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154.O HOMEM E OS SEUS SÍMBOLOS (ADAPT. MATTANÓ)
154.O HOMEM E OS SEUS SÍMBOLOS (ADAPT. MATTANÓ)

O Homem e seus Símbolos Carl G. Jung

(Adaptação e Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

eM.-L. von Franz, Joseph L. Henderson, Jolande Jacobi, Aniela Jaffé

 

Tradução de Maria Lúcia Pinho

 

 

 

5ª EDIÇÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EDITORA NOVA FRONTEIRA

 

Editor: Cari G. Jung

 

e, após sua morte, M. - L. von Franz

 

 

 

 

Coordenador Editorial: John Freeman

 

 

 

Editores da Aldus

 

Texto: Douglas Hill

 

Desenho: Michael Kitson

 

Pesquisa: Margery MacLaren

 

Auxiliares: Marian Morris, Gilbert Doei, Michael Lloyd

 

Conselheiros: Donald Berwick, Norman MacKenzie

 

 

Revisão: Nildon Ferreira

 

Produção Gráfica: Celso Nascimento

 

 

 

Título original em inglês:

 

THE MAN AND HIS SYMBOLS

 

© 1964 Aldus Books Limited, Londres exceto o capitulo 2,

intitulado "Os Mitos Antigos e o Homem Moderno", de Dr.

Joseph L. Henderson. Os direitos deste capítulo são

expressamente negados á publicação nos Estados Unidos.

 

© para a língua portuguesa da Editora Nova Fronteira S.A.

Rua Maria Angélica, 168 - Lagoa - CEP.: 22.461 - Tel.: 286-7822

Endereço telegráfico: NEOFRONT

Rio de Janeiro — RJ

 

Impressão e Acabamento:

 

IMPRES - S.P .

 

 

 

Introdução: John Freeman

 

 

 

 

 

 

As origens deste livro, dada sua singularidade, são por si só interessantes, mesmo porque apresentam uma relação íntima entre o seu conteúdo e aquilo a que ele se propõe. Por isto, conto-lhe como veio a ser escrito.

Num dia da primavera de 1959, a BBC (British Broadcasting Corporation) convidou-me a entrevistar o Dr. Carl Gustav Jung para a televisão inglesa. A entrevista deveria ser feita ''em profundidade''. Naquela época, eu pouco sabia a respeito de Jung e de sua obra, e fui então conhecê-lo em sua bonita casa, à beira de um lago, perto de Zurique. Iniciou-se assim uma amizade que teve enorme importância para mim e que, espero, tenha trazido uma certa alegria a Jung nos seus últimos anos de vida. A entrevista para a televisão já não cabe nesta história a não ser para mencionar que alcançou sucesso e que este livro é, por estranha combinação de circunstâncias, resultado daquele sucesso.

 

Uma das pessoas que assistiu à entrevista da TV foi Wolfgang Foges, diretor-gerente da Aldus Books. Desde a infância, quando fora vizinho dos Freuds, em Viena, Foges estivera profundamente interessado na psicologia moderna. E enquanto observava Jung falando sobre sua vida, sua obra e suas idéias, pôs-se a lamentar que, enquanto as linhas gerais do trabalho de Freud eram bem conhecidas dos leitores cultos de todo o mundo ocidental, Jung não conseguira nunca chegar ao público comum e sua leitura sempre fora considerada extremamente difícil.

 

Na verdade, Foges é o criador de O Homem e seus Símbolos. Tendo captado pela TV o afetuoso relacionamento que me ligava a Jung, perguntou-me se não me uniria a ele para, juntos, tentarmos persuadir Jung a colocar algumas das suas idéias básicas em linguagem e dimensão acessíveis ao leitor não especializado no assunto. Entusiasmei-me com o projeto e, mais uma vez, dirigi-me a Zurique decidido a convencer Jung do valor e da importância de tal trabalho. Jung, no seu jardim, ouviu-me quase sem interrupção durante duas horas — e respondeu não. Disse-o de maneira muito gentil, mas com grande firmeza; nunca tentara, no passado, popularizar a sua obra, e não tinha certeza de poder, agora, fazê-lo com sucesso; e, de qualquer modo, estava velho, cansado e sem ânimo para empreender tarefa tão vasta e que tantas dúvidas lhe inspirava.

 

Os amigos de Jung hão de concordar comigo que ele era um homem de decisões positivas. Pesava cada problema com cuidado e sem pressa, mas quando anunciava uma resposta, esta era habitualmente definitiva. Voltei a Londres

 

bastante desapontado e convencido de que a recusa de Jung encerrava a questão. E assim teria acontecido, não fora a interferência de dois fatores que eu não havia previsto.

 

Um deles foi a pertinácia de Foges, que insistiu em mais um encontro com Jung antes de aceitar a derrota; o outro foi um acontecimento que ainda hoje me espanta.

 

O programa da televisão, como disse, alcançou muito sucesso. Trouxe a Jung uma infinidade de cartas de todo tipo de gente, pessoas comuns, sem qualquer experiência médica ou psicológica, que ficaram fascinadas pela presença dominadora, pelo humor e encanto despretensioso, daquele grande homem ; pessoas que perceberam na sua visão da vida e do ser humano alguma coisa que lhes poderia ser útil. E Jung ficou feliz, não só pelo grande número de cartas (sua correspondência era imensa àquela época) mas também por terem sido mandadas por gente com quem normalmente não teria tido contato algum.

 

Foi nesta ocasião que teve um sonho da maior importância para ele. (E, à medida que você for lendo este livro, compreenderá o quanto isto pode ser importante.) Sonhou que, em lugar de sentar-se no seu escritório para falar a ilustrestres médicos e psiquiatras do mundo inteiro que costumavam procurá-lo, estava de pé num local público dirigindo-se a uma multidão de pessoas que o ouviamcom extasiada atenção e que compreendiam o que ele dizia...

 

Quando, uma ou duas semanas mais tarde, Foges renovou o pedido para que Jung se dedicasse a um novo livro destinado não ao ensino clínico ou fi-losófico, mas àquele tipo de gente que vai ao mercado, à feira, enfim, ao ho - mem comum, Jung deixou-se convencer. Impôs duas condições. Primeiro, que o livro não fosse uma obra individual, mas sim coletiva, realizada em co-laboração com um grupo dos seus mais íntimos seguidores através dos quais ten-tava perpetuar seus métodos e ensinamentos; segundo, que me fosse destinada a tarefa de coordenar a obra e solucionar quaisquer problemas que surgissem entre os autores e os editores.

 

Para não parecer que esta introdução ultrapassa os limites da mais razoável modéstia, deixem-me logo confessar que esta segunda condição me gratificou

 

— mas moderadamente. Pois logo tomei conhecimento de que o motivo de Jung me haver escolhido fora, essencialmente, por considerar-me alguém de in-teligência regular, e não excepcional, e também alguém sem o menor co - nhecimento sério de psicologia. Assim, para Jung, eu seria o "leitor de nível

 

 

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médio" deste livro; o que eu pudesse entender haveria de ser inteligível para todos os interessados; aquilo em que eu vacilasse possivelmente pareceria difícil ou obscuro para alguns.

 

Não muito envaidecido com esta estimativa da minha função insisti, no entanto, escrupulosamente (algumas vezes receio até a exasperação dos autores), que cada parágrafo fosse escrito e, se necessário, reescrito com uma tal clareza e objetividade que posso afirmar com certeza que este livro, no seu todo, é real-mente destinado e dedicado ao leitor comum e que os complexos assuntos de que trata foram cuidados com rara e estimulante simplicidade.

 

Depois de muita discussão concordou-se que o tema geral deste livro seria o homem e seus símbolos. E o próprio Jung escolheu como seus colaboradores a Drª Marie Louise von Franz, de Zurique, talvez sua mais íntima confidente e amiga; o Dr. Joseph L. Henderson, de São Francisco, um dos mais eminentes e creditados jungianos dos Estados Unidos; a Srª Aniela Jaffé, de Zurique, que além de ser uma experiente analista, foi secretária particular de Jung e sua bió-grafa; e o Dr. Jolande Jacobi, que é, depois de Jung, o autor de maior número de publicações do círculo jungiano de Zurique. Estas quatro pessoas foram es-colhidas em parte devido ao seu conhecimento e prática nos assuntos específicos que lhes foram destinados e em parte porque Jung confiava totalmente no seu trabalho escrupuloso e altruísta, sob a sua direção, como membros de um gru-po. Coube a Jung a responsabilidade de planejar a estrutura total do livro, su-pervisionar e dirigir o trabalho de seus colaboradores e escrever, ele próprio, o capítulo fundamental: '' Chegando ao Inconsciente".

 

O seu último ano de vida foi praticamente dedicado a este livro; quando faleceu, em junho de 1961, a sua parte estava pronta (terminou-a apenas dez dias antes de adoecer definitivamente) e já aprovara o esboço de todos os ca-pítulos dos seus colegas. Depois de sua morte, a Drª von Franz assumiu a res-ponsabilidade de concluir o livro, de acordo com as expressas instruções de Jung. A substância de O Homem e seus Símbolos e o seu plano geral foram, portanto, traçados — e detalhadamente — por Jung. O capítulo que traz o seu nome é obra sua e (fora alguns extensos comentários que facilitarão a com-preensão do leitor comum) de mais ninguém. Foi, incidentalmente, escrito em inglês. Os capítulos restantes foram redigidos pelos vários autores, sob a direção e supervisão de Jung. A revisão final da obra completa, depois da morte de

 

 

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Jung, foi feita pela Drª von Franz, com tal dose de paciência, compreensão e bom humor que nos deixou, a mim e aos editores, em inestimável débito.

Finalmente, quanto à essência do livro.

O pensamento de Jung coloriu o mundo da psicologia moderna muito mais intensamente do que percebem aqueles que possuem apenas co-nhecimentos superficiais da matéria. Termos como, por exemplo, "ex-trovertido", "introvertido" e "arquétipo" são todos conceitos seus que outros tomam de empréstimo e muitas vezes empregam mal. Mas a sua mais notável contribuição ao conhecimento psicológico é o conceito de inconsciente — não (à maneira de Freud) como uma espécie de "quarto de despejos" dos desejos reprimidos, mas como um mundo que é parte tão vital e real da vida de um in-divídu o quanto o é o mundo conscie nte e "medita dor" do ego. E in-finitivamente mais amplo e mais rico. A linguagem e as "pessoas" do in-consciente são os símbolos, e os meios de comunicação com este mundo são os sonhos.

 

Assim, um estudo do homem e dos seus símbolos é, efetivamente, um es-tudo da relação do homem com o seu inconsciente. E desde que, segundo Jung, o inconsciente é o grande guia, o amigo e conselheiro do consciente, este livro está diretamente relacionado com o estudo do ser humano e de seus problemas espirituais. Conhecemos o inconsciente e com ele nos comunicamos (um serviço bidirecional), sobretudo através dos sonhos; e do começo ao fim deste livro (principalmente no capítulo de autoria de Jung) fica patente quanta im-portância é dada ao papel do sonho na vida do indivíduo.

 

Seria impertinente da minha parte tentar interpretar a obra de Jung para os leitores, muitos deles decerto bem melhor qualificados para compreendê-la do que eu. A minha tarefa, lembremo-nos, foi simplesmente servir como uma espécie de "filtro de inteligibilidade", e nunca como intérprete. No entanto, atrevo-me a expor dois pontos gerais que, como leigo, parecem-me importantes

é que possivelmente poderão ajudar a outros, também não especialistas na ma-téria. O primeiro destes pontos diz respeito aos sonhos. Para os jungianos o so-nho não é uma espécie de criptograma padronizado que pode ser decifrado a-través de um glossário para a tradução de símbolos. É, sim, uma expressão in-tegral, importante e pessoal de inconsciente particular de cada um e tão "real'' quanto qualquer outro fenômeno vinculado ao indivíduo. O inconsciente in-

 

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dividual de quem sonha está em comunicação apenas com o sonhador e se-leciona símbolos para seu propósito, com um sentido que lhe diz respeito e a ninguém mais. Assim, a interpretação dos sonhos, por um analista ou pela própria pessoa que sonha, é para o psicólogo jungiano uma tarefa inteiramente pessoal e particular (e algumas vezes, também, uma tarefa longa e ex-perimental) que não pode, em hipótese alguma, ser executada empiricamente.

 

Isto significa que as comunicações do inconsciente são da maior im-portância para quem sonha — o que é lógico desde que o inconsciente é pelo menos a metade do ser total — e oferece-lhe, quase sempre, conselhos ou orien-tações que não poderiam ser obtidos de qualquer outra fonte. Assim, quando descrevi o sonho de Jung dirigindo-se a uma multidão, não estava relatando um passe de mágica ou sugerindo que Jung fosse algum quiromante amador, e sim como, em simples termos de uma experiência cotidiana, Jung foi "acon-selhado" pelo seu próprio inconsciente a reconsiderar um julgamento ina-dequado feito pela parte consciente de sua mente.

 

Resulta disto tudo que sonhar não é assunto que o jungiano considere simples casualidade. Ao contrário, a capacidade de estabelecer comunicação com o inconsciente faz parte das faculdades do homem e os jungianos "en-sinam-se" a si próprios (não encontro melhor termo) a tornarem-se receptivos aos sonhos. Quando, portanto, o próprio Jung teve que enfrentar a decisão crítica de escrever ou não este livro, foi capaz de buscar recursos no consciente e no in-consciente para tomar uma deliberação. E, através de toda esta obra, você vai encontrar o sonho tratado como um meio de comunicação direto, pessoal e sig-nificativo com aquele que sonha — um meio de comunicação que usa símbolos comuns a toda a humanidade, mas que os emprega sempre de modo in-teiramente individual, exigindo para a sua interpretação uma "chave", tam-bém inteiramente pessoal.

 

O segundo ponto que desejo assinalar é a respeito de uma particularidade de argumentação comum a todos os que escreveram este livro — talvez a todos os jungianos. Aqueles que se limitam a viver inteiramente no mundo da cons-ciência e que rejeitam a comunicação com o inconsciente atam-se a leis formais e conscientes de vida. Com a lógica infalível (mas muitas vezes sem sentido) de uma equação algébrica, deduzem das premissas que adotam conclusões in-contestavelmente inferidas. Jung e seus colegas parecem-me (saibam eles ou não

 

 

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disto) rejeitar as limitações deste método de argumentação. Não é que des-prezem a lógica, mas evidenciam estar sempre argumentando tanto com o in-consciente quanto com o consciente. O seu próprio método dialético é sim-bólico e muitas vezes sinuoso. Convencem não por meio do foco de luz direto do silogismo, mas contornando, repisando, apresentando uma visão repetida do mesmo assunto cada vez de um ângulo ligeiramente diferente — até que, de repente, o leitor, que não se dera conta de uma única prova convincente, des-cobre que, sem perceber, recebeu e aceitou alguma verdade maior.

 

Os argumentos de Jung (e os de seus colegas) sobem em espiral por sobre um assunto como um pássaro que voeja em torno de uma árvore. No início tu-do o que vê, perto do chão, é uma confusão de galhos e folhas. Gradualmente à medida que voa mais alto, os diversos aspectos da árvore repetindo-se formam um todo que se integra no ambiente em torno. Alguns leitores podem achar este método de argumentação "em espiral" um tanto obscuro e até mesmo de-sordenado durante algumas páginas — mas penso que não por muito tempo. É um processo característico de Jung e logo o leitor vai descobrir que está sendo transportado numa viagem persuasiva e profundamente fascinante.

 

Os diferentes capítulos deste livro falam por si mesmos e não pedem maior explicação. O capítulo do próprio Jung apresenta o leitor ao inconsciente, aos arquétipos e símbolos que constituem a sua linguagem e aos sonhos através dos quais ele se comunica.

 

O Dr. Henderson ilustra, no capítulo seguinte, o aparecimento de vários arquétipos da antiga mitologia, das lendas folclóricas e dos rituais primitivos. A Drª von Franz, no capítulo intitulado "O processo da individuação", des - creve o processo pelo qual o consciente e o inconsciente do indivíduo aprendem a conhecer, respeitar e acomodar-se um ao outro. Num certo sentido, este ca-pítulo encerra não apenas o ponto crucial de todo o livro, mas talvez, a essência da filosofia de vida de Jung: o homem só se torna um ser integrado, tranquilo, fértil e feliz quando (e só então) o seu processo de individuação está realizado, quando consciente e inconsciente aprenderem a conviver em paz e completando-se um ao outro. A Srª Jaffé, tal como o Dr. Henderson, preocupa-se em de-monstrar, na estrutura familiar do consciente, o constante interesse do homem

 

— quase uma obsessão — pelos símbolos do inconsciente. Estes símbolos exer-cem no ser humano uma atração íntima profundamente significativa e quase

 

 

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alentadora — tanto nas lendas e nos contos de fadas — que o Dr. Henderson analisa, quanto nas artes visuais que, como mostra a Srª Jaffé, nos recreiam e de-liciam num apelo constante ao inconsciente.

 

Por fim, devo dizer algumas breves palavras acerca do capítulo do Dr. Ja-cobi, de certa forma um capítulo à parte neste livro. É, na verdade, a história re-sumida de um interessante e bem-sucedido caso de análise. É evidente o valor de tal capítulo em um trabalho como este. Mas duas palavras de advertência fa-zem-se necessárias. Em primeiro lugar, como a Drª von Franz ressalta, não existe exatamente uma análise jungiana típica, já que cada sonho é uma co-municação particular e individual, e dois sonhos nunca usam da mesma ma-neira os símbolos do inconsciente. Portanto, toda análise jungiana é um caso único e seria ilusório considerarmos esta, retirada do fichário do Dr. Jacobi (ou qualquer outra), como "representativa" ou "típica''. Tudo o que se pode dizer sobre o caso de Henry e de seus sonhos por vezes sinistros é que são um bom exemplo da aplicação do método jungiano a um determinado caso. Em se-gundo lugar, quero observar que a história completa de uma análise, mesmo de um caso relativamente simples, ocuparia todo um livro para ser relatada. Ine-vitavelmente a história da análise de Henry prejudica-se um pouco com o re-sumo feito. As referências, por exemplo, ao I Ching não estão bastante claras e emprestam-lhe um sabor de ocultismo pouco verdadeiro, por terem sido a-presentadas fora do seu contexto global. Conclui-se, no entanto — e estou certo de que o leitor também há de concordar —, que, apesar destas observações, a clareza, sem falar no interesse humano, da análise de Henry muito enriquece este livro.

 

Comecei contando como Jung veio a escrever O Homem e seus Símbolos. Termino lembrando ao leitor quão extraordinária — talvez única — é a pu-blicação desta obra. Carl Gustav Jung foi um dos maiores médicos de todos os tempos e um dos grandes pensadores deste século. Seu objetivo sempre foi o de ajudar homens e mulheres a melhor se conhecerem para que através deste co-nhecimento e de um refletido autocomportamento pudessem usufruir vidas plenas, ricas e felizes. No fim de sua própria vida, que foi tão plena, rica e feliz como poucas conheci, ele decidiu empregar as forças que lhe restavam para en-dereçar a sua mensagem a um público maior do que aquele que até então al-cançara. Terminou esta tarefa e a sua vida no mesmo mês. Este livro é o seu le-gado ao grande público leitor.

 

 

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A HUMANIDADE DECIFRANDO SEUS SÍMBOLOS

 

 

Introdução

 

 

 

   Mattanó explica que este livro é uma interpretação e adaptação do livro O Homem e Seus Símbolos de Carl G. Jung, por isso ele pode parecer muitas vezes muito assustador, complexo, complicado ou mal-elaborado.

   Mattanó explica que você pode ler a história de Chapéuzinho Vermelho ou a Branca de Neve ou os Três Porquinhos num livro ou ouvi-las de uma criança livremente, o que ela entendeu e se lembra delas, ou num sonho, não importa, mitologicamente a história é a mesma, seu significado é o mesmo. Falamos em diversas línguas mas há somente um codificador, o ser humano.

   Mattanó contribui para o desenvolvimento da Psicologia Jungiana criando a Psicologia Analítica Mitológica e advertindo que o indivíduo que sonha reproduz seu inconsciente e assim pode manter uma comunicação com seu interior, se descobrir, descobrir suas mensagens, suas revelações que podem lhe indicar o caminho a seguir em função de seu inconsciente e de seu processo de individuação, do seu movimento consciente – inconsciente. Este movimento é elaborado por meio de significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias e simbologias. O inconsciente e o consciente obedecem ao contexto, mas não tem símbolos definidos, seus símbolos são individuais, particulares, oriundos de seus significados e sentidos atribuídos pelo indivíduo por meio da aprendizagem e da história de vida que obedece os padrões de sua socialização. A telepatia e a lavagem cerebral contribuem para a alienação do indivíduo e da sociedade, para a despersonalização, pois sua história de vida e seu aprendizado se constroem a partir da telepatia e da lavagem cerebral, fenômenos que causam despersonalização.

