65.MITOLOGIA, POLÍTICA E LOUCURA: O MACACO NÚ.

Osny Mattanó Júnior

Desmond Morris

 

Mitologia, Mitologia Política e Loucura

O macaco nu

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A MATEMÁTICA CRIATIVA EVOLUTIVA DE MATTANÓ

 

      A Matemática Criativa Evolutiva ou Etológica estuda a força das variáveis evolutivas no impacto nas mitologias através da fórmula:
n (adversidades) + n (características anatômicas) + n (características fisiológicas) + n (características morfológicas) + n (características comportamentais) + número de objetos de estudo (sujeitos evoluindo) = força de impacto nas mitologias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Existem atualmente cento e noventa e três espécies de macacos e símios. Cento e noventa e duas delas têm o corpo coberto de pêlos. A única exceção é um símio pelado que a si próprio se cognominou Homo sapiens. Esta insólita e próspera espécie passa grande parte do tempo a examinar as suas mais elevadas motivações, enquanto se aplica diligentemente a ignorar as motivações fundamentais. O bicho-homem orgulha-se de possuir o maior cérebro dentre todos os primatas, mas tenta esconder que tem igualmente o maior pênis, preferindo atribuir erradamente tal honra ao poderoso gorila. Trata-se de um símio com enormes qualidades vocais, agudo sentido de explo-ração e grande tendência a procriar, e já é mais do que tempo de examinarmos o seu comportamento básico.

Mitologicamente apreendemos que o bicho-homem se fez ritualmente a partir e para partir de sua evolução, quando se viu sem pêlos e diferente dos outros animais com os quais convivia, além de se perceber dotado de motivações e intenções psíquicas e afetivas, certamente em função da evolução e do aumento da massa de seu cérebro e de seu pênis, mas também pelas qualidades vocais e pelas novas qualidades procriativas, ritualmente ensaiado em mitos primitivos, em desenhos nas pedras, nas rochas e nas cavernas que muito provavelmente serviram-no para ritualizar suas necessidades fisiológicas, de garantia, de pertinência, de amor e de sobrevivência, o aumento do tamanho do seu pênis significou alguma mudança bio-psico-social para o bicho-homem e por conseguinte sua mitologização e ritualização, pois se tornou importante com importante significado e importante sentido pois também vieram mudanças nas práticas procriativas.

Politicamente o bicho-homem se viu dotado de relações sociais e práticas como as alimentares e procriativas, vendo-se obrigado e se autoregular, a desenvolver uma arte de bem governar a si mesmo e aos outros, a sua comunidade que foi desenvolvendo técnicas de e para a convivência, dentre elas a política a partir do aumento da massa cerebral e do aumento do pênis e pelo aumento das qualidades vocais que lhe muniram de técnicas de comunicação para sua sobrevivência e de sua comunidade, inclusive de sua política que emergiu em meio a estas descobertas.

É através das suas novas características que esta nascendo o alvorecer de um novo comportamento, a loucura, e a loucura oriunda da mitologia e da política. Com a perda dos pêlos e se vendo como diferente dos outros animais com quem convivia, inclusive com diferentes motivações que incluem afetos e pensamentos, aumento da massa cerebral e do seu pênis, aumento das qualidades vocais e procriativas que ele se vê num novo dilema, o de abandonar o velho macaco para se transformar ou viver o novo bicho-homem, ou seja, ter de aceitar sua nova condição, de ser diferente, excluído e discriminado, de ter vantagens e desvantagens comportamentais e sociais sobre os demais com quem conviviam seus ancestrais. Essa nova condição colocou-o numa possível condição de conflito negado pelos instintos animais que renunciam a psique de forma que ela não se forme e nem se manifeste, devido a sua condição de animal e não de homem. Porém existe aquela informação ancestral provada como diferente que moldou o comportamento e as sociedades de nossos ancestrais, influenciando-nos até hoje, por exemplo, na loucura.

Pt. 2

Sou zoólogo e o macaco pelado é um animal. É, portanto, caça ao alcance da minha pena e recuso-me evitá-lo mais tempo, só porque algumas das suas normas de comportamento são bastante complexas e impressionantes. A minha justificativa é que, apesar de se ter tornado tão erudito, o Homo sapiens não deixou de ser um macaco pelado e, embora tenha adquirido motivações muito requintadas, não perdeu nenhuma das mais primitivas e comezinhas. Isso causa-lhe muitas vezes certo embaraço, mas os velhos instintos não o largaram durante milhões de anos, enquanto os mais recentes não têm mais de alguns milhares de anos — e não resta a menor esperança de que venha a desembaraçar-se da herança genética que o acompanhou durante toda a sua evolução. Na verdade, o Homo sapiens andaria muito menos preocupado, e sentir-se-ia muito mais satisfeito, se fosse capaz de aceitar esse fato. É talvez nesse sentido que um zoólogo pode ajudar.

Mitologicamente o macaco pelado ou o bicho-homem é um animal que ritualiza seus comportamentos, suas motivações e intenções mais profundas, se fazendo caça ao caçador, o próprio semelhante, erudito ou não erudito caça a si mesmo e não há coisa alguma que o ajude a não ser a educação e a psicoterapia ou a saúde, pois esse padrão de comportamento é determinado geneticamente por milhões de anos ou evolutivamente, ou seja, é selecionado para a nossa sobrevivência como espécie, indivíduo, cultura, espiritualidade, vida e cosmos ou universo, revelando através dessa caça uma mitologia de caça e de caçador, de amor e de ódio, de afetividade, de pensamentos e de pressentimentos, que quando estão em jogo na vida social espelham as máscaras de Deus ou as máscaras da eternidade, os mitos que nos orientam e guiam para nos salvar e cuidar, revelando-nos o caminho certo e seguro para o desfecho do ritual, marcado com a ressurreição do animal e a vida e segurança da sua comunidade.

Politicamente abordamos a caça e o caçador, o amor e o ódio, a afetividade e os pensamentos, os ritos e mitos que envolvem o nascimento de uma política que põe em jogo a vida social do bicho-homem, orientando-o e ajudando-o a se guiar em meio as adversidades ambientais e comportamentais e até psíquicas e sociais que lhe rompem a natureza de bicho para se ver como bicho-homem ou a caminho de um bicho-homem, marcado pelo aflorar de uma política que lhes favorecem autogerir e governar suas comunidades que enfrentam mudanças sociais e comportamentais, como na procriação, na alimentação e no próprio organismo com mutações que ajudam a criar um novo organismo social e o nascimento de um organismo político.

