49.A HUMANIDADE DECIFRANDO SEUS SÍMBOLOS.

OSNY MATTANÓ JÚNIOR

 

 

 

 

 

 

 

A HUMANIDADE DECIFRANDO SEUS SÍMBOLOS

(ADAPT. INTERPRET. O HOMEM E SEUS SÍMBOLOS – CARL G. JUNG)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

27/07/2018

A HUMANIDADE DECIFRANDO SEUS SÍMBOLOS

 

 

Introdução

 

 

 

            Mattanó explica que este livro é uma interpretação e adaptação do livro O Homem e Seus Símbolos de Carl G. Jung, por isso ele pode parecer muitas vezes muito assustador, complexo, complicado ou mal-elaborado.

            Mattanó explica que você pode ler a história de Chapéuzinho Vermelho ou a Branca de Neve ou os Três Porquinhos num livro ou ouvi-las de uma criança livremente, o que ela entendeu e se lembra delas, ou num sonho, não importa, mitologicamente a história é a mesma, seu significado é o mesmo. Falamos em diversas línguas mas há somente um codificador, o ser humano.

            Mattanó contribui para o desenvolvimento da Psicologia Jungiana criando a Psicologia Analítica Mitológica e advertindo que o indivíduo que sonha reproduz seu inconsciente e assim pode manter uma comunicação com seu interior, se descobrir, descobrir suas mensagens, suas revelações que podem lhe indicar o caminho a seguir em função de seu inconsciente e de seu processo de individuação, do seu movimento consciente – inconsciente. Este movimento é elaborado por meio de significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias e simbologias. O inconsciente e o consciente obedecem ao contexto, mas não tem símbolos definidos, seus símbolos são individuais, particulares, oriundos de seus significados e sentidos atribuídos pelo indivíduo por meio da aprendizagem e da história de vida que obedece os padrões de sua socialização. A telepatia e a lavagem cerebral contribuem para a alienação do indivíduo e da sociedade, para a despersonalização, pois sua história de vida e seu aprendizado se constroem a partir da telepatia e da lavagem cerebral, fenômenos que causam despersonalização.

 

            Osny Mattanó Júnior

            (27/07/2018)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre a Influência dos Mass Mídia sobre o Mundo Atual

 

 

            A humanidade ainda sofre da tirania dos artistas, que dominam o mercado através dos mass mídia, com seus papéis e personagens, com seus ritos de iniciação e de passagem, com seus modos de agir e de se comportar, de pensar em relação ao sexo e a sexualidade, em relação a moral e a espiritualidade, em relação a Deus e a santidade, quando exibem sem pudor e sem medo argumentos e imagens de desrespeito a Deus e a santidade dos Santos, mas isso é um mal de toda a humanidade, sobretudo daqueles que dominam os mais pobres e carentes, os necessitados e miseráveis, que estão expostos a culturas sexuais, onde os mass mídias investem em figurinos sensuais para robotização e tipificação, padronização da opinião pública, dominação geral de determinada camada social da população, que responde prontamente como um exército fiel e corajoso, pronto até mesmo a matar e a roubar a Deus, a Mãe de Deus e aos Santos, em nome de uma sensualidade política dominante arrogante destrutiva.

 

            Osny Mattanó Júnior

            (31/07/2018)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Papel da Máquina na Construção da Mente e do Comportamento e das Mitologias

 

            O papel da máquina na construção da mente e do comportamento e das mitologias se faz através do trabaho imposto neste processo de decifração de textos reorganizados por um programa de computador, programa de computador que altera a ordem, inverte letras e palavras, troca palavras e letras, aglutina palavras e letras, provocando um processo de reconstrução ou de decifração de significados e sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias, relações sociais e símbolos, numa tentativa de reinterpretar a obra do autor para introduzir um novo processo analítico, o da máquina sobre o homem, sobre a mente e a consciência, sobre o inconsciente, sobre os sonhos, sobre os rituais e sobre as mitologias – se o homem falhar ou der uma programação errada em seu computador tudo será errado ou diferente, até que ponto o errado e o diferente estão ininteligíveis se podemos reorganizá-los, foi assim que surgiu a linguagem e a civilização, a humanidade, com a reorganização do ininteligível, nota-se mais uma vez que a máquina não é maior do que o ser humano, do que os seus sonhos, mente e comportamento, do que as suas relações sociais e o seu trabalho. Ela tem apenas um papel de facilitar a construção da mente e do comportamento e das mitologias no mundo contemporâneo.

 

Osny Mattanó Júnior

(29/07/2018)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Decifrando a importância dos sonhos

 

 

 

 

        O homem utiliza a palavra escrita ou falada para expressar o que deseja transmitir. Sei de um caso de um indiano que tinha uma linguagem, uma linguagem é cheia de símbolos, mas ele também, era, do tipo que faz uso de sinais ou imagens, porque vira inúmeros leões, estritamente descritivos. Alguns são simples águias e bois nas velhas igrejas. Não estavam informados das abreviações ou de uma série de iniciais como ONU,do (tal como muitos cristãos),  UNICEF ou UNESCO; outros são marcas símbolos dos evangelistas, símbolos provenientes de comerciais conhecidos, nomes de remédio, suma visão de Ezequiel que, por sua vez, tem analogia,  patenteados, divisas e insígnias. Apesar de Horus, o deus egípcio do Sol e seus quatro símbolos terem nenhum sentido intrínseco. Existem, além disso, objetos tais como a roda, seu uso generalizado produz consequências e sentidos ou por intenção deliberada, que também produz sentidos, e a cruz, que é conhecida no mundo inteiro, mas que posssue significação reconhecida. Sob certas condições, tem um significado simbólico - sinais servem, apenas, para indicar os objetos a que ter significado simbólico, estão ligados. O que simbolizam exatamente ainda é motivo de controversas suposições.

        Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica na vida diária, embora possua conotações quando implica alguma coisa além do seu significado evidente e convem o significado manifesto e imediato. Esta palavra implica em alguma coisa vaga, desconhecida ou imagem que têm um aspecto "inconsciente" mais amplamente oculta para nós.

     Conhecemos o objeto, mas ignoramos implica-la ou explicá-la. Quando a mente explora um símbolo, ou signficações simbólicas tenta ignorá-la da nossa razão. Nossos pensamentos sobre o conceito de um sol "divino''. O homem, como podemos perceber ao refletirmos, neste ponto, vai confessar plenamente uma coisa com competência: o homem é incapaz de descrever um ou ao que entende por completo. Ele pode ver, ouvir, tocar,  ser "divino". Quando, com toda a nossa limitação provocar e provar. Mas a que distância pode ver, quão é intelectual, chamamos alguma coisa de "divina", acuradamente consegue ouvir, o quanto lhe significamos, estamos dando-lhe apenas um nome, que poderá ser aquilo em que toca e o que prova, tudo isto para estar baseado em uma crença, mas nunca em uma evidência  do número e da capacidade dos seus sentidos, mas em decorrência concreta dos sentidos. Mattanó adverte que os sentidos do homem limitam a percepção. Os sentidos humanos nunca são percebidos numa totalidade, num sentido de plenitude, mas numa gestalt, numa forma. Não percebemos dois sentidos ao mesmo tempo, selecionamos o que percebemos conforme a sua importância e necessidade para o indivíduo, conforme a organização perceptiva.

 

Mattanó especula que os símbolos podem indicar o significado dos seus sonhos, contudo através da decorrência dos sentidos; os símbolos podem e têm seu significado inconsciente, mas mais ainda, eles possuem um sentido inconsciente, um conceito inconsciente, um contexto inconsciente, uma funcionalidade inconsciente, um comportamento inconsciente, uma topografia inconsciente, uma simbologia inconsciente, capaz de descrever o homem como ser movido por forças inconscientes coletivas e individuais e conscientes. Que os sonhos podem construir um Episódio Onírico Completo com a completa decodificação dos seus processos, ou um Episódio Onírico Incompleto com a incompleta decodificação dos seus processos, processos estes de significação, de dar sentido, conceito, contexto, funcionalidade, comportamento, topografia e simbologia, ou seja, de interpretação dos sonhos.

(Mattanó; 27/07/2018).

 

 

 

          Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente uti-

lizamos termos simbólicos como representação do que este tem do mundo à sua volta. Utilizando ins-

trumentos científicos podemos, em parte, compensar a deficiência dos sentidos. Conseguimos, por exemplo, alongar o alcance da sua visão através do binóculo integralmente. Esta é uma das razões por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica, conceitos que não podemos definir ou compreender se exprimem através de imagens. Mas este uso consciente que fazemos de símbolos é apenas um aspecto de um fato psicológico de grande importância: o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de sonhos.

 

Mattanó assim entende que por haver fenômenos que estão fora do alcance do entendimento e da racionalidade humana empregamos termos simbólicos a esses fenômenos, mas também empregamos significados, sentidos, conceitos, contextos, fucnionalidades e comportamentos e até avatares que nos auxiliam a assimilar e a acomodar fenômenos distantes da nossa materialidade, que estão na nossa subjetividade, que pertencem muitas vezes ao mundo dos sonhos, onde somos invadidos por imagens e Episódios Oníricos que ao serem interpretados se transformam em Episódios Oníricos Completos ou Episódios Oníricos Incompletos.

(Mattanó; 28/07/2018).

 

 

 

                              

            Além disso, há aspectos inconscientes na nossa    percepção da realidade. O primeiro deles é o fato de que, mesmo quando os nossos sentidos reagem a fenômenos reais, a sensações visuais e auditivas, tudo

isto, de certo modo, é transposto da esfera da realidade para a da mente. Dentro da mente estes fenô-

menos tornam-se acontecimentos psíquicos cuja natureza extrema nos é desconhecida(poisa psique

não pode conhecer sua própria substância). Assim, toda experiência contém um número indefinido de

fatores desconhecidos, sem considerar o fato de que  toda realidade concreta sempre tem alguns aspectos

que ignoramos desde que não conhecemos a natureza extrema da matéria em si.

Fundamentados nestas observações é que os psicólogos admitem a existência de uma psique in-

consciente apesar de muitos cientistas e filósofos negarem-lhe a existência. Argumentam ingenuamen-

te que tal pressuposição implica a existência de dois "sujeitos" ou (em linguagem comum) de duas per-

sonalidades dentro do mesmo indivíduo. E estão inteiramente certos: é exatamente isto o que ela im-

plica. É uma das maldições do homem moderno esta divisão de personalidades. Não é, de forma algu-

ma, um sintoma patológico: é um fato normal, que pode ser observado em qualquer época....

 

Mattanó alerta que há na nossa percepção da realidade aspectos conscientes e aspectos inconscientes, que a realidade é composta de fenômenos que são transmitidos ao cérebro e formam a mente através da percepção, da visão, da audição, da gustação, da olfação, etc., e que estes fenômenos se tornam irreconhecíveis a mente humana, pois a percepção não se organiza de tal forma que possa deslumbrar vários fenômenos ao mesmo tempo, tornando a natureza externa do fenômeno praticamente desconhecida, pois reconhecemos objetos apenas por partes que juntamos. Por isso temos uma mente inconsciente que junta todas essas informações e percepções integrando-as e favorecendo uma percepção inconsciente e total, inteligente, da realidade que também podemos observar nos sonhos.

(Mattanó; 28/07/2018).

 

 

          Há, ainda, certos acontecimentos de que não  tomamos consciência. Permanecem, por assim di-

zer, abaixo do limiar da consciência. Aconteceram, mas foram absorvidos subliminarmente, sem nosso

conhecimento consciente. Só podemos percebê-los nalgum momento de intuição ou por um processo

de intensa reflexão que nos leve à subsequente realização de quedevemter acontecido. E apesar de

termos ignorado originalmente a sua importância emocional e vital, mais tarde brotam do inconscien-

te como uma espécie de segundo pensamento. Este segundo pensamento pode aparecer, por exemplo,

na forma de um sonho. Geralmente, o aspecto inconsciente de um acontecimento nos é revelado a-

través de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como uma imagem sim-

bólica. Do ponto de vista histórico, foi o estudo dos sonhos que permitiu, inicialmente, aos psicólogos

um conhecimento total da psique.

 

            Mattanó ensina que o estudo dos sonhos levou o homem ao conhecimento do que antes não tinha consciência e nem conhecimento, construiu a partir daí um saber e uma ciência. O que não percebíamos estava abaixo do limiar da nossa consciência, foram os sonhos e seus estudos que levaram ao estudo do inconsciente através do que não nos é revelado como uma imagem simbólica, levando os psicólogos a um conhecimento da psique humana. Mitologicamente foram os sonhos que provocaram imediato interesse pelos curiosos, estudiosos, xamãs, cientistas, psicanalistas e psicólogos, pois pareciam indicar um caminho ou uma revelação não manifestada, encoberta, mascarada como nos rituais onde os feiticeiros vestem suas máscaras para igressar e fazer passar seus membros, assim são os sonhos objetos com máscaras que ritualizam cenas e ensinam mensagens que devem ser interpretadas sob forma de significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias e simbologias que nos ensinam fenômenos ligados a libido, a comunhão e a segurança.

(Mattanó; 29/07/2018).