 

   Osny Mattanó Júnior

   (27/07/2018)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre a Influência dos Mass Mídia sobre o Mundo Atual

 

 

   A humanidade ainda sofre da tirania dos artistas, que dominam o mercado através dos mass mídia, com seus papéis e personagens, com seus ritos de iniciação e de passagem, com seus modos de agir e de se comportar, de pensar em relação ao sexo e a sexualidade, em relação a moral e a espiritualidade, em relação a Deus e a santidade, quando exibem sem pudor e sem medo argumentos e imagens de desrespeito a Deus e a santidade dos Santos, mas isso é um mal de toda a humanidade, sobretudo daqueles que dominam os mais pobres e carentes, os necessitados e miseráveis, que estão expostos a culturas sexuais, onde os mass mídias investem em figurinos sensuais para robotização e tipificação, padronização da opinião pública, dominação geral de determinada camada social da população, que responde prontamente como um exército fiel e corajoso, pronto até mesmo a matar e a roubar a Deus, a Mãe de Deus e aos Santos, em nome de uma sensualidade política dominante arrogante destrutiva.

 

   Osny Mattanó Júnior

   (31/07/2018)

 

 

 

 

 

O Papel da Máquina na Construção da Mente e do Comportamento e das Mitologias

 

   O papel da máquina na construção da mente e do comportamento e das mitologias se faz através do trabaho imposto neste processo de decifração de textos reorganizados por um programa de computador, programa de computador que altera a ordem, inverte letras e palavras, troca palavras e letras, aglutina palavras e letras, provocando um processo de reconstrução ou de decifração de significados e sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias, relações sociais e símbolos, numa tentativa de reinterpretar a obra do autor para introduzir um novo processo analítico, o da máquina sobre o homem, sobre a mente e a consciência, sobre o inconsciente, sobre os sonhos, sobre os rituais e sobre as mitologias – se o homem falhar ou der uma programação errada em seu computador tudo será errado ou diferente, até que ponto o errado e o diferente estão ininteligíveis se podemos reorganizá-los, foi assim que surgiu a linguagem e a civilização, a humanidade, com a reorganização do ininteligível, nota-se mais uma vez que a máquina não é maior do que o ser humano, do que os seus sonhos, mente e comportamento, do que as suas relações sociais e o seu trabalho. Ela tem apenas um papel de facilitar a construção da mente e do comportamento e das mitologias no mundo contemporâneo.

 

Osny Mattanó Júnior

(29/07/2018)

 

 

 

Sumário

 

 

 

 

 

1

Chegando ao inconsciente

16

 

Carl G. Jung (Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

2

Os mitos antigos e o homem moderno

100

 

Joseph L. Henderson (Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

3

O processo de individuação

154

 

M. - L. von Franz (Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

4

O simbolismo nas artes plásticas

225

 

Aniel a Jaffé (Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

5

Símbolos em uma análise individual

267

 

Jolande Jacobi (Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

 

Conclusão: A ciência e o inconsciente

299

 

M. - L. von Franz (Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

 

Notas

306

 

Fontes iconográficas

310

 

                                                             

 

 

 

 

1    Chegando ao inconsciente

 

 

 

Carl G.Jung

(Releitura de Osny Mattanó Júnior)

 

Chegando ao inconsciente

 

A importância dos sonhos

 

 

 

 

 

O homem utiliza a palavra escrita ou falada para expressar o que deseja transmitir. Sua linguagem é cheia de símbolos, mas ele também, muitas vezes, faz uso de sinais ou imagens não estritamente descritivos. Alguns são simples abreviações ou uma série de iniciais como ONU, UNICEF ou UNESCO; outros são marcas comerciais conhecidas, nomes de remédios patenteados, divisas e insígnias. Apesar de não terem nenhum sentido intrínseco, alcançaram, pelo seu uso generalizado ou por intenção deliberada, significação reconhecida. Não são símbolos: são sinais e servem, apenas, para indicar os objetos a que estão ligados.

 

O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser fa-miliar na vida diária, embora possua conotações es-peciais além do seu significado evidente e conven-cional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós. Muitos monumentos cretenses, por exemplo, trazem o desenho de um duplo enxó. Conhecemos o objeto, mas ignoramos suas implica-ções simbólicas. Tomemos como outro exemplo o

 

 

 

 

 

 

caso de um indiano que, após uma visita à Inglaterra, contou na volta aos seus amigos que os britânicos adoravam animais, isto porque vira inúmeros leões, águias e bois nas velhas igrejas. Não estava informado (tal como muitos cristãos) que estes animais são símbolos dos evangelistas, símbolos provenientes de uma visão de Ezequiel que, por sua vez, tem analogia com Horus, o deus egípcio do Sol e seus quatro filhos. Existem, além disso, objetos tais como a roda e a cruz, conhecidos no mundo inteiro, mas que possuem, sob certas condições, um significado simbólico.

 

O que simbolizam exatamente ainda é motivo de controversas suposições.

Assim, uma palavra ou uma imagem é simbó-lica quando implica alguma coisa além do seu signi-ficado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem têm um aspecto "inconsciente" mais am-plo, que nunca é precisamente definido ou de todo explicado. E nem podemos ter esperanças de defini-la ou explicá-la. Quando a mente explora um sím-bolo, é conduzida a idéias que estão fora do alcance

 

da nossa razão. A imagem de uma roda pode levar nossos pensamentos ao conceito de um sol "divino'' mas, neste ponto, nossa razão vai confessar a sua incompetência : o homem é incapaz de descrever um ser "divino". Quando, com toda a nossa limitação intelectual, chamamos alguma coisa de "divina", estamos dando-lhe apenas um nome, que poderá estar baseado em uma crença, mas nunca em uma evidência concreta.

 

Mattanó adverte que os sentidos do homem limitam a percepção. Os sentidos humanos nunca são percebidos numa totalidade, num sentido de plenitude, mas numa gestalt, numa forma. Não percebemos dois sentidos ao mesmo tempo, selecionamos o que percebemos conforme a sua importância e necessidade para o indivíduo, conforme a organização perceptiva.

 

Mattanó especula que os símbolos podem indicar o significado dos seus sonhos, contudo através da decorrência dos sentidos; os símbolos podem e têm seu significado inconsciente, mas mais ainda, eles possuem um sentido inconsciente, um conceito inconsciente, um contexto inconsciente, uma funcionalidade inconsciente, um comportamento inconsciente, uma topografia inconsciente, uma simbologia inconsciente, capaz de descrever o homem como ser movido por forças inconscientes coletivas e individuais e conscientes. Que os sonhos podem construir um Episódio Onírico Completo com a completa decodificação dos seus processos, ou um Episódio Onírico Incompleto com a incompleta decodificação dos seus processos, processos estes de significação, de dar sentido, conceito, contexto, funcionalidade, comportamento, topografia e simbologia, ou seja, de interpretação dos sonhos.

(Mattanó; 27/07/2018).

 

 

Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente uti-lizamos termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente. Esta é uma das razões por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens. Mas este uso cons-ciente que fazemos de símbolos é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de sonhos.

 

Não é matéria de fácil compreensão, mas é preciso entendê-la se quisermos conhecer mais a res-

 

peito dos métodos de trabalho da mente humana. O homem, como podemos perceber ao refletirmos um instante, nunca percebe plenamente uma coisa ou a entende por completo. Ele pode ver, ouvir, tocar e provar. Mas a que distância pode ver, quão acuradamente consegue ouvir, o quanto lhe signifi-ca aquilo em que toca e o que prova, tudo isto de-pende do número e da capacidade dos seus senti-dos. Os sentidos do homem limitam a percepção que este tem do mundo à sua volta. Utilizando ins-trumentos científicos pode, em parte, compensar a deficiência dos sentidos. Consegue, por exemplo, alongar o alcance da sua visão através do binóculo ou apurar a audição por meio de amplificadores elé-tricos. Mas a mais elaborada aparelhagem nada pode fazer além de trazer ao seu âmbito visual objetos ou muito distantes ou muito pequenos e tornar mais audíveis sons fracos. Não importa que instrumentos ele empregue; em um determinado momento há de chegar a um limite de evidências e de convicções que o conhecimento consciente não pode transpor.

 

Mattanó assim entende que por haver fenômenos que estão fora do alcance do entendimento e da racionalidade humana empregamos termos simbólicos a esses fenômenos, mas também empregamos significados, sentidos, conceitos, contextos, fucnionalidades e comportamentos e até avatares que nos auxiliam a assimilar e a acomodar fenômenos distantes da nossa materialidade, que estão na nossa subjetividade, que pertencem muitas vezes ao mundo dos sonhos, onde somos invadidos por imagens e Episódios Oníricos que ao serem interpretados se transformam em Episódios Oníricos Completos ou Episódios Oníricos Incompletos.

(Mattanó; 28/07/2018).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A esquerda, três dos quatro

 

Evangelistas (baixo -relevo da

 

Cate dral de Chartres) representados

 

sob a form a de anim ais: o leão é

 

Mar cos , o boi , Luc as, a águi a, João.

 

Também com o animais apa rec em

 

três dos filhos do deus egípcio Horus

 

(acima, aproxim adamente ano 1250

 

A.C.). Ani mai s e gru pos de qua tro

 

são símbolos religiosos universais.

 

21

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Representações do sol exprimem, em

 

muitas comunidades, a indefinível experiência religiosa do homem.

 

Acima, decoração da parte posterior de um trono, que pertence ao século

 

XIV A.C. 0 faraó egípcio Tutancâmon

 

está dominado por um disco solar. As mãos, em que terminam os raios,

simbolizam a energia vivificante do

sol. A esquerda, um monge do Japão do século XX ora diante de um espelho

 

que representa, no xintoísmo, o Sol divino.

 

  • direita, átomos de tungstênio, aumentados 2.000.000 de vezes por um microscópio. Na extrema direita as manchas ao centro da gravura são as galáxias mais distantes que podemos ver. Não importa até onde o homem estenda os seus sentidos, sempre haverá um limite à sua percepção consciente.

 

 

Além disso, há aspectos inconscientes na nossa percepção da realidade. O primeiro deles é o fato de que, mesmo quando os nossos sentidos reagem a fe-nômenos reais, a sensações visuais e auditivas, tudo isto, de certo modo, é transposto da esfera da reali-dade para a da mente. Dentro da mente estes fenô-menos tornam-se acontecimentos psíquicos cuja na-tureza extrema nos é desconhecida (pois a psique não pode conhecer sua própria substância). Assim, toda experiência contém um número indefinido de fatores desconhecidos, sem considerar o fato de que toda realidade concreta sempre tem alguns aspectos que ignoramos desde que não conhecemos a nature-za extrema da matéria em si.

 

Mattanó alerta que há na nossa percepção da realidade aspectos conscientes e aspectos inconscientes, que a realidade é composta de fenômenos que são transmitidos ao cérebro e formam a mente através da percepção, da visão, da audição, da gustação, da olfação, etc., e que estes fenômenos se tornam irreconhecíveis a mente humana, pois a percepção não se organiza de tal forma que possa deslumbrar vários fenômenos ao mesmo tempo, tornando a natureza externa do fenômeno praticamente desconhecida, pois reconhecemos objetos apenas por partes que juntamos. Por isso temos uma mente inconsciente que junta todas essas informações e percepções integrando-as e favorecendo uma percepção inconsciente e total, inteligente, da realidade que também podemos observar nos sonhos.

(Mattanó; 28/07/2018).

 

 

Há, ainda, certos acontecimentos de que não tomamos consciência. Permanecem, por assim di-zer, abaixo do limiar da consciência. Aconteceram, mas foram absorvidos subliminarmente, sem nosso conhecimento consciente. Só podemos percebê-los nalgum momento de intuição ou por um processo de intensa reflexão que nos leve à subsequente rea-lização de que devem ter acontecido. E apesar de termos ignorado originalmente a sua importância emocional e vital, mais tarde brotam do inconscien-te como uma espécie de segundo pensamento. Este segundo pensamento pode aparecer, por exemplo, na forma de um sonho. Geralmente, o aspecto in-consciente de um acontecimento nos é revelado a-través de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como uma imagem sim-bólica. Do ponto de vista histórico, foi o estudo dos sonhos que permitiu, inicialmente, aos psicólogos

 

investigarem o aspecto inconsciente de ocorrências psíquicas conscientes.

 

Fundamentados nestas observações é que os psicólogos admitem a existência de uma psique in-consciente apesar de muitos cientistas e filósofos ne-garem-lhe a existência. Argumentam ingenuamente que tal pressuposição implica a existência de dois "sujeitos" ou (em linguagem comum) de duas per-sonalidades dentro do mesmo indivíduo. E estão in-teiramente certos: é exatamente isto o que ela im-plica. É uma das maldições do homem moderno es-ta divisão de personalidades. Não é, de forma algu-ma, um sintoma patológico: é um fato normal, que pode ser observado em qualquer época e em quais-quer lugares. O neurótico cuja mão direita não sabe o que faz a sua mão esquerda não é o caso único. Es-ta situação é um sintoma de inconsciência geral que é, inegavelmente, herança comum de toda a huma-nidade.

 

O homem desenvolveu vagarosa e laboriosa-mente a sua consciência, num processo que levou um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado (arbitrariamente datado de quando se inventou a escrita, mais ou menos no ano 4000 A.C.). E esta evolução está longe da conclusão, pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas. O que chamamos psique não pode, de modo algum, ser identificado com a nossa consciência e o seu conteúdo.

 

Mattanó ensina que o estudo dos sonhos levou o homem ao conhecimento do que antes não tinha consciência e nem conhecimento, construiu a partir daí um saber e uma ciência. O que não percebíamos estava abaixo do limiar da nossa consciência, foram os sonhos e seus estudos que levaram ao estudo do inconsciente através do que não nos é revelado como uma imagem simbólica, levando os psicólogos a um conhecimento da psique humana. Mitologicamente foram os sonhos que provocaram imediato interesse pelos curiosos, estudiosos, xamãs, cientistas, psicanalistas e psicólogos, pois pareciam indicar um caminho ou uma revelação não manifestada, encoberta, mascarada como nos rituais onde os feiticeiros vestem suas máscaras para ingressar e fazer passar seus membros, assim são os sonhos objetos com máscaras que ritualizam cenas e ensinam mensagens que devem ser interpretadas sob forma de significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias e simbologias que nos ensinam fenômenos ligados a libido, a comunhão e a segurança.

(Mattanó; 29/07/2018).

 

 

 

Quem quer que negue a existência do incons-ciente está, de fato, admitindo que hoje em dia te-mos um conhecimento total da psique. É uma su-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • esquerda, as manchas ao centro da gravura são as galáxias mais distantes que podemos ver. Não importa até onde o homem estenda os seus sentidos, sempre haverá um limite á sua percepção consciente.

 

 

 

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posição evidentemente tão falsa quanto a pretensão de que sabemos tudo a respeito do universo físico. Nossa psique faz parte da natureza e o seu enigma é, igualmente, sem limites. Assim, não podemos definir nem a psique nem a natureza. Podemos, simplesmente, constatar o que acreditamos que elas sejam e descrever, da melhor maneira possível, co-mo funcionam. No entanto, fora de observações acumuladas em pesquisas médicas, temos argumen-tos lógicos de bastante peso para rejeitarmos afirma-ções como“não existe inconsciente”' etc. Os que fa-zem este tipo de declaração estão expressando um velho misoneísmo — o medo do que é novo e des-conhecido.

 

          Mitologicamente nos deslumbramos com o significado da psique, o mesmo significado da natureza, um enigma sem limites, até mesmo do universo quando abordamos os seres extraterrestres, o que torna nossa psique ainda mais enigmática e sem limitações, um universo a ser explorado como o próprio universo e os extraterrestres, no sentido de conhecermos como são suas leis e valores, como funcionam e se organizam, se existe ou não um inconsciente cósmico que vai além do inconsciente coletivo dos Homo Sapiens, que une os seres do universo, que estabelece leis e valores, princípios fundamentais sobre a vida e a existência, sobre a mente, o comportamento, as relações sociais e extraterrestres, a afetividade e o pensamento, os significados, os sentidos, os conceitos, os contextos, as funcionalidades, as topografias alienígenas, os comportamentos, as relações sociais e alienígenas e os símbolos individuais, coletivos e cósmicos que constroem esta nova ciência mitológica.

(Mattanó; 30/07/2018).

 

 

 

Há motivos históricos para esta resistência à idéia de que existe uma parte desconhecida na psi-que humana. A consciência é uma aquisição muito recente da natureza e ainda está num estágio "expe-rimental". É frágil, sujeita a ameaças de perigos es-pecíficos e facilmente danificável. Como já observa-ram os antropólogos, um dos acidentes mentais mais comuns entre os povos primitivos é o que eles chamam "a perda da alma'' — que significa, como bem indica o nome, uma ruptura (ou, mais tecnica-mente, uma dissociação) da consciência.

 

Mattanó explica que históricamente existe muita resistência quanto à aceitação da nossa parte desconhecida da mente, do nosso inconsciente, do nosso inconsciente pessoal, coletivo e cósmico, pois como sabemos a consciência é uma parte da formação que faz muito pouco tempo que se acabou e mesmo assim ainda é ameaçada por ideologias, além de perigos que podem danificá-la como a Pulsão Auditiva de Mattanó de 1995, que vão além da ¨perda da alma¨, vão além de uma ruptura da consciência, indicam que a mente humana pode sofrer facilmente despersonalização e lavagem cerebral, tortura psicológica, sexual e moral, violência e curandeirismo, ou seja, a mente se vê ameaçada por curandeiros criminosos que a prejudicam e a lesam, causando loucura no indivíduo e na sociedade, movimentos e protestos violentos e irresponsáveis de cunho imoral e de despersonalização nacional.

(Mattanó; 31/07/2018).              

 

 

 

Entre estes povos, para quem a consciência tem um nível de desenvolvimento diverso do nosso, a

 

"alma" (ou psique) não é compreendida como uma unidade. Muitos deles supõem que o homem tenha uma "alma do mato" (bus h soul ) além da sua própria, alma que se encarna num animal selvagem ou numa árvore com os quais o indivíduo possua alguma identidade psíquica. É a isto que o ilustre etnólogo francês, Lucien Lévy-Bruhl chamou "participação mística". Mais tarde, sob pressão de críticas desfavoráveis, renegou esta expressão, mas julgou que seus adversários é que estavam errados. É um fenômeno psicológico bem conhecido o de um indivíduo identificar-se, inconscientemente, com alguma outra pessoa ou objeto.

 

            Mattanó escreve que a consciência tem vários níveis, tem vários estágios. Começa na vida intra-uterina, continua no nascimento e vai da meninice até a morte se constituindo de várias unidades interligadas, mesmo que distintas, como um mapa cognitivo ou GPS do Comportamento, estes fenômenos levam o homem por meio da ciência e antes mesmo já nas tribos primitivas, a um comportamento de crença em várias ¨almas¨ ou várias fases da vida isoladas na nossa mente, o que nos permite construir a ciência psicológica e psicanalítica. Mitológicamente podemos dizer que o homem possui várias ¨almas¨ como possui várias faces ou vários heróis, monstros, fantasmas, reis, deuses, súditos e escravos, ou seja, várias faces de fases que isoladas na nossa mente se sobrepõem uma a uma mas não se anulam, mas se completam e se processam de forma a se integrarem como que num processo de individuação.

(Mattanó; 31/07/2018).

 

 

Esta identidade entre a gente primitiva toma várias formas. Se a alma do mato é a de um animal, o animal passa a ser considerado uma espécie de irmão do homem. Supõe-se, por exemplo, que um homem que tenha como irmão um crocodilo, possa nadar a salvo num rio infestado por estes animais. Se a alma do mato for uma árvore, presume-se que a árvore tenha uma espécie de autoridade paterna sobre aquele determinado indivíduo . Em ambos os casos, qual quer mal causado à alma do mato é considerado uma ofensa ao homem.

 

Certas tribos acreditam que o homem tem várias almas. Esta crença traduz o sentimento de

 

 

"Dissociação" é um fracionamento da psique que provoca uma neurose.

