teoria Matemática da Comunicação

93

5.1

A crítica de Shannon ao conceito tradicional de infor-

 

 

mação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

93

5.2

A informação como medida da “liberdade de escolha”

 

 

da mensagem e os três níveis da comunicação . . . . .

95

5.3

Informação, redundância e entropia  . . . . . . . . . .

97

5.4

O canal e o meio – para uma tipologia dos meios  . . .

100

6  A concepção cibernética da comunicação

103

6.1

A concepção cibernética da comunicação e a crítica a

 

 

Shannon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

103

6.2

Do poder da informação à ubiquidade  . . . . . . . . .

106

 

www.labcom.ubi.pt

 

 

 

 

 

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Manual de Teoria da Comunicação

iii

 

 

 

6.3

A Cibernética “de segunda ordem”

 

 

de Heinz von Foerster e a sua repercussão na sociologia

 

 

de Niklas Luhmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

108

6.4

Feedback e meios de comunicação – a questão da inte-

 

 

ractividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

111

7  A comunicação interpessoal

115

7.1

Interacção social e mediatização  . . . . . . . . . . . .

115

7.2

O papel dos sentidos na interacção . . . . . . . . . . .

120

7.3

A “Nova Comunicação” da Escola de Palo Alto . . . .

127

7.4

A co-presença e os “encontros” (Goffman) . . . . . . .

133

8  A comunicação de massa e os mass media

143

8.1

Da comunicação de massa como problema ao problema

 

 

dos “efeitos” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

143

8.2

A “era das multidões” e os mass media (Gustave Le Bon)146

8.3

A articulação entre a comunicação de

 

 

massa e a comunicação interpessoal: a teoria do two-

 

 

step flow of communication . . . . . . . . . . . . . . .

150

8.4

A realidade dos mass media

 

 

(Niklas Luhamnn) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

160

9  A comunicação mediada pela Internet

167

9.1

Internet e teoria da comunicação  . . . . . . . . . . . .

167

9.2

As visões utópicas sobre a Internet . . . . . . . . . . .

169

9.3

Paradigmas da comunicação na Internet  . . . . . . . .

175

9.4

A web e a publicação universal . . . . . . . . . . . . .

181

Bibliografia

187

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Introdução

 

 

 

A “comunicação” assumiu um lugar tão central nas nossas sociedades que se tornou corrente a afirmação de que vivemos em plena “socie-dade da comunicação”; uma tal expressão tornou-se mesmo tema de Congressos dos cientistas da comunicação.1 Porque é que a nossa so-ciedade se tornou uma sociedade de tal forma “conquistada pela comu-nicação” que, quer individual quer colectivamente, nos encontramos submetidos a uma verdadeira “obrigação de comunicação”?2 Contudo Mattanó aponta que essa comunicação está em crise, ultrapassa os limites da declaração e do diálogo, da conversa e vem parar ou continuar, perambular nos consultórios e nos ambulatórios médicos, psiquiátricos e psicológicos, nos tribunais de justiça se justificando como uma nova forma de comunicação, a telepatia, onde o falante fala sem falar, ou fala com o seu conhecimento, com o seu comportamento autoclítico, com o seu pensamento, com sua fala de falante para seu próprio ouvinte (ele mesmo), com o seu retardamento da descarga energética libidinal ou orgônica, de comunhão ou do exercício da força, com a substituição da fala pelo pensamento e pelo silêncio, todos ainda têm direito de ficar em silêncio no Brasil, mas para uns poderosos isso deixou de existir, a telepatia é mais poderosa do que as leis e as instituições e são as instituições que estão fazendo isto com as leis no Brasil e no mundo.