 

 

 

                                                                                                 

          Nossa psique faz parte da natureza e o seu enigma é, igualmente, sem limites. Assim, não podemos

definir nem a psique nem a natureza. Podemos, simplesmente, constatar o que acreditamos que elas

sejam e descrever, da melhor maneira possível, como funcionam. No entanto, fora de observações

acumuladas em pesquisas médicas, temos argumentos lógicos de bastante peso para rejeitarmos afirma-

ções como“não existe inconsciente”' etc. Os que fazem este tipo de declaração estão expressando um

velho misoneísmo—o medo do que é novo e des conhecido.

 

            Mitologicamente nos deslumbramos com o significado da psique, o mesmo significado da natureza, um enigma sem limites, até mesmo do universo quando abordamos os seres extraterrestres, o que torna nossa psique ainda mais enigmática e sem limitações, um universo a ser explorado como o próprio universo e os extraterrestres, no sentido de conhecermos como são suas leis e valores, como funcionam e se organizam, se existe ou não um inconsciente cósmico que vai além do inconsciente coletivo dos Homo Sapiens, que une os seres do universo, que estabelece leis e valores, princípios fundamentais sobre a vida e a existência, sobre a mente, o comportamento, as relações sociais e extraterrestres, a afetividade e o pensamento, os significados, os sentidos, os conceitos, os contextos, as funcionalidades, as toprografias alienígenas, os comportamentos, as relações sociais e alienígenas e os símbolos individuais, coletivos e cósmicos que constroem esta nova ciência mitológica.

(Mattanó; 30/07/2018).

 

 

 

    Há motivos históricos para esta resistência à idéia deque existe uma parte desconhecida na psi-

que humana. A consciência é uma aquisição muito recente da natureza e ainda está num estágio "experimental".É frágil, sujeita a ameaças de perigos específicos e facilmente danificável. Como já observaram os antropólogos, um dos acidentes mentais mais comuns entre os povos primitivos é o que eles chamam "a perda da alma''—que significa, como bem indica o nome, uma ruptura (ou, mais técnica-

mente, uma dissociação) da consciência.

 

            Mattanó explica que históricamente existe muita resistência quanto à aceitação da nossa parte desconhecida da mente, do nosso inconsciente, do nosso inconsciente pessoal, coletivo e cósmico, pois como sabemos a consciência é uma parte da formação que faz muito pouco tempo que se acabou e mesmo assim ainda é ameaçada por ideologias, além de perigos que podem danificá-la como a Pulsão Auditiva de Mattanó de 1995, que vão além da ¨perda da alma¨, vão além de uma ruptura da consciência, indicam que a mente humana pode sofrer facilmente despersonalização e lavagem cerebral, tortura psicológica, sexual e moral, violência e curandeirismo, ou seja, a mente se vê ameaçada por curandeiros criminosos que a prejudicam e a lesam, causando loucura no indivíduo e na sociedade, movimentos e protestos violentos e irresponsáveis de cunho imoral e de despersonalização nacional.

(Mattanó; 31/07/2018).              

 

 

 

 

Entre estes povos, para quem a consciência tem um nível de desenvolvimento diverso do nosso, a

alguns povos primitivos de que cada um deles é constituído de várias unidades interligadas apesar de distintas. Isto significa que a psique do indivíduo está longe de ser seguramente unificada. Certas tribo as acreditam que o homem tem várias almas. Esta crença traduz o sentimento de temos de isolar parte de nossa mente é, na verdade, uma característica valiosa.

 

Mattanó escreve que a consciência tem vários níveis, tem vários estágios. Começa na vida intra-uterina, continua no nascimento e vai da meninice até a morte se constituindo de várias unidades interligadas, mesmo que distintas, como um mapa cognitivo ou GPS do Comportamento, estes fenômenos levam o homem por meio da ciência e antes mesmo já nas tribos primitivas, a um comportamento de crença em várias ¨almas¨ ou várias fases da vida isoladas na nossa mente, o que nos permite construir a ciência psicológica e psicanalítica. Mitológicamente podemos dizer que o homem possui várias ¨almas¨ como possui várias faces ou vários heróis, monstros, fantasmas, reis, deuses, súditos e escravos, ou seja, várias faces de fases que isoladas na nossa mente se sobrepõem uma a uma mas não se anulam, mas se completam e se processam de forma a se integrarem como que num processo de individuação.

(Mattanó; 31/07/2018).

 

 

 

 Ao contrário, ameaça fragmentar-se muito fácilmente sob o assalto de emoções incontidas. Estes fatos, com os quais nos familiarizamos através dos estudos dos antropólogos, não são tão irrelevantes para a nossa civilização como parecem. Também nós podemos sofrer uma dissociação e perder nossa identidade. Podemos ser dominados e perturbados por nossos humores, ou tornarmo-nos insensatos e incapazes de recordar fatos importantes que nos dizem respeito e a outras pessoas, provocando a pergunta: "Que dia-

bo se passa com você?". Pretendemos ser capazes de "nos controlarmos" , mas o controle de si mesmo é virtude das mais raras e extraordinárias. Podemos ter a ilusão de que nos controlamos, mas um amigo facilmente poderá dizer-nos coisas a nosso respeito de que não tínhamos a menor consciência.

 

            Mattanó aponta que mitologicamente o controle de si mesmo ou o autocontrole suscita uma ameaça de fragmentar-se, um assalto de emoções incontidas, uma dissociação, a perda da nossa identidade, a perturbação por estados de humor, a insensatez, a incapacidade diante da memória que vem a nos faltar no momento mais importante da análise, ou seja, o autocontrole é uma das coisas mais fantásticas e extraordinárias que existem, quem o faz jamais ouvirá de um amigo ou de um inimigo coisas que jamais suspeitava escutar ou que não tinha consciência e assim não terá que chorar, sorrir, ficar ou partir por causa de si mesmo, do seu inconsciente, da sua interioridade e dos seus sonhos que também aprenderá a interpretar em seu processo de individuação.

(Mattanó; 01/08/2018).

 

 

 

        Não resta dúvida de que, mesmo no que chamamos "um alto nível de civilização", a consciência humana ainda não alcançou um grau razoável de continuidade. Ela ainda é vulnerável e suscetível à fragmentação. Esta capacidade que cheguei à conclusão de que os sonhos são o mais fecundo e acessível campo de exploração para quem deseje investigar a faculdade de simbolização do homem. Sigmund Freud foi o pioneiro, o primeiro cientista a tentar explorar empiricamente o segundo plano inconsciente da consciência. Trabalhou baseado na hipótese de que os sonhos não são produto do acaso, mas que estão associados a pensamentos e problemas conscientes. Esta hipótese nada apresentava de arbitrária. Firmava-se na conclusão a que haviam chegado eminentes neurologistas (como Pierre Janet, por exemplo) de que os sintomas neuróticos estão relacionados com alguma experiência consciente. Parece mesmo que estes sintomas são áreas dissociadas da nossa consciência que, num outro momento e sob condições diferentes, podem tornar-se conscientes.

 

            Mattanó aponta que mitologicamente a consciência humana ainda não chegou a um nível estável ou razoável de continuidade, pois está sujeita a fragmentação e a dissociação, como prova disto temos os sonhos, os mitos e os ritos, as mitologias que retratam o contemporâneo até o primitivo numa dramatização mística, na capacidade de simbolização do ser humano que também não foge a este regra. Para Freud os sonhos indicam algo que não o acaso, associado a pensamentos e problemas conscientes como os sintomas neuróticos que são, justamente áreas dissociadas da nossa mente, mitologicamente ritualizamos nossos problemas para ultrapassarmos seus limites, até mesmo quando sonhamos, o fazemos para significar, dar sentido, conceituar, contextualizar, fazer a funcionalidade, o comportamento, a topografia e as simbologias (da libido, da comunhão e da segurança) e assim efetuarmos o processo de interpretação onírica com a análise final do Episódio Onírico Completo ou do Episódio Onírico Incompleto. Sonhamos mitologicamente para discriminar eventos encobertos a respeito dos mitos e dos ritos de nossa sociedade, de nossas mitologias, da nossa interioridade.

(Mattanó; 04/08/2018).

 

 

 

 

 

  

      Qualquer psicólogo que tenha ouvido várias  descrições de sonhos sabe que os seus símbolos

existem numa variedade muito maior que os sintomas físicos da neurose. Consistem, inúmeras

vezes, de elaboradas e pitorescas fantasias. Mas se o analista que se defronta com este material onírico usar a técnica pessoal de Freud da "livre associação" vai perceber que os sonhos podem, eventualmente, ser reduzidos a certos esquemas básicos. Esta técnica teve uma importante função no desenvolvimento da psicanálise, pois permitiu que Freud usasse os sonhos como ponto de partida para a investigação dos problemas in conscientes do paciente. Freud fez a observação simples, mas profunda, de que se encorajarmos o sonhador a comentar as imagens dos seus sonhos e os pensamentos que elas lhe sugerem ele acabará por "entregar-se", revelando o fundo inconsciente dos seus males, tanto no que diz quanto no que deixa deliberadamente de dizer. Suas idéias poderão parecer irracionais ou despropositadas, mas, depois de um certo tempo, torna-se relativamente fácil descobrir o que ele está querendo evitar, o pensa-

mento ou experiência desagradável que está reprimindo. Não importa como vai tentar camuflar tudo isto, o que quer que diga apontará sempre para o cerne das suas dificuldades. Um médico está tão habituado ao lado avesso da vida que ele raramente se distancia da verdade quando intersejara esquecer e que conseguira esquecer conscientemente.Na verdade, chegar ao que os psicólogos chamariam de seus "complexos"—isto é, temas emocionais reprimidos capazes de provocar distúrbios psicológicos permanentes ou mesmo, em alguns casos, sintomas de neurose.

 

            Mattanó mostra que os símbolos dos sonhos existem numa variedade muito grande e que consistem em fantasias e falsidades, contudo Freud mostrou que os sonhos revelam histórias que o sonhador gostaria de evitar conscientemente, por se trataremde uma experiência desagradável reprimida no seu inconsciente, revelando suas dificuldades e problemas comportamentais, a estes fenômenos chamamos de ¨complexos¨, temas emocionais reprimidos capazes de provocar distúrbios psicológicos permanentes e em outros casos, sintomas de neurose. Mitologicamente os sonhos revelam as histórias dos nossos ritos, das nossas dificuldades e dos nossos problemas quando conscientizados, mostrando o caminho da cura, da transformação psicológica mística, noite após noite.

(Mattanó; 05/08/2018).

 

   

 

          Este episódio alertou-me para o fato de que não seria necessário utilizar o sonho como ponto

de partida para o processo da livre associação quando se quer descobrir os complexos de um paciente. Mostrou-me que podemos alcançar o centro diretamente de qualquer dos pontos de uma circunferência , a partir do alfabeto cirílico, de meditações sobre uma bola de cristal, de um moinho de orações dos lamaístas, de um quadro moderno ou, até mesmo, de uma conversa ocasional a respeito de qualquer banalidade. O sonho não vai ser neste particular mais ou menos útil do que qualquer outro ponto de partida que se tome. No entanto, os sonhos têm uma significação própria, mesmo quando provocados

por alguma perturbação emocional em que es tejam também envolvidos os comp lexos habituais do indivíduo . (Os complexos habituais do indivíduo são pontos sensíveis da psique que reagem mais rapidamente aos estímulos ou per turbações externas.) É por isto que a livre associação pode levar de um sonho qualquer aos pensamentos secretos mais críticos.do sonho, excluindo todas as idéias e associações - cada detalhe. Talvez, agora, eu já tenha dito o suficiente para mostrar como, cada vez mais, foi aumentando a minha disco rdância da livr e associação, tal como Freud a utilizara inicialmente.

 

 

      Nesta altura ocorreu-me, no entanto, que se

até ali eu estivera certo, podia-se razoavelmente

deduzir que os sonhos têm uma função própria,

mais especial e significativa. Muitas vezes os so-

nhos têm uma estrutura bem definida, com um

sentido evidente indicando alguma idéia ou in-

tenção subjacente—apesar de estas últimas não

serem imediatamente inteligíveis . Comecei,

  pois, a considerar se não deveríamos prestar mais

atenção à forma e ao conteúdo do sonho em vez

de nos deixarmos conduzir pela livre associação.

 

 

Mattanó mostra que Jung começou a discordar de Freud quanto a livre associação para interpretar os sonhos e passou a prestar seu interesse na forma e no conteúdo do sonho. Mattanó acrescenta à forma e ao conteúdo a Gestalt, os princípios da organização perceptiva (simetria, proximidade, continuidade, semelhança, e figura/fundo, etc.), nota-se que Mattanó destaca a figura/fundo como objeto da organização perceptiva, como seu fim ou finalidade, como seu objetivo e nele se dá a interpretação da forma, da Gestalt,  como forma de melhor interpretar a forma e o conteúdo sugere interpretar através da leitura dos significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias, simbologias e relações sociais, através do Episódio Onírico Completo e do Episódio Onírico Incompleto. Assim temos a forma e o conteúdo dos sonhos interpretados.

(Mattanó; 05/08/2018).