A loucura é provada com seu brotar como ao de uma planta que irá crescer numa floresta, a civilização. A loucura nasce com o conflito, caça e caçador, amor e ódio, a afetividade e os pensamentos, os mitos e os ritos do novo jogo, o jogo da vida social marcado pelas comunidades de bichos-homens que tem de lidar com os ritos e a política a nascer para gerir e administrar suas comunidades como forma de bem governar, e assim bem governar aos alimentos, a caça e os caçadores, as mudanças sociais, as mutações que melhoraram o desempenho comportamental e morfológico desses bichos-homens em suas necessidades que tinham que combater em meio as condições propícias a loucura como a guerra, o combate, a morte, as doenças, a fome, o incesto e os emergentes conflitos decorrentes dele, a procriação e a sexualidade toda em transformação, nossa sexualidade quando está em transformação e movimento gera e causa muito loucura e desordem, é provável que as mudanças e mutações sexuais tenham causado muita loucura e desordem psico-social entre os bichos-homens.

Pt. 3

Um dos fatos mais estranhos de todos os estudos anteriores sobre o macaco pelado é a forma sistemática como evitam focalizar o que é evidente. Os primeiros antropologistas apressaram-se a vasculhar os cantos mais escondidos do mundo, pretendendo decifrar as verdades fundamentais sobre a nossa natureza e dispersando-se pelas fontes culturais mais remotas, muitas vezes atípicas e falhadas, a ponto de se terem quase extinguido. Em seguida, regressam carregados de aterradoras informações sobre os hábitos de acasalamento mais bizarros, os sistemas de parentesco mais estranhos ou os costumes tribais mais fantásticos e usam esse material para compreender o comportamento da nossa espécie, como se ele fosse da mais transcendente importância. Sem dúvida que o trabalho desses investigadores é muitíssimo importante e valioso para mostrar o que pode acontecer quando a evolução cultural de um grupo de macacos pelados o empurra para um beco sem saída. Revela mesmo até que ponto o nosso comportamento se pode desviar do normal, sem no entanto redundar num completo fracasso social. Mas nada ficamos sabendo sobre o comportamento típico dos macacos pelados mais ou menos característicos. Isso apenas se pode conseguir examinando as normas do comportamento habitual dos membros mais vulgares, daqueles que foram mais bem sucedidos e que correspondem aos principais tipos de cultura — as principais correntes que, no seu conjunto, representam a grande maioria. Do ponto de vista biológico, essa é a única forma correta de abordar o problema. Os antropologistas da velha escola argumentariam que os seus grupos tribais tecnologicamente elementares estão mais próximos do fulcro da questão do que os membros das civilizações mais avançadas. Não concordo. Os grupos tribais simples que ainda hoje existem não são primitivos, mas estupidificados. Há muitos milhares de anos que não existem verdadeiras tribos primitivas. O macaco pelado é essencialmente uma espécie exploradora, e toda a sociedade que não foi capaz de avançar constitui um fracasso e "seguiu um caminho errado". Por alguma razão se manteve atrasada, algo se opôs às tendências naturais da espécie para explorar e investigar o mundo que a rodeia. É muito possível que as características que os antigos antropologistas encontraram nessas tribos sejam exatamente os fatores que impediram o respectivo progresso. Daí o grande perigo de utilizar essas informações como base para um esquema geral do comportamento da nossa espécie.

Revela-se através do estudo da mitologia que o bicho-homem é um ser explorador e que as sociedades ou civilizações que não seguiram esta regra sucumbiram e desapareceram, o avanço deve-se a exploração, o caminho se faz através da exploração, esse é o caminho correto para o bicho-homem, notamos que ritualmente o bicho-homem ritualiza aqui seu caminho de partida das florestas para as savanas e das savanas para as cidades e das cidades para o espaço, para a lua, podemos falar de um rito de partida e de exploração, que ajuda a formar mitos que expressam essa informação, essa relação do ser humano com seu caminho, com a partida e a exploração do meio ambiente, até do universo.

A política vê-se aqui como uma lança de caçador a ser montada aos poucos pelas mãos e pelas informações que lhes eram transmitidas, enquanto outras informações sobre outras técnicas de caça e de luta, de sobrevivência e de relações sociais não eram transmitidas, certamente por que não eram bem sucedidas e portanto não despertavam o reforço que mantinha esses comportamentos individuais e no grupo para sua sobrevivência, transmitindo-o como informação e conhecimento através de uma política, de uma organização social mediada por um ou vários líderes (de cada família) que se via obrigada a aprender a se bem governar se quisesse continuar no grupo, ter alimento, segurança e se reproduzir, nasce aqui o papel da política de oferecer as sociedades alimento, segurança, liberdade, paz e inviolabilidade da privacidade e da intimidade, família e afetividade, relações sociais e humanas, nasce o papel do política de proteger a vida e os indivíduos e até mesmo a saúde e a liberdade dos indivíduos como forma aprendida  de garantir a ordem e a paz, num contexto evolutivo.

Sobre a loucura vemos que seus caminhos desnudam-se também por meio da exploração, dos caminhos perdidos e dos caminhos rastreados para que compreendêssemos nossa origem e os caminhos da informação e do conhecimento na nossa origem e do que foi selecionado para ser transmitido e reproduzido sócio-históricamente, notamos que ainda hoje temos este comportamento, selecionamos informação e conhecimento, até mesmo banindo teorias como a da Pulsão Auditiva de Mattanó de 1995 por abordar informações e conhecimentos considerados imorais, criminosos e violentos, insanos e ilógicos, sem valor algum para a vida cotidiana, mas que também nos servem para esta análise científica. Assim nossos ancestrais provavelmente devem ter-se omitido nas informações a serem reproduzidas e transmitidas como conhecimento para seus descendentes, geração após geração, devido ao aflorar da loucura, de um sentimento de loucura e de falta de sentido, de significado, de ausência de conteúdo, de valor, de coerência para que fosse transmitido para as gerações futuras, talvez estivéssemos abordando aqui o sofrimento do nascimento de uma consciência que lutava contra sua própria organização, semelhante a loucura.

Pt. 4

Os psiquiatras e os psicanalistas, pelo contrário, não se afastaram tanto, concentrando-se em estudos clínicos de exemplares mais representativos. Infelizmente, uma grande parte do seu material inicial também não é adequada, embora não sofra dos mesmos pontos fracos que as informações antropológicas. Embora os indivíduos estudados pertencessem à maioria, eram, apesar de tudo> exemplares aberrantes ou falhados. Porque, se esses indivíduos fossem saudáveis, bem sucedidos, e portanto típicos, não teriam procurado tratar-se — nem contribuído para enriquecer as informações colhidas pelos psiquiatras. Insisto mais uma vez que não pretendo depreciar o valor desse tipo de investigação, que nos proporcionou uma visão importante sobre a maneira como as nossas normas de comportamento podem entrar em

colapso. Simplesmente, parece-me insensato sobre-estimar as primeiras descobertas antropológicas e psiquiátricas quando se procura discutir a natureza biológica fundamental do conjunto da nossa espécie.