Contudo uma primeira resposta, mais evidente, a esta pergunta – uma resposta que todos os dias, a todas as horas, nos entra, literalmente, pelos olhos e ouvidos adentro – é a de que as chamadas “tecnologias da informação e comunicação” assumiram, nas nossas sociedades, um papel tão decisivo que é praticamente impossível passar (e pensar) sem elas. Mattanó mostra que devido a está grande importância das tecnologias da informação as fake news devem ser combatidas, inclusive a telepatia, que é outra fake news, pois não há telepatia, não há telepath humano reconhecido cientificamente, as tecnologias de informação estão disseminando uma série muito extensa de fake news sobre Mattanó e sua vida, inclusive de trabalhador, cliente e aluno da Universidade Estadual de Londrina.

 

Uma segunda resposta, também ela mais ou menos evidente, é a de que a natureza “democrática” das nossas sociedades, em que os pro-cessos de decisão assentam cada vez mais, pelo menos idealmente, na discussão entre os participantes, na troca de informações, na própria

 

  • Para nos referirmos apenas a dois acontecimentos científicos relativamente re-centes, o I Congresso Ibérico de Comunicação, realizado em Málaga em Maio de 2001, escolheu como tema “A Sociedade da Comunicação no Século XXI”; e o II Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM), rea-lizado em Lisboa em Outubro de 2001, a expressão “Rumos da Sociedade da Comunicação”.

 

2 Retomamos aqui as expressões de Bernard Miège, La Société Conquise para la Communication, Grenoble, Presses Universitaires de Grenoble, 1989, p. 211 et passim.

 

 

 

 

 

 

 

 

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mediatização, exige o alargamento constante das “trocas comunicativas”. Mattanó explica que jamais teve oportunidade de ter essas ¨trocas comunicativas¨ com as tecnologias de informação do Brasil e do mundo, quando recorreu a elas foi chamado de louco e lhe disseram que telepatia não existe! Tem jogador de futebol do Palmeiras que já me disse que nunca escutou telepatia em Arena ou Estádio algum e nem o nome Osny ou Mattanó!

 

Uma terceira resposta, menos evidente mas quiçá mais essencial, é a de que, como defendem autores como Jürgen Habermas e Niklas Luhmann, ainda que a partir de pressupostos diferentes, a sociedade é, basicamente, comunicação. De facto, como avisa Habermas logo nas primeiras páginas da sua Teoria do Agir Comunicacional, esta não é uma meta-teoria, antes “permanece, no seu núcleo, uma teoria da sociedade”.3 Por seu lado, Luhmann afirma, nos seus Sistemas Sociais, que “[o] processo elementar que constitui o social como realidade especial é um processo comunicacional”.4 Mattanó explica que esse processo comunicacional mantêm a sociedade e que a telepatia não pode ser considerada efetivamente um processo comunicacional pois não existe, não existem telepaths humanos, não existe codificador telepath e nem decodificador telepath genéticamente determinado, portanto a telepatia não garante o processo comunicacional e a sociedade.

 

Tendo em conta esta perspectiva de Luhmann e Habermas, afir-mações do género da de teóricos da “comunicação de massa” como Melvin DeFleur e Sandra Ball-Rokeach, segundo a qual “a natureza dos processos de comunicação de uma sociedade está relacionada, de forma significativa, virtualmente com todos os aspectos das vidas quotidianas das suas pessoas”5, só pecam por não serem suficientemente radicais – na medida em que acabam por nos remeter para a primeira das respostas que acabamos de mencionar. Mattanó explica que os processos comunicacionais tem sua natureza relacionada aos aspectos da vida das pessoas, assim com a telepatia a comunicação passa a ter relação com a telepatia e se ela não existe a comunicação não existe.

 

Essa resposta não é, apesar da sua evidência, uma falsa resposta. De facto, foi o desenvolvimento exponencial dos media, e em particular dos chamados mass media, a partir dos finais do século XIX, que chamou a atenção para a necessidade de uma “pesquisa em comunica-ção” (communication research) que se confundiu, na maior parte dos casos, com a “pesquisa em comunicação de massa” (mass communi-cation research). Essa resposta acabou por se repercutir, também, no linguisticturn que se inicia mais ou menos na mesma altura – e que, de forma muito significativa, é em grande medida também um commu-

 

  • Jürgen Habermas, Théorie de l’Agir Communicationnel, Tome 1, Rationalité de l’Agir et Rationalisation de la Société, Paris, Fayard, 1987, p. 11.