 

Encontramos um famoso exemplo deste estado na ficção, no romance

Dr. Jekyll e Mr. Hyde (1886), de R.L

 

Stevenson. No livro, a "dissociação" de Jekyll se manifesta através de uma

transformação física e não (como na

 

realidade) sob a forma de umestado interior psíquico. A esquerda, Mr.

 

Hyde (no filme de 1932) - a "outra metade" do Dr. Jekyll.

 

Os povos primitivos chamam á dissociação "perda da alma".

 

Acreditam que o homem tem uma "alma do mato", além da sua própria.

 

A direita, um homem da tribo dos Nyangas, do centro-oeste africano,

usando uma máscara de calau, ave

 

que ele identifica como a sua alma do mato.

 

Na extrema direita, diante de um painel, telefonistas fazem várias ligações simultâneas. Neste tipo de ocupação as pessoas "dissociam" parte da sua mente consciente para poder concentrar-se. Mas é um ato controlado e temporário, e não uma dissolução espontânea e anormal.

 

 

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alguns povos primitivos de que cada um deles é constituído de várias unidades interligadas ape-sar de distintas. Isto significa que a psique do in-divíduo está longe de ser seguramente unificada. Ao contrário, ameaça fragmentar-se muito facil-mente sob o assalto de emoções incontidas.

 

Estes fatos, com os quais nos familiarizamos através dos estudos dos antropólogos, não são tão irrelevantes para a nossa civilização como pare-cem. Também nós podemos sofrer uma dissocia-ção e perder nossa identidade. Podemos ser do-minados e perturbados por nossos humores, ou tornarmo-nos insensatos e incapazes de recordar fatos importantes que nos dizem respeito e a ou-tras pessoas, provocando a pergunta: "Que dia - bo se passa com você?". Pretendemos ser capazes de "nos controlarmos" , mas o controle de si mesmo é virtude das mais raras e extraordinárias. Podemos ter a ilusão de que nos controlamos, mas um amigo facilmente poderá dizer-nos coi-sas a nosso respeito de que não tínhamos a menor consciência.

 

Mattanó aponta que mitologicamente o controle de si mesmo ou o autocontrole suscita uma ameaça de fragmentar-se, um assalto de emoções incontidas, uma dissociação, a perda da nossa identidade, a perturbação por estados de humor, a insensatez, a incapacidade diante da memória que vem a nos faltar no momento mais importante da análise, ou seja, o autocontrole é uma das coisas mais fantásticas e extraordinárias que existem, quem o faz jamais ouvirá de um amigo ou de um inimigo coisas que jamais suspeitava escutar ou que não tinha consciência e assim não terá que chorar, sorrir, ficar ou partir por causa de si mesmo, do seu inconsciente, da sua interioridade e dos seus sonhos que também aprenderá a interpretar em seu processo de individuação.

(Mattanó; 01/08/2018).

 

 

 

 

Não resta dúvida de que, mesmo no que chamamos "um alto nível de civilização", a consciência humana ainda não alcançou um grau razoável de continuidade. Ela ainda é vulnerável e suscetível à fragmentação. Esta capacidade que

 

temos de isolar parte de nossa mente é, na verdade, uma característica valiosa. Permite que nos concentremos em uma coisa de cada vez, ex - cluindo tudo o mais que também solicita a nossa atenção. Mas existe uma diferença radical entre uma decisão consciente, que separa e suprime temporariamente uma parte da nossa psique, e uma situação na qual isto acontece de maneira espontânea, sem o nosso conhecimento ou con-sentimento e mesmo contra as nossas intenções. O primeiro processo é uma conquista do ser civi-lizado, o segundo é aquela "perda da alma" dos primitivos e pode ser causa patológica de uma neurose.

 

Portanto, mesmo nos nossos dias, a unidade da consciência ainda é algo precário e que pode ser facilmente rompido. A faculdade de contro - lar emoções que, de um certo ponto de vista, é muito vantajosa, seria, por outro lado, uma qua-lidade bastante discutível já que despoja o rela-cionamento humano de toda a sua variedade, de todo o colorido e de todo o calor.

 

  • sob esta perspectiva que devemos exami-nar a importância dos sonhos — fantasias incons-cientes, evasivas, precárias, vagas e incertas do nosso inconsciente. Para melhor explicar meu ponto de vista gostaria de contar como ele se foi

 

 

 

 

«

 

desenvolvendo com o passar dos anos e como cheguei à conclusão de que os sonhos são o mais fecundo e acessível campo de exploração para quem deseje investigar a faculdade de simboliza-ção do homem.

 

Sigmund Freud foi o pioneiro, o primeiro cientista a tentar explorar empiricamente o se-gundo plano inconsciente da consciência. Traba-lhou baseado na hipótese de que os sonhos não são produto do acaso, mas que estão associados a pensamentos e problemas conscientes. Esta hi-pótese nada apresentava de arbitrária. Firmava-se na conclusão a que haviam chegado eminentes neurologistas (como Pierre Janet, por exemplo) de que os sintomas neuróticos estão relacionados com alguma experiência consciente. Parece mes-mo que estes sintomas são áreas dissociadas da nossa consciência que, num outro momento e sob condições diferentes, podem tornar-se cons-cientes.

 

Antes do início deste século, Freud e Josef Breuer haviam reconhecido que os sintomas neu-róticos - histeria, certos tipos de dor e compor-tamento anormal - têm, na verdade, uma sig-nificação simbólica. São, como os sonhos, um modo de expressão do nosso inconsciente. E são igualmente simbólicos. Um paciente, por exemplo, que enfrenta uma situação intolerável pode ter espasmos cada vez que tenta engolir : "não pode engolir" a situação. Em condições psicológicas análogas, outro paciente terá acesso de asma: ele "não pode respirar a atmosfera de sua casa". Um terceiro sofre de uma estranha paralisia nas pernas: não pode andar, isto é, "não pode continuar assim". Um quarto paciente, que vomita o que come, "não pode digerir" um determinado fato. Poderia citar inúmeros exemplos deste gênero, mas estas reações físicas são apenas uma das formas pelas quais se manifestam os problemas que nos afligem inconscientemente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 Sigmund Freud (Viena)

5 Max Eitingon (Berlim)

9 Eugen Bleuler (Zurique)

2 Otto Rank (Viena)

6 James J. Putnam (Boston)

10 Emma Jung (Kúsnacht)

3 Ludwig Binswanger (Kreuziling)

7 Ernest Jones (Toronto)

11

Sandor Ferenczi (Budapeste)

4 A. A. Brill

8 Wilhelm Stekel (Viena)

12

C. G. Jung (Kúsnacht)

 

 

26

 

Eles se expressam, com muito mais frequência, nos sonhos.

 

           Mattanó aponta que mitologicamente a consciência humana ainda não chegou a um nível estável ou razoável de continuidade, pois está sujeita a fragmentação e a dissociação, como prova disto temos os sonhos, os mitos e os ritos, as mitologias que retratam o contemporâneo até o primitivo numa dramatização mística, na capacidade de simbolização do ser humano que também não foge a este regra. Para Freud os sonhos indicam algo que não o acaso, associado a pensamentos e problemas conscientes como os sintomas neuróticos que são, justamente áreas dissociadas da nossa mente, mitologicamente ritualizamos nossos problemas para ultrapassarmos seus limites, até mesmo quando sonhamos, o fazemos para significar, dar sentido, conceituar, contextualizar, fazer a funcionalidade, o comportamento, a topografia e as simbologias (da libido, da comunhão e da segurança) e assim efetuarmos o processo de interpretação onírica com a análise final do Episódio Onírico Completo ou do Episódio Onírico Incompleto. Sonhamos mitologicamente para discriminar eventos encobertos a respeito dos mitos e dos ritos de nossa sociedade, de nossas mitologias, da nossa interioridade.

(Mattanó; 04/08/2018).

 

 

 

 

Qualquer psicólogo que tenha ouvido várias descrições de sonhos sabe que os seus símbolos existem numa variedade muito maior que os sin-tomas físicos da neurose. Consistem, inúmeras vezes, de elaboradas e pitorescas fantasias. Mas se o analista que se defronta com este material onírico usar a técnica pessoal de Freud da "livre associação" vai perceber que os sonhos podem, eventualmente, ser reduzidos a certos esquemas básicos. Esta técnica teve uma importante função no desenvolvimento da psicanálise, pois permi-tiu que Freud usasse os sonhos como ponto de partida para a investigação dos problemas in-conscientes do paciente.

 

Freud fez a observação simples, mas profun-da, de que se encorajarmos o sonhador a comen-tar as imagens dos seus sonhos e os pensamentos que elas lhe sugerem ele acabará por "entregar-se", revelando o fundo inconsciente dos seus males, tanto no que diz quanto no que deixa de-liberadamente de dizer. Suas idéias poderão pa-recer irracionais ou despropositadas, mas, depois de um certo tempo, torna-se relativamente fácil descobrir o que ele está querendo evitar, o pensa-mento ou experiência desagradável que está re-primindo. Não importa como vai tentar camuflar tudo isto, o que quer que diga apontará sempre para o cerne das suas dificuldades. Um médico está tão habituado ao lado avesso da vida que ele raramente se distancia da verdade quando inter -

 

preta as insinuações do seu paciente como sinto-mas de uma consciência inquieta. E o que acaba por descobrir vai confirmar , infelizmente, as suas previsões.

Até aqui nada se pode objetar contra a teo-ria de Freud sobre a repressão e a satisfação ima-ginária dos desejos como origens evidentes do simbolismo dos sonhos.

 

Freud atribui aos sonhos uma importância especial como ponto de partida para o processo da livre associação. Mas, depois de algum tempo, comecei a sentir que esta maneira de utilizar a ri-queza de fantasias que o inconsciente produz durante o nosso sono era, a um tempo, inade - quada e ilusória. Minhas dúvidas surgiram quan-do um colega contou-me uma experiência que teve numa longa viagem de trem através da Rús-sia.

 

Apesar de não conhecer a língua e nem mesmo decifrar os caracteres do alfabeto cirílico, ele começou a divagar em torno das estranhas letras dos anúncios das estações por onde pas-sava, e acabou caindo numa espécie de devaneio, pondo-se a imaginar todo tipo de signifícação para aquelas palavras.

 

Uma idéia leva a outra e, neste estado de re-laxamento em que se encontrava, descobriu que esta livre associação despertara nele muitas lem-branças antigas. Entre elas, ficou de- sagradavelmente surpreendido com a descoberta de alguns assuntos bem incômodos e há muito sep ultados na sua memória — coisas que de -

 

 

 

 

  • esq uerda, muitos dos precursores

 

da psi canálise mo derna, fotografados em 1 9 1 1 , no Congresso de

 

Psic anális e de Weimar, Al em an ha . A in dicação nu mérica ide ntifi ca alg umas das per son ali dad es mais conhecidas.

 

À di re it a, o te st e do "b or r ão de ti nt a" , pr oj etad o pelo psiq uiat ra suíço Her ma nn Ro rschach . O fo rm at o da ma nc ha po de se rv ir de estímu lo a livre s ass ociações. Na ver dade, qualq uer form a irregula r e aci dental é capaz de desencadear um processo ass oci ativ o. Leonardo da Vinci

 

esc rev eu no seu Cad ern o de Not as:

 

"Não deve ser difícil a voc ê parar

 

algumas vezes para olha r as manch as

 

de uma par ede , ou as cin zas de uma

 

fog uei ra, ou as nuv ens , a lama e

 

out ras coi sas no gêne ro nas qu ais . . . va i enco nt ra r idêias verdadeiramente maravilhosas."

 

sejara esquecer e que conseguira esquecer cons-cientemente. Na verdade, chegar ao que os psi-cólogos chamariam de seus "complexos" — isto é, temas emocionais reprimidos capazes de pro-vocar distúrbios psicológicos permanentes ou mesmo, em alguns casos, sintomas de neurose.

 

            Mattanó mostra que os símbolos dos sonhos existem numa variedade muito grande e que consistem em fantasias e falsidades, contudo Freud mostrou que os sonhos revelam histórias que o sonhador gostaria de evitar conscientemente, por se tratarem de uma experiência desagradável reprimida no seu inconsciente, revelando suas dificuldades e problemas comportamentais, a estes fenômenos chamamos de ¨complexos¨, temas emocionais reprimidos capazes de provocar distúrbios psicológicos permanentes e em outros casos, sintomas de neurose. Mitologicamente os sonhos revelam as histórias dos nossos ritos, das nossas dificuldades e dos nossos problemas quando conscientizados, mostrando o caminho da cura, da transformação psicológica mística, noite após noite.

(Mattanó; 05/08/2018).

 

   

 

 

Este episódio alertou-me para o fato de que não seria necessário utilizar o sonho como ponto de partida para o processo da livre associação quando se quer descobrir os complexos de um paciente. Mostrou-me que podemos alcançar o centro diretamente de qualquer dos pontos de uma circunferência, a partir do alfabeto cirílico, de meditações sobre uma bola de cristal, de um moinho de orações dos lamaístas, de um quadro moderno ou, até mesmo, de uma conversa oca-sional a respeito de qualquer banalidade. O so-nho não vai ser neste particular mais ou menos útil do que qualquer outro ponto de partida que se tome. No entanto, os sonhos têm uma signific ação própria, mesmo quando provocados por alguma perturbação emocional em que estejam também envolvidos os complexos habituais do indivíduo. (Os complexos habituais do indivíduo são pontos sensíveis da psique que reagem mais rapidamente aos estímulos ou perturbações externas.) É por isto que a livre associação pode levar de um sonho qualquer aos pensamentos secretos mais críticos.

 

Nesta altura ocorreu-me, no entanto, que se até ali eu estivera certo, podia-se razoavelmente deduzir que os sonhos têm uma função própria, mais especial e significativa. Muitas vezes os so-nhos têm uma estrutura bem definida, com um sentido evidente indicando alguma idéia ou in-tenção subjacente — apesar de estas últimas não serem imediatamente inteligíveis . Comecei, pois, a considerar se não deveríamos prestar mais atenção à forma e ao conteúdo do sonho em vez de nos deixarmos conduzir pela livre associação

 

Dois possíveis estímulos da livre associação: o disco de orações de um

mendigo do Tibete (à esquerda) ou a bola de cristal de uma quiromante (à

 

direita, uma moderna quiromante de uma feira inglesa).

 

de uma série de idéias para então chegar aos complexos, que poderiam ser facilmente atin- gidos também por outros meios.

 

            Mattanó mostra que Jung começou a discordar de Freud quanto a livre associação para interpretar os sonhos e passou a prestar seu interesse na forma e no conteúdo do sonho. Mattanó acrescenta à forma e ao conteúdo a Gestalt, os princípios da organização perceptiva (simetria, proximidade, continuidade, semelhança, e figura/fundo, etc.), nota-se que Mattanó destaca a figura/fundo como objeto da organização perceptiva, como seu fim ou finalidade, como seu objetivo e nele se dá a interpretação da forma, da Gestalt,  como forma de melhor interpretar a forma e o conteúdo sugere interpretar através da leitura dos significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias, simbologias e relações sociais, através do Episódio Onírico Completo e do Episódio Onírico Incompleto. Assim temos a forma e o conteúdo dos sonhos interpretados.

(Mattanó; 05/08/2018).

 

 

 

Este novo pensamento foi decisivo para o desenvolvimento da minha psicologia. A partir deste momento desisti, gradualmente , de seguir as associações que se afastassem muito do texto de um sonho. Preferi, antes, concentrar-me nas associações com o próprio sonho, convencido de que o sonho expressaria o que de específico o in-consciente estivesse tentando dizer.

 

Esta mudança de atitude acarretou uma consequente mudança nos meus métodos, uma nova técnica que levava em conta todos os vários e amplos aspectos do sonho. Uma história nar-rada pelo nosso espírito consciente tem início, meio e fim; tal não acontece com o sonho. Suas dimensões de espaço e tempo são diferentes. Para entendê-lo é necessário examiná-lo sob todos os seus aspectos — exatamente como quando to-mamos um objetivo desconhecido nas mãos e o viramos e revirámos até nos familiarizarmos com cada detalhe.

 

Talvez, agora, eu já tenha dito o suficiente para mostrar como , cada vez mais , foi aumentando a minha discordância da livre as-sociação, tal como Freud a utilizara inicialmente. Eu desejava manter-me o mais próximo possível do sonho, excluindo todas as idéias e associações

 

irrelevantes que ele pudesse evocar. É verdade que tais idéias e associações podem levar-nos aos complexos do paciente, mas eu tinha em mente um objetivo bem mais avançado do que a des-coberta de complexos causadores de distúrbios neuróticos. Há muitos outros meios de identifi-cação dos complexos: os psicólogos, por exem-plo , podem obter todas as indicações e re- ferências de que necessitam utilizando os testes de associação de palavras (perguntando ao pa-ciente o que ele associa a um determinado grupo de palavras e estudando , então, as suas res-postas). Mas para conhecer e entender a or - ganização psíquica da personalidade global de uma pessoa é importante avaliar quão relevante é a função de seus sonhos e imagens simbólicas.

 

A maioria das pessoas sabe, por exemplo, que o ato sexual pode ser simbolizado por uma imensa variedade de imagens (ou representado sob forma alegórica). Cada uma destas imagens pode, por um processo associativo, levar à idéia da relação sexual e aos complexos específicos que incluem no comportamento sexual de um in - divíduo. Mas, da mesma maneira, podemos de-senterrar estes complexos graças a um devaneio em torno de um grupo de letras indecifráveis do alfabeto russo. Fui, assim, levado a admitir que um sonho pode conter outra mensagem além de uma alegoria sexual, e que isto acontece por mo-tivos determinados. Para ilustrar esta obser-vação:

 

Um homem sonha que enfiou uma chave nu-ma fechadura, ou que está empunhando um pesado pedaço de pau, ou que está forçando uma porta com uma aríete. Cada um destes sonhos pode ser considerado uma alegoria, um símbolo sexual. Mas o fato de o inconsciente ter escolhido, por vontade própria, uma destas imagens específicas — a chave, o pau, ou o aríete — é também de maior sig-nificação. A verdadeira tarefa é compreender por

 

Uma das inúmeras imagens simbólicas ou alegóricas do ato sexual é a caça ao

 

veado. À direita, detalhes de um quadro do pintor quinhentista alemão Cranach.

As implicações sexuais com a caçada ao

 

veado estão acentuadas em uma canção folclórica medieval chamada: 0

 

Guardador. Na primeira corça em que atirou ele não acertou.

 

  • segunda que ele parou, elebeijou. E a terceira fugiu para o coração de

um jovem.

E ficou, oh, entre as verdes

folhas.

 

que a chave foi escolhida em lugar do pau, ou por que o pau em lugar do aríete. E vamos algumas vezes descobrir que não é ato sexual que ali está representado, mas algum aspecto psicológico in-teiramente diverso.

 

Concluí, seguindo esta linha de raciocínio, que só o material que é parte clara e visível de um sonho pode ser utilizado para a sua interpretação. O sonho tem seus próprios limites. Sua própria forma específica nos mostra o que a ele pertence e o que dele se afasta. Enquanto a livre associação, numa espécie de linha em zigue zague, nos afasta do material original do sonho, o método que desenvolvi se assemelha mais a um movimento circunvolutório cujo centro é a imagem do sonho. Trabalho em redor da imagem do sonho e desprezo qualquer tentativa do sonhador para dela escapar. Inúmeras vezes, na minha atividade profissional, tive de repetir a frase: "Vamos voltar ao seu sonho. O que dizia o sonho?"

 

Um paciente meu, por exemplo, sonhou com uma mulher desgrenhada, vulgar e bêbada. No sonho parecia ser a sua própria mulher, apesar de estar casado, na vida real, com pessoa inteira mente diferente. Aparentemente, portanto, o sonho era de uma falsidade chocante e o paciente logo o rejeitou como uma fantasia tola. Se, como médico, eu tivesse iniciado um processo de associação, ele inevitavelmente teria

 

Uma chave na fechadura pode ser um símbolo sexual, mas não invariavelmente. À esquerda, detalhe do retábulo de um altar pelo artista quatrocentista flamengo Campin. A porta simbolizaria a esperança, a fechadura significaria a caridade, e a chave, o desejo de encontrar Deus. Abaixo, um bispo britânico ao consagrar uma igreja cumpre uma cerimônia tradicional batendo na porta do templo com o báculo que, obviamente, não é símbolo fálico, mas símbolo de autoridade, o cajado do pastor. Não se pode dizer de nenhuma imagem simbólica que ela tenha um significado universal e dogmático.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Anima é o elemento feminino no inconsciente masculino (tanto a anima

 

quanto o animus do inconsciente feminino são discutidos no capítulo 3).