(Devo dizer que tanto a antropologia como a psiquiatria se estão transformando rapidamente. Muitos dos modernos investigadores nesses domínios começam a reconhecer as limitações dos trabalhos iniciais e dedicam-se cada vez mais ao estudo de indivíduos típicos, saudáveis. Como disse recentemente um desses cientistas: "Pusemos o carro adiante dos bois. Agarramo-nos aos anormais e só agora começamos, um pouco tardiamente, a interessar-nos pelos normais".)

A mitologia permite pensar que o estudo dos psiquiatras e dos antropólogos e suas descobertas estão para os estudos e ritos dos xamãs que com seus ritos iniciavam e faziam a passagem de seus membros, conforme suas necessidades guiadas por padrões místicos e mitológicos, assim a ciência, o conhecimento e o saber foi se constituindo e se solidificando até hoje, no mundo em que vivemos.

A política foi se transformando no jogo social dos macacos pelados, talvez assim como hoje tenhamos dispensado demasiada atenção a um tipo de macaco pelado, pela sua saúde e habilidades ou características, isto é, se estava ou não adaptado ao meio ambiente e ao seu grupo devido as transformações que vinham ocorrendo e tenhamos nos desprendido de fenômenos valiosos como mutações que poderiam mudar o destino da nossa espécie, tanto morfológica, comportamental e fisiológica, como, por exemplo, a telepatia. A política teve um papel determinante na evolução, como fator decisório e educativo para seus membros que se viam em eventos característicos ou típicos que evocassem novas habilidades que eram compreendidas como hoje compreendemos o racismo. Ou seja, o racismo vem da política, pois é a política quem ensina como bem governar, e assim, um mau governo pode gerar o racismo.

A loucura foi desencadeada pelo sofrimento mental oriundo das transformações morfológicas, fisiológicas, comportamentais e sociais que tinham o papel de oferecer uma nova condição e um novo destino para suas comunidades por meio das mutações. Foram as mutações que geraram o que hoje conhecemos por racismo, ou seja, o racismo é uma espécie de loucura devido a incapacidade do sujeito compreender a realidade, atribuindo a ela pensamentos e afetos que estão mal elaborados, mal julgados e incompreendidos moralmente.

Pt. 5

A perspectiva que me proponho utilizar neste livro baseia-se em material recolhido de três fontes principais: 1) as informações sobre o nosso passado desenterradas pelos paleontólogos e baseadas no estudo dos fósseis e de outros vestígios dos nossos antepassados mais remotos; 2) as informações existentes sobre o comportamento animal que foram estudadas na etologia comparada e se baseiam em observações pormenorizadas obtidas numa grande variedade de espécies animais, especialmente naquelas com que mais nos parecemos, os macacos e símios; 3) a informação que se pode coligir através da observação direta e simples das formas de comportamento que são mais básicas e comuns entre os representantes mais bem sucedidos do próprio macaco pelado que correspondem aos principais tipos de cultura contemporânea.

Dada a vastidão do assunto, será necessária certa simplificação. Vou tentar realizá-la, passando por cima dos pormenores da tecnologia e da terminologia e concentrando sobretudo a atenção nos aspectos da nossa vida que encontram fácil correspondência noutras espécies: atividades tais como alimentação, limpeza, sono, luta, acasalamento e assistência aos jovens. Como reage o macaco pelado em relação a esses problemas fundamentais? Quais as diferenças e semelhanças entre essas reações e as dos outros macacos e símios? Que características lhes são genuinamente específicas e em que medida elas se relacionam com a história da sua evolução, verdadeira-mente especial?

Ao encarar esses problemas, avalio bem quanto me arrisco a ofender certas pessoas. Muita gente não gosta de pensar que somos animais. E podem dizer que eu avilto a nossa espécie quando a descrevo em rudes termos animais. Posso apenas afirmar que não é essa a minha intenção. Outros ofender-se-ão pelo fato de um zoólogo se intrometer nos seus campos especializados. Mas admito que essa perspectiva poderá ter grande valor e que, apesar de todos os defeitos, introduzirá novos (e de certa maneira inesperados) esclarecimentos sobre a natureza complexa da nossa extraordinária espécie.

            Como mitologista me proponho a estudar o bicho-homem a partir da perspectiva mitológica, traçando paralelos entre o comportamento do animal homem e do campo da mitologia, talvez também não gostem de estudar o homem como um animal, mas somos todos iguais na natureza, filhos do mesmo Criador, não vejo problemas em encarar o homem como um animal na perspectiva da biologia mitológica, disciplina que venho criando e desenvolvendo com este trabalho.

            Na perspectiva da mitologia política tento compreender os caminhos evolutivos da política, sua gênese e desenvolvimento até hoje, seu funcionamento a partir da perspectiva etológica.

            E sobre a loucura tento entendê-la evolutivamente a partir da etologia e da biologia, da política e da mitologia, para compreender, então, sua gênese, desenvolvimento e funcionamento até hoje, ou seja, seus caminhos que separam o ser humano de sua consciência destruindo-a sem roubar-lhe, essa consciência, do seu corpo, mesmo que através da telepatia.

 

 

Capítulo 1

 

ORIGENS

 

Numa jaula de certo jardim zoológico lê-se o seguinte letreiro: ''Animal desconhecido da ciência". Dentro da jaula está um pequeno esquilo. Tem as patas negras e veio da África, continente onde nunca se tinham encontrado esquilos com patas negras. Não se sabe nada sobre tal esquilo. Nem sequer tem nome.

 

Esse animal constitui imediatamente um desafio aos zoólogos. De onde lhe veio essa característica desconhecida? Em que difere das outras trezentas e sessenta e seis espécies de esquilos que já foram descritas? De qualquer maneira, em determinada altura da evolução da família dos esquilos, os antepassados desse animal devem ter-se afastado dos restantes e estabelecido um ramo independente que se continuou a reproduzir. Que existiria no meio que os rodeava, para que se tenham podido isolar e constituir uma nova forma de vida? Esse novo tipo deve ter começado a diferenciar-se pouco a pouco, com um grupo de esquilos vivendo em determinado lugar, modificando-se ligeiramente e se adaptando melhor às condições locais. Nessa primeira fase, eram ainda capazes de cruzar com os parentes das redondezas. A nova forma manteria ligeiras vantagens na sua região especial, mas não constituiria mais que uma raça da espécie básica e poderia ter desaparecido em qualquer momento, reabsorvida pela linhagem principal. Se os novos esquilos fossem se aperfeiçoando com o tempo, adaptando-se melhor ao seu ambiente particular, poderiam atingir um ponto em que seria mais vantajoso se isolarem, para não serem contaminados pelos vizinhos. Então, o respectivo comportamento social e sexual teria sofrido modificações especiais, tornando pouco provável, ou mesmo impossível, qualquer cruzamento com outras espécies de esquilos. A princípio, poderiam ter sofrido modificações anatômicas que lhes permitissem uma melhor utilização da comida local, mas, mais tarde, os próprios gestos e convites para acasalamento seriam também diferentes, de modo que só atrairiam companheiros do novo tipo. Finalmente, a evolução teria originado uma nova espécie, separada e discreta, correspondendo a uma forma única de vida, a tricentésima sexagésima sétima espécie de esquilos.