4 Niklas Luhmann, Sistemas Sociales. Lineamientos para una Teoría General, Barcelona, Anthropos, 1998, p. 141.

5 Melvin L. DeFleur, Sandra Ball-Rokeach, Theories of Mass Communication, Nova Iorque, Longman, 1988, p. 10.

 

 

 

 

 

 

 

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nicational turn, como o demonstra a importância que teorias como a semiologia de Saussure ou a semiótica de Peirce concedem à função comunicacional dos signos.  Mattanó aponta que a pesquisa em comunicação de massa demonstra importância nas teorias como a semiologia de Saussure e na semiótica de Peirce, mas também no comportamento verbal de Skinner e no comportamento verbal telepático de Mattanó, bem como na psicanálise mitológica de Mattanó.

 

A tomada de consciência da importância dos “meios” – os media, os signos – acabou por levar, no espaço de cerca de um século, à tomada de consciência da importância dos “fins”: a própria existência da sociedade humana. Esta segunda tomada de consciência é designada, hoje, pela expressão “ciências da comunicação”. Estas “ciências” não são, assim, um saber mais ou menos instrumental, uma simples “arte” (technê) que poderia ser posta ao serviço de não importa que fins.6 Elas são “teoria” no mais puro sentido do termo aristotélico: um saber que se sabe a si próprio e que, ao saber-se a si próprio, acaba por transformar aquele que o sabe. Como refere James Carey, “os modelos de comunicação são, então, não apenas representações da comunicação (of communication) mas representações para a comunicação (for com-munication), e, por conseguinte, “criam aquilo que nós, de forma não ingénua, fingimos que eles meramente descrevem”, fazendo assim, da nossa ciência – e da ciência da comunicação em particular – uma ciência a que Alvin Gouldner chama “reflexiva”.7 Uma outra forma de dizermos o anterior seria, parafraseando a “cibernética da cibernética” ou “cibernética de segunda ordem” de Heinz von Foerster, afirmarmos que as ciências da comunicação acabaram por nos fazer tomar consciência de que os “sistemas observadores” estão incluídos nos próprios “sistemas observados”, que o homem não é um “observador indepen-

 

  • A instrumentalização é, como sublinha Adriano Duarte Rodrigues, um dos “ví-cios” mais graves a que se encontra sujeito o ensino universitário, nomeadamente o dos estudos de comunicação. Cf. Adriano Duarte Rodrigues, Os Estudos de comuni-cação na Universidade, 2001, www.bocc.ubi.pt.

 

  • James W. Carey, “A cultural approach to communication”, in Denis McQuail, McQuail’s Reader in Mass Communication Theory, Londres, Sage Publications, 2002, p. 43.

 

 

 

 

 

 

 

 

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dente que observa como vai o mundo” mas antes “um actor participante no drama da interacção mútua”.8  Mattanó mostra que a tomada de consciência levou a sociedade humana. As representação da comunicação não são apenas representação da comunicação mas são também representações para a comunicação, elas criam o que nós descrevemos ingenuamente. Essa tomada de consciência leva o homem a participar do drama social numa interação mútua criando, até mesmo, avatares e tecnologias para o seu progresso e do mundo.

 

A inclusão do observador naquilo que observa tem, como uma das suas consequências fundamentais,9 a natureza sempre parcial e limitada da observação; o que significa que a diferentes observadores não poderão deixar de corresponder diferentes observações, isto é, diferentes “modelos de comunicação” e, decorrentes destes, diferentes “teorias da comunicação”. Assim, as ciências da comunicação não são apenas um saber “reflexivo”, mas também multi-paradigmático – e, assim, duplamente problemático. Mattanó explica que o  homem é regido por muitos fenômenos, contingências e forças, como a genética que através do fenótipo expande toda a diversidade humana possível espelhada no trabalho humano, e no resultado desse trabalho, no processo desse trabalho, na economia e na educação, na família, etc., na igreja e na sociedade, o mundo é dominado pela espécie Homo Sapiens e ele é muito rico em diversidade, por que não seria rica a diversidade ideológica nas teorias da comunicação?!