Esta dualidade interior é simbolizada,

 

muitas vezes, por uma figura hermafrodita, como a que está à direita,

ao alto, reproduzida de um manuscrito

 

alquímico do século XVII. À direita, uma imagem física da "bissexualidade"

 

psíquica do homem: uma célula humana com os seus cromossomas. Todo

organismo tem dois grupos de

 

cromossomas, um de cada um dos progenitores.

 

 

 

 

 

 

30

 

tentado afastar-se o mais possível da de- sagradável sugestão do sonho. Neste caso, teria acabado por chegar a um dos seus complexos bá-sicos - complexo que, possivelmente, nada teria a ver com sua mulher - e nada saberíamos então a respeito do significado especial daquele determinado sonho.

O que queria, então, o seu inconsciente transmitir com aquela declaração obviamente in-verídica? De uma certa forma, expressava cla-ramente a idéia de uma mulher degenerada, in-timamente ligada à vida do sonhador. Mas desde que a imagem era realmente inexata e não havia justificativa na sua projeção sobre a mulher do meu paciente, eu precisava procurar noutro lugar

 

o que representaria aquela figura repulsiva.

 

Na Idade Média, muito antes de os filósofos terem demonstrado que trazem os em nós, devido a nossa estrutura glandular, ambos os elementos - o masculino e o feminino -, dizia-se que "todo homem traz dentro de si uma mulher ". É

a este elemento feminino , que há em todo homem, que chamei "anima ". Este aspecto "feminino" é, essencialmente, uma certa maneira, inferior, que tem o homem de se relacionar com o seu ambiente e, sobretudo com as mulheres, e que ele esconde tanto das outras pessoas quanto dele mesmo. Em outras palavras , apesar de a personalidade visível do indivíduo parecer normal, ele poderá estar escondendo dos outros — e mesmo dele próprio — a deplorável condição da sua “mulher interior''.

 

Mattanó alerta que ideias e associações podem levar a complexos do paciente. Para estudá-los devemos estudar os sonhos do paciente, as imagens simbólicas, a forma e o conteúdo dos sonhos. Cada imagem pode ser representada de diferentes maneiras, ou seja, um símbolo pode ser representado de diversas maneiras, há várias imagens para cada símbolo. Cada uma dessas imagens tem potencial para levar até os complexos do indivíduo. Assim os sonhos tem algo a mais do que o conteúdo sexual, pois tem várias imagens para cada símbolo, o símbolo pode ser presentado de muitas maneiras, por outros motivos determinados, como a comunhão e o exercício da força (ou a segurança).

(Mattanó; 08/08/2018).

 

 

 

Foi o que aconteceu com meu paciente: o seu lado feminino não era dos melhores. E o seu sonho estava lhe dizendo: "Você está se com-portando, em certos aspectos , como uma mulher degenerada", dando-lhe assim um choque pro-positado. (Não se deve concluir por este exemplo que o nosso inconsciente esteja preocupado com sanções "morais". O sonho não pretendia dizer ao paciente que "se comportasse melhor '': estava tentando, simplesmente, contrabalançar a natureza mal-equilibrada da sua consciência , que alimentava a simulação do doente de ser sempre um perfeito cavalheiro.)

É fácil compreender por que quem sonha tem tendência para ignorar e até rejeitar a men-sagem do seu sonho. A consciência resiste, na-turalmente, a tudo que é inconsciente e des-conhecido. Já assinalei a existência, entre os po-vos primitivos, daquilo a que os antropólogos cha-mam "misoneísmo", um medo profundo e supersticioso ao novo. Ante acontecimentos de-sagradáveis, os primitivos têm as mesmas reações do animal selvagem. Mas o homem "civilizado" reage a idéias novas da mesma maneira, erguendo barreiras psicológicas que o protegem do

choque  trazido   pela   inovação.   Pode-se   fa -

cilmente  observar  este  fato  na  reação  do  in-

 

divíduo ao seu próprio sonho, quando ele é obrigado a admitir algum pensamento inesperado. Muitos pioneiros da filosofia, da ciência e mesmo da literatura têm sido vítimas deste conservadorismo inato dos seus contemporâneos. A psicologia é uma das ciências mais novas e, por tratar do funcionamento do inconsciente, en-controu inevitavel mente o misoneísmo na sua forma mais extremada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mattanó fala do misoneismo quando aborda a telepatia e a lavagem cerebral, a pulsão auditiva e suas consequências na psique, no comportamento e nas relações sociais dos indivíduos, como a falsidade ideológica, o estupro virtual, o curandeirismo, o falso insight, o erro, o engano, a mentira, a tortura moral, sexual, física e psicológica, o abuso e a exploração sexual e de incapazes, a tentativa do atentado ao pudor do estelionatário, a tentativa do ato obsceno do estelionatário, o estelionato, o roubo de dados pessoais, o roubo de conhecimento, o roubo de trabalho, o roubo da educação e da vida sexual e da saúde, o roubo de partes do corpo humano, a periclitação da vida e da saúde,  a discriminação, a perseguição, a violação de direitos e da cidadania, a violação da intimidade e da privacidade, as injúrias e as calúnias, as difamações, os crimes contra a imagem da pessoa, os crimes de ódio, as tentativas de execução deflagradas, etc., ainda há muito misoneismo na Psicologia e na Psicanálise, inclusive na Psiquiatria.

(Mattanó; 08/08/2018).

 

 

 

 

 

 

31

 

 

O passado e o futuro no inconsciente

 

 

 

 

Esbocei, até aqui, alguns dos princípios em que me baseei para chegar ao problema dos sonhos, pois quando se deseja investigar a faculdade humana de produzir símbolos os sonhos são, comprovadamente, o material fundamental e mais acessível para isto. Os dois pontos essenciais a respeito dos sonhos são os seguintes: em primeiro lugar, o sonho deve ser tratado como um fato a respeito do qual não se fazem suposições prévias, a não ser a de que ele tem um certo sentido; em segundo lugar, é necessário aceitarmos que o sonho é uma expressão específica do inconsciente.

 

        Mattanó explica que os sonhos são o material mais acessível para o estudo da faculdade humana de produzir símbolos. Devemos encarar os sonhos a partir da forma e do conteúdo, mas sem suposições prévias a respeito dele, que ele tem um sentido, sua forma e conteúdo e que ele é uma expressão do inconsciente individual, coletivo e cósmico.

(Mattanó; 10/08/2018).

 

 

 

Dificilmente poder-se-á expor estes princí-pios de maneira mais despretensiosa. E mesmo que algumas pessoas menosprezem o incons- ciente , têm que admitir que é válido investigá-lo; o inconsciente está, pelo menos, no mesmo nível do piolho que, afinal, desfruta do interesse honesto do entomologista . Se aqueles que pos-suem pouca experiência e escassos conhecimen-tos a respeito dos sonhos consideram -nos apenas ocorrências caóticas, sem qualquer significação, têm toda a liberdade de fazê-lo. Mas se julgar-mos o sonho um acontecimento normal (o que, na verdade , ele é) temos de ponderar que ou ele é causal — isto é, há uma causa racional para a sua existência — ou, de um certo modo, intencional . Ou ambos.

 

 

 

 

Vamos agora observar um pouco mais de perto os diversos modos pelos quais se ligam os conteúdos conscientes e inconscientes da nossa mente. Tomemos um exemplo com que estamos todos familiarizados. De repente não podemos lembrar do que íamos dizer, apesar de há instan- tes o pensamento estar perfeitamente claro . Ou talvez queiramos apresentar um amigo e o seu nome nos escape na hora de pronunciá-lo. Dire- mos que não conseguimos nos lembrar, mas na realidade, o pensamento tornou-se inconsciente ou, pelo menos, momentaneamente separado do consciente. Ocorre o mesmo fenômeno com os nossos sentidos. Se ouvirmos uma nota contínua emitida no limite da audibilidade o som parece interromper-se a intervalos regulares para começar de novo. Estas oscilações são causadas por uma diminuição e um aumento periódicos da nossa atenção e não por qualquer modificação na nota.

 

Quando alguma coisa escapa da nossa cons-ciência esta coisa não deixou de existir, do mes-mo modo que um automóvel que desaparece na esquina não se desfez no ar. Apenas o perdemos de vista. Assim como podemos, mais tarde, ver novamente o carro, assim também reencontra-mos pensamentos temporariamente perdidos.

 

Parte do inconsciente consiste, portanto, de uma profusão de pensamentos, imagens e im-

 

pressões provisoriamente ocultos e que, apesar de terem sido perdidos, continuam a influenciar nossas mentes conscientes. Um homem desaten-to ou "distraído" pode atravessar uma sala para buscar alguma coisa. Pára, parecendo perplexo; esqueceu o que buscava. Suas mãos tateiam pe - los objetos de uma mesa como se fosse um so - nâmbulo; não se lembra do seu objetivo inicial, mas ainda se deixa, inconscientemente , guiar por ele. Percebe então o que queria. Foi a sua in - consciência que o ajudou a lembrar-se.

 

    Os sonhos tem sua importância para o investigador, mesmo para o de pouca experiência que aos poucos aprende a conhecê-lo melhor e a interpretá-lo adequadamente. Os sonhos são um acontecimento normal,e tem sua causa racional, onde suas ideias, imagens, pensamentos, sensações e impressões provisoriamente ocultos e perdidos continuam a influenciar a nossa mente consciente. Assim como nossos passos são influenciados pelo nosso inconsciente até mesmo quando fechamos os olhos e continuamos a caminhar e concluímos nossa caminhada. Os sonhos também  nos ajudam a concluir a nossa caminhada. Esta caminhada, a caminhada diurna e a caminhada noturna, eles nos ajudam de muitas maneiras com suas formas e conteúdos.

(Mattanó; 10/08/2018).

 

 

 

Se observarmos o comportamento de uma pessoa neurótica podemos vê-la fazendo muitas coisas de modo aparentemente intencional e consciente. No entanto, se a questionarmos des-cobriremos que ou não tem consciência alguma das ações praticadas ou então que pensa em coi-sas bem diferentes. Ouve, mas está surda, vê, mas está cega, sabe e parece ignorante. Estes exem-plos são tão frequentes que o especialista logo compreende que o que está contido inconscien-temente no nosso espírito comporta-se como se fora consciente e que nunca se pode ter certeza, em tais casos, de pensamento, fala ou ação cons-cientes ou não.

 

  • este tipo de comportamento que leva tantos médicos a rejeitarem as afirmações de pacientes histéricos como se fossem mentiras. Tais pessoas certamente arquitetam maior número de

 

inexatidões do que a maioria de nós, mas “men-tira” dificilmente será a palavra certa a empre - gar. De fato, o seu estado mental provoca uma conduta indecisa, já que a sua consciência está sujeita a eclipses imprevisíveis causados por in-terferências do inconsciente. Até mesmo as sen-sações da pele de tais pessoas podem revelar se-melhantes flutuações perceptivas. A pessoa his-térica pode, num deter minado momento, sentir a agulha com que lhe picam o braço, e em outro nada sentir. Se for possível fixarmos sua atenção num determinado ponto, seu corpo inteiro pode ficar anestesia do até haver um relaxamento na tensão que causou aquele adormecimento dos sentidos. A percepção sensorial é, então, ime-diatamente restaurada. Durante todo o tempo, no entanto, o doente sabe, inconscientemente, o que lhe está acontecendo.

 

O médico observa claramente todo este processo quando hipnotiza um paciente . E fácil demonstrar que o paciente registrou todos os de-talhes. A picada no braço ou um comentário fei-to durante o eclipse da consciência podem ser lembrados, tão exatamente como se não tivesse havido anestesia ou "esquecimento". Lembro-me de uma mulher que chegou à clínica em estado de completa letargia. Quando, no dia seguinte, recobrou a consciência, sabia quem era, mas não sabia onde estava, nem como e por que

 

 

0 "misoneísmo", medo e ódio

 

irracionais a idéias novas, foi um

grande obstáculo á aceitação geral da moderna psicologia. Também a

teoria evolucionista de Darwin sofreu

 

esta oposição — um professor norte-americano, chamado Scopes, foi

julgado em 1925 por ter ensinado a

 

evolução. Na extrema esquerda, o advogado Clarence Darrow

 

defendendo Scopes. Ao centro, o próprio Scopes. Também contra

 

Darwin é a caricatura, á esquerda, de

 

um número da revista inglesa Punch de 1861. À direita, sátira ao

misoneísmo pelo humorista

americano James Thurber, cuja tia (segundo ele) tinha medo de que a

 

eletricidade "estivesse vazando por toda a casa".

 

 

 

33

 

ali se encontrava; não se lembrava sequer da da-ta. No entanto, depois que eu a hipnotizei, dis - se-me por que ficara doente, como chegara à clí-nica e quem a recebera. Todos estes detalhes pu-deram ser comprovados. Ela foi até capaz de di-zer a hora em que chegara à clínica, porque ha - via um relógio no hall de entrada. Hipnotizada, sua memória mostrava-se tão clara como se esti-vesse estado totalmente consciente o tempo in- teiro.

 

         Mattanó aponta que aparentemente nos comportamos segundo intenções conscientes, mas quando somos indagados sobre nossas motivações descobrimos coisas bem diferentes, descobrimos motivos inconscientes, por exemplo, quando falamos mas não reconhecemos o que falamos, ou ouvimos mas não reconhecemos o que ouvimos, passamos anestesiados por estímulos. Jung comprovou que seus pacientes reconheciam estes estímulos com a técnica da hipnose lhes perguntando sobre esses estímulos que conscientemente não eram despertados ou conscientizados, discriminados. Jung ajudou a comprovar a existência do inconsciente.

(Mattanó; 10/08/2018). Essas intenções que ora estão conscientes e de repente tornam-se inconscientes levam com elas tornando inconscientes seus significados e sentidos, conceitos, comportamentos, funcionalidades, simbologias, topografias, linguagens, gestalts e insights, vida onírica e vida anímica, desejos e desejos de dormir, chistes, fantasias, lapsos de linguagem, atos falhos, esquecimentos, pressupostos e subentendidos, piadas e humor, arquétipos, espiritualidade, cultura, universos, histórias de vidas, relações sociais, trabalho, escola e educação, saúde e educação física, imunidade e homeostase, a todo momento estes eventos e intenções se manifestam e de repente entram no nosso inconsciente passando a agir inconscientemente na nossa mente e comportamento, pois não deixam de existir, (Mattanó; 04/08/2021).

 

 

Quando se discute este assunto traz-se, ha-bitualmente, o testemunho da observação clíni - ca. Por esta razão, muitos críticos alegam que o inconsciente e todas as suas sutis manifestações pertencem, unicamente, à esfera da psicopatolo- gia. Consideram qualquer expressão do incons - ciente como um sintoma de neurose ou de psico - se, que nada teria a ver com o estado mental nor-mal. Mas os fenômenos neuróticos não são, de modo algum, produtos exclusivos de uma doen-ça. São, na verdade, apenas exageros patológicos de ocorrências normais; e é apenas por serem exageros que se mostram mais evidentes do que seus correspondentes normais. Sintomas histé - ricos podem ser observados em qualquer pessoa normal , mas são tão diminutos que em geral passam despercebidos.

 

Mattanó explica que o inconsciente não se trata de um funcionamento anormal da mente e assim unicamente da esfera da psicopatologia. Pois o inconsciente pertence a todos os indivíduos como fenômeno individual, coletivo e cósmico. Como já vimos suas intenções e motivos estão nos sonhos, ou seja, sua forma e conteúdo que o fazem um fenômeno filogenético (da nossa espécie, Homo Sapiens), ontogenético (de cada indivíduo), cultural (da nossa cultura como fenômeno cultuado e ritualizado místicamente), da espiritualidade (como fenômeno espiritual), da vida (como fenômeno próprio da vida) e do universo (como fenômeno do universo, do cosmos e dos contatos extraterrestres).

(Mattanó; 10/08/2018).

 

 

O ato de esquecer, por exemplo, é um pro-cesso normal, em que certos pensamentos cons-cientes perdem a sua energia específica devido a um desvio da nossa atenção. Quando o interesse se desloca deixa em sombra as coisas de que anteriormente nos ocupávamos, exatamente como um holofote ao iluminar uma nova área deixa uma outra mergulhada em escuridão. Isto é ine-

 

vitável, pois a consciência só pode conservar ilu-minadas algumas imagens de cada vez e, mesmo assim, com flutuações nesta claridade. Os pensa-mentos e idéias esquecidos não deixaram de existir. Apesar de não se poderem reproduzir à vontade, estão presentes num estado subliminar

 

— para além do limiar da memória — de onde podem tornar a surgir espontaneamente a qualquer momento, algumas vezes anos depois de um esquecimento aparentemente total .

 

Refiro-me aqui a coisas que vimos e ouvi - mos conscientemente e que, a seguir, esquecemos. Mas todos nós vemos, ouvimos, cheiramos e provamos muitas coisas sem notá-las na ocasião, ou porque a nossa atenção se desviou ou porque, para os nossos sentidos, o estímulo foi demasiadamente fraco para deixar uma impressão consciente. O inconsciente, no entanto, tomou nota de tudo, e estas percepções sensoriais subliminar es ocupam importante lugar no nosso cotidiano. Sem o percebermos, influenciam a maneira por que vamos reagir a pessoas e fatos.

 

Um exemplo, que considero particularmente significativo, foi-me dado por um professor que estivera passeando no campo, com um dos seus alunos, absorvido em uma séria conversação. De repente, verificou que seus pensamentos estavam sendo interrompidos por uma série de inesperadas lembranças da sua infância. Não conseguia      justificar tal distração. Nada do que até então estivera discutindo tinha qualquer ligação com aquelas lembranças. Olhando para trás do caminho percorrido, viu que haviam passado por uma fazenda, quando surgira a primeira destas recordações da sua infância . Propôs ao

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em casos pronunciados de histeria

 

coletiva (antigamente chamava-se "estar possuído") a consciência e a

 

percepção-sensorial comum parecem eclipsar-se. À esquerda, o frenesi de

uma dança de espadas balinesa faz

 

com que os dançarinos entrem em transe e, algumas vezes, voltem as

suas armas contra si próprios. Ã

 

direita, o rock and roll, quando estava no auge do sucesso e parecia

provocar uma excitação análoga.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entre os povos primitivos, "estar possuído" significa que um deus ou

 

demônio apossou-se de um corpo

 

humano. Acima, á esquerda, uma mulher haitiana desmaia em êxtase

religioso. Acima, no centro e á direita,

 

haitianos possuídos pelo deus Gheda, que se manifesta sempre nesta posição

— pernas cruzadas cigarro na boca.

 

 

  • esquerda, um culto religioso no Tennessee, E.U.A., em que segurar em serpentes venenosas faz parte de algumas cerimônias. A histeria é provocada pela música, pelo canto e por palmas. As serpentes passam de mão em mão (e algumas vezes os participantes são fatalmente mordidos pelas cobras).

 

aluno que retornassem ao local onde se haviam iniciado aquelas fantasias. Chegando lá, sentiu um cheiro de gansos e, imediatamente, perce - beu que este cheiro desencadeara a série de re-cordações.

 

          

         Mattanó explica que o ato de esquecer envolve uma gestalt, uma forma, uma figura, onde ora está a luz dos nossos olhos a imagem de uma figura ou de uma taça e noutro relance por esquecimento desta imagem temos a imagem na memória do fundo ou de um rosto, exatamente como um holofote ao iluminar uma área que deixa outra área mergulhada na escuridão. O holofote é a nossa consciência e cada área é respectivamente, uma a figura e a outra o fundo da figura. O esquecimento é o desvio da nossa atenção.

(Mattanó; 23/08/2018).

         O esquecimento faz esse deslocamento da figura para o fundo e do fundo para a figura na Gestalt, o esquecimento é produto do condensamento na formação do inconsciente, logo após sua formação com o niilismo, com o condensamento formam-se as primeiras representações que se deslocam, podem ser elas objetos de linguagem, gestalts, significados e sentidos, símbolos, signos que se condensam e se desenvolvem formando um caminho cognitivo através do deslocamento que por sua vez constrói um mapa cognitivo repleto de arquétipos que se transformam em comportamentos e relações sociais.

(Mattanó: 04/08/2021).