Quando olhamos para o esquilo não identificado, encerrado na jaula do jardim zoológico, podemos apenas conjeturar tais coisas. O único fato positivo são as marcas de pêlo — as suas patas negras — que nos indicam tratar-se de uma forma nova. Mas isso são apenas sintomas, tal como um grupo de borbulhas permite ao médico fazer o diagnóstico de um doente. Para compreender realmente a nova espécie, esses indícios servem apenas como ponto de partida de qualquer coisa que valerá a pena prosseguir. Podíamos tentar adivinhar a história do animal, o que seria pretensioso e perigoso. Em vez disso, vamos começar humildemente por lhe dar um nome simples e evidente: nós o chamaremos esquilo africano com patas negras. Depois, devemos observar e registrar todos os aspectos do seu comportamento e da sua estrutura e avaliar em que difere dos outros esquilos ou a eles se assemelha. Assim, poderemos ir coligindo, pouco a pouco, a sua história.

A nossa grande vantagem em estudarmos esses animais é não sermos esquilos com patas negras — fato que nos impõe uma atitude de humildade que se vai transformando em investigação científica decente. Mas as coisas são muito diferentes, e de uma maneira geral desanimadoras, quando tentamos estudar o bicho-homem. O próprio zoólogo, que está habituado a chamar cada animal pelo seu nome, não deixa de ter dificuldades em evitar a petulância das implicações subjetivas. Poderemos ultrapassá-las em parte se decidirmos, modesta e deliberadamente, encarar o ser humano como se fosse qualquer outra espécie, uma estranha forma viva que aguardasse que o estudem, na mesa de dissecação. Como começar?

Da mesma forma que abordamos a mitologia primitiva, oriental, ocidental, moderna, abordamos a biologia mitológica como uma nova disciplina capaz de estudar os mitos e ritos dos animais que evoluem de forma semelhante a do ser humano, que adquirem características cognitivas, emocionais, sociais, operacionais, psicológicas, filosóficas, espirituais, biológicas, individuais, grupais, coletivas, universais, intelectuais, perceptivas, linguísticas e comunicativas, territoriais, de aprendizagem e de ensino, e habilidades que o tornam capaz de manipular o mundo reconstruindo-o, apropriando-se dele e se reapropriando dele à todo momento como meio de se inserir no mundo, pois esse estudo é uma nova ferramenta da mitologia e da biologia e só vem a contribuir com a valorização da ciência e do próprio ser humano e da humanidade.

O estudo da mitologia política também vem acrescentar dados e informações, conhecimento ao já preenchido pelas linhas dos estudos científicos conhecidos, ela vem contribuir com a percepção do bicho-homem político em sua gênese e desenvolvimento em meio ao seu meio ambiente natural, em meio a sua comunidade e as suas adversidades que ajudaram a formar através da seleção natural e da genética, trata a política como um fenômenos ambiental, evolutivo, da seleção natural e dos padrões da genética.

Já a loucura é estudada para que possamos traçar linhas de conhecimento acerca da sua gênese  e desenvolvimento etológico ou biológico e psico-social em meio ao meio ambiente e suas transformações que levaram a transformações bio-psico-sociais no bicho-homem, devido as mudanças ambientas, contextuais, seletivas e genéticas. A loucura passa a ter sua gênese nas mudanças ambientais, contextuais, evolutivas e seletivas e nos padrões comportamentais genéticos, ou seja, dos genes.

Pt.1

Tal como aconteceu com o novo esquilo, podemos começar por compará-lo com outras espécies mais ou menos semelhantes. Em face das suas mãos, dos seus dentes, dos seus olhos e de outras características anatômicas, não temos dúvidas de que se trata de um primata, embora de uma natureza muito singular. A singularidade torna-se manifesta se dispusermos das peles correspondentes às cento e noventa e duas espécies conhecidas de macacos e símios e tentarmos arrumar a pele humana no meio dessa série, no ponto que nos pareça mais adequado. Coloque-se onde se colocar, a pele humana nos parecerá sempre deslocada. Podemos, eventualmente, ser tentados a colocá-la numa das extremidades da série, ao lado das peles dos grandes símios sem cauda, como o gorila e o chimpanzé. Ainda assim, a diferença é impressionante. As pernas são compridas demais, os braços muito curtos e os pés bastante estranhos. Essa espécie de primatas desenvolveu, sem dúvida, um tipo especial de locomoção que lhe modificou a forma. Mas outra característica nos chama a atenção: a pele não tem praticamente pêlos. Com exceção de alguns tufos de cabelos sobre a cabeça, nas axilas e em volta dos órgãos genitais, a superfície da pele é completamente pelada. Ao compará-la com a das restantes espécies, o contraste é dramático. É certo que algumas espécies de macacos e símios têm pequenas zonas peladas no traseiro, na face ou no tórax, mas nem uma só dentre as cento e noventa e duas espécies tem aspecto que se possa aproximar ao da condição humana. Nesse momento, antes de prosseguir as investigações, justifica-se que se chame "macaco pelado" a essa nova espécie. É um nome simples, descritivo, baseado numa primeira observação, e que não implica outras suposições. É mesmo possível que nos ajude a guardar o sentido das proporções e a manter objetividade.

            Mitologicamente percebemos que o objeto de estudo, o esquilo, se trata de um primata, devido as suas características anatômicas, contudo há diferenças na pele e na locomoção, pode-se chamar essa espécie de ¨macaco pelado¨, mitologicamente podemos dizer que os mitos se encontram num niilismo total, numa total ausência fenomenológica, pois abordamos um animal simples que não é dotado de inteligência, racionalidade, linguagem, cognição, inconsciente, afetividade, etc., que é em grande parte movido por condicionamentos e por padrões fixos de comportamentos.

            Politicamente esse macaco pelado ainda bastante simples, que não detém uma inteligência, racionalidade, linguagem, cognição, inconsciente, afetividade, etc., mas que é movido por condicionamentos e padrões fixos de comportamentos vê-se como detentor de uma política ou mesmo, forma de bem governar num estágio ainda bastante difuso e confuso, sem ordem e coerência, sem uma organização, vê-se como uma coletividade dotada de indiferenças e de indiferentes.

            A loucura também se torna presente pela coletividade dotada de indiferenças e de indiferentes, que torna as relações sem coesão e sem coerência, sem união pela organização mas pela indiferença que marcará o nascer e o desenvolvimento da loucura individual e social, de acordo com o contexto, a genética e a seleção natural.