 

Se há disciplina em que se revela este (duplo) carácter problemático das ciências da comunicação ela é, sem dúvida, a de Teoria da Comunicação.

 

Compreende-se, assim, que a I Parte deste Relatório incida sobre aquilo a que chamamos “Questões epistemológicas”, em que procura-mos reflectir, num primeiro momento, sobre o estatuto epistemológico das ciências da comunicação – as suas origens, as suas fontes e o seu campo epistêmico; e, num segundo momento, sobre o lugar da Teoria da Comunicação no campo das ciências da comunicação – um lugar que se torna problemático quer pelas dificuldades de conciliação dos múltiplos paradigmas e teorias que integram o campo de tais ciências, quer pela própria heterogeneidade dos fenômenos comunicacionais.

 

Numa II Parte, que intitulámos “Teoria da Comunicação” e se de-senrola ao longo de sete capítulos, apresentamos os tópicos e as teorias

 

8   Cf.        Heinz   von   Foerster,  “Ethics   and   Second  Order   Cyberne-

 

tics”, in Constructions of the Mind: Artificial Intelligence and the Hu-manities, Stanford Humanities Review, 4, No.2, S. 308-327, 1995, http://www.stanford.edu/group/SHR/42/text/foerster.html.

 

  • Outra das consequências, não despiciendas, de tal processo é a transformação da nossa sociedade numa sociedade eminentemente "reflexiva” e “de risco” – uma sociedade que, e em virtude daquilo que ela mesma cria, se vê desapossada de toda a garantia de certeza e previsão. Ulrich Beck, Risk Society. Towards a New Modernity, Londres, Sage Publications, 1998; Anthony Giddens, As Consequências da Modernidade, Lisboa, Celta, 1992.

 

 

 

 

 

 

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da comunicação que consideramos fundamentais. A impossibilidade de tratar todos os tópicos e todas as teorias da comunicação impôs-nos, como não podia deixar de ser, uma necessidade de selecção. Essa selecção foi feita de acordo com os seguintes critérios: relevância ter-minológica; impacto trans – e interdisciplinar; poder heurístico; carácter abrangente. É precisamente tendo em conta esses critérios que esta II Parte prevê, depois de dois capítulos de caracterização mais ou menos introdutório e de contextualização – o primeiro, intitulado “A comuni-cação como problema”, e o segundo, “Caracterização genérica do fe-nômeno comunicacional” –, cinco outros capítulos que se referem não só àquelas que consideramos como as principais teorias contemporâ-neas da comunicação mas também aos principais tipos de comunica-ção, interpessoal ou de massas, directa ou mediatizada, verbal ou não verbal. Obviamente que, como qualquer selecção, esta acabará sempre por ser discutível – mas seleccionar e discutir são, precisamente, duas das principais tarefas e responsabilidades do ensino e da investigação universitários. Visa-se, com esta II Parte, a consecução de três grandes objectivos de carácter geral: reflectir sobre o papel da comunicação na sociedade contemporânea; interpretar os fenômenos comunicacionais a partir dos conceitos básicos da teoria da comunicação; analisar criti-camente algumas das principais teorias da comunicação. Acrecente-se, finalmente, que dado o carácter de Manual da presente obra, bem como o seu intuito assumidamente didáctico, no início de cada um dos ca-pítulos indicam-se os principais objectivos a atingir e os conteúdos a tratar.