 

 

Na sua juventude, ele vivera numa fazenda onde criavam gansos e o seu odor característico lhe deixara uma impressão duradoura , apesar de adormecida . Ao passar pela fazenda naquela ca-minhada, registrar a subliminarmente aquele cheiro, e esta percepção inconsciente despertou experiências da sua infância há muito esqueci - das. A percepção foi subliminar porque a aten-ção estava concentrada em outra coisa qualquer e o estímulo não fora bastante forte para desviá - la, alcançando diretamente a consciência. No entanto, trouxe à tona "esquecidas" lembranças.

 

Mattanó explica que as recordações esquecidas estão recalcadas em função de sua natureza desagradável e que por isto tornam-se esquecidas. O cheiro despertou lembranças até então, esquecidas, as recordações perdidas eram muitas e estavam recalcadas. Notamos funcionalmente o Contexto (uma caminhada numa fazenda) – Sestímulo (odor ou cheiro) – Consequência (despertar de lembranças esquecidas) – NovoContexto (um sujeito inserido no meio ambiente, numa fazendo com lembranças que eram até então esquecidas e foram despertadas do seu inconsciente). A natureza da origem dessas lembranças esquecidas é algo desagradável, pois estavam recalcadas e esquecidas, vieram à tona com o cheiro na caminhada na fazenda.

(Mattanó; 24/08/2018).

 

 

Este efeito de sugestão ou de uma espécie

 

estar com uma dor de cabeça terrível e revelando outros sinais de angústia. Sem que o percebesse conscientemente, ouvira a sirene distante de um navio, recordando-se inconscientemente da triste despedida de um homem de quem tentava se esquecer.

 

Mattanó escreve que essa sugestão, por exemplo, o cheiro, explica o surgimento de lembranças esquecidas, de sintomas neuróticos e de recordaçções benignas, por exemplo, quando avistamos alguma  coisa, sentimos um cheiro ou ouvimos um som como uma música que lembre circunstâncias ou eventos passados temos lembranças esquecidas. Mattanó diz que lembramos de acontecimentos esquecidos por causa do nosso mapa cognitivo e do nosso GPS do comportamento que desencadeiam rotas cognitivas e comportamentais para os estímulos que percebemos, inclusive para os estímulos que não percebemos, que estão e são inconscientes.

(Mattanó; 24/08/2018).

 

 

 

Além do esquecimento normal, Freud descreveu vários casos de "esquecimento" de lembranças desagradáveis - recordações que estamos prontos a perder . Com o observou Nietzsche, quando o orgulho está em causa a memória prefere ceder. Assim, entre as recorda-ções perdidas encontramos várias cujo estado subliminar (e que não podemos reproduzir vo-luntariamente) se deve à sua natureza de origem desagradável. Os psicólogos lhes chamam con-teúdos recalcados.

 

 

 

Bom exemplo é o da secretária que tem

 

de "detonaç ão" é capaz  de explicar  o apareci -

   ciúmes  de  uma

das

sócias

do

seu  patrão.

mento de sintoma s neuróti cos e também de ou -

Habitualmente

ela

se

esquece

de

convidar

tras recordações benignas quando se avista algu -

esta pessoa para reuniões, apesar de o nome

ma coisa , ou se sente um odor, ou se ouve um

estar  nitidamente

marcado

na

lista   que

               

 

som que lembre circunst âncias passadas. Uma jovem, por exempl o, pode estar trabal hando no seu escri tório , apare ntemen te gozand o de boa saú de e bom hum or. Mom ent os dep ois , pod e

 

utiliza.  Se  interpelada   sobre  este  fato dirá,

simplesmente, que  se  "esqueceu"  ou  que  a

"perturbaram"  no  momento.  Ja mais admite

 

— nem par a si mesma — o motivo real de sua omissão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os carrinhos miniatura que, neste anúncio, formam o emblema da Volkswagem podem "detonar" no espírito do leitor recordações inconscientes de sua infância. Se forem lembranças agradáveis, o prazer estará associado

(inconscientemente) ao produto e à marca.

 

 

36

 

Muitas pessoas superestimam erradamente

o papel da força de vontade e julgam que nada

poderá acontecer à sua mente que não seja por

decisão e intenção próprias. Mas precisamos a-

prender  a  distinguir  cuidadosamente  entre  o

conteúdo intencional e o conteúdo involuntário

da mente. O primeiro se origina da personalida -

de do ego ; o segundo, no  entanto, nasce de

 

uma fonte que não é idêntica ao ego, mas à sua "outra face". É esta "outra face" que faz a se-cretária esquecer os convites.

 

    Mattanó explica que a mente é dividida em duas faces, a consciente e a inconsciente, a face consciente e a outra face, muitas pessoas acreditam que a outra face não tem poder sobre a face consciente tentando dominá-la através da força de vontade, da decisão e da intenção própria, mas não é bem assim, a outra face esta agindo, esta na gestalt, como forma, que de acordo com o insight e a percepção será deslumbrada, é a outra face que faz o jovem acadêmico se esquecer da resposta certa durante o exame letivo, mesmo tendo estudado exaustivamente.

(Mattanó; 02/09/2018).

 

 

 

Há muitas razões para esquecermos coisas que notamos ou experimentamos. E há igual número de maneiras pelas quais elas podem ser relembradas. Um exemplo interessante é o da criptomnésia, ou "recordação escondida". Um autor pode estar escrevendo de acordo com um plano preestabelecido, trabalhando num deter-minado argumento ou desenvolvendo a trama de uma história quando, de repente, muda de rumo. Talvez lhe tenha ocorrido alguma nova idéia, ou uma imagem diferente ou um enredo secundário inteiramente inédito. Se lhe perguntarmos o que ocasionou esta digressão ele não será capaz de o dizer. Talvez nem mesmo tenha notado a mudança, apesar de ter escrito algo inteiramente novo e do qual não possuía, aparentemente, nenhum conhecimento anterior. No entanto pode-se, muitas vezes, provar-lhe que o que acabou de escrever tem uma enorme semelhança com o trabalho de outro escritor — trabalho que crê nunca ter visto.

 

Mattanó adiciona que temos vários motivos para nos esquecermos de coisas que notamos ou experimentamos, que vivemos e nos relacionamos, mas há também um número de motivos pelos quais elas podem ser relembradas , como exemplo temos a ¨recordação escondida¨, que é aquela recordação efetuada quando escrevemos algo que nunca nos envolvemos numa leitura ou audição e de repente reparamos depois, de tê-la escrito, num outro episódio de nossas vidas compará-la com a de outro autor e ver a sua enorme semelhança com o que escrevemos outrora, este é um fenômeno do inconsciente. Dependendo da história de vida do autor pode ser um fenômeno do inconsciente pessoal ou senão do inconsciente coletivo.

(Mattanó; 02/09/2018).

            

Mattanó adiciona que a recordação escondida pode ter ocorrido no livro de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, onde o autor fala de um incidente relatado num diário de bordo no ano de 1686, que por acaso já havia sido publicado no ano de 1835. Nietzsche havia lido a primeira publicação e certamente teve uma recordação escondida quando a história estruturou-se em foco em sua consciência devido a sua história de vida pessoal, revelando a influência do seu inconsciente pessoal e até do coletivo, de acordo com o contexto, o significado, o sentido, o conceito, o comportamento, a funcionalidade, a simbologia e as relações sociais, ressalta-se importante destacar se houver relações com telepatia, com alienígenas ou o universo e o cosmos estaremos abordando o inconsciente cósmico.

(Mattanó; 16/09/2018).

 

 

 

Eu mesmo encontrei um exemplo fascinante deste processo, no livro de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, onde o autor reproduz quase literalmente um incidente relatado num diário de bordo, no ano de 1686. Por mero acaso eu havia lido um resumo desta história num livro publica do em 1835 (meio século antes do livro de Nietzsche). Quando encontre i a mesma pas-sagem em Assim Falou Zaratustra espantei-me com o estilo, tão diverso do de Nietzsche. Convenci-me de que também Nietzsche lera aquele antigo livro, apesar de não lhe ter feito qualquer referência. Escrevi à sua irmã, que ainda vivia naquela ocasião, e ela me confirmou que, na verdade, o livro fora lido tanto por ela quanto pelo irmão, quando este tinha 11 anos. Verifica-se, pelo contexto, que é inconcebível pensar que Nietzsche tivesse qualquer idéia de estar pla-giando aquela história . Creio que, simplesmen-te, cinquenta anos mais tarde, a história entrou em foco na sua consciência.


Em casos deste tipo há uma autêntica recor-

dação, mesmo que a pessoa não se dê conta do

fato. A mesma coisa pode ocorrer com um músico que tenha ouvido na infância alguma

melodia folclórica ou uma canção popular e que vem encontra-la, na idade adulta, presente e como tema de um movimento sinfônico que está com pondo. Uma idéia ou imagem

deslocou-se do inconsciente para o consciente.

 

 

 

 

O que expliquei até aqui a respeito do inconsciente não passa de um esboço superficial da natureza  e  do  funcionamento  desta  complexa parte da psique humana. Mas talvez tenha feito compreender o tipo  de material subliminar de que  se  podem,  espontaneamente,  produzir  os símbolos dos nossos sonhos. Este material subliminar  pode  consistir  de todo  tipo  de urgência impulsos e intenções; de percepções e intuições; de pensamentos racionais ou irracionais; de conclusõe s, induções,  deduções  e premissas; e de toda uma imensa gama de emoções. Qualquer um destes  elementos é capaz de tornar-se parcial, temporária ou definitiva mente inconsciente. Este material torna -se inconsciente porque

 

— simplesmente — não há lugar para ele no consciente. Alguns dos nossos pensamentos per-dem a sua energia emocional e tornam-se subli-minares (isto é, não recebem mais a mesma atenção do nosso consciente) porque parecem ter deixado de nos interessar e não têm mais ligação conosco, ou então porque existe algum motivo para que desejemos afastá-los de vista.

 

"Esquecer", neste sentido, é normal e ne-cessário para dar lugar na nossa consciência a no-vas idéias e impressões. Se tal não acontecesse, toda a nossa experiência permaneceria acima do limiar da consciência e nossas mentes ficariam insuportavelmente atravancadas. Este fenômeno, hoje em dia, é tão amplamente reconhecido que a maioria das pessoa s que conhecem um pouco de psicologia já o aceitaram.

 

Assim como o conteúdo consciente pode se desvanecer no inconsciente, novos conteúdos, que nunc a foram conscientes, podem "emergir". Podemos ter a impressão, por exemplo, de que alguma coisa está a ponto de tornar-se cons- ciente — que "há alguma coisa no ar" ou que "aqui tem dente de coelho" . A descoberta de que o inconsciente não é apenas um simples depósito do passa do, mas que está também cheio de germes de idéias e de situações psíquicas futuras levou-me a uma atitud e nova e pessoal

 

 

37

 

 

quanto à psicologia. Muita controvérsia tem sur-gido a este respeito . Mas o fato é que, além de memórias de um passado consciente longínquo, também pensamentos inteiramente novos e idéias criadoras podem surgir do inconsciente - idéias e pensamentos que nunca foram conscientes. Como um lótus, nascem das escuras profundezas da mente para formar uma importante parte da nossa psique subliminar.

 

Encontramos exemplos disso em nossa vida cotidiana, onde às vezes os dilemas são solucio-nados pelas mais surpreendentes e novas proposi-ções. Muitos artistas, filósofos e mesmo cientis-tas devem suas melhores idéias a inspirações nas-cidas de súbito do inconsciente. A capacidade de alcançar um veio particularmente rico deste material e transformá-lo de maneira eficaz em filosofia, em literatura, em música ou em descobertas científicas é o que comumente chamamos genialidade.

 

Podemos encontrar na própria história da ciência provas evidentes desse fato. Por exem-plo, o matemático francês Poincaré e o químico Kekulé devem importantes descobertas científi -

 

cas (como eles mesmos admitem) a repentinas "revelações" pictóricas do inconsciente.

 

A chamada experiência "mística" do filó - sofo francês Descartes foi uma destas revelações repentinas na qual ele viu, num clarão, a "ordem de todas as ciências". O escritor inglês Robert Louís Stevenson levou anos procurando uma história que se ajustasse à sua "forte impressão da dupla natureza do homem" quando, num sonho , lhe foi revela do o enredo de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.

 

Adiante vou descrever, com maiores deta-lhes, como este material surge do inconsciente, examinando então a sua forma de expressão . No momento desejo apenas assina lar que a capaci - dade da nossa psique para produzir este material novo é particularmente significativa quando se trata do simbolismo do sonho, desde que a minha experiência profissional provou-me, repetidamente, que as imagens e as idéias contidas no sonho não podem ser explicadas apenas em termos de memória; expressam pensamentos novos que ainda não chegaram ao limiar da consciência.

 

 

 

 

 

 

0 químico alemão Kekulé (século XIX), quando pesquisava a estrutura molecular do benzeno, sonhou com uma serpente que mordia o seu próprio rabo. (Trata-se de um símbolo antiquíssimo: à esquerda, está representado em um manuscrito

grego do século III A.C.). O sonho fê-lo concluir que esta estrutura seria

um círculo fechado de carbono —

como se vê, à extrema esquerda,

numa página do seu "Manual de

Química Orgânica " (1861).

 

À direita, uma estrada européia com

um cartaz que significa "cuidado:

 

animais na pista". Mas os motoristas

 

(sua sombra aparece no primeiro

plano) vêem um elefante, um

rinoceronte e até mesmo um

dinossauro. Este quadro (do artista

suíço contemporâneo Erhard

Jacoby) representa um sonho e

retrata a natureza aparentemente

ilógica e incoerente da imagem

onírica.

 

 

Mattanó aponta que o inconsciente pode trazer do passado ideias e pensamentos inteiramente novos e criadores e não somente memórias vividas. Muitos artistas, políticos e cientistas devem suas carreiras ao papel inovador e criativo do seu inconsciente, muitas vezes suas melhores ideias são inspirações que vieram de súbito do inconsciente, há estas pessoas chamamos a inteligência de genialidade pois trazem grandes contribuições artísticas, políticas e científicas para a humanidade. Importante salientar que o papel do inconsciente cósmico na inteligência é de grande importância pois traz para a humanidade a inteligência, o saber e o conhecimento das estrelas, do universo, dos alienígenas através do contato extraterrestre e da telepatia que é um fenômeno extraterrestre.

(Mattanó; 26/10/2018).

 

 

 

 

 

A função dos sonhos

 

 

 

 

 

 

Entrei em detalhes sobre as origen s da nossa vida onírica por ser ela o solo de onde, originalmente, medra a maioria dos símbolos. Infelizmente, é difícil compreender os sonhos. Como já assinalei, um sonho em nada se parece com uma história contada pela mente consciente. Na nossa vida cotidiana refletimos sobre o que queremos dizer, escolhemos a melhor maneira de dizê-lo e tentamos dar aos nossos comentários uma coerência lógica. Uma pessoa instruída evitará, por exemplo, o emprego de metáforas complicadas a fim de não tornar confuso o seu ponto de vista . Mas os sonhos têm uma textura diferente. Neles se acumulam imagens que parecem contraditórias e ridículas, perde-se a noção de tempo, e as coisas mais banais se podem revestir de um aspecto fascinante ou aterrador.

 

    

     Mattanó discorre que é a vida onírica a fonte natural da maior parte de nossos símbolos e que é difícil compreender os sonhos, pois os sonhos em nada se parecem com a mente consciente, os sonhos não tem uma lógica aparente, eles têm uma lógica latente que se reveste e se traduz em seus significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, simbologias, topografias, linguagens, relações sociais, insights e gestalts, revelando um aspecto fascinante ou aterrador em sua trama manifesta e latente, em seu conjunto como Episódio Onírico Completo ou Episódio Onírico Incompleto.

(Mattanó; 26/10/2018).

     Os sonhos têm uma linguagem própria e diferente da linguagem do mundo real, ela é aparentemente sem lógica, por isso se mostra diferente de algo que busca o prazer premeditado, mas, sim, busca-o inconscientemente, através de sua incoerência, linguagem com símbolos e metáforas, significados e sentidos confusos, imagens que parecem contraditórias, coisas sem relevância que não despertam interesse e coisas fascinantes e assustadoras ou aterradoras, os sonhos têm uma linguagem própria que é diferente da linguagem real e da vida anímica.

(Mattanó: 08/08/2021).

 

 

Parecerá estranho que o inconsciente dispo - nha o seu material de modo tão diverso dos es-

 

 

 

 

 

 

quemas aparentemente disciplinados que imprimimos aos nossos pensamentos, quando acordados. No entanto, quem quer que se detenha na recordação de um sonho perceberá este contraste, contraste este que é uma das principais razões para que os sonhos sejam de tão difícil compreensão para os leigos. Como não fazem sentido em termos da nossa experiência diurna normal, há uma tendência ou para ignorá-los ou para nos confessarmos desorientados e confundidos.

 

Talvez este ponto se torne mais claro se to-marmos consciência de que as idéias de que nos ocupamos na nossa vida diurna e aparentemente disciplinada não são tão precisas como queremos crer. Ao contrário, o seu sentido (e a importância emocional que têm para nós) torna-se cada vez mais vago à medida que as examinamos de mais perto. A razão para isto é que qualquer coisa que tenhamos ouvido ou experimentado pode

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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tornar-se subliminar — isto é, passar ao incons - ciente. E mesmo aquilo que retemos no nosso consciente e que podemos reproduzir à vontade adquire um meio-tom inconsciente que dá novo colorido à idéia, cada vez que ela é convocada. Nossas impressões conscientes, de fato, assumem rapidamente um elemento de sentido inconsciente que tem para nós uma significação psíquica, apesar de não estarmos conscientes da existência deste fator subliminar ou da maneira pela qual ambos ampliam e perturbam o sentido convencional.

 

           Mattanó concorda que o inconsciente não dispõe de regras que ditamos aos nossos pensamentos conscientes, por isso ele, o inconsciente nos parece tão distante e incompreensível, criando uma tendência a ignorá-lo e desprezá-lo, pois nos confessamos confundidos por ele. Ele age nos confundindo quando é inconsciente e torna-se consciente e quando é consciente e torna-se inconsciente repentinamente, mudando a significação e o sentido psíquico, mas também a conceituação, a contextualização, a funcionalização, o comportamento, a simbolização, a linguagem, a topografia, as relações sociais, a gestalt, o insight e o conteúdo da véspera nos sonhos, perturbando o sentido convencional ao qual estávamos lidando até agora.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

 

 

 

Evidentemente estes meios-tons psíquicos diferem de pessoa para pessoa. Cada um de nós recebe noções gerais ou abstratas no contexto particular de sua mente e, portanto, entende e aplica estas noções também de maneira particu - lar e individual. Quando, numa conversa, uso palavras com o "estado", "dinheiro ", "saúde " ou "sociedade", parto do pressuposto de que os que me escutam dão a estes termos mais ou menos a mesma significação que eu. Mas a expressão "mais ou menos" é que importa aqui. Cada palavra tem um sentido ligeiramente diferente para cada pessoa, mesmo para os de um mesmo nível cultural. O motivo destas variações é que uma noção geral é recebida num contexto indi - vidual, particular e, portanto, é também com-preendida e aplicada de um modo individual particular. As diferenças de sentido são maiores, naturalmente quando as pessoas têm experiên - cias sociais, políticas, religiosas ou psicológicas de nível desigual.

 

Sempre que os conceitos são idênticos às palavras, a variação é quase imperceptível e não tem qualquer função prática. Mas quando se faz necessária uma definição exata ou uma explica-ção mais cuidada, podemos descobrir as varia-ções mais extraordinárias, não só na compreen - são puramente intelectual do termo, mas parti - cularmente no seu tom emocional e na sua apli - cação. Estas variações são sempre subliminares e, portanto, as pessoas não as percebem.

 

Podemos rejeitar tais diferenças consideran - do-as supérfluas ou simples nuanças dispensáveis por serem de pouca aplicação às nossas necessi-dades cotidianas. Mas o fato de existirem vem mostrar que até os conteúdos mais banais da consciência têm à sua volta uma orla de penum - bra e de incertezas. Mesmo o conceito filosófico ou matemático mais rigoro samente definido, que sabemos só conter aquilo que nele coloca -

 

mos, ainda é mais do que pressupomos . É um acontecimento psíquico e, como tal, parcial - mente desconhecido. Os próprios algarismos usa dos para contar são mais do que julgamos ser: são, ao mesmo tempo, elementos mitológi-cos (para os adeptos de Pitágoras chegavam a ser divinos). Mas certamente não tomamos conhecimento disto quando empregamos os números com objetivos práticos.