 

 

   

Tais idéias e associações podem levar-nos aos complexos do paciente, mas eu tinha em mente um objetivo bem mais avançado do que a descoberta de complexos causadores de distúrbios neuróticos. Há muitos outros meios de identificação dos complexos: os psicólogos, por exemplo, podem obter todas as indicações e referências de que necessitam utilizando os testes de associa ção de pala vras (per guntando ao paciente o que ele associa a um determinado grupo de palavras e estudando , então, as suas respostas). Mas para conhecer e entender a organização psíquica da personalidade global de uma pessoa é importante avaliar quão relevante é a função de seus sonhos e imagens simbólicas. A maioria das pessoas sabe, por exemplo, que o ato sexual pode ser simbolizado por uma imensa variedade de imagens (ou representado

sob forma alegórica). Cada uma destas imagens pode, por um processo associativo, levar à ideia da relação sexual e aos complexos específicos que incluem no comportamento sexual de um indivíduo. Mas, da mesma maneira, podemos desenterrar estes complexos graças a um devaneio em torno de um grupo de letras indecifráveis do alfabeto russo. Fui, assim, levado a admitir que um sonho pode conter outra mensagem além de uma alegoria sexual, e que isto acontece por motivos determinados.

 

 

Mattanó alerta que ideias e associações podem levar a complexos do paciente. Para estudá-los devemos estudar os sonhos do paciente, as imagens simbólicas, a forma e o conteúdo dos sonhos. Cada imagem pode ser representada de diferentes maneiras, ou seja, um símbolo pode ser representado de diversas maneiras, há várias imagens para cada símbolo. Cada uma dessas imagens tem potencial para levar até os complexos do indivíduo. Assim os sonhos tem algo a mais do que o conteúdo sexual, pois tem várias imagens para cada símbolo, o símbolo pode ser presentado de muitas maneiras, por outros motivos determinados, como a comunhão e o exercício da força (ou a segurança).

(Mattanó; 08/08/2018).

 

 

 

 

    

                                                      Foi o que aconteceu com meu pacie nte: o

                                                    seu lado feminino não era dos melhores. E o seu

                                                    sonho estava lhe dizendo: "Você está se com-

                                                  portando, em certos aspectos, como uma mulher

                                                    degenerada", dando-lhe assim um choque pro-

                                                    positado. (Não se deve concluir por este exemplo

                                                  que o nosso inconsciente esteja preocupado com

                                                    sanções "morais". O sonho não pretendia dizer

                                                    ao paciente que "se compor tasse melhor '': es-

                                                    tava tentando, simplesmente, contrabalançar a

                                                  natureza mal-equi librada da sua consciência,

                                                  que alimentava a simulação do doente de ser

                                                  sempre um perfeito cavalheiro.)

                                                      Éfáci l compreender por que quem sonha

                                                  tem tendência para ignorar e até rejeitar a men-

                                                  sagem do seu sonho. A consciência resiste, na-

                                                    tural mente, a tudo que é inconsciente e des-

                                                      conhecido. Já assinalei a existência, entre os po-

                                                      vos primitivos, daquilo a que os antropólogos cha-

                                                    mam "misoneísmo", um medo profundo e

                                                  supersticioso ao novo. Ante acontecimentos de-

                                                      sagradáveis, os primitivos têm as mesmas reações

                                                  do animal selvagem. Mas o homem "civilizado"

                                                    reage a idéia s novas da mesma maneira, er-

                                                    guendo barreiras psicológicas que o protegem do

                                                    choque trazido pela inovação. Pode-se fa-

                                                    cilmente observar este fato na reação do in-

                                                    divíduo ao seu próprio sonho, quando ele é o-

                                                    brigado a admitir alg um pensamento ines-

                                                  perado. Muitos pioneiros da filosofia, da ciência

                                                  e mesmo da literatura têm sido vítimas deste

                                                  conservadorismo inato dos seus contemporâneos.

                                                  A psicologia é uma das ciências mais novas e, por

                                                  tratar do funcionamento do inconsciente, en-

                                                    controu inevitavelmente o misoneísmo na sua

                                                  forma mais extremada.

 

 

 

Mattanó fala do misoneismo quando aborda a telepatia e a lavagem cerebral, a pulsão auditiva e suas consequências na psique, no comportamento e nas relações sociais dos indivíduos, como a falsidade ideológica, o estupro virtual, o curandeirismo, o falso insight, o erro, o engano, a mentira, a tortura moral, sexual, física e psicológica, o abuso e a exploração sexual e de incapazes, a tentativa do atentado ao pudor do estelionatário, a tentativa do ato obsceno do estelionatário, o estelionato, o roubo de dados pessoais, o roubo de conhecimento, o roubo de trabalho, o roubo da educação e da vida sexual e da saúde, o roubo de partes do corpo humano, a periclitação da vida e da saúde,  a discriminação, a perseguição, a violação de direitos e da cidadania, a violação da intimidade e da privacidade, as injúrias e as calúnias, as difamações, os crimes contra a imagem da pessoa, os crimes de ódio, as tentativas de execução deflagradas, etc., ainda há muito misoneismo na Psicologia e na Psicanálise, inclusive na Psiquiatria.

(Mattanó; 08/08/2018).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O passado e o futuro no inconsciente

 

 

 

        Esbocei, até aqui, alguns dos princípios em que me baseei para chegar ao problema dos sonhos,

pois quando se deseja invest igar a faculdade humana de produzir símbolos os sonhos são, comprovadamente, o material fundamentale mais acessível para isto. Os dois pontos essenciais a respeito dos sonhos são os seguintes: em primeiro lugar, o sonho deve ser tratado como um fato a respeito do qual não se fazem suposições prévias, a não ser a de que ele tem um certo sentido; em segundo lugar, é necessário aceitarmos que o sonho é uma expressão específica do inconsciente.

 

Mattanó explica que os sonhos são o material mais acessível para o estudo da faculdade humana de produzir símbolos. Devemos encarar os sonhos a partir da forma e do conteúdo, mas sem suposições prévias a respeito dele, que ele tem um sentido, sua forma e conteúdo e que ele é uma expressão do inconsciente individual, coletivo e cósmico.

(Mattanó; 10/08/2018).

 

 

 

                Dificilmente poder-se-á expor estes princípios de maneira mais despretensiosa. E mesmo

que algumas pessoas menosprezem o inconsciente, têm que admitir que é válido investigá-lo; o inconsciente está, pelo menos, no mesmo nível do piolho que, afinal, desfruta do interesse honesto do entomologista. Se aqueles que possuem pouca experiência e escassos conhecimentos a respeito dos sonhos consideram-nos apenas ocorrências caóticas, sem qualquer significação, têm toda a liberdade de fazê-lo. Mas se julgarmos o sonho um acontecimento normal (o que, na verdade, ele é) temos de ponderar que ou ele é causal—isto é, há uma causa racional para a sua existência—ou, de um certo modo, intencional. Ou ambos, uma profusão de pensamentos, imagens e impressões provisoriamente ocultos e que, apesar de terem sido perdidos, continuam a influenciar nossas mentes conscientes. Um homem desatento ou "distraído" pode atravessar uma sala para buscar alguma coisa. Pára, parecendo perplexo;

esqueceu o que buscava. Suas mãos tateiam pelos objetos de uma mesa como se fosse um sonâmbulo; não se lembra do seu objetivo inicial, percebe então o que queria. Foi a sua inconsciência que o ajudou a lembrar-se.

   

            Os sonhos tem sua importância para o investigador, mesmo para o de pouca experiência que aos poucos aprende a conhecê-lo melhor e a interpretá-lo adequadamente. Os sonhos são um acontecimento normal,e tem sua causa racional, onde suas ideias, imagens, pensamentos, sensações e impressões provisoriamente ocultos e perdidos continuam a influenciar a nossa mente consciente. Assim como nossos passos são influenciados pelo nosso inconsciente até mesmo quando fechamos os olhos e continuamos a caminhar e concluímos nossa caminhada. Os sonhos também  nos ajudam a concluir a nossa caminhada. Esta caminhada, a caminhada diurna e a caminhada noturna, eles nos ajudam de muitas maneiras com suas formas e conteúdos.

(Mattanó; 10/08/2018).

 

 

 

 

 

 

         

                Se observarmos o comportamento de uma pessoa neurótica podemos vê-la fazendo muitas

coisas de modo aparentemente intencional e consciente. Noentanto, se a questionarmos descobriremos que ou não tem consciência alguma das ações praticadas ou então que pensa em coisas bem diferentes. Ouve, mas está surda,  vê, mas está cega, sabe e parece ignorante. Estes exemplos são tão frequentes que o especialista logo compreende que o que está contido inconscientemente no nosso espírito comporta-se como se fora consciente e que nunca se pode ter certeza, em tais casos, de pensamento, fala ou ação cons-

cientes ou não.havido anestesia ou "esquecimento". É este tipo de comportamento que leva tantos médicos a rejeitarem as afirmações de pacientes histéricos como se fossem mentiras. No entanto, depois que eu a hipnotizei, disse-me por que ficara doente, como chegara à clínica e quem a recebera. Todos estes detalhes puderam ser comprovados. Ela foi até capaz de dizer a hora em que chegara à clínica, porque havia um relógio no hall de entrada. Hipnotizada, sua memória mostrava-se tão clara como se esti-

vesse estado totalmente consciente o tempo inteiro.

 

            Mattanó aponta que aparentemente nos comportamos segundo intenções conscientes, mas quando somos indagados sobre nossas motivações descobrimos coisas bem diferentes, descobrimos motivos inconscientes, por exemplo, quando falamos mas não reconhecemos o que falamos, ou ouvimos mas não reconhecemos o que ouvimos, passamos anestesiados por estímulos. Jung comprovou que seus pacientes reconheciam estes estímulos com a técnica da hipnose lhes perguntando sobre esses estímulos que conscientemente não eram despertados ou conscientizados, discriminados. Jung ajudou a comprovar a existência do inconsciente.

(Mattanó; 10/08/2018).

 

 

 

 

              Quando se discute este assunto traz-se, hábitualmente, o testemunho da observação clíni-

  1. Por esta razão, muitos críticos alegam que o inconsciente e todas as suas sutis manifestações

pertencem, unicamente, à esfera da psicopatologia. Consideram qualquer expressão do incons-

ciente como um sintoma de neurose ou de psicose, que nada teria a ver com o estado mental nor-

mal. Mas os fenômenos neuróticos não são, de modo algum, produtos exclusivos de uma doen-

ça. São, na verdade, apenas exageros patológicos de ocorrências normais; e é apenas por serem

exageros que se mostram mais evidentes do que seus correspondentes normais. Sintomas histé-

ricos podem ser observados em qualquer pessoa normal , mas são tão diminutos que em geral

passam despercebidos.

 

            Mattanó explica que o inconsciente não se trata de um funcionamento anormal da mente e assim unicamente da esfera da psicopatologia. Pois o inconsciente pertence a todos os indivíduos como fenômeno individual, coletivo e cósmico. Como já vimos suas intenções e motivos estão nos sonhos, ou seja, sua forma e conteúdo que o fazem um fenômeno filogenético (da nossa espécie, Homo Sapiens), ontogenético (de cada indivíduo), cultural (da nossa cultura como fenômeno cultuado e ritualizado místicamente), da espiritualidade (como fenômeno espiritual), da vida (como fenômeno próprio da vida) e do universo (como fenômeno do universo, do cosmos e dos contatos extraterrestres).

(Mattanó; 10/08/2018).

 

 

 

 

 

 

 

 O ato de esquecer, por exemplo, é um processo normal, em que certos pensamentos conscientes perdem a sua energia específica devido a um desvio da nossa atenção. Quando o interesse se desloca deixa em sombra as coisas de que anteriormente nos ocupávamos, exatamente como um holofote ao iluminar uma nova área deixa uma outra mergulhada em escuridão.

 

Mattanó explica que o ato de esquecer envolve uma gestalt, uma forma, uma figura, onde ora está a luz dos nossos olhos a imagem de uma figura ou de uma taça e noutro relance por esquecimento desta imagem temos a imagem na memória do fundo ou de um rosto, exatamente como um holofote ao iluminar uma área que deixa outra área mergulhada na escuridão. O holofote é a nossa consciência e cada área é respectivamente, uma a figura e a outra o fundo da figura. O esquecimento é o desvio da nossa atenção.

(Mattanó; 23/08/2018).

 

 

 

          Na sua juventude, ele vivera numa fazenda onde criavam gansos e o seu odor característico lhe deixara uma impressão duradoura, apesar de adormecida. Ao passar pela fazenda naquela caminhada, registrara subliminarmente aquele cheiro, e esta percepção inconsciente despertou experiências da sua infância há muito esquecidas. A percepção foi subliminar porque a atenção estava concentrada em outra coisa qualquer e o estímulo não fora bastante forte para desviá-la, alcançando diretamente a consciência. No entanto, trouxe à tona "esquecidas" lembranças. As recordações perdidas encontramos várias, cujo estado subliminar (e que não podemos reproduzir voluntariamente) se deve à sua natureza de origem desagradável. Os psicólogos lhes chamam conteúdos recalcados.