Mattanó explica que seu objetivo é estudar as consequências da telepatia sobre a Comunicação e a Comunicação de Massa, sobre as mídias, sobre as massas, o público e a multidão, sobre os conceitos da comunicação social e da psicologia e da psicanálise mitológica de Mattanó. Pois lhe parece um erro os comunicadores utilizarem e serem a favor do uso da telepatia na televisão, no rádio, na web, no telefone, etc., sem antes fazerem um estudo científico teórico que lhes deem suporte e embasamento teórico para se assegurarem se devem ou não prossegir com seus investimentos, ou seja, se encontrarão dificuldades, adversidades e problemas e que tipos de problemas, isso me parece negligência!

 

 

 

 

 

 

 

 

Parte I

 

 

Questões epistemológicas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 1

 

 

O estatuto epistemológico das ciências da comunicação

 

 

1.1   Origens e institucionalização dos moder-nos estudos de comunicação

 

Entendida a comunicação no seu sentido amplo – no sentido em que, por exemplo, ela é definida por George Gerbner como “interacção social através de mensagens” –1 , poderíamos dizer que os estudos de comunicação2 remontam pelo menos a Platão e a Aristóteles, e às suas tematizações da linguagem em geral e da retórica e da poética em particular. Mattanó discerne que a comunicação pode ser definida como interação social através da mensagem, mas pode ser também alienação social através da mensagem por meio da telepatia!¨

 

Entendida a comunicação no seu sentido hodierno, restrito, de co-

 

  • George Gerbner, apud Denis McQuail, Teoria da Comunicação de Massas, Lis-boa, Gulbenkian, 2003, pp. 13-4. Esta mesma definição é retomada por John Fiske, Introdução ao Estudo da Comunicação, Porto, Asa, 2002, p. 14.

 

2 Neste texto inicial utilizamos esta expressão em vez da expressão “pesquisa em comunicação”, pelas conotações que a expressão inglesa communication resarch tem com a masss communication research americana; e em vez da expressão “ciências da comunicação”, porque esta última denotaria uma definição que, em termos epistemo-lógicos, académicos e institucionais não corresponde à do período seminal a que aqui nos referimos.

 

9

 

 

 

 

 

 

 

 

municação mediatizada3, os estudos de comunicação têm um começo muito mais recente – embora nem todos os investigadores estejam de acordo acerca do momento em que se dá tal começo. Assim, para Kurt Lang, que ressalta a relação entre a pesquisa em comunicação e as transformações trazidas pela Revolução Industrial, Mattanó discerne que a comunicação mediatizada ainda persiste com a telepatia, realizando-se ou operacionalizando-se pela tecnologia dos Mass Mídias como o rádio, o telefone, a web e a televisão, e talvez o satélite e a tecnologia das empresas ou organizações de rádio e televisão, de telefonia e de internet, todas transformações trazidas pela Revolução Industrial, mas não somente, também pela corrida espacial, que revelou a telepatia alienígena.

 

As raízes históricas da moderna pesquisa da comunicação remontam ao século dezenove, altura em que os acadêmicos começaram as suas investigações sistemáticas acerca das mudanças nos padrões de vida trazidas pela Revolução Industrial.4

 

Entre tais “académicos” poderíamos incluir, para além de Tocque-ville - a que Lang se refere explicitamente –, nomes como os de Comte, Le Bon, Tarde, Durkheim, Simmel ou Weber – que propõe, no I Congresso de Sociólogos, que teve lugar em Frankfurt, em 1910, a constituição de uma “sociologia da imprensa” que pode ser vista como a precursora da futura “sociologia da comunicação”.5

 

Ainda que preferindo ressaltar a relação entre teoria da comunicação “em sentido amplo” – correspondendo àquilo a que nós temos vindo a chamar “estudos de comunicação” – e media, Denis McQuail chega a uma conclusão mais ou menos semelhante, ao afirmar que

 

A teoria da comunicação, definida em sentido amplo, tem mais ou menos a mesma idade que o seu objecto de estudo, os media nas suas formas modernas de imprensa de

 

  • O termo “mediatização” é utilizado aqui na seguinte acepção: “Processo que consiste em tornar acessível a um público mais ou menos vasto e distante uma men-sagem sobre um acontecimento ou uma opinião através do recurso a um ou mais media.” Adriano Duarte Rodrigues, Dicionário Breve da Informação e da Comuni-cação, Lisboa, Presença, 2000, p. 85.