 

Em suma, todo conceito da nossa consciência tem suas associações psíquicas próprias. Quando tais associações variam de intensidade (segundo a importância relativa deste conceito em relação à nossa personalidade total , ou segundo a natureza de outras idéias e mesmo complexos com os quais esteja associado no nosso in -

 

 

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Nestas páginas, outros exemplos da natureza irracional e fantástica dos

 

sonhos. Acima, à esquerda, corujas e

 

morcegos enxameiam em torno de um homem que sonha (água-forte de

Goya - século XVI II). Dragões e

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

outros monstros semelhantes são imagens comuns dos sonhos. À esquerda, um dragão persegue um sonhador numa xilografia de O Sonho de Poliphilo, do monge italiano Francesco Colonna,

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Século XV.

 

Acima, neste quadro de Marc Chagall, a inesperada associação de

 

imagens — peixe, violino, relógio e amantes — transmite toda a

 

confusão de um sonho.

 

 

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O aspecto mitológico dos algarismos

 

ordinais aparece nesses relevos dos

 

maias (alto da página, cerca do ano

730 A.C, que personificam como

deuses as divisões numéricas do

tempo. A pirâmide de pontos, acima,

 

representa o tetraktys da filosofia

pitagorista (século VI A.C.). Consiste

de quatro números — 1,2,3,4 —,

perfazendo um total de 10. Os

números 4 e 10 eram adorados pelos

 

pitagoristas como divindades.

 

 

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consciente), elas são capazes de mudar o caráter "norma l" daquele conceit o. O conceit o pode mesmo tornar-se qualquer coisa totalmente dife-rente , à medida que é impul siona do abaix o do nível da consciência.

 

     Mattanó comenta que os meios-tons psíquicos que variam de pessoa para pessoa são oriundos justamente dos processos de significação, de dar sentido, conceito, contextualização, comportamento, funcionalidade, simbologias, linguagem, topografias, relações sociais, gestalts, insights, conteúdos de vésperas através da socialização e da alfabetização.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

 

Estes aspectos subliminares de tudo o que nos acontece parecem ter pouca importância em nossa vida diária. Mas na análise dos sonhos, on-de os psicólogos se ocupam das expressões do in-consciente, são aspectos relevantes, pois se cons-tituem nas raízes quase invisíveis dos nossos pen-samentos conscientes. É por isto que objetos ou idéias comuns podem adquirir uma significação psíquica tão poderosa que acordamos seriamente perturbados, apesar de termos sonhado coisas absolutamente banais — como uma porta fecha - da ou um trem que se perdeu.

 

As imagens produzidas no sonho são muito mais vigorosas e pitorescas do que os conceitos e experiências congêneres de quando estamos acordados . E um dos motivos é que, no sonho, tais conceitos podem expressar o seu sentido in-consciente. Nos nossos pensamentos conscientes restringimo-nos aos limites das afirmações racio-nais — afirmações bem menos coloridas, desde que as despojamos de quase todas as suas asso-ciações psíquicas.

 

Lembro-me de um sonho que tive e que achei realmente difícil interpretar. Neste sonho, um certo homem tentava aproximar-se de mim e pular às minhas costas. Nada sabia a respeito de-le a não ser que se utilizara de uma observação minha e, transformando o seu significado, tor-nara-a grotesca. Mas eu não conseguia ver qual a

 

ligação entre este fato e a sua tentativa de saltar às minhas costas. Na minha experiência profissional, no entanto, muitas vezes acontece alguém interpretar erradamente o que digo — e isto ocorre tantas vezes que já nem me dou ao trabalho de me perguntar se isto me irrita ou não. De fato, há uma certa conveniência em guardar-se controle, conscientemente, das nossas reações emocionais. E era aí que estava, como logo verifiquei, o sentido do meu sonho. Eu usara um coloquialismo austríaco e o transformara em imagem visual. É uma expressão muito comum na Áustria dizer-se "Du kann st mir auf den Buckel steigen'' (você pode montar nas minhas costas), que significa ''pouco me importa o que você fala de mim".

 

Pode-se qualificar este sonho de simbólico porque não representa uma situação de modo direto e sim indiretamente, por meio de uma metáfora, que a princípio não percebi. Quando isto acontece (como é freqüente) não se trata de um "disfarce" proposital do sonho; é resultado, apenas, da nossa dificuldade em captar o conteúdo emocional da linguagem ilustrada. De fato, na vida cotidiana precisamos expor nossas idéias da maneira mais exata possível e aprendemos a rejeitar os adornos da fantasia tanto na linguagem quanto nos pensamentos — perdendo, assim, uma qualidade ainda característica da mentalidade primitiva. A maioria de nós transfere para o inconsciente todas as fantásticas associações psíquicas inerentes a todo objeto e a toda idéia. Já os povos primitivos ainda conservam estas propriedades psíquicas, atribuindo a ani -

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não apenas os números, mas também objetos familiares como

pedras e árvores podem ter uma

importância simbólica. À esquerda, pedras brutas colocadas à beira da

estrada por viajantes, na Índia.

 

Representam o lingam, o símbolo fálico hindu da criatividade. À direita,

uma árvore da África ocidental, que

 

as tribos chamam ju-ju ou árvore-espírito, e à qual atribuem poderes

mágicos.

 

 

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mais, plantas e pedras poderes que julgamos es-tranhos e inaceitáveis.

 

Um habitante da selva africana, por exem-plo, que vê à luz do dia um animal noturno pode reconhecer nele um médico ou curandeiro

 

Imaginem, pois o pânico de que este ho-mem se viu possuído quando algo deste gênero lhe aconteceu "espontaneamente". Estamos de tal modo habituados à natureza aparentemente racional do nosso mundo que dificilmente pode-

 

que  tenha  tomado  aquela  forma  tem porária-

mos imaginar que nos aconteça alguma coisa im-

mente ; ou considerá-lo a alma do mato ou o es -

possível de ser  explicada  pelo  bom senso  co-

 

 

pírito ancestral de alguém da tribo. Uma árvore pode exercer um papel vital para um primitivo, possuindo aparentemente sua alma e sua voz, e o homem sentirá os seus dois destinos interliga-dos. Existe m alguns índios na América do Sul que afirmam ser araras vermelhas, apesar de saberem muito bem que lhes faltam penas, asas

 

  • Isto porque, no mundo primitivo, as coisas não têm fronteiras tão rígidas como as das nossas sociedades “racionais”'.

 

Mattanó aponta que abaixo da consciência até mesmo os conceitos podem tomar um outro sentido, o seu sentido inconsciente. Da mesma forma os significados e os sentidos, os contextos, a funcionalidade, o comportamento, a linguagem, a simbologia, a topografia, as relações sociais, a gestalt, o insight e o conteúdo de véspera.

(Mattanó; 26/11/2018).

Mattanó qualifica um aspecto de um sonho de simbólico porque não representa uma situação de modo direto e sim indiretamente, por meio de uma metáfora. Quando isto acontece (como é freqüente) não se trata de um "disfarce" proposital do sonho; é resultado, apenas, da nossa dificuldade em captar o conteúdo emocional da linguagem ilustrada. Ou seja, ocorre uma outra linguagem muito mais rica e difícil de se compreender e interpretar, assim como o conteúdo emocional desse evento.

(Mattanó; 09/08/2021).

 

 

 

Aquilo a que os psicólogos chamam identi-dade psíquica, ou "participação mística", foi afastado do nosso mundo objetivo. Mas é exata-mente este halo de associações inconscientes que dá ao mundo primitivo aspecto tão colorido e fantástico; a tal ponto perdemos contato com ele que se o reencontramos nem o reconhece-mos. Conosco, estes fenômenos situam-se abaixo do limite da consciência e quando, ocasionalmente, reaparecem insistimos em dizer que algo de errado está ocorrendo.

 

Fui consultado várias vezes por pessoas inte-

 

mum. O homem primitivo, ao se defrontar com este tipo de conflito, não duvidaria da sua sani-dade — pensaria em fetiches , em espíritos ou em deuses.

 

As emoções que nos afetam são, no entanto, exatamente as mesmas. Os receios que nascem de nossa elaborada civilização podem ser muito mais ameaçadores do que os atribuídos pelos povos primitivos aos demônios. A atitude do homem civilizado faz-me, por vezes, lembrar um paciente psicótico da minha clínica, que era médico. Uma manhã perguntei-lhe como se sentia. Respondeu -me que passara uma excelente noite desinfetando o céu inteiro com cloreto de mercúrio, mas que durante todo este processo sanitário não encontrara o menor traço de Deus. Temos aí um caso de neurose, ou talvez de coisa mais grave. Em lugar de Deus ou do "medo de Deus" há uma neurose de angústia ou uma espécie de fobia. A emoção conservou-se a mesma, mas, a um tempo, o nome e a natureza do seu objeto mudaram para pior.

 

 

Mattanó comenta que o assim como os pacientes de Jung buscavam explicações para seus medos e fobias em doenças na medida em que eram cultos e não acreditavam em fenômenos ocultos, hoje a sociedade justifica seus medos e fobias em extraterrestres ou alienígenas, pois não há mais espaço para doenças e fenômenos ocultos, chegando ao máximo de catalogar Deus como um alienígena.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

 

ligentes e cultas que estavam profundamente chocadas com certos sonhos, fantasias e mesmo visões. Supunham que este tipo de coisas não acontece aos sãos de espírito e que aqueles que têm visões devem sofrer de algum distúrbio patológico. Um teólogo disse-me, certa vez, que as visões de Ezequiel eram apenas sintomas mórbidos e que, quando Moisés e outros profetas ouviam "vozes", estavam sofrendo de alucinação.

 

      Mattanó comenta que a ¨participação mística¨ nos sonhos é um fenômeno que põe o sonhador abaixo do limite da consciência como uma pessoa profundamente inteligente e culta, certa de seus sonhos, fantasias e visões, o mundo atual ainda constrói muitas de suas relações a partir da ¨participação mística¨.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

 

Lembro-me de um professor de filosofia que consultou-me, um dia, sobre a sua fobia ao câncer. Sofria da convicção compulsiva de que tinha um tumor maligno, apesar de nada ter sido acusado em dezenas de chapas de raios X. "Sei que não há nada", dizia ele "mas pode haver." Qual seria a causa desta idéia fixa? Obviamente vinha de um medo que nada tinha a ver com a sua vontade consciente . Aquele pensa -

 

 

 

 

A esquerda, um feiticeiro do

 

Cameron usando uma máscara de

leão. Ele não finge ser um leão; está

convencido de que é um leão. Como

 

o congolês e sua máscara de pássaro

(pág. 25) ele partilha uma "identidade

 

psíquica" com o animal —

identidade existente no reino do mito

e do simbolismo. 0 homem

"racional" moderno tentou livrar-se

deste tipo de associação psíquica

(que no entanto subsiste no seu

 

inconsciente); para ele, uma espada

 

  • uma espada e um leão é apenas o que o dicionário (à direita) define.

 

 

 

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  • esquerda, São Paulo, caído ante o impacto de sua visão de Cristo (num quadro do artista italiano Caravaggio, século XVI).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acima, fazendeiros javaneses

 

secrificam um galo a fim de proteger seus campos dos espíritos. Tais

 

crenças e práticas são fundamentais na vida primitiva.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acima, o homem é apresentado, na

moderna escultura do inglês Jacob Epstein, como um monstro mecânico

 

— talvez uma imagem moderna dos "espíritos maus".

 

 

 

 

 

 

mento mórbido de repente tomava conta dele, e com tal força que não conseguia controlar-se.

 

Era bem mais difícil para este homem culto aceitar um fenômeno deste tipo do que seria pa-ra o homem primitivo dizer que fora atormenta-do por um fantasma. A influência maligna de espíritos maus é, pelo menos, uma hipótese ad-missível nas culturas primitivas, enquanto que para o civilizado é uma experiência perturbadora admitir que seus males nada mais são que uma tola extravagância da imaginação . O fenômeno primitivo da obsessão não desapareceu; é o mes-mo de sempre. Apenas é interpretado de maneira diversa e mais desagradável.

 

Fiz várias comparações deste tipo entre o homem moderno e o primitivo. São essenciais, como mostrarei adiante, para compreendermos a tendência do homem de construir símbolos e a participação dos sonhos para expressá-los. Pois vamos descobrir que muitos sonhos apresentam imagens e associações análogas a idéias, mitos e ritos primitivos. Estas imagens oníricas eram chamadas por Freud "resíduos arcaicos". A ex-pressão sugere que estes "resíduos" são elemen-tos psíquicos que sobrevivem na mente humana há tempos imemoriais. É um ponto de vista ca-racterístico dos que consideram o inconsciente um simples apêndice do consciente (ou, numa

 

 

 

 

 

 

linguagem mais pitoresca, como uma lata de lixo que guarda todo o refugo do consciente).

 

Pesquisas posteriores levaram-me a crer que esta é uma atitude insustentável e que deve ser desprezada. Constatei que associações e imagens deste tipo são parte integrante do inconsciente, e podem ser observadas por toda parte — seja o sonhador instruído ou analfabeto, inteligente ou obtuso . Não são, de modo algum, "resíduos" sem vida ou significação. Têm, ao contrário, uma função e são sobretudo valiosos (como mostra o Dr. Henderson num outro capítulo) devido, exatamente, ao seu caráter "histórico". Constituem uma ponte entre a maneira por que transmitimos conscientemente os nossos pensa-mentos e uma forma de expressão mais primiti-va, mais colorida e pictórica. E é esta forma, também, que apela diretamente à nossa sensibi-lidade e à nossa emoção. Essas associações "his-tóricas" são o elo entre o mundo racional da consciência e o mundo do instinto .

 

Mattanó explica que o inconsciente é um rico instrumento, tanto para o instruído quanto para o obtuso ou sem instrução, para o rico como para o pobre, para o branco, o preto, o amarelo, o vermelho e o mestiço, ele não discrimina mente ou tipo de pessoa por qualquer que seja sua discrminação, ele é universal em sua significação e pessoal em seu caráter histórico.

(Mattanó; 26/11/2018)

 

 

 

Já comentei a respeito do contraste interes - sante entre os pensamentos "controlados" que temos quando acordados e a riqueza de imagens produzidas pelos sonhos. Podemos constatar agora uma outra razão para esta diferença: na nossa vida civilizada despojamos tanto as idéias da sua energia emocional que já não reagimos

 

 

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mais a elas. Usamos estas idéias nos nossos dis-    ou deprimem-nos, ocorrências na vida profissio -

 

 

cursos, reagimos convencionalmente quando outros também as utilizam, mas elas não nos causam uma impressão profunda. É necessário haver alguma coisa mais eficaz para que mude-mos de atitude ou de comportamento. E é isto que a "linguagem do sonho" faz: o seu simbo-lismo tem tanta energia psíquica que somos o-brigados a prestar-lhe atenção.

 

 

nal ou social desviam a nossa atenção. Todas es-tas influências podem levar-nos a caminhos opostos à nossa individualidade; e quer perce - bamos ou não o seu efeito, nossa consciência é perturbada e exposta, quase sem defesas, a estes incidentes. Isto ocorre em especial com pessoas de atitude mental extrovertida, que dão todo o relevo a objetos exteriores, ou com as que abri -

 

Havia, por exemplo, uma senhora conheci -    gam sentimentos  de inferioridade e de dúvida

da por seus insuportáveis preconceitos e obstina-  envolvendo o mais íntimo da sua personalidade.

 

 

da resistência a qualquer argumento racional . Podia-se discutir com ela uma noite inteira; não tomaria o menor conhecimento das nossas opini-ões. Seus sonhos, no entanto , empregara m uma

 

 

Quanto mais a consciência for influenciada por preconceitos, erros, fantasias e anseios infan-tis mais se dilata a fenda já existente, até chegar-se a uma dissociação neurótica e a uma vida mais

 

 

linguagem inteiramente diferente. Uma noite sonhou que estava numa importante reunião so-cial, onde foi recebida pela anfitriã com as seguintes palavra s: "Que bom você ter podido

 

 

ou menos artificial, em tudo distanciada dos ins-tintos normais, da natureza e da verdade.

 

A função geral dos sonhos é tentar restabelecer a nossa balança psicológica, pro-

 

vir. Todos os seus amigos estão aqui à sua espe-    duzindo um material onírico que reconstitui, de

ra." E levou-a até uma porta, que abriu, intro-        maneira sutil , o equilíbrio psíquico total . É ao

 

duzindo -a num estábulo.

A linguagem deste sonho é simples o bas-tante para que até um ignorante a entenda. A mulher, a princípio, recusou-se a admitir o sen-tido de um sonho que vinha atingir tão direta-mente o seu amor-próprio. Mas acabou com-preendendo a mensagem que lhe era enviada, e após algum tempo aceitou a pilhéria que se auto-infligira.

 

Estas mensagens do inconsciente têm uma importância bem maior do que se pensa. Na nossa vida consciente estamos expostos a todos os tipos de influência. As pessoas estimulam-nos

 

 

  • esquerda, duas outras representações de espíritos: ao alto, demônios execráveis descem sobre Santo Antônio (quadro de Grünewald, artista alemão do século XVI). Abaixo, no painel central de um tríptico japonês do século XIX, o fantasma de um homem assassinado golpeia seu matador.

 

Conflitos ideológicos criam muitos "demônios" do homem moderno. Á

direita, uma caricatura do norte-

americano Grahan Wilson apresenta Krushchev como uma monstruosa

máquina da morte. A extrema direita,

 

uma caricatura da revista russa Krokodil mostra o "colonialismo"

como um lobo demoníaco que está

 

sendo empurrado para o mar pelas bandeiras das várias nações africanas

independentes.

 

 

que chamo função complementar (ou com-pensatória) dos sonhos na nossa constituição psí-quica. Explica por que pessoas com idéias pouco realísticas, ou que têm um alto conceito de si mesmas, ou ainda que constroem planos gran - diosos em desacordo com a sua verdadeira capa-cidade, sonham que voam ou que caem. O sonho compensa as deficiências de suas personalidades e, ao mesmo tempo, previne-as dos perigos dos seus rumos atuais. Se os avisos do sonho são rejeitados, podem ocorrer acidentes reais. A pessoa pode cair de uma escada ou sofrer um de-sastre de carro.

           

 

 

 

 

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            Mattanó explica que sonhamos com o que nos complementa quando temos uma balança psicológica dos sonhos, o material onírico reconstitui o equilíbrio total de maneira situl. Nossa constituição psíquica leva-nos a compensar nos sonhos com planos nossas deficiências, com avisos o que rejeitamos, com voos nossas quedas. O sonho rejeitado pode causar acidentes reais, podemos cair, tropeçar, nos cortar, sofrer um desastre de carro ou de avião, podemos matar e nos tornar-nos criminosos devido aos sonhos, por isso manipular os sonhos com telepatia e hipnose perguntando sobre violência e criminalidade, sobre doenças e loucuras, torna-se algo extremamente perigoso, pois podemos causar problemas para o sonhador em sua vida despertada, em seu ambiente de trabalho, escolar, familiar, religioso, social, etc..

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

 

Lembro-me do caso de um homem que se envolveu numa série de negócios escusos. Como uma espécie de compensação criou uma paixão quase mórbida pelas formas mais arriscadas de alpinismo. Procurava "erguer-se sobre si mes-mo". Uma noite sonhou que ao escalar o pico de uma montanha muito alta precipitara-se no espaço vazio. Quando me contou o sonho , ve-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

referências a caminha das que costumava fazer, sozinha, pelos bosques e onde se entregava a emotivos devaneios. Vi o perigo que corria, mas ela recusou-se a ouvir os meus conselhos. Pouco tempo depois foi atacada por um pervertido se-xual no bosque onde passeava. Não tivesse ha-vido a intervenção de pessoas que ouviram seus gritos ela teria sido morta.

 

 

Mattanó alerta que os sonhos servem para avisar-nos sobre perigos e ameaças que podem ocorrer conosco diante de determinados contextos e comportamentos, acredita que pode avisar também sobre perigos e ameaças sobre significados, sentidos, conceitos, funcionalidades, simbologias, linguagens, topografias, relações sociais, gestalts, insights e conteúdos de vésperas, antes mesmo que eles realmente aconteçam.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

rifiquei  imediatamente  o perigo  que  corria  e

Não  há  nenhuma  magia  nestes  fatos . Os

tentei reforçar ainda mais aquele aviso para per-

sonhos daquela mulher  revelaram que ela ali -

suadi-lo a moderar -se. Cheguei mesmo a dizer -

mentava um desejo secreto por tal tipo de aven -

lhe que o sonho pressagiava sua morte num aci-

tura  —  assim como  o alpinista  procurava,  in-

 

dente de alpinismo. Foi inútil. Seis meses mais tarde "precipitou-se no espaço vazio" . Um guia

 

conscientemente, solução definitiva para os seus problemas. Obviamente nenhum deles esperava

 

o  observava  enquanto,  com  um  companheiro,   pagar tal preço: nem ela ter várias fraturas, nem

descia por uma corda até um local de difícil aces-  ele perder a vida.