 

            Mattanó explica que as recordações esquecidas estão recalcadas em função de sua natureza desagradável e que por isto tornam-se esquecidas. O cheiro despertou lembranças até então, esquecidas, as recordações perdidas eram muitas e estavam recalcadas. Notamos funcionalmente o Contexto (uma caminhada numa fazenda) – Sestímulo (odor ou cheiro) – Consequência (despertar de lembranças esquecidas) – NovoContexto (um sujeito inserido no meio ambiente, numa fazendo com lembranças que eram até então esquecidas e foram despertadas do seu inconsciente). A natureza da origem dessas lembranças esquecidas é algo desagradável, pois estavam recalcadas e esquecidas, vieram à tona com o cheiro na caminhada na fazenda.

(Mattanó; 24/08/2018).

 

 

 

 

            Este efeito de sugestão ou de uma espécie de "detonação" é capaz de explicar o aparecimento de sintomas neuróticos e também de outras recordações benignas quando se avista alguma coisa , ou se sente um odor, ou se ouve um som que lembre circunstâncias passadas.

 

            Mattanó escreve que essa sugestão, por exemplo, o cheiro, explica o surgimento de lembranças esquecidas, de sintomas neuróticos e de recordaçções benignas, por exemplo, quando avistamos alguma  coisa, sentimos um cheiro ou ouvimos um som como uma música que lembre circunstâncias ou eventos passados temos lembranças esquecidas. Mattanó diz que lembramos de acontecimentos esquecidos por causa do nosso mapa cognitivo e do nosso GPS do comportamento que desencadeiam rotas cognitivas e comportamentais para os estímulos que percebemos, inclusive para os estímulos que não percebemos, que estão e são inconscientes.

(Mattanó; 24/08/2018).

 

 

 

                Muitas pessoas superestimam erradamente o papel da força de vontade e julgam que nada poderá acontecer à sua mente que não seja por decisão e intenção próprias. Mas precisamos aprender a distinguir cuidadosamente entre o conteúdo intencional e o conteúdo involuntário da mente. O primeiro se origina da personalidade do ego ; o segundo, no entanto, nasce de uma fonte que não é idêntica ao ego, mas à sua "outra face". É esta "outra face" que faz a secretária esquecer os convites.

 

            Mattanó explica que a mente é dividida em duas faces, a consciente e a inconsciente, a face consciente e a outra face, muitas pessoas acreditam que a outra face não tem poder sobre a face consciente tentando dominá-la através da força de vontade, da decisão e da intenção própria, mas não é bem assim, a outra face esta agindo, esta na gestalt, como forma, que de acordo com o insight e a percepção será deslumbrada, é a outra face que faz o jovem acadêmico se esquecer da resposta certa durante o exame letivo, mesmo tendo estudado exaustivamente.

(Mattanó; 02/09/2018).

 

 

 

 

 

                Há muitas razões para esquecermos coisas que notamos ou experimentamos. E há igual número de maneiras pelas quais elas podem ser relembradas. Um exemplo interessante é o da criptomnésia, ou "recordação escondida". Um autor pode estar escrevendo de acordo com um plano preestabelecido, trabalhando num determinado argumento ou desenvolvendo a trama de uma história quando, de repente, muda de rumo. Talvez lhe tenha ocorrido alguma nova idéia, ou uma imagem diferente ou um enredo secundário inteiramente inédito. Se lhe pergun- tarmos o que ocasionou esta digressão ele não será capaz de o dizer. Talvez nem mesmo tenha notado a mudança, apesar de ter escrito algo inteiramente novo e do qual não possuía, aparentemente, nenhum conhecimento anterior. Nominar entanto pode-se, muitas vezes, provar-lhe que acabou de escrever tem uma enorme semelhança com o trabalho de outro escritor—trabalho que crê nunca ter visto.

 

            Mattanó adiciona que temos vários motivos para nos esquecermos de coisas que notamos ou experimentamos, que vivemos e nos relacionamos, mas há também um número de motivos pelos quais elas podem ser relembradas , como exemplo temos a ¨recordação escondida¨, que é aquela recordação efetuada quando escrevemos algo que nunca nos envolvemos numa leitura ou audição e de repente reparamos depois, de tê-la escrito, num outro episódio de nossas vidas compará-la com a de outro autor e ver a sua enorme semelhança com o que escrevemos outrora, este é um fenômeno do inconsciente. Dependendo da história de vida do autor pode ser um fenômeno do inconsciente pessoal ou senão do inconsciente coletivo.

(Mattanó; 02/09/2018).

 

 

 

 

Eu mesmo encontrei um exemplo fascinante deste processo, no livro de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra,onde o autor reproduz literalmente um incidente relatado num diário de bordo , no ano de 1686. Por mero acaso eu havia lido um resumo desta história num livro publicado em 1835 (meio século antes do livro de Nietzsche) . Quando encontrei a mesma passagem em Assim Falou Zaratustra espantei-me com o estilo, tão diverso do de Nietzsche. Convenci-me de que também Nietzsche lera aquele antigo livro, apesar de não lhe ter feito qualquer referência. Escrevi à sua irmã, que ainda  naquela ocasião, e ela me confirmou que, na verdade, o livro fora lido tanto por ela quanto pelo irmão, quando este tinha 11 anos. Verifica-se, pelo contexto, que é inconcebível pensar que Nietzsche tivesse qualquer idéia de estar plagiando aquela história. Creio que, simplesmente, cinquenta anos mais tarde, a história estruturou-se em foco na sua consciência.

 

            Mattanó adiciona que a recordação escondida pode ter ocorrido no livro de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, onde o autor fala de um incidente relatado num diário de bordo no ano de 1686, que por acaso já havia sido publicado no ano de 1835. Nietzsche havia lido a primeira publicação e certamente teve uma recordação escondida quando a história estruturou-se em foco em sua consciência devido a sua história de vida pessoal, revelando a influência do seu inconsciente pessoal e até do coletivo, de acordo com o contexto, o significado, o sentido, o conceito, o comportamento, a funcionalidade, a simbologia e as relações sociais, ressalta-se importante destacar se houver relações com telepatia, com alienígenas ou o universo e o cosmos estaremos abordando o inconsciente cósmico.

(Mattanó; 16/09/2018).

 

 

 

 

Muita controvérsia tem surgido a este respeito. Mas o fato é que, além de memórias de um passado consciente também pensamentos inteiramente novos e idéias criadoras podem surgir do inconsciente - idéias e pensamentos que nunca foram conscientes. Como um lótus, nascem das escuras profundezas da mente para formar uma importante parte da nossa psique subliminar.  Encontramos exemplos disso em nossa vida cotidiana, onde às vezes os dilemas são solucionados pelas mais surpreendentes e novas proposições. Muitos artistas, filósofos e mesmo cientistas devem suas melhores idéias a inspirações nascidas de súbito do inconsciente. A capacidade de alcançar um veio particularmente rico deste material e transformá-lo de maneira eficaz em filosofia, em literatura, em música ou em descobertas científicas é o que comumente chamamos genialidade. Podemos encontrar na própria história da ciência provas evidentes desse fato. Por exemplo, o matemático francês Poincaré e o químico Kekulé devem importantes descobertas científicas ao limiar da consciência.

 

Mattanó aponta que o inconsciente pode trazer do passado ideias e pensamentos inteiramente novos e criadores e não somente memórias vividas. Muitos artistas, políticos e cientistas devem suas carreiras ao papel inovador e criativo do seu inconsciente, muitas vezes suas melhores ideias são inspirações que vieram de súbito do inconsciente, há estas pessoas chamamos a inteligência de genialidade pois trazem grandes contribuições artísticas, políticas e científicas para a humanidade. Importante salientar que o papel do inconsciente cósmico na inteligência é de grande importância pois traz para a humanidade a inteligência, o saber e o conhecimento das estrelas, do universo, dos alienígenas através do contato extraterrestre e da telepatia que é um fenômeno extraterrestre.

(Mattanó; 26/10/2018).

 

 

  A função dos sonhos

 

 

 

 

        Entrei em detalhes sobre as origens da nossa vida onírica por ser ela o solo de onde originalmente, medra a maioria dos símbolos. Infelizmente, é difícil compreender os sonhos. Como já assinalei, um sonho em nada se parece com uma história contada pela mente consciente. Na nossa vida cotidiana refletimos sentido em termos da nossa experiência diurna melhor maneira de dizê-lo e tentamos dar aos nossos comentários uma coerência lógica. Uma pessoa instruída evitará, por exemplo, o emprego de metáforas complicadas a fim de não  tornar confuso o seu ponto de vista. Mas os sonhos têm uma textura diferente. Neles se acumulam imagens que parecem contraditórias e ridículas, perde-se a noção de tempo, e as coisas mais banais se podem revestir de um aspecto fascinante ou aterrador.      

 

            Mattanó discorre que é a vida onírica a fonte natural da maior parte de nossos símbolos e que é difícil compreender os sonhos, pois os sonhos em nada se parecem com a mente consciente, os sonhos não tem uma lógica aparente, eles tem uma lógica latente que se reveste e se traduz em seus significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, simbologias, topografias, linguagens, relações sociais, insights e gestalts, revelando um aspecto fascinante ou aterrador em sua trama manifesta e latente, em seu conjunto como Episódio Onírico Completo ou Episódio Onírico Incompleto.

(Mattanó; 26/10/2018).

 

 

 

 

 

Parecerá estranho que o inconsciente disponha o seu material de modo tão diverso dos esquemas aparentemente disciplinados que imprimimos aos nossos pensamentos, quando acordados. No entanto, quem quer que se detenha na recordação de um sonho perceberá este contraste, contraste este que é uma das principais razões para que os sonhos sejam de tão difícil compreensão para os leigos. Como não fazem sentido em termos da nossa experiência diurna normal, há uma tendência ou para ignorá-los ou para nos confessarmos desorientados e confundidos. Talvez este ponto se torne mais claro se tomarmos consciência de que as idéias de que nos ocupamos na nossa vida diurna e aparentemente disciplinada não são tão precisas como queremos crer. Ao contrário, o seu sentido (e a importância emocional que têm para nós) torna -se cada vez mais vago à medida que as examinamos de mais perto. A razão para isto é que qualquer coisa que tenhamos ouvido ou experimentado pode tornar-se subliminar — isto é, passar ao inconsciente. E mesmo aquilo que retemos no nosso consciente e que podemos reproduzir à vontade adquire um meio-tom inconsciente que dá novo colorido à idéia, cada vez que ela é convocada. Nossas impressões conscientes, de fato, assumem rapidamente um elemento de sentido inconsciente que tem para nós uma significação psíquica, apesar de não estarmos conscientes da existência deste fator subliminar ou da maneira pela qual ambos ampliam e perturbam o sentido convencional.

Mattanó concorda que o inconsciente não dispõe de regras que ditamos aos nossos pensamentos conscientes, por isso ele, o inconsciente nos parece tão distante e incompreensível, criando uma tendência a ignorá-lo e desprezá-lo pois nos confessamos confundidos por ele. Ele age nos confundindo quando é inconsciente e torna-se consciente e quando é consciente e torna-se inconsciente repentinamente, mudando a significação e o sentido psíquico, mas também a conceituação, a contextualização, a funcionalização, o comportamento, a simbolização, a linguagem, a topografia, as relações sociais, a gestalt, o insight e o conteúdo da véspera nos sonhos, perturbando o sentido convencional ao qual estávamos lidando até agora.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

 

Evidentemente estes meios-tons psíquicos diferem de pessoa para pessoa. Cada um de nós recebe noções gerais ou abstratas no contexto particular de sua mente e, portanto, entende e aplica estas noções também de maneira particular e individual. Quando, numa conversa, uso palavras como "estado", "dinheiro", "saúde" ou "sociedade", parto do pressuposto de que os que me escutam dão a estes termos mais ou menos a mesma significação que eu. Mas a expressão "mais ou menos" é que importa aqui. Cada palavra tem um sentido ligeiramente diferente para cada pessoa, mesmo para os de um mesmo nível cultural. O motivo destas variações é que uma noção geral é recebida num contexto individual, particular e, portanto, é também compreendida e aplicada de um modo individual particular. As diferenças de sentido são maiores, naturalmente quando as pessoas têm experiências sociais, políticas, religiosas ou psicológicas de nível desigual. Sempre que os conceitos são idênticos às palavras, a variação é quase imperceptível e não tem qualquer função prática. Mas quando se faz necessária uma definição exata ou uma explicação mais cuidada, podemos descobrir as variações mais extraordinárias, não só na compreensão puramente intelectual do termo, mas particularmente no seu tom emocional e na sua aplicação. Estas variações são sempre subliminares e, portanto, as pessoas não as percebem. Podemos rejeitar tais diferenças considerando-as supérfluas ou simples nuanças dispensáveis por serem de pouca aplicação às nossas necessidades cotidianas. Mas o fato de existirem vem mostrar que até os conteúdos mais banais da consciência têm à sua volta uma orla de penumbra e de incertezas. Mesmo o conceito filosófico ou matemático mais rigorosamente definido, que sabemos só conter aquilo que nele colocamos, ainda é mais do que pressupomos. É um acontecimento psíquico e, como tal, parcialmente desconhecido. Os próprios algarismos usados para contar são mais do que julgamos ser: são, ao mesmo tempo, elementos mitológicos (para os adeptos de Pitágoras chegavam a ser divinos). Mas certamente não tomamos conhecimento disto quando empregamos os números com objetivos práticos. Em suma, todo conceito da nossa consciência tem suas associações psíquicas próprias. Quando tais associações variam de intensidade (segundo a importância relativa deste conceito em relação à nossa personalidade total, ou segundo a natureza de outras idéias e mesmo complexos com os quais esteja associado no nosso inconsciente.