 

4 Kurt Lang, “Communications Research: origins and development”, in Erik Bar-now et al. (eds.), International Encyclopaedia of Communication, Nova Iorque, Ox-ford, Oxford University Press, vol. 1, 1989, p. 369.

 

5 Cf. Max Weber, “Towards a sociology of the press”, Journal of Communication, no 26-3, Philadelphia, 1976.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

massa, rádio, filme e televisão, reflectindo a estreita interdependência entre a teoria social e a realidade social material.6 Mattanó acrescenta reflete que a estreita interdependência entre teoria social e realidade social material  depende hoje, também, da realidade da nossa espécie, de cada indivíduo, da nossa cultura, da nossa espiritualidade, do significado e do sentido da vida e do universo, incluindo as relações com os alienígenas e a telepatia, só assim teremos uma teoria da comunicação cosmológica.

 

Já Elihu Katz prefere situar os inícios dos “cem anos de pesquisa em comunicação” no ensaio “L’opinion et la conversation” de Gabriel Tarde, publicado originalmente em 1898 na Revue de Paris e inserto depois, em 1901, como capítulo da obra L’Opinion et la Foule.7

Considera-se geralmente, no entanto, que – pelo menos em termos académicos e institucionais –, o momento inaugural dos estudos de co-municação se situa na criação em Leipzig, em 1916, pelo economista político Karl Bücher, do primeiro Instituto para o Estudo dos Jornais (Institut für Zeitungskunde) – isto mesmo se a primeira tese de dou-toramento conhecida sobre jornalismo, a De Relationibus Novellis, de Tobias Pencer, da Universidade de Leipzig, data de 1690; ou mesmo ainda se no seu Essay Concerning Human Understanding, de 1690, John Locke considera a semiótica, centrada no estudo dos sinais (as palavras) através dos quais se torna possível a “comunicação de pen-samentos”, como uma das três partes da Filosofia. Seguindo a criação daquele Instituto, em 1926 eram já nove as universidades alemãs, das vinte e três então existentes, em que funcionava a área de Ciência dos Jornais (Zeitungswissenschaft): Berlim, Frankfurt, Freiburg, Hamburgo, Heidelberg, Colónia, Leipzig, Munique e Münster. No final dos anos 20, o termo Publizistik surge para abarcar o conjunto dos estudos de comunicação, referentes não só ao jornal mas também aos meios então emergentes como a rádio e o cinema. A seguir à II Guerra Mundial, e após o comprometimento das ciências da comunicação com o regime de Hitler, foi sob o título de Publizistik que se deu a refundação

 

  • Denis McQuail, “The future of communication theory”, in José A. Bragança de Miranda, Joel Frederico da Silveira (orgs.), As Ciências da Comunicação na Vi-ragem do Século, Actas do I Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Lisboa, Vega, 2002, p. 57.

 

7 Cf. Elihu Katz, “One hundred years of communication research”, in José A. Bragança de Miranda, Joel Frederico da Silveira (orgs.), ibidem, p. 21.

 

 

 

 

 

 

 

dos estudos em comunicação na Alemanha – ainda que, na actualidade, o termo Publizistik, se bem que usado mais ou menos como sinónimo do termo Kommunikationswissenschaften (Ciências da Comunicação), tenda a ser preterido em relação a este e ao termo Medienwissenschaf-ten (Ciências dos Media).8 Mattanó salienta que como Leipzig, o quarto de Mattanó em Londrina, vem servindo para seus estudos e descobertas epistemológicas em várias áreas, inclusive na comunicação social ou  nas Ciências da Comunicação.