            Pt. 2

Continuando a observar esse estranho exemplar e tentando decifrar o significado das suas características singulares, o zoólogo tem agora de começar a estabelecer comparações. Em que outras circunstâncias não há pêlos? De qualquer maneira, não será entre os outros primatas. É preciso procurar mais longe. Uma revisão rápida de todos os mamíferos existentes vem-nos logo mostrar que quase todos têm revestimento piloso protetor e que só raras exceções, dentre quatro mil, duzentas e trinta e sete espécies existentes, se decidiram a abandoná-lo.

Ao contrário dos seus antepassados répteis, os mamíferos adquiriram a grande vantagem fisiológica de poderem conservar uma temperatura corporal elevada e constante. Isso mantém o delicado maquinismo destinado às atividades do organismo em condições de realizar os feitos mais ambiciosos. Não se trata, assim, de uma propriedade que se comprometa ou despreze tranqüilamente. Os instrumentos de regulação da temperatura têm importância vital, e a posse de um revestimento piloso, espesso e isolador, desempenha certamente um papel fundamental para impedir as perdas de calor. Por outro lado, o revestimento protege igualmente contra o calor exagerado, evitando que a pele se estrague em virtude da exposição direta aos raios solares. Quando os pêlos desaparecem, isso deve for-çosamente obedecer a razoes muito poderosas. Salvo raras exceções,

essa medida drástica só foi tomada no caso de mamíferos que se instalaram num meio completamente novo. Os mamíferos voadores, ou morcegos, foram obrigados a perder os pêlos das asas, mas conservaram-nos no resto do corpo, de modo que não podem considerar-se uma espécie pelada. Alguns mamíferos escavadores — como a toupeira pelada, o oricterope sul-africano e o tatu sul-americano, por exemplo — reduziram o respectivo revestimento piloso. Os mamíferos aquáticos, como as baleias, golfinhos, porcos-marinhos, peixes-boi, dugongos e hipopótamos, também se tornaram pelados para viver na água. Mas o revestimento piloso continua a ser regra entre os mamíferos típicos, que vivem na superfície, quer corram pelo chão, quer trepem pelas árvores. Salvo os gigantes anormalmente pesados, como os rinocerontes e elefantes (com problemas de alimentação e esfriamento muito particulares), o macaco pelado é o único que não tem pêlos entre todos os milhares das espécies mamíferas terrestres, que são hirsutas, peludas ou felpudas.

            O mitologista acredita que a questão dos pêlos tem estreita ligação com a jornada interior do animal humano, a perda de pêlos foi questão fundamental para o começo da jornada do ser humano nas mitologias através de novos meios ambientes.

            A política tem relações diretas com a perda dos pêlos, pois a foi a perda dos pêlos quem ajudou ao bicho-homem se adaptar ao novo meio ambiente, e as suas novas condições fisiológicas como a regulação da temperatura corporal. Nossa temperatura corporal nos favorece adaptarmos as mais diversas regiões do globo terrestre e as suas mais diversas adversidades, fazendo de nós a espécie dominante na Terra, graças a perda dos pêlos que por sua vez fez nascer a política e a arte de bem governar os povos.

            A loucura por sua vez também pode ter relação com a perda dos pêlos e a nossa temperatura corporal, visto que variações na temperatura corporal indicam sinais de alterações psíquicas como produção de delírios e até quando dormimos quando estamos sonhando, muito provavelmente nossa temperatura corporal também mude de padrão ao qual era correspondida ao período diurno quando estávamos despertados, quanto mais evoluído o ser humano menos pêlos e mais sonhos ele terá, mais atividade onírica ele terá e mais equilíbrio em sua temperatura corporal também terá, provavelmente, menos delírios e menos problemas de saúde mental, podendo ser até mais inteligente do que os outros do seu meio.

            Pt. 3

Nessa altura, o zoólogo tem de concluir que ou se trata de um mamífero escavador ou aquático, ou que existe qualquer coisa muito esquisita, e mesmo exclusivamente peculiar, na história evolutiva do macaco pelado. A primeira coisa a fazer, mesmo antes de se partir para o campo e observar o animal na sua forma atual, será debruçar-se sobre o seu passado e examinar, o mais perto possível, os seus antepassados mais chegados. Talvez consigamos obter uma certa idéia do que sucedeu a esse novo tipo de primata se examinarmos os fósseis e outros vestígios e se olharmos para os seus parentes mais próximos que ainda estão vivos.

A observação dos fósseis e dos vestígios dos antepassados desse macaco pelado leva o mitologista a entender que a mitologia se constitui e se constrói através da história evolutiva do animal estudado, neste caso o ser humano, representado em seus antepassados, macacos pelados.

A política revela-se um fenômeno que pode ser estudado a partir dos fósseis e dos vestígios dos antepassados como resultados de suas relações onde se governavam uns sobre os outros, sobretudo com a figura do líder.

A loucura pode ser investigada também através dos fósseis e dos vestígios dos antepassados onde descobrimos processos sociais, ritualísticos, mitológicos, psicológicos, afetivos, gestálticos, comportamentais, de aprendizagem e de adaptação que expressam dor e sofrimento psicológico, nos rituais de caça e de morte que traduziam os comportamentos mais animalescos dos macacos pelados, ou seja, sua instintividade e as bases da loucura.

Pt. 4

Levaria muito tempo expor aqui todas as provas que foram cuidadosamente reunidas durante o século passado. Em vez de o fazer, partimos do princípio de que isso está feito e conhecido e limitamo-nos a resumir as conclusões que se podem tirar, coligindo todas as informações provenientes dos trabalhos dos paleontólogos esfomeados-de-fósseis e os fatos colecionados pelos pacientes etólogos espreitadores-de-macacos.

 

O grupo dos primatas, a que pertence o nosso macaco pelado, provém originalmente de um tronco insetívoro. Esses primeiros mamíferos eram criaturas insignificantes e pequenas, que se esgueiravam nervosamente pelas florestas abrigadas, ao mesmo tempo que os répteis todo-poderosos dominavam o mundo animal. Há cerca de oitenta ou cinqüenta milhões de anos após o desmoronamento da grande era dos répteis, os pequenos comedores de insetos  começaram a aventurar-se a explorar novos territórios. Foi então que se espalharam e cresceram sob muitas formas estranhas. Alguns tornaram-se comedores de plantas, escavando o solo para se protegerem ou desenvolvendo pernas longas, com andas, para melhor escapulirem dos inimigos. Outros transformaram-se em assassinos, com garras compridas e dentes aguçados. Embora os grandes répteis tivessem abdicado e desaparecido da cena, a natureza continuava a ser um campo de batalha.