Mattanó comenta que os meios-tons psíquicos que variam de pessoa para pessoa são oriundos justamente dos processos de significação, de dar sentido, conceito, contextualização, comportamento, funcionalidade, simbologias, linguagem, topografias, relações sociais, gestalts, insights, conteúdos de vésperas através da socialização e da alfabetização.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

O conceito pode mesmo tornar-se qualquer coisa totalmente diferente, à medida que é impulsionado abaixo do nível da consciência. Estes aspectos subliminares de tudo o que nos acontece parecem ter pouca importância em nossa vida diária. Mas na análise dos sonhos, onde os psicólogos se ocupam das expressões do inconsciente, são aspectos relevantes, pois se constituem nas raízes quase invisíveis dos nossos pensamentos conscientes. É por isto que objetos ou idéias comuns podem adquirir uma significação psíquica tão poderosa que acordamos seriamente perturbados, apesar de termos sonhado coisas absolutamente banais — como uma porta fechada ou um trem que se perdeu. As imagens produzidas no sonho são muito mais vigorosas e pitorescas do que os conceitos e experiências congêneres de quando estamos acordados. E um dos motivos é que, no sonho, tais conceitos podem expressar o seu sentido inconsciente. Nos nossos pensamentos conscientes restringimo-nos aos limites das afirmações racionais — afirmações bem menos coloridas, desde que as despojamos de quase todas as suas associações psíquicas. Lembro-me de um sonho que tive e que achei realmente difícil interpretar. Neste sonho, um certo homem tentava aproximar-se de mim e pular às minhas costas. Nada sabia a respeito dele a não ser que se utilizara de uma observação minha e, transformando o seu significado, tornara-a grotesca. Mas eu não conseguia ver qual a ligação entre este fato e a sua tentativa de saltar às minhas costas. Na minha experiência profissional, no entanto, muitas vezes acontece alguém interpretar erradamente o que digo — e isto ocorre tantas vezes que já nem me dou ao trabalho de me perguntar se isto me irrita ou não. De fato, há uma certa conveniência em guardar-se controle, conscientemente, das nossas reações emocionais. E era aí que estava, como logo verifiquei, o sentido do meu sonho. Eu usara um coloquialismo austríaco e o transformara em imagem visual. É uma expressão muito comum na Áustria dizer-se "Du kannst mir auf den Buckel steigen'' (você pode montar nas minhas costas), que significa ''pouco me importa o que você fala de mim". Pode-se qualificar este sonho de simbólico porque não representa uma situação de modo direto e sim indiretamente, por meio de uma metáfora, que a princípio não percebi. Quando isto acontece (como é freqüente) não se trata de um "disfarce" proposital do sonho; é resulta - do, apenas, da nossa dificuldade em captar o conteúdo emocional da linguagem ilustrada. De fato, na vida cotidiana precisamos expor nossas idéias da maneira mais exata possível e aprendemos a rejeitar os adornos da fantasia tanto na linguagem quanto nos pensamentos — perdendo, assim, uma qualidade ainda característica da mentalidade primitiva. A maioria de nós transfere para o inconsciente todas as fantásticas associações psíquicas inerentes a todo objeto e a toda idéia. Já os povos primitivos ainda conservam estas propriedades psíquicas. Não apenas os números, mas também objetos familiares como pedras e árvores podem ter uma importância simbólica.

Mattanó aponta que abaixo da consciência até mesmo os conceitos podem tomar um outro sentido, o seu sentido inconsciente. Da mesma forma os significados e os sentidos, os contextos, a funcionalidade, o comportamento, a linguagem, a simbologia, a topografia, as relações sociais, a gestalt, o insight e o conteúdo de véspera.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

 Aquilo a que os psicólogos chamam identidade psíquica, ou "participação mística", foi afastado do nosso mundo objetivo. Mas é exatamente este halo de associações inconscientes que dá ao mundo primitivo aspecto tão colorido e fantástico; a tal ponto perdemos contato com ele que se o reencontramos nem o reconhecemos. Conosco, estes fenômenos situam-se abaixo do limite da consciência e quando, ocasionalmente, reaparecem insistimos em dizer que algo de errado está ocorrendo. Fui consultado várias vezes por pessoas inteligentes e cultas que estavam profundamente chocadas com certos sonhos, fantasias e mesmo visões. Supunham que este tipo de coisas não acontece aos sãos de espírito e que aqueles que têm visões devem sofrer de algum distúrbio patológico. Um teólogo disse-me, certa vez, que as visões de Ezequiel eram apenas sintomas mórbidos e que, quando Moisés e outros profetas ouviam "vozes", estavam sofrendo de alucinação. Imaginem, pois o pânico de que este homem se viu possuído quando algo deste gênero lhe aconteceu "espontaneamente".

Mattanó comenta que a ¨participação mística¨ nos sonhos é um fenômeno que põe o sonhador abaixo do limite da consciência como uma pessoa profundamente inteligente e culta, certa de seus sonhos, fantasias e visões, o mundo atual ainda constrói muitas de suas relações a partir da ¨participação mística¨.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

Estamos de tal modo habituados à natureza aparentemente racional do nosso mundo que dificilmente podemos imaginar que nos aconteça alguma coisa impossível de ser explicada pelo bom senso comum. O homem primitivo, ao se defrontar com este tipo de conflito, não duvidaria da sua sanidade — pensaria em fetiches, em espíritos ou em deuses. As emoções que nos afetam são, no entanto, exatamente as mesmas. Os receios que nascem de nossa elaborada civilização podem ser muito mais ameaçadores do que os atribuídos pelos povos primitivos aos demônios. A atitude do homem civilizado faz-me, por vezes, lembrar um paciente psicótico da minha clínica, que era médico. Uma manhã perguntei-lhe como se sentia. Respondeu-me que passara uma excelente noite desinfetando o céu inteiro com cloreto de mercúrio, mas que durante todo este processo sanitário não encontrara o menor traço de Deus. Temos aí um caso de neurose, ou talvez de coisa mais grave. Em lugar de Deus ou do "medo de Deus" há uma neurose de angústia ou uma espécie de fobia. A emoção conservou-se a mesma, mas, a um tempo, o nome e a natureza do seu objeto mudaram para pior. Lembro-me de um professor de filosofia que consultou-me, um dia, sobre a sua fobia ao câncer. Sofria da convicção compulsiva de que tinha um tumor maligno, apesar de nada ter sido acusado em dezenas de chapas de raios X. "Sei que não há nada", dizia ele "mas pode haver." Qual seria a causa desta idéia fixa? Obviamente vinha de um medo que nada tinha a ver com a sua vontade consciente. Aquele pensamento mórbido de repente tomava conta dele, e com tal força que não conseguia controlar-se. Era bem mais difícil para este homem culto aceitar um fenômeno deste tipo do que seria para o homem primitivo dizer que fora atormentado por um fantasma. A influência maligna de espíritos maus é, pelo menos, uma hipótese admissível nas culturas primitivas, enquanto que para o civilizado é uma experiência perturbadora admitir que seus males nada mais são que uma tola extravagância da imaginação. O fenômeno primitivo da obsessão não desapareceu; é o mesmo de sempre. Apenas é interpretado de maneira diversa e mais desagradável. Fiz várias comparações deste tipo entre o homem moderno e o primitivo.

Mattanó comenta que o assim como os pacientes de Jung buscavam explicações para seus medos e fobias em doenças na medida em que eram cultos e não acreditavam em fenômenos ocultos, hoje a sociedade justifica seus medos e fobias em extraterrestres ou alienígenas, pois não há mais espaço para doenças e fenômenos ocultos, chegando ao máximo de catalogar Deus como um alienígena.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

São essenciais, como mostrarei adiante, para compreendermos a tendência do homem de construir símbolos e a participação dos sonhos para expressá-los. Pois vamos descobrir que muitos sonhos apresentam imagens e associações análogas a idéias, mitos e ritos primitivos. Estas imagens oníricas eram chamadas por Freud "resíduos arcaicos". A expressão sugere que estes "resíduos" são elementos psíquicos que sobrevivem na mente humana há tempos imemoriais. É um ponto de vista característico dos que consideram o inconsciente um simples apêndice do consciente (ou, numa linguagem mais pitoresca, como uma lata de lixo que guarda todo o refugo do consciente). Pesquisas posteriores levaram-me a crer que esta é uma atitude insustentável e que deve ser desprezada. Constatei que associações e imagens deste tipo são parte integrante do inconsciente, e podem ser observadas por toda parte — seja o sonhador instruído ou analfabeto, inteligente ou obtuso. Não são, de modo algum, "resíduos" sem vida ou significação. Têm, ao contrário, uma função e são sobretudo valiosos (como mostra o Dr. Henderson num outro capítulo) devido, exatamente, ao seu caráter "histórico". Constituem uma ponte entre a maneira por que transmitimos conscientemente os nossos pensamentos e uma forma de expressão mais primitiva, mais colorida e pictórica. E é esta forma, também, que apela diretamente à nossa sensibilidade e à nossa emoção. Essas associações "históricas" são o elo entre o mundo racional da consciência e o mundo do instinto.

Mattanó explica que o inconsciente é um rico instrumento, tanto para o instruído quanto para o obtuso ou sem instrução, para o rico como para o pobre, para o branco, o preto, o amarelo, o vermelho e o mestiço, ele não discrimina mente ou tipo de pessoa por qualquer que seja sua discrminação, ele é universal em sua significação e pessoal em seu caráter histórico.

(Mattanó; 26/11/2018)

 

 

Já comentei a respeito do contraste interessante entre os pensamentos "controlados" que temos quando acordados e a riqueza de imagens produzidas pelos sonhos. Podemos constatar agora uma outra razão para esta diferença: na nossa vida civilizada despojamos tanto as idéias da sua energia emocional que já não reagimos mais a elas. Usamos estas idéias nos nossos discursos, reagimos convencionalmente quando outros também as utilizam, mas elas não nos causam uma impressão profunda. É necessário haver alguma coisa mais eficaz para que mudemos de atitude ou de comportamento. E é isto que a "linguagem do sonho" faz: o seu simbolismo tem tanta energia psíquica que somos obrigados a prestar-lhe atenção. Havia, por exemplo, uma senhora conhecida por seus insuportáveis preconceitos e obstinada resistência a qualquer argumento racional. Podia-se discutir com ela uma noite inteira; não tomaria o menor conhecimento das nossas opiniões. Seus sonhos, no entanto, empregaram uma linguagem inteiramente diferente. Uma noite sonhou que estava numa importante reunião social, onde foi recebida pela anfitriã com as seguintes palavras: "Que bom você ter podido vir. Todos os seus amigos estão aqui à sua espera." E levou-a até uma porta, que abriu, introduzindo-a num estábulo. A linguagem deste sonho é simples o bastante para que até um ignorante a entenda. A mulher, a princípio, recusou-se a admitir o sentido de um sonho que vinha atingir tão diretamente o seu amor-próprio. Mas acabou compreendendo a mensagem que lhe era enviada, e após algum tempo aceitou a pilhéria que se auto-infligira. Estas mensagens do inconsciente têm uma importância bem maior do que se pensa. Na nossa vida consciente estamos expostos a todos os tipos de influência. As pessoas estimulam-nos ou deprimem-nos, ocorrências na vida profissional ou social desviam a nossa atenção. Todas estas influências podem levar-nos a caminhos opostos à nossa individualidade; e quer percebamos ou não o seu efeito, nossa consciência é perturbada e exposta, quase sem defesas, a estes incidentes. Isto ocorre em especial com pessoas de atitude mental extrovertida, que dão todo o relevo a objetos exteriores, ou com as que abrigam sentimentos de inferioridade e de dúvida envolvendo o mais íntimo da sua personalidade. Quanto mais a consciência for influenciada por preconceitos, erros, fantasias e anseios infantis mais se dilata a fenda já existente, até chegarse a uma dissociação neurótica e a uma vida mais ou menos artificial, em tudo distanciada dos instintos normais, da natureza e da verdade. A função geral dos sonhos é tentar restabelecer a nossa balança psicológica, produzindo um material onírico que reconstitui, de maneira sutil, o equilíbrio psíquico total. É ao que chamo função complementar (ou compensatória) dos sonhos na nossa constituição psíquica. Explica por que pessoas com idéias pouco realísticas, ou que têm um alto conceito de si mesmas, ou ainda que constroem planos grandiosos em desacordo com a sua verdadeira capacidade, sonham que voam ou que caem. O sonho compensa as deficiências de suas personalidades e, ao mesmo tempo, previne-as dos perigos dos seus rumos atuais. Se os avisos do sonho são rejeitados, podem ocorrer acidentes reais. A pessoa pode cair de uma escada ou sofrer um desastre de carro.