  1. O amigo encontrara um apoio temporário Assim,  os  sonhos  algumas  vezes  podem

para os pés, numa saliência, e ele o seguia. Re-      revelar certas situações muito antes de elas real-

pentinamente, soltou a corda como se (segundo     mente acontecer em. Não é necessariamente um

o guia) estivesse  "se precipitando no ar". Caiu       milagre ou uma forma de previsão. Muitas crises

sobre  o amigo,  ambos  despencaram montanha    da  nossa   vida   têm  uma   longa   história   in-

abaixo e morreram.                                                 consciente. Caminhamos ao seu encontro passo

Outro caso típico foi o de uma senhora que    a passo, desapercebidos dos perigos que se acu-

estava  vivendo  muito   acima  das   suas   pos -     mulam.  Mas  aquilo  que  conscientemente  dei -

 

sibilidades. Altiva e autoritária na sua vida co-tidiana, tinha, à noite, sonhos terríveis com toda

 

xamos de ver é, quase sempre, captado pelo nos-so inconsciente , que pode transmitir a in -

 

espécie de coisas desagradáveis. Quando lhe ex -   formação através dos sonhos.

 

pliquei os sonhos recusou-se, indignada, a tomar conhecimento deles. Os sonhos foram se tornando cada vez mais ameaçadores e cheios de

 

Os sonhos muitas vezes nos advertem; mas tantas outras parece que não o fazem. Portanto, qualquer suposição de que uma mão be-

 

 

50

 

  • esquerda, duas das influências a que está exposta a consciência do homem contemporâneo: a publicidade (um anúncio americano de 1960 destacando a "sociabilidade") e a propaganda política (um cartaz para um plebiscito de 1962, recomendando votar "sim", mas recoberto pelos "não" da oposição). Estas e outras influências levam-nos a viver de uma maneira nada condizente com a nossa natureza individual. E o desequilíbrio psíquico que podem provocar deve ser compensado pelo inconsciente.

 

0 faroleiro à direita (caricatura do

norte-americano Roland B. Wilson)

sofre, aparentemente, de distúrbios

psicológicos devido ao seu

isolamento. O seu inconsciente, na

função de compensador, produziu

uma companhia imaginária, a quem o

faroleiro confessa (segundo a

legenda da caricatura): "Não é só

isso Bill, mas ontem me surpreeendi

 

novamente falando comigo mesmo!"

 

0 oráculo de Delfos, abaixo, sendo

 

consultado pelo rei Egeu de Atenas

(pintura em vaso). "Mensagens" do

inconsciente são, muitas vezes, tão

ambíguas e enigmáticas como as

declarações dos oráculos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nevolente nos pode refrear a tempo é duvidosa. Ou, para sermos mais claros, parece que uma

força  benéfica

por  vezes

funciona  e

outras

não.  A mão

misteriosa  pode

até,  ao  contrá-

rio,  indicar

um

caminho

de

perdição

—  os

sonhos às vezes provam ser armadilhas , ou pelo menos parece que o são. Em certas ocasiões, comportam-se como o oráculo de Delfos quando disse ao rei Creso que se atravessasse o rio Haly destruiria um grande reino. Só depois de der - rotado numa batalha, após ter transposto o rio, é que descobriu que o reino a que o oráculo se re-feria era o seu próprio.

 

Não podemos nos permitir nenhuma inge-nuidade no estudo dos sonhos. Eles têm sua ori-gem em um espírito que não é bem humano, e sim um sopro da natureza — o espírito de uma deusa bela e generosa, mas também cruel. Se quisermos caracterizar este espírito, vamos aproximar -nos bem melhor dele na esfera das mitologias antigas e nas fábulas das florestas primitivas do que na consciência do homem moderno. Não estou querendo negar as grandes conquistas que nos trouxe a evolução da

sociedade    civilizada ,   mas    tais    conquistas

realizaram-se à custa de enormes perdas, cuja extensão mal começamos a avaliar. As comparações que fiz entre os estados primitivo e civilizado do homem tiveram como objetivo parcial mostrar o saldo destes ganhos e perdas.

 

 

 

 

 

 

Mattanó comenta que os sonhos muitas vezes nos passam desapercebidos por causa das suas forças inconscientes, inclusive quando assumem uma forma de previsão. Porém o que passou desapercebido da consciência não passou desapercebido do inconsciente. As mensagens do inconsciente podem ser claras, mas podem ser também ambíguas, misteriosas, cheias de armadilhas. A extensão das mensagens depende das conquistas e dos estados primitivos e do civilizado ao qual o homem deve mostrar o saldo destes ganhos e perdas, fazendo um balanço numa balança por compensações através dos sonhos.

(Mattanó; 27/11/2018).

Essa balança de compensações é feita e adquirida pesando os significados e os sentidos enquanto previsões, em suas simbologias ou formas misteriosas, contextos, conceitos, comportamentos e funcionalidades, mensagens inconscientes, linguagens, gestalts e insights, relações sociais, conteúdos manifestos (como o sonho se manifesta) e conteúdos latentes (a mensagem inconsciente do sonho), pressupostos e subentendidos, atos ilocucionários e atos perlocucionários, ou seja, força como aparecem na mente do paciente como argumento e seus efeitos visados ou projetados no comportamento e no meio social do paciente como argumento.

(Mattanó; 10/08/2021).

 

 

 

 

 

51

 

O homem primitivo era muito mais gover-nado pelos instintos do que seu descendente, o Kômem "racional", que aprendeu a "controlar-se". Em nosso processo de civilização separamos a consciência, cada vez mais, das camadas instintivas mais profundas da psique humana, e mesmo das bases somáticas do fenômeno psí-quico. Felizmente, não perdemos estas camadas instintivas básicas; elas se mantiveram como parte do inconsciente , apesar de só se expressarem sob a forma de imagens oníricas. Estes fenômenos instintivos — que nem sempre podem ser reconhecidos como tal, já que o seu caráter é simbólico — representam um papel vital naquilo que chamei função compensadora dos sonhos.

 

Para benefício do equilíbrio mental e mes-mo da saúde fisiológica, o consciente e o inconsciente devem estar completamente interli-gados, a fim de que possam se mover em linhas paralelas. Se se separam um do outro ou se ''dis-sociam", ocorrem distúrbios psicológicos. Neste particular, os símbolos oníricos são os mensageiros indispensáveis da parte instintiva da mente humana para a sua parte racional, e a sua interpretação enriquece a pobreza da nossa cons-ciência fazendo-a compreender, novamente, a esquecida linguagem dos instintos.

 

As pessoas, é claro, tendem a pôr em dúvida esta função já que os seus símbolos muitas vezes passam despercebidos ou incompreendidos. Na vida normal, a compreensão dos sonhos é até, por vezes, considerada supérflua. Posso dar um exemplo da experiência que tive com uma tribo primitiva da África Ocidental. Para meu espanto, os seus habitantes negavam que tivessem sonhos. Através de conversas pacientes e de perguntas indiretas, logo descobri que, como qualquer outra pessoa, também sonhavam, mas que apenas estavam convencidos de que seus sonhos não tinham significação alguma. "Os sonhos do homem comum não querem dizer nada", afirmaram -me. Pensavam que os únicos sonhos importantes eram os dos chefes das tribos e os dos feiticeiros que, como diziam respeito ao bem -estar geral do grupo, tinham grande valor aos seus olhos. O problema, no entanto, era que o chefe da tribo e o feiticeiro afirmavam terem deixado de sonhar coisas significativas. Esta mudança datava da época em que os ingleses haviam chegado ao país . O comissário do

 

distrito - o oficial britânico encarregado daquela tribo - tomara para si a função de sonhar, ele mesmo, os "grandes sonhos" que até então regiam o comportamento da tribo .

Quando os habitantes desta tribo admitiram que, na verdade, sonhavam, julgando apenas que seus sonhos não tinham maior importância, estavam agindo como o homem moderno que pensa que seus sonhos não têm nenhuma significação apenas porque não os entendem. Mas até mesmo o homem civilizado pode, por vezes, observar que um sonho (de que talvez ele nem se lembre) é capa z de piorar ou me-

lhorar  o  seu  humor .

O

sonho  foi  "com -

preendido" ,

que  de

uma  maneira  sub-

liminar . E é

isto,

aliás,

que acontece habitual -

mente. Apenas nas raras vezes em que um sonho

 

  • particularmente impressionante, ou que passa a repetir-se a intervalos regulares, é que as pes - soas buscam alguma interpretação.

 

Mattanó comenta que o homem primitivo era governado pelos seus instintos e que os sonhos tinham uma atividade compensadora, onde o equilíbrio mental e a saúde fisiológica derivam de uma boa relação entre consciente e inconsciente, quando eles se separam aparecem os distúrbios mentais. A interpretação dos sonhos nos faz compreender a esquecida linguagem dos instintos, onde seus símbolos passam desapercebidos ou incompreendidos. A linguagem dos instintos pode assim adquirir significado, sentido, conceito, contexto, funcionalidade, comportamento, simbologia, linguagem, topografia, relações sociais, gestalt, insight e conteúdos de véspera.

(Mattanó; 27/11/2018).

 

 

 

Devo acrescentar aqui uma palavra de cau-tela a respeito da análise de sonhos feita de ma-neira pouco inteligente ou pouco competente. Existem pessoas cujo estado mental é de tamanho desequilíbrio que interpretar os seus sonhos pode ser extremamente arriscado. São casos

 

em que uma consciência extremamente unilateral se encontra isolada de uma

inconsciência irracional ou "louca" correspondente, e as duas não devem ser postas em contato sem precauções muito especiais.

 

De modo geral, é uma tolice acreditar-se em guias pré-fabricados e sistematizados para a interpretação dos sonhos, como se pudéssemos

 

 

 

 

 

52

 

comprar um livro de consultas para nele en-contrar a tradução de determinado símbolo. Nenhum símbolo onírico pode ser separado da pessoa que o sonhou, assim como não existem interpretações definidas e específicas para qual-quer sonho.

 

  • maneira pela qual o inconsciente com-pleta ou compensa o consciente varia tanto de indivíduo para indivíduo que é impossível saber até que ponto pode, na verdade, haver uma clas-sificação dos sonhos e seus símbolos.

 

idade adulta . Este tipo de sonho é em geral uma tentativa de compensação para algum defeito particular que existe na atitude do sonhador em relação à vida; ou pode datar de um traumatismo que tenha deixado alguma marca. Pode também ser a antecipação de algum acontecimento importante que está para acontecer.

 

Sonhei durante muitos anos um mesmo motivo, no qual eu "descobria " uma parte da minha casa que até então me era desconhecida. Algumas vezes apare ciam os aposentos onde

 

É claro que existem sonhos e símbolos iso-

meus  pais, há muito  falecido s, viviam e onde

lados (preferia chamá-los "motivos") típicos, e

meu pai, para grande surpresa minha, montar a

que ocorrem com bastante freqüência. Entre es-

um labora tório de estudo da anatomia compara -

tes motivos estão a queda, o vôo, a perseguição

da dos peixes e onde minha mãe dirigia um ho-

feita por animais selvagens ou por pessoas ini -

tel para hóspedes fantasmas. Habitualme nte, es-

 

migas, sentir-se insuficiente ou impropriamente vestido em lugares públicos, estar-se apressado ou perdido no meio de uma multidão tu-multuada, lutar com armas inúteis ou estar sem meios de defesa, correr muito sem chegar a lugar algum. Um motivo infantil típico é o sonho de crescer ou diminuir infinitame nte, ou passar de

 

ta ala desconhecida surgia como um edifício his-tórico, há muito esquecido, mas de que eu era proprietário . Continha interessante mobiliário antigo e, lá para o fim desta série de sonhos, des-cobri também uma velha biblioteca com livros que não conhecia. Por fim, no último sonho, abri um dos livros e encontrei nele uma porção

 

um para outro extremo como em Alice no País

de  gravuras  simbólicas  maravilhosas.  Quando

das Maravilhas, de Lewis Carroll. Mas devo, no-

acordei, meu coração pulsava de emoção.

vamente, acentuar que são motivos a serem con-

Algum tempo antes de ter este último so-

sidera dos dentro  do contexto do sonho,  e não

nho, eu havia encomendado a um vendedor de

cifras de um código que se explicam por si mes-

livros antigos uma coleção clássica de alquimistas

mas.

medievais.  Encontrara numa obra  uma citação

O sonho recorrente é um fenômeno digno

que me pareci a relacionada com a antiga alqui -

de apreciação. Há casos em que as pessoas so-

mia bizantina e queria  verificar  isto.  Algumas

nham o mesmo sonho, desde a infância até a

semanas depois de ter tido o sonho do livro que

 

 

  • esquerda, uma fotografia de Jung (o quarto,à direita), datada de 1926, com indígenas do Monte Elgon, no Quênia. O estudo objetivo das sociedades primitivas feito por Jung levou-o a muitas e valiosas intuições psicológicas.

 

 

 

 

  • direita, dois livros de sonhos — um inglês, contemporâneo, e outro do antigo Egito (um dos mais velhos documentos escritos, datando aproximadamente do século 2000 a.C.). Estas interpretações práticas, já "preparadas", dos sonhos não têm valor algum. Os sonhos são fenômenos completamente individuais e seus símbolos não podem ser catalogados.

 

 

53

 

me era desconhecido, chegou um pacote do li - vreiro. Dentro havia um volume em pergami - nho, datando do século XVI. Era ilustrado com fascinantes gravuras simbólicas, que logo me lembraram as que eu vira no meu sonho . Como

  • redescoberta dos princípios da alquimia tor - nou-se parte importante do meu trabalho pio - neiro na psicologia, o motivo do meu sonho re - corrente é de fácil compreensão. A casa, certa - mente, era o símbolo da minha personalidade e do seu campo consciente de interesses; e a ala desconhecida da residência representava a ante - cipação de um novo campo de interesse e pes-quisa de que, na época, a minha consciência não se apercebera . Desde aquele momento, há 30 anos, o sonho não se repetiu.

 

Mattanó explica que há casos em que a interpretação do sonho torna-se não aconselhável, devido ao estado mental ou desequilíbrio do paciente. E avisa que não existem métodos de se universalizar a interpretação dos sonhos e dos seus símbolos, pois eles dependem de como o sonhador os compreende, significa, dá sentido, conceituar, contextualizar, funcionaliza e se comporta gerando o símbolo que por sua vez continua a desencadear o processo interpretativo dos sonhos com a linguagem, a topografia, as relações sociais, a gestalt, o insight e o conteúdo de véspera.

(Mattanó; 27/11/2018).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A análise dos sonhos

 

 

 

 

 

 

Comecei este ensaio acentuando a diferença existente entre um sinal e um símbolo. O sinal é sempre menos do que o conceito que ele repre-senta, enquanto o símbolo significa sempre mais do que o seu significado imediato e óbvio . Os símbolos, no entanto, são produtos naturais e espontâneos. Gênio algum já se sentou com uma caneta ou um pincel na mão dizendo: "Agora vou inventar um símbolo. " Ninguém pode tomar um pensamento mais ou menos racional, a que chegou por conclusão lógica ou por intenção deliberada , e dar-lhe forma "simbólica". Não importa de que adornos extravagantes se ornamente uma tal idéia — ela vai manter-se apenas um sinal associado ao pensamento cons-ciente que significa, e nunca um símbolo a suge-rir coisas ainda desconhecidas. Nos sonhos os símbolos ocorrem espontaneamente, pois so - nhos acontecem, não são inventados; eles cons-tituem, assim, a fonte principal de todo o nosso conhecimento a respeito do simbolismo.

 

Devo fazer notar, no entanto, que os sím-bolos não ocorrem apenas nos sonhos; aparecem em todos os tipos de manifestações psíquicas. Existem pensamentos e sentimentos simbólicos, situações e atos simbólicos. Parece mesmo que, muitas vezes, objetos inanimados cooperam com o inconsciente criando formas simbólicas. Há numerosas histórias autênticas de relógios que param no momento em que seu dono morre, como aconteceu com o relógio de pêndulo no palácio de Frederico , o Grande, em Sans Souci,

 

 

 

 

 

 

que parou na hora da morte do rei. Outro exemplo comum é o de um espelho que se parte ou de um quadro que cai quando alguém

 

morre. Ou também pequenos, mas inexplicáveis, acidente s de objetos que se quebram numa casa onde alguém sofre uma crise emocional. Mesmo que os céticos se recusem a acreditar nessas histórias, a verdade é que elas estão sempre acontecendo, e só isto basta como prova da sua importância psicológica.

 

Há muitos símbolos, no entanto (e entre eles alguns do maior valor), cuja natureza e origem não é individual, mas sim coletiva . Sobretudo as imagens religiosas: o crente lhes atribui origem divina e as considera revelações feitas ao homem. O cético garante que foram inventadas. Ambos estão errados. É verdade, como diz o cético, que símbolos e conceitos religiosos foram, durante séculos, objeto de uma elaboração cuidadosa e consciente. É também certo, como julga o crente, que a sua origem está tão soterrada nos mistérios do passado que parece não ter qualquer procedência humana. Mas são, efetivamente, "representações coletivas" — que procedem de sonhos primitivos e de fecundas fantasias.

 

Este fato, como explico mais tarde, tem re-lação direta e essencial com a interpretação dos sonhos. É evidente que se considerarmos o sonho um símbolo, vamos interpretálo de maneira diversa daquele que acredita que a emoção e o pensamento energético já são conhecidos e estão

 

 

 

Objetos inanimados parecem por vezes "agir" simbolicamente: á esquerda, o relógio de Frederico, o Grande, que parou em 1786, quando seu dono morreu.

 

Símbolos são produzidos espontaneamente pelo inconsciente

 

(apesar de poderem posteriormente ser elaborados conscientemente). À

 

direita, o ankh, símbolo da vida, do

 

universo e do homem, no antigo Egito. Em contraste, insígnias de

companhias de aviação (extrema

 

direita) não são símbolos, mas sinais conscientemente planejados.

 

 

55

 

apenas "disfarça dos" pelo sonho. Neste último caso, não haverá sentido na interpretação dos so-nhos desde que se vai encontrar , apenas, aquilo que já conhecemos.

Por esta razão disse eu sempre a meus alu-nos: "Aprendam tanto quanto puder em a res - peito do simbolismo; depois, quando forem analisar um sonho, esqueçam tudo.'' Este conse-lho tem tal importância prática que fiz dele uma lei para lembrar a mim mesmo que jamais pode-rei entender suficientemente bem o sonho alheio a ponto de interpretá-lo de modo perfeito. Estabeleci esta regra com o objetivo de impedir o fluxo das minhas próprias associações e reações que, de outro modo, acabariam predominando sobre as perplexidades e hesitações dos meus pa-cientes. Assim como é da maior importância te-rapêutica para um analista captar o mais exata - mente possível a mensagem particular de um so-nho (isto é, a contribuição feita pelo inconsciente ao consciente), também é-lhe essencial explorar o conteúdo do sonho com a mais criteriosa minúcia.

 

Tive um sonho, na época em que trabalhava com Freud, que ilustra bem este ponto. Sonhei que estava em minha casa, aparentemente no primeiro andar, numa sala de estar muito confortável e agradável, mobiliada no estilo do século XVIII. Estava admirado por nunca ter-me encontrado naquela saleta antes, e começava a perguntar-me como seria o andar térreo. Desci e cheguei a um cômodo bastante escuro, de pare-des almofadadas e uma mobília pertencente ao

 

 

 

  • direita, o pai e a mãe de Jung. O interesse revelado por Jung pela mitologia e religiões antigas afastou-o do mundo religioso de seus pais (seu pai era pastor) — como se verifica pelo sonho discutido nesta página, que teve quando trabalhava com Freud. Â extrema direita, Jung no Hospital Burghölzli, em Zurique, onde trabalhou como psiquiatra, em 1900.