O mitologista discerne que o macaco pelado provém originariamente do tronco insetívoro e se ramificou para explorar novos territórios, tornando-se comedor de plantas e assassino. Notamos que para a mitologia e os mitos se enraizarem em nossa espécie, nossos ancestrais ou antepassados tiveram que desenrolar uma longa linha evolutiva, transformando-se e reinventando-se de insetívoro até comedor de plantas e assassino, estes padrões de comportamentos certamente se fixaram até se tornarem modelo e contingências que se reinventaram misticamente no ser humano, revelando a nudez da mitologia, que por ventura está em sua meninice, ou seja, sua pureza, sua virgindade, estampada na Cruz de Cristo.

A política revela-se originariamente quando o animal tornou-se comedor de plantas e assassino, este fenômeno comportamental moldou a política e a arte de bem governar dos macacos pelados até hoje, passando pela Cruz de Cristo.

A loucura traduz-se na passagem de insetívoro para comedor de plantas e assassino, uma mudança radical que altera os padrões bio-psico-sociais de comportamento do macaco pelado e que pode ter lhe roubado a paz quando se viu obrigado a ter que assassinar para comer, a paz na vida social em sua comunidade se a caça não foi boa ou suficiente para todos, a paz na família se a caça foi ruim, a paz na consciência a partir do momento em que se sentiu culpado por ter que assassinar para viver, a paz nos seus ritos e mitos devido a carga emocional nos assassinatos e em suas consequências para ele e para sua comunidade, etc., todos estes conflitos podem ter gerado ou influenciado muito na produção da loucura individual e social entre os macacos pelados.

      Pt. 5

Entretanto, ainda continuavam a existir os tais bichinhos de patas pequenas, com as quais se agarravam à segurança da vegetação da floresta. Também aqui se registrou progresso. Os comedores de insetos iniciais começaram por alargar a alimentação e resolver certos problemas digestivos, devorando frutos, nozes, bagas, brotos e folhas. À medida que evoluíram no sentido das formas rudimentares dos primatas, a visão melhorou, os olhos deslocaram-se para a frente da face e as mãos transformaram-se para melhor agarrar a comida. Providos de visão tridimensional, de membros capazes de manipular e de cérebros que iam crescendo pouco a pouco, os primatas começaram a dominar cada vez mais o seu mundo das árvores.

Evolutivamente a mitologia teve seu nascimento com esses primatas que foram crescendo pouco a pouco e aprendendo novos comportamentos, o domínio do mundo das árvores pode ser para nós seres humanos uma semente do nosso interesse mitológico pelas árvores e pela Cruz, pelo eixo do mundo.

A política tem aqui novos ensinamentos, o domínio do mundo das árvores, da ecologia, e da Cruz, da religião e da espiritualidade, de Deus e de Jesus Cristo. A política se vê como alargamento, problema, deslocamento, alimento e sociedade de um mundo de árvores ou ecológico.

      A loucura também se vê como produto da ecologia, do mundo das árvores, das suas relações com o macaco pelado, do que elas lhes ensinam e transmitem, permitem fazer e extrair para sua sobrevivência, sendo elas, árvores, Cruzes, postes, edifícios, etc., o eixo do mundo que orienta e assegura a sua existência e salvação.

Pt. 6

Há cerca de vinte e cinco ou trinta e cinco milhões de anos, esses pré-macacos já haviam iniciado a evolução no sentido de macacos propriamente ditos. Começaram a criar longas caudas, enquanto o tamanho do corpo ia aumentando consideravelmente. Alguns já se preparavam para se especializar em comer folhas, mas a maioria continuava a manter uma alimentação mista bastante variada. Com o tempo, algumas dessas criaturas macacóides tornaram-se maiores e mais pesadas. Em vez de continuarem a saltar e pular, passaram a bracejar — oscilando de mão para mão, suspensas entre os ramos. As caudas tornaram-se obsoletas. Como o tamanho lhes tornasse mais incômodo viver entre as árvores, foram perdendo o medo de uma ou outra escapada até o solo.

O mitologista percebe que agora com a passagem dos pré-macacos para macacos propriamente ditos, criaturas maiores e mais pesadas, capazes de saltar e de pular, de bracejar, foram vivendo entre as árvores até perderem o medo do solo. Notamos que falamos do domínio místico das árvores até dominarmos o solo, que marcará outra fase mística e ritualística em nossa espécie, a do semeador, onde a semente tornar-se-á a representação de renascimento, de transformação, porém as árvores continuarão como o eixo do mundo, como a Cruz de Cristo.

A política continua aqui sua concepção na transição dos modos de se governar no domínio das árvores até o domínio do solo, marcando outra fase política, a do renascimento, a do semeador, a da transformação e a do eixo do mundo, a da Cruz de Cristo.

A loucura também prossegue aqui sua jornada inicial com a crise gerada pela mudança de ambiente, das árvores até o solo, marcando a mentalidade e o comportamento com uma loucura marcada pelo comportamento motor e pelo novo, pelo semeador, pelo renascimento, pela transformação, pelo eixo do mundo, pela Cruz de Cristo que assim como a semente agregou as marcas da esperança em sua loucura como forma de luta contra sua produção, pois temos que esperar a semente brotar e a árvore crescer e florescer para dar frutos, como temos que esperar pelo resultado da crucificação de Cristo.

Pt. 7

Mesmo assim, nessa fase — a fase dos macacos — ainda faltava muito para se atingir a confortável fartura da floresta do Paraíso. Esses primatas apenas se arriscavam a penetrar nos grandes espaços abertos quando o meio ambiente para lá os empurrava. Ao contrário dos primeiros mamíferos exploradores, os macacos tinham-se especializado em viver nas árvores. Tal aristocracia florestal aperfeiçoara-se no decurso de milhões de anos e se a abandonassem agora teriam de competir com aqueles que simultaneamente tinham-se desenvolvido como herbívoros e como assassinos terrestres. E assim

se deixaram ficar, mascando calmamente os seus frutos, sem se preocuparem com o resto.

            A análise mitológica revela que nossos ancestrais viveram experiências que marcaram  suas espécies, dotando-os de curiosidade e de habilidades comportamentais para se arriscarem até certo ponto, sem se destruírem ou uns aos outros, tornaram-se exploradores e tiveram que conviver com assassinos terrestres. Notamos que ingressamos num estágio marcado pela exploração do novo meio ambiente cheio de adversidades, como assassinos terrestres ou a violência e a morte, o solo é marcado pela exploração e pela morte, pelo assassinato, pela violência, como vemos no mundo atual, e nos ritos e mitos dos nossos povos, como os ritos de iniciação e de passagem das tribos ou os ritos religiosos.

            A política torna-se agora sua necessidade de aprender e tornar-se um explorador no meio de um meio ambiente  cheio de adversidades, com assassinos terrestres, violência e morte, é a arte de bem governar quem o ajuda a se adaptar a esse novo meio ambiente. A política favorece a adaptação ao meio ambiente.