Mattanó explica que sonhamos com o que nos complementa quando temos uma balança psicológica dos sonhos, o material onírico reconstitui o equilíbrio total de maneira situl. Nossa constituição psíquica leva-nos a compensar nos sonhos com planos nossas deficiências, com avisos o que rejeitamos, com voos nossas quedas. O sonho rejeitado pode causar acidentes reais, podemos cair, tropeçar, nos cortar, sofrer um desastre de carro ou de avião, podemos matar e nos tornar-mos criminosos devido aos sonhos, por isso manipular os sonhos com telepatia e hipnose perguntando sobre violência e criminalidade, sobre doenças e loucuras, torna-se algo extremamente perigoso, pois podemos causar problemas para o sonhador em sua vida despertada, em seu ambiente de trabalho, escolar, familiar, religioso, social, etc..

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

Lembro-me do caso de um homem que se envolveu numa série de negócios escusos. Como uma espécie de compensação criou uma paixão quase mórbida pelas formas mais arriscadas de alpinismo. Procurava "erguer-se sobre si mesmo". Uma noite sonhou que ao escalar o pico de uma montanha muito alta precipitara-se no espaço vazio. Quando me contou o sonho, verifiquei imediatamente o perigo que corria e tentei reforçar ainda mais aquele aviso para persuadi-lo a moderar-se. Cheguei mesmo a dizer-lhe que o sonho pressagiava sua morte num acidente de alpinismo. Foi inútil. Seis meses mais tarde "precipitou-se no espaço vazio". Um guia o observava enquanto, com um companheiro, descia por uma corda até um local de difícil acesso. O amigo encontrara um apoio temporário para os pés, numa saliência, e ele o seguia. Repentinamente, soltou a corda como se (segundo o guia) estivesse "se precipitando no ar". Caiu sobre o amigo, ambos despencaram montanha abaixo e morreram. Outro caso típico foi o de uma senhora que estava vivendo muito acima das suas possibilidades. Altiva e autoritária na sua vida cotidiana, tinha, à noite, sonhos terríveis com toda espécie de coisas desagradáveis. Quando lhe expliquei os sonhos recusou-se, indignada, a tomar conhecimento deles. Os sonhos foram se tornando cada vez mais ameaçadores e cheios de referências a caminhadas que costumava fazer, sozinha, pelos bosques e onde se entregava a emotivos devaneios. Vi o perigo que corria, mas ela recusou-se a ouvir os meus conselhos. Pouco tempo depois foi atacada por um pervertido sexual no bosque onde passeava. Não tivesse havido a intervenção de pessoas que ouviram seus gritos ela teria sido morta. Não há nenhuma magia nestes fatos. Os sonhos daquela mulher revelaram que ela alimentava um desejo secreto por tal tipo de aventura — assim como o alpinista procurava, inconscientemente, solução definitiva para os seus problemas. Obviamente nenhum deles esperava pagar tal preço: nem ela ter várias fraturas, nem ele perder a vida. Assim, os sonhos algumas vezes podem revelar certas situações muito antes de elas realmente acontecerem.

Mattanó alerta que os sonhos servem para avisar-nos sobre perigos e ameaças que podem ocorrer conosco diante de determinados contextos e comportamentos, acredita que pode avisar também sobre perigos e ameaças sobre significados, sentidos, conceitos, funcionalidades, simbologias, linguagens, topografias, relações sociais, gestalts, insights e conteúdos de vésperas, antes mesmo que eles realmente aconteçam.

(Mattanó; 26/11/2018).

 

 

Não é necessariamente um milagre ou uma forma de previsão. Muitas crises da nossa vida têm uma longa história inconsciente. Caminhamos ao seu encontro passo a passo, desapercebidos dos perigos que se acumulam. Mas aquilo que conscientemente deixamos dever é, quase sempre, captado pelo nosso inconsciente, que pode transmitir a informação através dos sonhos. Os sonhos muitas vezes nos advertem; mas tantas outras parece que não o fazem. "Mensagens" do inconsciente são, muitas vezes, tão ambíguas e enigmáticas como as declarações dos oráculos. Nevolente-nos pode refrear a tempo é duvidosa. Ou, para sermos mais claros, parece que uma força benéfica por vezes funciona e outras não. A mão misteriosa pode até, ao contrário, indicar um caminho de per dição — os sonhos às vezes provam ser armadilhas, ou pelo menos parece que o são. Em certas ocasiões, comportam-se como o oráculo de Delfos quando disse ao rei Creso que se atravessasse o rio Haly destruiria um grande reino. Só depois de derrotado numa batalha, após ter transposto o rio, é que descobriu que o reino a que o oráculo se referia era o seu próprio. Não podemos nos permitir nenhuma ingenuidade no estudo dos sonhos. Eles têm sua origem em um espírito que não é bem humano, e sim um sopro da natureza — o espírito de uma deusa bela e generosa, mas também cruel. Se quisermos caracterizar este espírito, vamos aproximar-nos bem melhor dele na esfera das mitologias antigas e nas fábulas das florestas primitivas do que na consciência do homem moderno. Não estou querendo negar as grandes conquistas que nos trouxe a evolução da sociedade civilizada, mas tais conquistas realizaram-se à custa de enormes perdas, cuja extensão mal começamos a avaliar. As comparações que fiz entre os estados primitivo e civilizado do homem tiveram como objetivo parcial mostrar o saldo destes ganhos e perdas.

Mattanó comenta que os sonhos muitas vezes nos passam desapercebidos por causa das suas forças inconscientes, inclusive quando assumem uma forma de previsão. Porém o que passou desapercebido da consciência não passou desapercebido do inconsciente. As mensagens do inconsciente podem ser claras, mas podem ser também ambíguas, misteriosas, cheias de armadilhas. A extensão das mensagens depende das conquistas e dos estados primitivos e do civilizado ao qual o homem deve mostrar o saldo destes ganhos e perdas, fazendo um balanço numa balança por compensações através dos sonhos.

(Mattanó; 27/11/2018).

 

 

 O homem primitivo era muito mais governado pelos instintos do que seu descendente, o Kômem "racional", que aprendeu a "controlarse". Em nosso processo de civilização separamos a consciência, cada vez mais, das camadas instintivas mais profundas da psique humana, e mesmo das bases somáticas do fenômeno psíquico. Felizmente, não perdemos estas camadas instintivas básicas; elas se mantiveram como parte do inconsciente, apesar de só se expressarem sob a forma de imagens oníricas. Estes fenômenos instintivos — que nem sempre podem ser reconhecidos como tal, já que o seu caráter é simbólico — representam um papel vital naquilo que chamei função compensadora dos sonhos. Para benefício do equilíbrio mental e mesmo da saúde fisiológica, o consciente e o inconsciente devem estar completamente interligados, a fim de que possam se mover em linhas paralelas. Se se separam um do outro ou se ''dissociam", ocorrem distúrbios psicológicos. Neste particular, os símbolos oníricos são os mensageiros indispensáveis da parte instintiva da mente humana para a sua parte racional, e a sua interpretação enriquece a pobreza da nossa consciência fazendo-a compreender, novamente, a esquecida linguagem dos instintos. As pessoas, é claro, tendem a pôr em dúvida esta função já que os seus símbolos muitas vezes passam despercebidos ou incompreendidos. Na vida normal, a compreensão dos sonhos é até, por vezes, considerada supérflua. Posso dar um exemplo da experiência que tive com uma tribo primitiva da África Ocidental. Para meu espanto, os seus habitantes negavam que tivessem sonhos. Através de conversas pacientes e de perguntas indiretas, logo descobri que, como qualquer outra pessoa, também sonhavam, mas que apenas estavam convencidos de que seus sonhos não tinham significação alguma. "Os sonhos do homem comum não querem dizer nada", afirmaram-me. Pensavam que os únicos sonhos importantes eram os dos chefes das tribos e os dos feiticeiros que, como diziam respeito ao bem-estar geral do grupo, tinham grande valor aos seus olhos. O problema, no entanto, era que o chefe da tribo e o feiticeiro afirmavam terem deixado de sonhar coisas significativas. Esta mudança datava da época em que os ingleses haviam chegado ao país. O comissário do distrito - o oficial britânico encarregado daquela tribo - tomara para si a função de sonhar, ele mesmo, os "grandes sonhos" que até então regiam o comportamento da tribo. Quando os habitantes desta tribo admitiram que, na verdade, sonhavam, julgando apenas que seus sonhos não tinham maior importância, estavam agindo como o homem moderno que pensa que seus sonhos não têm nenhuma significação apenas porque não os entendem. Mas até mesmo o homem civilizado pode, por vezes, observar que um sonho (de que talvez ele nem se lembre) é capaz de piorar ou melhorar o seu humor . O sonho foi "compreendido", só que de uma maneira subliminar. E é isto, aliás, que acontece habitualmente.

Mattanó comenta que o homem primitivo era governado pelos seus instintos e que os sonhos tinham uma atividade compensadora, onde o equilíbrio mental e a saúde fisiológica derivam de uma boa relação entre consciente e inconsciente, quando eles se separam aparecem os distúrbios mentais. A interpretação dos sonhos nos faz compreender a esquecida linguagem dos instintos, onde seus símbolos passam desapercebidos ou incompreendidos. A linguagem dos instintos pode assim adquirir significado, sentido, conceito, contexto, funcionalidade, comportamento, simbologia, linguagem, topografia, relações sociais, gestalt, insight e conteúdos de véspera.

(Mattanó; 27/11/2018).

 

 

Apenas nas raras vezes em que um sonho é particularmente impressionante, ou que passa a repetir-se a intervalos regulares, é que as pessoas buscam alguma interpretação. Devo acrescentar aqui uma palavra de cautela a respeito da análise de sonhos feita de maneira pouco inteligente ou pouco competente. Existem pessoas cujo estado mental é de tamanho desequilíbrio que interpretar os seus sonhos pode ser extremamente arriscado. São casos em que uma consciência extremamente unilateral se encontra isolada de uma inconsciência irracional ou "louca" correspondente, e as duas não devem ser postas em contato sem precauções muito especiais. De modo geral, é uma tolice acreditar-se em guias pré-fabricados e sistematizados para a interpretação dos sonhos, como se pudéssemos comprar um livro de consultas para nele encontrar a tradução de determinado símbolo. Nenhum símbolo onírico pode ser separado da pessoa que o sonhou, assim como não existem interpretações definidas e específicas para qualquer sonho. A maneira pela qual o inconsciente completa ou compensa o consciente varia tanto de indivíduo para indivíduo que é impossível saber até que ponto pode, na verdade, haver uma classificação dos sonhos e seus símbolos. É claro que existem sonhos e símbolos isolados (preferia chamá-los "motivos") típicos, e que ocorrem com bastante freqüência. Entre estes motivos estão a queda, o vôo, a perseguição feita por animais selvagens ou por pessoas inimigas, sentir-se insuficiente ou impropriamente vestido em lugares públicos, estar-se apressado ou perdido no meio de uma multidão tumultuada, lutar com armas inúteis ou estar sem meios de defesa, correr muito sem chegar a lugar algum. Um motivo infantil típico é o sonho de crescer ou diminuir infinitamente, ou passar de um para outro extremo como em Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Mas devo, novamente, acentuar que são motivos a serem considerados dentro do contexto do sonho, e não cifras de um código que se explicam por si mesmas. O sonho recorrente é um fenômeno digno de apreciação. Há casos em que as pessoas sonham o mesmo sonho, desde a infância até a idade adulta. Este tipo de sonho é em geral uma tentativa de compensação para algum defeito particular que existe na atitude do sonhador em relação à vida; ou pode datar de um traumatismo que tenha deixado alguma marca. Pode também ser a antecipação de algum acontecimento importante que está para acontecer. Sonhei durante muitos anos um mesmo motivo, no qual eu "descobria" uma parte da minha casa que até então me era desconhecida. Algumas vezes apareciam os aposentos onde meus pais, há muito falecidos, viviam e onde meu pai, para grande surpresa minha, montara um laboratório de estudo da anatomia comparada dos peixes e onde minha mãe dirigia um hotel para hóspedes fantasmas. Habitualmente, esta ala desconhecida surgia como um edifício histórico, há muito esquecido, mas de que eu era proprietário. Continha interessante mobiliário antigo e, lá para o fim desta série de sonhos, descobri também uma velha biblioteca com livros que não conhecia. Por fim, no último sonho, abri um dos livros e encontrei nele uma porção de gravuras simbólicas maravilhosas. Quando acordei, meu coração pulsava de emoção. Algum tempo antes de ter este último sonho, eu havia encomendado a um vendedor de livros antigos uma coleção clássica de alquimistas medievais. Encontrara numa obra uma citação que me parecia relacionada com a antiga alquimia bizantina e queria verificar isto. Algumas semanas depois de ter tido o sonho do livro que sonhos são fenômenos completamente individuais e seus símbolos não podem ser catalogados. Chegou um pacote do livreiro. Dentro havia um volume em pergaminho, datando do século XVI. Era ilustrado com fascinantes gravuras simbólicas, que logo me lembraram as que eu vira no meu sonho. Como a redescoberta dos princípios da alquimia tornou-se parte importante do meu trabalho pioneiro na psicologia, o motivo do meu sonho recorrente é de fácil compreensão. A casa, certamente, era o símbolo da minha personalidade e do seu campo consciente de interesses; e a ala desconhecida da residência representava a antecipação de um novo campo de interesse e pesquisa de que, na época, a minha consciência não se apercebera. Desde aquele momento, há 30 anos, o sonho não se repetiu.