 

 

 

 

56

 

 

século XVI, ou talvez mais antiga ainda. Minha surpresa e curiosidade aumentaram. Queria co-nhecer toda a disposição da casa. Desci então ao porão, onde encontrei uma porta que abria para um lance de degraus de pedra, levando a uma grande sala abobadada. O chão era de enormes lajes de pedra e as paredes pareciam muito antigas. Examinei a argamassa e verifiquei que estava misturada a pedaços de tijolos. Obviamente eram paredes de origem romana. Sentia-me cada vez mais agitado. Num canto vi uma laje com uma argola de ferro. Puxei a argola e encontrei outro lance de degraus estreitos que conduziam a uma gruta, uma espécie de sepultura pré-histórica, onde se encontravam duas caveiras, alguns ossos e cacos de cerâmica. Neste momento acordei.

 

Se Freud, ao analisar este sonho, tivesse seguido o meu método na exploração do seu contexto e das suas associações específicas, teria chegado a uma longa história. Mas receio que ele

a desprezasse considerando -a uma simples tentativa para escapar a um problema que, na verdade, era seu. O sonho, de fato, é um resumo da minha vida ou, mais especificamente, do desenvolvimento da minha mente. Cresci numa casa que tinha 200 anos, nossa mobília possuía peças de cerca de 300 anos e minha maior aventura espiritual, até aquela ocasião, fora o estudo das filosofias de Kant e Schopenhauer. O grande acontecimento da época era o trabalho de Charles Darwin. Pouco antes deste período eu ainda vivia orientado pelos conceitos medievais de

 

meus pais, para quem o mundo e os homens eram conduzidos ainda pela onipotência e providência divinas . Este mundo tornara-se antiquado e obsoleto e minha fé cristã perdera seu caráter absoluto ao defrontar-se com as religiões ocidentais e a filosofia grega. Por este motivo o andar térreo do meu sonho era tão silencioso, es-curo e, obviamente, inabitado.

 

Meu interesse pela história, naquela época, tinha se originado de um outro interesse — a anatomia comparada e a paleontologia, quando trabalhava como assistente no Instituto Ana-tômico. Ficara fascinado com o estudo fóssil do homem, particularmente o discutido homem de Neanderthal e a controvertida caveira do Pithecanthropus,  de Dubois . Na verdade, estas eram as minhas reais associações com o sonho; mas nem ousei mencionar a Freud nada sobre caveiras, esqueletos ou cadáveres porque sabia que este tema não lhe era nada simpático . Ele alimentava a impressão singular de que eu an-tecipava -lhe uma morte prematura. E chegara a esta conclusão porque eu demonstrara grande interesse pelos corpos mumificados da chamada Bleikeller de Bremen, que visitáramos juntos em 1909 a caminho do navio que nos levou à Amé-rica.

 

Por isso relutei em expor-lhe o que pensava, já que outra experiência recente deixara-me pro-fundamente impressionado com o fosso quase intransponível existente entre os seus pontos de vista e idéias básicos e os meus. Receava perder sua amizade se o deixasse penetrar no meu mun-

 

do interior que, talvez, lhe, parecesse muito es - tranho. Sentindo-me também inseguro quanto

à minha própria psicologia, disse-lhe, quase au-tomaticamente, uma mentira a respeito das minhas "livres associações", fugindo assim à ta - refa impraticável de esclarecê-lo sobre a minha constituição psíquica, tão pessoal e totalmente diversa da sua.

 

Devo pedir ao leitor que me perdoe esta longa narrativa das dificuldades em que me meti par a contar meu sonho a Freud. Mas é um bom exemplo dos embaraços em que a gente se envolve no decorrer da análise real de um sonho, de tal modo são importantes as diferenças de personalidade do analista e do analisado.

 

Verifiquei logo que Freud procurava algum "desejo inconfessável" no meu sonho. Por isso sugeri, especulativamente, que as caveiras poderiam referir-se a alguns membros da minha família cuja morte eu desejasse, por um motivo qualquer. Esta suposição foi bem aceita por ele, mas eu não ficara nada satisfeito com esta solução "postiça" .

 

Enquanto tentava encontrar respostas razoáveis às perguntas de Freud, perturbei-me com a minha intuição a respeito da função exercida pelo fator subjetivo na compreensão psicológica . Minha intuição era tão forte que eu só tinha um pensamento — o que fazer para sair desta situação emaranhada em que me metera. Segui o caminho mais fácil, mentindo, o que não é nem elegante nem moralmente defensável; de outra maneira, no entanto, eu me arriscaria a uma briga fatal com Freud, para a qual, por várias razões, não me sentia preparado.

 

Esta minha intuição foi a compreensão ime - diata e bastante inesperada de que o sentido do meu sonho era a minha própria pessoa, a minha vida e o meu mundo, minha realidade total contra a estrutura teórica erguida por outra mente desconhecida, por motivos e propósitos que lhe eram particulares. Não se tratava do sonho de Freud, mas do meu. E num lampejo compreendi o que meu sonho me queria dizer.

 

Este conflito ilustra um ponto vital na aná-lise dos sonhos. E menos uma técnica que se po-de aprender e aplicar de acordo com as regras do que uma permuta dialética entre duas personali-dades. Se tratarmos a análise como uma técnica mecânica, perde-se a personalidade psíquica da pessoa que sonha e o problema terapêutico fica

 

reduzido a uma simples  interrogação:  qual das

duas  pessoas  em jogo  —  o analista  ou o so-

nhador — dominará a outra? Foi por este mo -

tivo que desisti do tratamento hipnótico, desde

que não queria impor aos outros a minha von -

tade. Desejava que o processo da cura nascesse

da própria personalidade do paciente e não de

sugestões minhas, que teriam um efeito apenas

passageiro. Meu objetivo era proteger e preservar

a dignidade e a liberdade do meu doente para

que ele vivesse a sua vida de acordo com os seus

próprios  desejos.  Nesta experiência  com Freud

foi-me revelada, pela primeira vez, a noção de

que antes de construirmos teorias  gerais a res -

peito  do  homem  e  sua  psique  deveríamos  a -

prender bastante mais sobre o ser humano com

quem vamos lidar.

O indivíduo é a realidade única. Quanto

mais nos afastamos dele para nos aproximarmos

de idéias  abstratas sobre o homo sapiens  mais

probabilidades  temos  de erro.  Nesta  época  de

convulsões sociais e mudanças drásticas é impor-

tante sabermos mais a respeito do ser humano,

pois muito depende das suas qualidades mentais

e morais. Para observarmos as coisas na sua justa

perspectiva precisamos, porém, entender tanto o

passado do homem quanto o seu presente. Daí a

importância essencial de compreendermos mitos

e símbolos.

 

 

Mattanó comenta que descobrimos com a técnica interpretativa dos sonhos e não com a hipnótica que submete o paciente aos mandos do terapeuta, e assim a sua própria psicologia, revelando que devemos deixar e manter o analisando livre de interferências durante a sua fala, ouvindo-o com amor, para que sua psicologia se revele e seja livre e o liberte e não às interferências, deste modo compreenderemos os significados, os sentidos, os conceitos, os contextos, as funcionalidades, os comportamentos, as simbologias, as linguagens, as topografias, as relações sociais, as gestalts, os insights e os conteúdos de vésperas que o paciente traz na sessão para o terapeuta interpretar. Esta técnica ajuda a diferenciar os sinais e os símbolos. Os sinais são conscientes, são inventados por meio da atividade, da educação e do trabalho do ser humano. Já os símbolos não podem ser inventados, são produzidos nos sonhos, são inconscientes. Tanto os sinais quanto os símbolos e até os mitos são qualidades mentais e morais do ser humano que ele usa para se adaptar as adversidades do meio ambiente e evoluir gerando filogênese, ontogênese, cultura, espiritualidade, vida e universo, com base na aleatoriedade da reprodução e da genética que produz mudanças morfológicas, fisiológicas, comportamentais e genéticas nos seres humanos, assegurando a sua evolução e seleção natural.

(Mattanó; 27/11/2018).

 

 

 

 

 

 

O  problema dos tipos

 

 

 

 

 

 

Em todos os outros ramos da ciência  é lícito

 

 

 

 

aplicar-se uma hipótese a um assunto ou tema

 

 

impessoal. A psicologia, no entanto, inevitavel -

 

 

mente nos confronta com as relações vivas entre

 

 

dois indivíduos , nenhum dos quais pode ser des-

 

 

pojado  da sua personalidade subjetiva nem, na

 

 

verdade,  despersonalizado  em  qualquer  outro

 

 

sentido. O analista e seu paciente podem estabe-

 

 

lecer que um determinado problema será trata-

 

 

do de um modo impessoal e objetivo. Mas, no

 

 

momento em que se absorvem no assunto, suas

 

 

personalidades vão ficar totalmente envolvidas.

 

 

Nesta altura, só podem alcançar êxito chegando

 

 

a um acordo mútuo.

 

 

Será possível emitir um julgamento objeti-

 

 

vo sobre o resultado final? Só se fizermos uma

 

 

comparação entre as nossas conclusões e os pa-

 

 

drões considerados válidos no meio social a que

 

 

o indivíduo pertence. E mesmo então  precisa-

 

 

mos ter em conta o equilíbrio mental (ou "sa-

 

 

nidade") da pessoa em causa. Pois o resultado

 

 

não poderá ser um nivelamento coletivo do indi-

 

 

víduo para ajustá-lo às "normas" da sua socie-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um extrovertido autoritário domina

 

um introvertido retraído, nesta

caricatura do norte-americano Jules

Feiffer. Os termos jungianos para

distinguir os "tipos" humanos não

são, absolutamente, dogmáticos.

Gandhi (à direita), por exemplo, era,

a um tempo, um asceta (introvertido)

e um líder político (extrovertido). Um

indivíduo — qualquer um de uma

multidão, á direita — só pode ser

classificado de forma genérica.

 

 

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dade, já que tal procedimento levá-lo-ia a uma condição totalmente artificial. Uma sociedade saudável e normal é aquela em que as pessoas habitualmente entram em divergência, desde que um acordo geral é coisa rara de existir fora da esfera das qualidades humanas instintivas.

 

Apesar de a divergência funcionar como veículo na vida mental de uma sociedade, não se pode considerá-la um objetivo em si. A con - cordância é igualmente importante. E porque a psicologia depende, basicamente, do equilíbrio dos contrários, nenhum julgamento pode ser considerado definitivo sem que se leve em conta a sua reversibilidade. A razão desta particularidade está no fato de não existir nenhum ponto de vista, acima ou fora da psicologia, que nos permita formar um julgamento definitivo sobre a natureza da psique.

 

mente impossível formular ou ensinar qualquer teoria psicológica se nos limitássemos a descrever uma porção de casos isolados sem qualquer es-forço para verificar o que têm em comum e aqui-lo em que diferem. Qualquer característica geral pode ser escol hida como base. Pode-se, por exemplo, fazer uma distinção relativamente simples entre indivíduos de personalidades "ex-trovertidas" e aqueles que são "introvertidos". Esta é apenas uma das muitas generalizações possíveis, mas permite-nos logo ver as dificulda-des que podem surgir no caso de o analista per-tencer a um dos tipos e seu paciente a outro.

 

Como qualquer análise mais profunda dos sonhos conduz a um confronto entre dois in-divíduos, logicamente há de fazer uma grande diferença o fato de possuírem ou não o mesmo tipo de personalidade . Se ambos perten cem ao

 

Apesar de os sonhos pedirem um tratamen -

mesmo  tipo,  podem  caminhar junto se felizes

to individual, são necessárias também algumas

por longo tempo; mas se um for extrovertido e o

generalizações para classificar e esclarecer o ma-

outro  introvertido,  seus  pontos  de  vista ,  di-

terial recolhido pelos psicólogos no seu estudo

ferentes e contrários, logo vão entrar em choque,

de um grande número de pessoas . Seria logica -

sobretudo se cada um deles não estiver cons-

 

 

ciente do seu tipo de personalidade ou julgar que o seu tipo é o único verdadeiramente bom. O extrovertido, por exemplo, vai adotar sempre o ponto de vista da maioria; o introvertido há de rejeitá-lo, justamente por ser ''o que está na mo-da". Esta divergência é fácil de acontecer, já que o que tem valor para um é exatamente o que não o tem para o outro. Freud, por exemplo, con-siderava o tipo introvertido como o de um indivíduo morbidamente preocupado consigo mesmo. No entanto, a introspecção e o autoconhecimento podem também ser fatores da maior importância.

 

É de necessidade vital na interpretação dos sonhos tomarmos conhecimento destas di-ferenças de personalidade. Não se deve presumir que o analista seja um super-homem, acima des-tas diferenças, apenas porque é um médico, dono de uma teoria psicológica e de uma técnica correspondente. O médico só se pode considerar superior se pretender que sua teoria e sua técnica são verdades absolutas, capazes de dominar a to-talidade da psique humana. Desde que tal pre-tensão é bastant e discutível, ele não poderá ter este tipo de convicção. Como conseqüência, ver-se-á secretamente crivado de dúvidas ao con - frontar com teorias e técnicas (que são simples hipót eses e tentativas) a totalidade humana que

 

  • o seu paciente, em lugar de confrontá-lo com a sua própria totalidade existencial.

A personalidade global do analista é o único equivalente apropriado da personalidade do

 

paciente. Experiência e conhecimento psi - cológicos nada mais são que simples vantagens do lado do analista; e não vão livrá -lo da  de -

 

A "bússola" da psique — outra forma jungiana de examinar as pessoas em

 

geral. Cada ponto da bússola tem um pólo oposto: para o tipo "pensante",

o lado "sentimento" é menos

 

desenvolvido ("sentimento" significa, aqui, a capacidade de pesar e avaliar

 

  • experiência — no sentido de se dizer "eu sinto que isto é uma boa coisa para fazer", sem precisar analisar ou raciocinar o porquê da ação). É claro que há justaposições em cada pessoa: um indivíduo que age segundo as suas "sensações" poderá possuir, igualmente forte, o lado "pensante" ou o lado do "sentimento" (e a "intuição", o pólo oposto, ser o mais fraco).

 

sordem e da confusão a que vai ser posto à prova, juntamente com seu paciente. Assim, é muito importante saber se suas personalidades são har-mônicas, divergentes ou complementares.

Mattanó acrescenta que além da divergência ou da convergência entre personalidades, notamos acentuado desenvolvimento em nossas sociedades e culturas da divergência ou da convergência de significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, simbologias, topografias, linguagens, relações sociais, gestalts, insights, sonhos, aspirações, desejos, volições, amor e ódio que se projetam em arquétipos em forma de arte, trabalho, educação e religião, como forma de comunicação entre o pessoal e o coletivo, donde aprendemos a nos comportar de forma introvertida ou extrovertida, anunciando uma era em que seríamos divergentes, convergentes ou complementares aceitando as diferenças e amando uns aos outros como a nós mesmos.

(Mattanó; 11/12/2018).

 

Extroversão e introversão  são apenas duas

entre   as   muitas    peculiaridades     do   com -

portamento humano. São, muitas vezes, bastante óbvias e facilmente reconhecíveis. Ao estudarmos os indivíduos extrovertidos, por exemplo , logo iremos perceber que diferem um do outro em muitos aspectos, e que a extroversão é, portanto , um critério superficial e bastante genérico para caracterizar um só indivíduo. Por isto tentei , já há muito tempo, encontrar outras particularidades básicas capazes de ajudar a pôr alguma ordem nas diferenças, aparentemente ilimitadas, da individualida de huma na.

 

Sempre me impressionou o fato de que um número surpreendente de pessoas não utilize ja - mais a sua mente, se for possível evitá-lo, e tam-bém que um número considerável o faça de ma-neira absolutamente estúpida. Também espantou -me encontrar muitas pessoas inteligentes e argutas que vivem (tanto quanto se pode observar ) como se nunca tivessem aprendido a usar os seus sentidos: não vêem o que lhes está diante dos olhos , nem ouvem as palavras que soam aos seus ouvidos ou notam as coisas em que tocam ou provam. Alguns vivem sem mesmo tomar consciência do seu próprio corpo.

 

Tive contato, também, com muitas pessoas que pareciam viver no mais estranho estado de espírito, como se a condição a que tivessem che-

 

Pensamento

 

 

 

 

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gado hoje fosse definitiva, sem qualquer pos-sibilidade de mudança, ou como se o mundo e a psique fossem estáticos e assim permanecessem eternamente.  Pareciam destituídas de qualquer imaginação e dependiam, inteira e ex- clusivamente, da sua percepção sensorial. Acasos e possibil idades não existiam no mundo em que viviam e no seu "hoje " não havia um "a ma - nhã" verdadeiro. O futuro nada mais significava que a repetição do passado.

 

Estou tentando aqui dar ao leitor uma rá - pida idéia das minhas primeiras impressões quando comecei a observar as pessoas que en-contrava. Logo se me tornou evidente, no en - tanto, que as pessoas que utilizavam as suas men tes era m as que "pensa vam " — isto é, aquelas que usavam as suas faculdades intelectuais tentando adaptar-se a gentes e circunstâncias. As pessoas igualmente inteligentes que não pensavam buscavam e encontravam o seu caminho através do ''sentimento''.

 

"Sentimento" é uma palavra que pede uma certa explicação. Por exemplo, falamos dos sentimentos que nos inspira uma pessoa ou uma coisa. Mas também emprega mos a mesma pa-lavra para definir uma opinião; por exemplo , um comunicado da Casa Branca pode dizer: "O Presidente sente..." Além disso, a palavra tam-bém pod e ser usa da para exprimir uma intuição: "Senti que ... "

 

Quand o uso a palavra "sentimento" em oposição a "pensamento" refiro-me a uma a-preciação, a um julgamento de valores — por exemplo, agradável ou desagradável, bom ou mau, etc. O sentimento, de acordo com esta de - finição, não é uma emoção (que é involuntária). O sentir, na significa ção que dou à palavra (co - mo pensar), é uma função racional (isto é, or-ganizadora ) enquanto a intuição é uma função irracion al (ist o é, perceptiva). Na medida em que a intuiç ão é um "palpite", não será, logicamente, produto de um ato voluntário; é, antes, um fenômeno involuntário — que de - pende de diferentes circunstâncias externas ou internas — e não um ato de julgamento. A in-tuição é mais uma percepção sensorial que, por sua vez, também é um fenômeno irracional, já que depende essencialmente de estímulos ob - jetivos oriundos de causas físicas e não mentais.

 

Estes quatro tipos funcionais correspondem às quatro formas evidentes, através das quais a consciência se orienta em relação à experiência.

 

A sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; o pensamento mostra -nos o que é esta coisa; o sentimento revela se ela é agradável ou não; e a intuição dir-nos-á de onde vem e para onde vai.

 

O leitor deve compreender que estes quatro critérios, que definem tipos de conduta humana, são apenas quatro pontos de vista entre muitos outros, como a força de vontade, o tempera-mento, a imaginação, a memória, e assim por diante . Nada há de dogmático a respeito deles, mas o seu caráter fundamental recomenda-os pa-ra uma classificação. Acho-os particularmente úteis quando preciso explicar as reações dos pais aos filhos , as dos maridos às mulher es e vice-versa. Ajudam-nos também a compreender nos-sos próprios preconceitos.

 

Assim, para entender os sonhos de outras pessoas precisamos sacrificar nossas preferências e reprimir nossos preconceitos. Não é fácil nem confortável fazê-lo, desde que implica um esfor - ço moral nem sempre do nosso gosto. Mas se o analista não fizer este esforço para criticar seus próprios pontos de vista e admitir a sua relativi - dade, não há de obter a informação correta nem a penetração suficiente, necessárias ao conheci-mento da mente do seu paciente. O analista es-pera da parte do paciente ao menos uma certa boa vontade a respeito das suas opiniões e da sua serie dade de propósitos. Quanto ao paciente, devem-lhe ser concedidos os mesmos direitos. Apesar de este tipo de relacionamento ser indispensável para qualquer bom entendimento — e, portanto, de evidente necessidade — precisamos lembrar -nos, repetidamente, que do ponto de vista terapêutico é mais importante que o doente compreenda do que o analista obter a confirmação de suas expectativas teóricas. A resistência do paciente à interpretaçã o do analista não é uma reação errada; é, antes, sinal de que algo não está bem. Ou o paciente ainda não alcançou estágio em que pode compreender , ou a inter pretação não foi bastante adequada.

Mattanó acrescenta que além dos tipos que Jung descobriu temos: o sensação telepático (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe através do conhecimento virtual e telepático; o pensamento telepático mostra -nos o que é esta coisa através do conhecimento virtual e telepático; o sentimento telepático revela se ela é agradável ou não através do sentimento virtual e telepático; e a intuição telepática dir-nos-á de onde vem e para onde vai através da intuição virtual e telepática.

(Mattanó; 16/09/2021)