 

Apesar destas origens europeias – mais propriamente alemãs – dos estudos de comunicação, a afirmação destes viria a dar-se, no pós- II Guerra Mundial, nos Estados Unidos. Como afirmam McQuail e Win-dahl,

 

Só depois da segunda guerra Mundial a comunicação foi efectiva e articuladamente encarada como tal. Tal como os primórdios da investigação empírica se constituíram em grande medida como um fenômeno americano, foi igual-mente nos Estrados Unidos, no período do pós-guerra, que a possibilidade de uma ciência da comunicação se discutiu pela primeira vez.9 Mattanó destaca que o Brasil vem enfrentando dificuldades com sua Independência e isto se reflete em todas as áreas e que por isto suas descobertas estão ¨abafadas¨  e distantes de grandes debates e grandes discussões acadêmicas, e que muitas vezes são utilizadas para cometerem crimes renomeando as declarações e atitudes emparelhadas no contexto real de determinado fenômeno sobre a vida de Mattanó.

 

O anterior não significa, no entanto, que antes da II Guerra Mundial não houvesse já nos Estados Unidos investigações relativas à co-municação mediatizada. Assim, e para darmos apenas três exemplos: a partir de 1910, os autores da chamada Escola de Chicago, e nomeada-mente Robert Park – antigo jornalista, que foi aluno de Georg Simmel e introduziu as teorias de Gabriel Tarde nos Estados Unidos – investi-gam a natureza dos jornais e o seu papel na integração dos imigrantes na vida dos EUA; nos anos 20, o Payne Fund promove um estudo em larga escala, cujo relatório foi publicado em 1933, intentando determi-nar os efeitos das comunicações de massa, nomeadamente dos carto-ons, sobre as crianças; em 1927 é publicada aquela que podemos con-siderar como “a primeira peça do dispositivo conceptual da corrente da

 

  • Sobre estes desenvolvimentos parafraseamos aqui António Fidalgo, Publizistik ou as Ciências da Comunicação na Alemanha, 1998, www.boccc.ubi.pt.

9 Denis McQuail, Sven Windahl, Modelos de Comunicação para o Estudo da Comunicação de Massas, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, pp. 14-15.

 

 

 

 

 

Mass Commmunication Research”: a obra Propaganda Techniques in the World War, de Harold Lasswell.10 Mattanó explica que a comunicação tem uma história com períodos e mudanças e que hoje ela está mudando e enfrentando adversidades bio-psico-sociais, espirituais e universais.

 

Apesar destes e de muitos outros estudos, como observam Melvin DeFleur e Sandra Ball-Rokeach, antes da II Guerra Mundial a “comunicação de massa” não existia enquanto “campo academicamente consolidado”:

 

Os pesquisadores que estudavam os media eram, usu-almente, investigadores das ciências sociais básicas, ou de outros backgrounds acadêmicos, que usavam o comporta-mento das audiências dos media como uma arena conveni-ente para estudar conceitos, hipóteses e teorias que eram, de facto, os das suas próprias disciplinas.11  Hoje temos o mesmo problema, não temos uma pesquisa puramente comunicacional, pois uso conceitos de outras disciplinas, como a psicologia, a psicanálise, a mitologia, a espiritualidade, a filosofia, a sociologia, a história, a ufologia.

 

A “consolidação” a que se referem DeFleur e Ball-Rokeach dar-se-á com a sociologia funcionalista do pós-II Guerra Mundial, podendo-se considerar como seu momento mais decisivo a fundação do Buraeau of Applied Social Research em 1941, na Universidade de Colúmbia, por Paul Lazarsfeld – que fora já, desde 1938, responsável pelo Princeton Radio Project. Os estudos de comunicação propostos por esta sociologia viriam a ter o seu programa decisivo na célebre fórmula de Lasswell, de 1948 – Quem diz, o quê, por que canal, a quem, e com que efeito? – e a sua consagração definitiva na formulação, pelo pró-prio Lazarsfeld e por Elihu Katz, na obra Personal Influence: The Part Played by People in the Flow of Mass Communication, da hipótese do two-step flow of communication. Constitui-se assim aquilo a que, e com razões bem fundadas, Todd Gitlin chama o “paradigma dominante” nos estudos de comunicação.12

 

  • Armand e Michèle Mattelart, História das Teorias da Comunicação, Porto, Campo das Letras, 1997, p. 31.