Mattanó explica que há casos em que a interpretação do sonho torna-se não aconselhável, devido ao estado mental ou desequilíbrio do paciente. E avisa que não existem métodos de se universalizar a interpretação dos sonhos e dos seus símbolos, pois eles dependem de como o sonhador os compreende, significa, dá sentido, conceitua, contextualizar, funcionaliza e se comporta gerando o símbolo que por sua vez continua a desencadear o processo interpretativo dos sonhos com a linguagem, a topografia, as relações sociais, a gestalt, o insight e o conteúdo de véspera.

(Mattanó; 27/11/2018).

 

 

A análise dos sonhos

 

 

Comecei este ensaio acentuando a diferença existente entre um sinal e um símbolo. O sinal é sempre menos do que o conceito que ele representa, enquanto o símbolo significa sempre mais do que o seu significado imediato e óbvio. Os símbolos, no entanto, são produtos naturais e espontâneos. Gênio algum já se sentou com uma caneta ou um pincel na mão dizendo: "Agora vou inventar um símbolo." Ninguém pode tomar um pensamento mais ou menos racional, a que chegou por conclusão lógica ou por intenção deliberada, e dar-lhe forma "simbólica". Não importa de que adornos extravagantes se ornamente uma tal idéia — ela vai manter-se apenas um sinal associado ao pensamento consciente que significa, e nunca um símbolo a sugerir coisas ainda desconhecidas. Nos sonhos os símbolos ocorrem espontaneamente, pois sonhos acontecem, não são inventados; eles constituem, assim, a fonte principal de todo o nosso conhecimento a respeito do simbolismo. Devo fazer notar, no entanto, que os símbolos não ocorrem apenas nos sonhos; aparecem em todos os tipos de manifestações psíquicas. Existem pensamentos e sentimentos simbólicos, situações e atos simbólicos. Parece mesmo que, muitas vezes, objetos inanimados cooperam com o inconsciente criando formas simbólicas. Há numerosas histórias autênticas de relógios que param no momento em que seu dono morre, como aconteceu com o relógio de pêndulo no palácio de Frederico, o Grande, em Sans Souci, que parou na hora da morte do rei. Outro exemplo comum é o de um espelho que se parte ou de um quadro que cai quando alguém morre. Ou também pequenos, mas inexplicáveis, acidentes de objetos que se quebram numa casa onde alguém sofre uma crise emocional. Mesmo que os céticos se recusem a acreditar nessas histórias, a verdade é que elas estão sempre acontecendo, e só isto basta como prova da sua importância psicológica. Há muitos símbolos, no entanto (e entre eles alguns do maior valor), cuja natureza e origem não é individual, mas sim coletiva. Sobretudo as imagens religiosas: o crente lhes atribui origem divina e as considera revelações feitas ao homem. O cético garante que foram inventadas. Ambos estão errados. É verdade, como diz o cético, que símbolos e conceitos religiosos foram, durante séculos, objeto de uma elaboração cuidadosa e consciente. É também certo, como julga o crente, que a sua origem está tão soterrada nos mistérios do passado que parece não ter qualquer procedência humana. Mas são, efetivamente, "representações coletivas" — que procedem de sonhos primitivos e de fecundas fantasias. Este fato, como explico mais tarde, tem relação direta e essencial com a interpretação dos sonhos. É evidente que se considerarmos o sonho um símbolo, vamos interpretá-lo de maneira diversa daquele que acredita que a emoção e o pensamento energético já são conhecidos. Objetos inanimados parecem por vezes "agir" simbolicamente: apenas "disfarçados" pelo sonho. Neste último caso, não haverá sentido na interpretação dos sonhos desde que se vai encontrar, apenas, aquilo que já conhecemos. Por esta razão disse eu sempre a meus alunos: "Aprendam tanto quanto puderem a respeito do simbolismo; depois, quando forem analisar um sonho, esqueçam tudo.'' Este conselho tem tal importância prática que fiz dele uma lei para lembrar a mim mesmo que jamais poderei entender suficientemente bem o sonho alheio a ponto de interpretá-lo de modo perfeito. Estabeleci esta regra com o objetivo de impedir o fluxo das minhas próprias associações e reações que, de outro modo, acabariam predominando sobre as perplexidades e hesitações dos meus pacientes. Assim como é da maior importância terapêutica para um analista captar o mais exatamente possível a mensagem particular de um sonho (isto é, a contribuição feita pelo inconsciente ao consciente), também é-lhe essencial explorar o conteúdo do sonho com a mais criteriosa minúcia. Tive um sonho, na época em que trabalhava com Freud, que ilustra bem este ponto. Sonhei que estava em minha casa, aparentemente no primeiro andar, numa sala de estar muito confortável e agradável, mobiliada no estilo do século XVIII. Estava admirado por nunca ter-me encontrado naquela saleta antes, e começava a perguntar-me como seria o andar térreo. Desci e cheguei a um cômodo bastante escuro, de paredes almofadadas e uma mobília pertencente ao século XVI, ou talvez mais antiga ainda. Minha surpresa e curiosidade aumentaram. Queria conhecer toda a disposição da casa. Desci então ao porão, onde encontrei uma porta que abria para um lance de degraus de pedra, levando a uma grande sala abobadada. O chão era de enormes lajes de pedra e as paredes pareciam muito antigas. Examinei a argamassa e verifiquei que estava misturada a pedaços de tijolos. Obviamente eram paredes de origem romana. Sentia-me cada vez mais agitado. Num canto vi uma laje com uma argola de ferro. Puxei a argola e encontrei outro lance de degraus estreitos que conduziam a uma gruta, uma espécie de sepultura pré-histórica, onde se encontravam duas caveiras, alguns ossos e cacos de cerâmica. Neste momento acordei. Se Freud, ao analisar este sonho, tivesse seguido o meu método na exploração do seu contexto e das suas associações específicas, teria chegado a uma longa história. Mas receio que ele a desprezasse considerando-a uma simples tentativa para escapar a um problema que, na verdade, era seu. O sonho, de fato, é um resumo da minha vida ou, mais especificamente, do desenvolvimento da minha mente. Cresci numa casa que tinha 200 anos, nossa mobília possuía peças de cerca de 300 anos e minha maior aventura espiritual, até aquela ocasião, fora o estudo das filosofias de Kant e Schopenhauer. O grande acontecimento da época era o trabalho de Charles Darwin. Pouco antes deste período eu ainda vivia orientado pelos conceitos medievais de meus pais, para quem o mundo e os homens eram conduzidos ainda pela onipotência e providência divinas. Este mundo tornara-se antiquado e obsoleto e minha fé cristã perdera seu caráter absoluto ao defrontar-se com as religiões ocidentais e a filosofia grega. Por este motivo o andar térreo do meu sonho era tão silencioso, escuro e, obviamente, inabitado. Meu interesse pela história, naquela época, tinha se originado de um outro interesse — a anatomia comparada e a paleontologia, quando trabalhava como assistente no Instituto Anatômico. Ficara fascinado com o estudo fóssil do homem, particularmente o discutido homem de Neanderthal e a controvertida caveira do Pithecanthropus, de Dubois. Na verdade, estas eram as minhas reais associações com o sonho; mas nem ousei mencionar a Freud nada sobre caveiras, esqueletos ou cadáveres porque sabia que este tema não lhe era nada simpático. Ele alimentava a impressão singular de que eu antecipava-lhe uma morte prematura. E chegara a esta conclusão porque eu demonstrara grande interesse pelos corpos mumificados da chamada Bleikeller de Bremen, que visitáramos juntos em 1909 a caminho do navio que nos levou à América. Por isso relutei em expor-lhe o que pensava, já que outra experiência recente deixara-me profundamente impressionado com o fosso quase intransponível existente entre os seus pontos de vista e idéias básicos e os meus. Receava perder sua amizade se o deixasse penetrar no meu mundo interior que, talvez, lhe, parecesse muito estranho. Sentindo-me também inseguro quanto à minha própria psicologia, disse-lhe, quase automaticamente, uma mentira a respeito das minhas "livres associações", fugindo assim à tarefa impraticável de esclarecê-lo sobre a minha constituição psíquica, tão pessoal e totalmente diversa da sua. Devo pedir ao leitor que me perdoe esta longa narrativa das dificuldades em que me meti para contar meu sonho a Freud. Mas é um bom exemplo dos embaraços em que a gente se envolve no decorrer da análise real de um sonho, de tal modo são importantes as diferenças de personalidade do analista e do analisado. Verifiquei logo que Freud procurava algum "desejo inconfessável" no meu sonho. Por isso sugeri, especulativamente, que as caveiras poderiam referir-se a alguns membros da minha família cuja morte eu desejasse, por um motivo qualquer. Esta suposição foi bem aceita por ele, mas eu não ficara nada satisfeito com esta solução "postiça". Enquanto tentava encontrar respostas razoáveis às perguntas de Freud, perturbei-me com a minha intuição a respeito da função exercida pelo fator subjetivo na compreensão psicológica. Minha intuição era tão forte que eu só tinha um pensamento — o que fazer para sair desta situação emaranhada em que me metera. Segui o caminho mais fácil, mentindo, o que não é nem elegante nem moralmente defensável; de outra maneira, no entanto, eu me arriscaria a uma briga fatal com Freud, para a qual, por várias razões, não me sentia preparado. Esta minha intuição foi a compreensão imediata e bastante inesperada de que o sentido do meu sonho era a minha própria pessoa, a minha vida e o meu mundo, minha realidade total contra a estrutura teórica erguida por outra mente desconhecida, por motivos e propósitos que lhe eram particulares. Não se tratava do sonho de Freud, mas do meu. E num lampejo compreendi o que meu sonho me queria dizer. Este conflito ilustra um ponto vital na análise dos sonhos. E menos uma técnica que se pode aprender e aplicar de acordo com as regras do que uma permuta dialética entre duas personalidades. Se tratarmos a análise como uma técnica mecânica, perde-se a personalidade psíquica da pessoa que sonha e o problema terapêutico fica reduzido a uma simples interrogação: qual das duas pessoas em jogo — o analista ou o sonhador — dominará a outra? Foi por este motivo que desisti do tratamento hipnótico, desde que não queria impor aos outros a minha vontade. Desejava que o processo da cura nascesse da própria personalidade do paciente e não de sugestões minhas, que teriam um efeito apenas passageiro. Meu objetivo era proteger e preservar a dignidade e a liberdade do meu doente para que ele vivesse a sua vida de acordo com os seus próprios desejos. Nesta experiência com Freud foi-me revelada, pela primeira vez, a noção de que antes de construirmos teorias gerais a respeito do homem e sua psique deveríamos aprender bastante mais sobre o ser humano com quem vamos lidar. O indivíduo é a realidade única. Quanto mais nos afastamos dele para nos aproximarmos de idéias abstratas sobre o homo sapiens mais probabilidades temos de erro. Nesta época de convulsões sociais e mudanças drásticas é importante sabermos mais a respeito do ser humano, pois muito depende das suas qualidades mentais e morais. Para observarmos as coisas na sua justa perspectiva precisamos, porém, entender tanto o passado do homem quanto o seu presente. Daí a importância essencial de compreendermos mitos e símbolos.

Mattanó comenta que descobrimos com a técnica interpretativa dos sonhos e não com a hipnótica que submete o paciente aos mandos do terapeuta, e assim a sua própria psicologia, revelando que devemos deixar e manter o analisando livre de interferências durante a sua fala, ouvindo-o com amor, para que sua psicologia se revele e seja livre e o liberte e não as interferências, deste modo compreenderemos os significados, os sentidos, os conceitos, os contextos, as funcionalidades, os comportamentos, as simbologias, as linguagens, as topografias, as relações sociais, as gestalts, os insights e os conteúdos de vésperas que o paciente traz na sessão para o terapeuta interpretar. Esta técnica ajuda a diferenciar os sinais e os símbolos. Os sinais são conscientes, são inventados por meio da atividade, da educação e do trabalho do ser humano. Já os símbolos não podem ser inventados, são produzidos nos sonhos, são inconscientes. Tanto os sinais quanto os símbolos e até os mitos são qualidades mentais e morais do ser humano que ele usa para se adaptar as adversidades do meio ambiente e evoluir gerando filogênese, ontogênese, cultura, espiritualidade, vida e universo, com base na aleatoriedade da reprodução e da genética que produz mudanças morfológicas, fisiológicas, comportamentais e genéticas nos seres humanos, assegurando a sua evolução e seleção natural.

(Mattanó; 27/11/2018).