            A loucura o surpreende com o novo meio ambiente, cheio de adversidades, assassinos terrestres, violência e morte, devido a sua característica curiosidade e habilidades comportamentais que o colocavam em situações arriscadas, estes perigos ameaçavam sua segurança mental e comportamental, e até social, repercutindo em sofrimento bio-psico-social, que por sua vez era transferido para os ritos por causa da exploração e da morte, do sofrimento que gerava uma loucura.  

            Pt. 8

É preciso dizer que, por motivos desconhecidos, esse ramo de símios apenas se desenvolveu no Velho Mundo. Os macacos tinham-se desenvolvido separadamente como trepadores de árvores tanto no Velho como no Novo Mundo, mas o tronco americano dos primatas nunca atingiu a fase de símio. No Velho Mundo, pelo contrário, os símios primitivos continuaram a espalhar-se ao longo de uma vasta floresta que se estendia desde a África ocidental até o sudeste asiático. Existem ainda descendentes desse processo de desenvolvimento, que são os chimpanzés e gorilas africanos e os gibões e orangotangos asiá-ticos. Entre os dois extremos, o mundo de hoje já não tem mais símios peludos. Desapareceram as florestas luxuriantes.

Mitologicamente o desaparecimento de espécies pode significar ou indicar que fomos programados para desaparecer, seja através da evolução ou através da guerra, ou através das contingências do universo, com problemas com alienígenas, que buscamos repetidamente esse padrão de comportamento através dos traços dos nossos ancestrais que passaram por isso, uns morreram, outros viveram e contaram ou transmitiram a história toda para seus descendentes – só a educação, a saúde e a ciência serão ou são os meios para se reprogramar esse traço.

A política é marcada aqui pelo seu desaparecimento associado a algumas espécies que também desapareceram, porém  a evolução continuou e a política também, e só os mais adaptados ao seu meio ambiente viveram, eles transmitiram seus conhecimentos para seus descendentes, como a própria política para se bem governarem.

A loucura se destaca aqui pelo desaparecimento de algumas espécies e assim da própria loucura que se foi com elas, mas a evolução prosseguiu e a loucura e o conhecimento também, foi assim transmitindo loucura e conhecimento que nos governamos até hoje.

Pt. 9

Que aconteceu aos símios originais? Sabe-se que o clima começou a contrariá-los e que, há cerca de quinze milhões de anos, os seus redutos florestais foram enormemente reduzidos. Os símios primitivos foram obrigados a escolher entre dois caminhos: ou se mantiveram no que restou das florestas antigas, ou tiveram de se resignar, quase num sentido bíblico, a serem expulsos do Paraíso. Os antepassados dos chimpanzés, dos gorilas, dos gibões e dos orangotangos deixaram-se ficar, e desde então nunca mais cessaram de diminuir. Os antepassa-dos do outro símio que sobreviveu — o macaco pelado — atreveram-se a abandonar a floresta e lançaram-se na competição com os outros animais terrestres, já então eficientemente adaptados ao solo. Era uma empresa arriscada, mas que pagou juros, em termos de progresso evolutivo.

Mitologicamente, a competição com os outros animais terrestres, com o macaco pelado, o outro símio que sobreviveu, após abandonar as florestas e se arriscar em solo com os outros animais já adaptados ao solo, rendeu excelentes resultados para o macaco pelado. Notamos que novamente a exploração do novo território rendeu excelentes resultados para o macaco pelado, analiticamente podemos compreender que o homem só evolui quando explora seu ambiente, quando lança-se em  novos territórios, sobretudo o solo, pois foi o solo o maior determinante e desencadeante de mudanças e transformações morfológicas, anatômicas, fisiológicas, comportamentais e genéticas no macaco pelado. Mitologicamente o solo tem uma importância enorme para o ser humano, do qual tira o seu sustento, o seu trabalho, o seu alimento, a sua água, o seu combustível, a sua energia, a sua coragem, o seu exemplo, o seu estudo, a sua religião, a sua mitologia.

Politicamente o macaco pelado lançou-se aventurando-se pelo solo novo como governador bem intencionado nesta arte social adquirindo novos padrões de comportamento e de ritualização que se manifestaram em seus ritos e mitos políticos, como na arte de bem governar.

Podemos dizer que foi do solo que o macaco pelado também retirou sua loucura, na busca pela satisfação de suas necessidades fisiológicas, de garantia, de pertinência, de amor, de realização, foi o solo quem estendeu as mãos para o macaco pelado e lhe puxou pela contramão revelando-lhe a loucura e a insanidade ritualizada, codificada e decodificada em pinturas e cerimônias religiosas que se realizariam no decorrer da evolução dos macacos pelados.

Pt. 10

 É bem conhecida a história dos êxitos do macaco pelado a partir dessa altura, mas é necessário resumi-la, porque é vital não esquecer os acontecimentos que se seguiram, se pretendemos algum progresso objetivo no conhecimento do comportamento atual da nossa espécie.

Os nossos antepassados encontraram-se diante de um futuro bastante sombrio quando mudaram de ambiente. Ou se tornavam melhores assassinos que os carnívoros já experimentados, ou melhores pastadores que os herbívoros já existentes. Sabemos hoje que, de certo modo, eles foram bem sucedidos em ambos os setores; mas a agricultura tem apenas uns escassos milênios, e ainda temos de percorrer vários milhões de anos de história para lá chegar. Os nossos primeiros antepassados não tinham ainda capacidade para encarar a exploração especializada da vida vegetal em campo aberto e tinham que aguardar o desenvolvimento das técnicas avançadas dos tempos

modernos. Nem sequer possuíam um aparelho digestivo capaz de se lançar diretamente à conquista dos alimentos fornecidos pelas extensões de erva que se lhes deparavam. A alimentação de frutas e nozes que mantinham na floresta podia ser substituída pelas raízes e bulbos colhidos no solo, mas com rigorosas limitações. Em vez de colher preguiçosamente um saboroso fruto maduro no ramo de uma árvore, o macaco terrestre em busca de vegetais via-se obrigado a escarafunchar laboriosamente a terra dura para desenterrar a preciosa comida.

            Observamos que os nossos antepassados ou se tornavam melhores assassinos que os já existentes no meio ambiente ou se tornavam melhores pastadores que os herbívoros já existentes, de certo se tornou as duas coisas e as desenvolveu favorecendo o aparecimento de hábitos comportamentais e de um organismo cada vez mais especializado para as suas necessidades naquele determinado meio ambiente, isto se manifestou no nascimento das mitologias onde desencadeiam-se fenômenos de caça, morte e de alimentação de vegetais, fenômenos que se tornaram ritos religiosos e sagrados.