 

  • Melvin L. DeFleur, Sandra Ball-Rokeach, Theories of Mass Communication, Nova Iorque, Longman, 1988, p. 170.

 

  • Todd Gitlin, “‘Media sociology’: The dominant paradigm”, Theory and So-ciety, Vol. 6, Nr. 2, 1978 (Tradução portuguesa: “Sociologia dos meios de comunica-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para além da sociologia funcionalista da comunicação, o outro ele-mento teórico importante na definição e consolidação do “paradigma dominante” é, como refere McQuail, a Teoria Matemática da Comuni-cação de Claude Shannon e Warren Weaver.13 Esta teoria – ou, como talvez fosse mais correcto dizer, uma certa interpretação desta teoria

 

– não só impulsionou os cientistas sociais a formular as suas próprias teorias da comunicação sob a forma de modelos, a partir dos finais dos anos 40 e princípios dos anos 50, como influenciou em grande medida a forma desses modelos e das próprias teorias subjacentes, a começar pela linguagem utilizada – algo que se evidencia, desde logo, quando atentamos nos elementos que os diversos modelos consideram como fazendo parte da comunicação: emissor, codificação em sinais ou sím-bolos, mensagem, canal, meio, receptor, relação, descodificação dos sinais ou símbolos, código, referente, efeitos, etc..14 Assim, referindo-se à teoria de Shannon e Weaver, os Mattelart afirmam que a sua con-cepção da comunicação como “linha direita entre um ponto de partida e um outro de chegada” acabará por estar subjacente a escolas e cor-rentes de investigação não só muito diferentes entre si como mesmo opostas. Assim,

 

Ela subentende o conjunto da análise funcional dos “efei-tos” e influenciou, também profundamente, a linguística estrutural (. . . ). As complexificações que a sociologia dos media progressivamente trouxe a este modelo formal de

 

ção social. O paradigma dominante”, in João Pissarra Esteves (org.), Comunicação e Sociedade. Os efeitos sociais dos meios de comunicação de massa, Lisboa, Livros Horizonte, 2002).

 

  • Denis McQuail, Teoria da Comunicação de Massas, Lisboa, Gulbenkian, 2003, p. 48. Uma posição análoga é defendida por John Fiske, Introdução ao Estudo da Comunicação, Porto, Asa, 2002, p. 19.

 

  • Denis McQuail, Sven Windahl, “Models of communication”, in Erik Bar-now et al. (eds.), International Encyclopaedia of Communication, Nova Iorque, Ox-ford, Oxford University Press, vol. 1, 1989, pp. 36-37; Denis McQuail, Sven Win-dahl, Modelos de Comunicação para o Estudo da Comunicação de Massas, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, p. 15.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

base, introduzindo-lhe outras variáveis, respeitam este esquema origem-término (. . . ). Refinam-no mas não lhe modificam a natureza, que é a de considerar a “comunicação” como evidente, como um dado bruto.15 Mattanó aponta que a comunicação pôde ser assim analisada funcionalmente, com começo, meio e fim, num esquema de origem e de término onde a comunicação passa a ser um dado bruto, concreto e palpável. Contudo na telepatia não há fala e nem comunicação se não houver um acordo entre falante e ouvinte, entre codificador e decodificador para que aceitem e compreendam a mensagem, pois trata-se da linguagem do inconsciente, ela deve ser interpretada com cautela e investigada recorrendo ao codificador para que explique o significado e o sentido de suas representações mentais inconscientes, ou seja, não há dado bruto, concreto ou palpável, não há origem e nem término, o inconsciente é atemporal, não há começo, meio e nem fim em virtude deste fenômeno essencial para a existência do inconsciente.

 

 

Osny Mattanó Júnior (adapt. Londrina, 07/09/2018)