            Politicamente os nossos antepassados sofreram grandes transformações sociais devido as alterações em seus padrões alimentares, sendo selecionado o mais típico e adaptado para ser reproduzido e ensinado, administrado por macacos políticos que bem governavam a si mesmos com o intuito de sobreviverem as adversidades ambientais que eles enfrentavam. A política era um grande recurso comportamental, na medida que organizava suas comunidades para atividades em grupos.

            E a loucura veio com as mudanças e transformações nos padrões alimentares, com a desorganização, morte e violência que pode ter se instalado devido as necessidades, gerando comportamentos de roubo e de furto de uns contra os outros e entre outras comunidades e entre outras espécies de animais, a loucura vem e veio, justamente, de encontro a uma ou mais necessidades fundamentais não saciadas, sejam elas reais ou irreais, somos animais, nenhum animal discerne completamente a realidade, estamos sujeitos a loucura desde os nossos antepassados com seus problemas e em suas necessidades.

            Pt. 11

Contudo, a antiga alimentação da floresta não se limitava a frutos e nozes. As proteínas animais eram-lhe igualmente muito necessárias. No fim de contas, o macaco pelado descendia dos insetívoros primitivos e nunca tivera dificuldade em se abastecer de insetos enquanto vivera na floresta. Estava habituado a saborear ricos petiscos, como suculentos besouros, ovos, pequenos filhotes desprotegidos, rãzinhas e até alguns pequenos répteis, que nem sempre representavam problema para o seu aparelho digestivo, relativamente desenvolvido. No solo abundava igualmente esse gênero de comida, e nada o impedia de alargar mesmo a alimentação. A princípio, o macaco pelado não podia competir com os assassinos profissionais do mundo carnívoro. Até o minúsculo mangusto, para não falar num gato grande, era mais exímio em matar. Mas, ao mesmo tempo, era fácil apanhar animais jovens de todas as raças, desprotegidos ou doentes, e o primeiro passo para se tornar carnívoro não foi muito difícil. Contudo, as verdadeiras grandes presas tinham compridíssimas pernas e escapuliam a grande velocidade à primeira aproximação. Os ungulados, riquíssimos em proteínas, estavam completamente fora de alcance.

Observamos que o macaco pelado evoluiu e seu tipo de alimentação foi gradualmente sofrendo alterações, mas muito dificilmente, pois era difícil para o macaco pelado dominar o novo tipo de alimento que tinha pernas compridíssimas e escapuliam com muita velocidade à primeira aproximação, mitologicamente notamos que podemos estar falando dos processos que formaram os primeiros ritos de iniciação e de passagem do macaco pelado para que ele se tornasse um assassino, falamos do quanto é difícil a passagem do homem saudável para o homem assassino em nosso mundo contemporâneo.

Politicamente falamos dos primeiros passos que os nossos antepassados tomaram para que nós nos tornássemos assassinos, foi quando o macaco pelado se tornou um assassino e mudou seus hábitos alimentares, ainda matamos para comer, porém culturalmente muito mais desenvolvidos e evoluídos do que os nossos antepassados, vestimos máscaras para matar, uniformes de soldados para matar, assumimos padrões comportamentais estereotipados de assassinos para matar, graças a política que bem governou os povos e os seres humanos e lhe deu educação, trabalho e justiça.

Quanto a loucura vemos que o macaco pelado se tornou um assassino na medida em que teve que adquirir outros padrões alimentares, e que hoje os macaco espacial e o macaco telepático têm que assassinar suas presas para se alimentar, e que esse jogo de assassinos é muito complexo, envolve a economia, a globalização, a comunicação, a tecnologia, a indústria, o comércio, o transporte, a justiça, a saúde, o Estado e a política, a educação, a ciência, o trabalho, etc.. É um tipo de loucura que domina os dominantes com indiferença pelos assassinados que servem a mesa e os pratos da população que serve a riqueza, ao dinheiro, ao poder, a fama, ao sexo e a materialidade, fenômenos que alimentam ainda mais a loucura no mundo de hoje.

Pt. 12

Assim chegamos mais ou menos ao último milhão de anos na história do macaco pelado, entrando numa série de acontecimentos desalentadores e progressivamente dramáticos. É muito importante não esquecer que aconteceram várias coisas ao mesmo tempo. Quando se contam histórias, comete-se muitas vezes o abuso de separar as diferentes partes, como se cada progresso conduzisse a outro, mas essa atitude é completamente falsa e enganadora. Os primeiros macacos terrestres possuíam já grandes cérebros de alta qualidade. Tinham bons olhos e mãos capazes de agarrar eficientemente as presas. Pelo fato de serem primatas, tinham também, inevitavelmente, um certo grau de organização social. À medida que as circunstâncias os obrigavam a aperfeiçoar-se na matança das presas, começaram a

ocorrer modificações vitais: torna-iam-se mais eretos — correndo melhor e mais rapidamente; as mãos libertaram-se das atividades locomotoras — permitindo empunhar armas com mais força e eficácia; os cérebros tornaram-se mais complexos — tomando decisões mais rápidas e inteligentes. Tudo isso não se sucedeu segundo uma ordem bem estabelecida; os vários progressos foram-se acentuando ao mesmo tempo, com pequeninos melhoramentos de uma ou outra qualidade, cada um dos quais estimulava outros aperfeiçoamentos. A pouco e pouco ia-se formando um macaco caçador, um macaco assassino.

            Pouco a pouco ia se formando um macaco assassino, com um padrão de comportamentos que o permitissem caçar e matar para comer. Pouco a pouco o macaco pelado foi adquirindo cérebros maiores e mais complexos, olhos e mãos melhores, organização social, postura mais ereta, correndo mais e melhor, tudo para que o macaco pelado pudesse caçar  e se tornar um assassino. Essas mudanças causaram e causam, mitologicamente, padrões de comportamentos e de mentalidades que levam-nos, ainda, a esse padrão mitológico de assassinos, de caçadores, de exploradores, de dominadores, de escravizadores através de nossas habilidades como a educação e o trabalho ou a justiça e a cidadania que são como instrumentos para nos mantermos no topo da cadeia animal como os animais mais evoluídos. A mitologia é outro instrumento para a caça e a exploração do ser humano desde sua concepção ou princípios com o macaco pelado.

            Politicamente a exploração do meio ambiente e o enraizamento do macaco assassino com suas mudanças comportamentais e morfológicas tornaram-no caçador e dominador, dotado de uma organização social política voltada para a caça e a dominação, para a exploração do meio ambiente.

            Já a loucura veio em meio a exploração do meio ambiente, devido as mudanças comportamentais e morfológicas que lhe deram novos padrões de comportamento, levando-o a se tornar um assassino, caçador e dominador, a loucura estava no seu contato com o solo e a não satisfação de necessidades fundamentais.

            Pt. 13