 

 

 

 

 

 

O problema dos tipos

 

 

Em todos os outros ramos da ciência é lícito aplicar-se uma hipótese a um assunto ou tema impessoal. A psicologia, no entanto, inevitavelmente nos confronta com as relações vivas entre dois indivíduos, nenhum dos quais pode ser despojado da sua personalidade subjetiva nem, na verdade, despersonalizado em qualquer outro sentido. O analista e seu paciente podem estabelecer que um determinado problema será tratado de um modo impessoal e objetivo. Mas, no momento em que se absorvem no assunto, suas personalidades vão ficar totalmente envolvidas. Nesta altura, só podem alcançar êxito chegando a um acordo mútuo. Será possível emitir um julgamento objetivo sobre o resultado final? Só se fizermos uma comparação entre as nossas conclusões e os padrões considerados válidos no meio social a que o indivíduo pertence. E mesmo então precisamos ter em conta o equilíbrio mental (ou "sanidade") da pessoa em causa. Pois o resultado não poderá ser um nivelamento coletivo do indivíduo para ajustá-lo às "normas" da sua sociedade, já que tal procedimento levá-lo-ia a uma condição totalmente artificial. Uma sociedade saudável e normal é aquela em que as pessoas habitualmente entram em divergência, desde que um acordo geral é coisa rara de existir fora da esfera das qualidades humanas instintivas. Apesar de a divergência funcionar como veículo na vida mental de uma sociedade, não se pode considerá-la um objetivo em si. A concordância é igualmente importante. E porque a psicologia depende, basicamente, do equilíbrio dos contrários, nenhum julgamento pode ser considerado definitivo sem que se leve em conta a sua reversibilidade. A razão desta particularidade está no fato de não existir nenhum ponto de vista, acima ou fora da psicologia, que nos permita formar um julgamento definitivo sobre a natureza da psique. Apesar de os sonhos pedirem um tratamento individual, são necessárias também algumas generalizações para classificar e esclarecer o material recolhido pelos psicólogos no seu estudo de um grande número de pessoas. Seria logicamente impossível formular ou ensinar qualquer teoria psicológica se nos limitássemos a descrever uma porção de casos isolados sem qualquer esforço para verificar o que têm em comum e aquilo em que diferem. Qualquer característica geral pode ser escolhida como base. Pode-se, por exemplo, fazer uma distinção relativamente simples entre indivíduos de personalidades "extrovertidas" e aqueles que são "introvertidos". Esta é apenas uma das muitas generalizações possíveis, mas permite-nos logo ver as dificuldades que podem surgir no caso de o analista pertencer a um dos tipos e seu paciente a outro. Como qualquer análise mais profunda dos sonhos conduz a um confronto entre dois indivíduos, logicamente há de fazer uma grande diferença o fato de possuírem ou não o mesmo tipo de personalidade. Se ambos pertencem ao mesmo tipo, podem caminhar juntos e felizes por longo tempo; mas se um for extrovertido e o outro introvertido, seus pontos de vista, diferentes e contrários, logo vão entrar em choque, sobretudo se cada um deles não estiver consciente do seu tipo de personalidade ou julgar que o seu tipo é o único verdadeiramente bom. O extrovertido, por exemplo, vai adotar sempre o ponto de vista da maioria; o introvertido há de rejeitá-lo, justamente por ser ''o que está na moda". Esta divergência é fácil de acontecer, já que o que tem valor para um é exatamente o que não o tem para o outro. Freud, por exemplo, considerava o tipo introvertido como o de um indivíduo morbidamente preocupado consigo mesmo. No entanto, a introspecção e o autoconhecimento podem também ser fatores da maior importância. É de necessidade vital na interpretação dos sonhos tomarmos conhecimento destas diferenças de personalidade. Não se deve presumir que o analista seja um super-homem, acima destas diferenças, apenas porque é um médico, dono de uma teoria psicológica e de uma técnica correspondente. O médico só se pode considerar superior se pretender que sua teoria e sua técnica são verdades absolutas, capazes de dominar a totalidade da psique humana. Desde que tal pretensão é bastante discutível, ele não poderá ter este tipo de convicção. Como conseqüência, ver-se-á secretamente crivado de dúvidas ao confrontar com teorias e técnicas (que são simples hipóteses e tentativas) a totalidade humana que é o seu paciente, em lugar de confrontá-lo com a sua própria totalidade existencial. A personalidade global do analista é o único equivalente apropriado da personalidade do paciente. Experiência e conhecimento psicológicos nada mais são que simples vantagens do lado do analista; e não vão livrá-lo da desordem e da confusão a que vai ser posto à prova, juntamente com seu paciente. Assim, é muito importante saber se suas personalidades são harmônicas, divergentes ou complementares. Extroversão e introversão são apenas duas entre as muitas peculiaridades do comportamento humano. São, muitas vezes, bastante óbvias e facilmente reconhecíveis.

Mattanó acrescenta que além da divergência ou da convergência entre personalidades, notamos acentuado desenvolvimento em nossas sociedades e culturas da divergência ou da convergência de significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, simbologias, topografias, linguagens, relações sociais, gestalts, insights, sonhos, aspirações, desejos, volições, amor e ódio que se projetam em arquétipos em forma de arte, trabalho, educação e religião, como forma de comunicação entre o pessoal e o coletivo, donde aprendemos a nos comportar de forma introvertida ou extrovertida, anunciando uma era em que seríamos divergentes, convergentes ou complementares aceitando as diferenças e amando uns aos outros como a nós mesmos.

(Mattanó; 11/12/2018).

 

Ao estudarmos os indivíduos extrovertidos, por exemplo, logo iremos perceber que diferem um do outro em muitos aspectos, e que a extroversão é, portanto, um critério superficial e bastante genérico para caracterizar um só indivíduo. Por isto tentei, já há muito tempo, encontrar outras particularidades básicas capazes de ajudar a pôr alguma ordem nas diferenças, aparentemente ilimitadas, da individualidade humana. Sempre me impressionou o fato de que um número surpreendente de pessoas não utilize jamais a sua mente, se for possível evitá-lo, e também que um número considerável o faça de maneira absolutamente estúpida. Também espantou-me encontrar muitas pessoas inte- ligentes e argutas que vivem (tanto quanto se pode observar) como se nunca tivessem a -prendido a usar os seus sentidos: não vêem o que lhes está diante dos olhos, nem ouvem as palavras que soam aos seus ouvidos ou notam as coisas em que tocam ou provam. Alguns vivem sem mesmo tomar consciência do seu próprio corpo. Tive contato, também, com muitas pessoas que pareciam viver no mais estranho estado de espírito, como se a condição a que tivessem chegado hoje fosse definitiva, sem qualquer possibilidade de mudança, ou como se o mundo e a psique fossem estáticos e assim permanecessem eternamente. Pareciam destituídas de qualquer imaginação e dependiam, inteira e exclusivamente, da sua percepção sensorial. Acasos e possibilidades não existiam no mundo em que viviam e no seu "hoje" não havia um "amanhã" verdadeiro. O futuro nada mais significava que a repetição do passado. Estou tentando aqui dar ao leitor uma rápida idéia das minhas primeiras impressões quando comecei a observar as pessoas que encontrava. Logo se me tornou evidente, no entanto, que as pessoas que utilizavam as suas mentes eram as que "pensavam" — isto é, aquelas que usavam as suas faculdades intelectuais tentando adaptar-se a gentes e circunstâncias. As pessoas igualmente inteligentes que não pensavam buscavam e encontravam o seu caminho através do ''sentimento''. "Sentimento" é uma palavra que pede uma certa explicação. Por exemplo, falamos dos sentimentos que nos inspira uma pessoa ou uma coisa. Mas também empregamos a mesma palavra para definir uma opinião; por exemplo, um comunicado da Casa Branca pode dizer: "O Presidente sente..." Além disso, a palavra também pode ser usada par a exprimir uma intuição: "Senti que..." Quando uso a palavra "sentimento" em oposição a "pensamento" refiro-me a uma apreciação, a um julgamento de valores — por exemplo, agradável ou desagradável, bom ou mau, etc. O sentimento, de acordo com esta definição, não é uma emoção (que é involuntária). O sentir, na significação que dou à palavra (como pensar), é uma função racional (isto é, organizadora) enquanto a intuição é uma função irracional (isto é, perceptiva). Na medida em que a intuição é um "palpite", não será, logicamente, produto de um ato voluntário; é, antes, um fenômeno involuntário — que depende de diferentes circunstâncias externas ou internas — e não um ato de julgamento. A intuição é mais uma percepção sensorial que, por sua vez, também é um fenômeno irracional, já que depende essencialmente de estímulos objetivos oriundos de causas físicas e não mentais. Estes quatro tipos funcionais correspondem às quatro formas evidentes, através das quais a consciência se orienta em relação à experiência. A sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; o pensamento mostra-nos o que é esta coisa; o sentimento revela se ela é agradável ou não; e a intuição dir-nos-á de onde vem e para onde vai. O leitor deve compreender que estes quatro critérios, que definem tipos de conduta humana, são apenas quatro pontos de vista entre muitos outros, como a força de vontade, o temperamento, a imaginação, a memória, e assim por diante. Nada há de dogmático a respeito deles, mas o seu caráter fundamental recomenda-os para uma classificação. Acho-os particularmente úteis quando preciso explicar as reações dos pais aos filhos, as dos maridos às mulheres e vice-versa. Ajudam-nos também a compreender nossos próprios preconceitos. Assim, para entender os sonhos de outras pessoas precisamos sacrificar nossas preferências e reprimir nossos preconceitos. Não é fácil nem confortável fazê-lo, desde que implica um esforço moral nem sempre do nosso gosto. Mas se o analista não fizer este esforço para criticar seus próprios pontos de vista e admitir a sua relatividade, não há de obter a informação correta nem a penetração suficiente, necessárias ao conhecimento da mente do seu paciente. O analista espera da parte do paciente ao menos uma certa boa vontade a respeito das suas opiniões e da sua seriedade de propósitos. Quanto ao paciente, devem-lhe ser concedidos os mesmos direitos. Apesar de este tipo de relacionamento ser indispensável para qualquer bom entendimento — e, portanto, de evidente necessidade — precisamos lembrar-nos, repetidamente, que do ponto de vista terapêutico é mais importante que o doente compreenda do que o analista obter a confirmação de suas expectativas teóricas.

Mattanó acrescenta que além dos tipos pensamento – sensação e sentimento – intuição, existem os tipos pensamento telepático passivo-autoclítico – pensamento – sensação e pensamento telepático ativo-autoclítico – pensamento – sensação, que definem o ser humano em meio as contingências telepáticas. O pensamento telepático passivo-autoclítico é aquele em que o indivíduo telepath organiza e reorganiza passivamente seu conteúdo psíquico. E o tipo pensamento telepático ativo-autoclítico é aquele onde o indivíduo organiza e reorganiza ativamente seu conteúdo psíquico, por exemplo, através da psicoterapia e da análise.

(Mattanó; 11/12/2018).

 

A resistência do paciente à interpretação do analista não é uma reação errada; é, antes, sinal de que algo não está bem. Ou o paciente ainda não alcançou o estágio em que pode compreender, ou a interpretação não foi bastante adequada. Nos esforços que fazemos para interpretar os símbolos oníricos de outra pessoa, quase sempre ficamos tolhidos por uma tendência para preencher as inevitáveis lacunas da nossa compreensão pela projeção — isto é, pela suposição de que aquilo que o analista percebe ou pensa é igualmente percebido ou raciocinado pelo autor do sonho. Para superar este manancial de erros, sempre insisti na importância de o médico se ater ao contexto de cada sonho, excluindo todas as hipóteses teóricas sobre sonhos em geral — exceto a de que os sonhos fazem um certo sentido. Com tudo o que disse, creio que deixei bem claro, assim, que não é possível estabelecer-se regras gerais para a interpretação dos sonhos. Quando expus a hipótese de que a função geral dos sonhos parece ser a de compensar deficiências ou distorções da consciência queria dizer que esta suposição constituía o mais promissor acesso ao estudo dos sonhos particulares. Em alguns casos esta função fica claramente evidenciada. Um dos meus pacientes tinha-se em alto conceito e não percebia que quase todos os seus conhecidos irritavam-se com seu ar de superioridade. Contou-me um sonho no qual vira um vagabundo bêbado rolar numa sarjeta — espetáculo que apenas lhe provocara um comentário indulgente: "É horrível ver-se o quanto um homem pode cair.'' É evidente que o caráter desagradável do sonho constituía, em parte, uma tentativa de contrabalançar a sua vaidosa opinião sobre seus próprios méritos. Mas havia mais alguma coisa além disso. Acontecia que ele tinha um irmão alcoólatra. E então o sonho revelava, também, que aquela sua atitude superior compensava a figura do irmão, tanto interior como exteriormente. Lembro-me de outro caso de uma mulher que se orgulhava da sua inteligente percepção da psicologia e que tinha sonhos recorrentes com uma outra mulher de suas relações. Na vida cotidiana não a apreciava, achando-a fútil e intrigante. Mas nos sonhos ela lhe aparecia como se fora uma irmã, amiga e simpática. Minha paciente não compreendia por que sonhava de maneira tão favorável com alguém de quem não gostava. Mas seus sonhos estavam tentando comunicar-lhe a idéia de que os aspectos inconscientes do seu caráter projetavam uma "sombra" muito parecida com a outra mulher. Foi difícil à minha paciente, que tinha opiniões muito definidas sobre a sua personalidade, aceitar que aquele sonho se referia ao seu próprio complexo de autoridade e a suas motivações ocultas — influências inconscientes que, mais de uma vez, haviam provocado desagradáveis atritos com seus amigos. Sempre culpara os outros por estas desavenças e nunca a si própria.

Mattanó destaca que o lado que não aceitamos e que normalmente atribuímos como sendo responsabilidade e culpa dos outros é a nossa sombra, e que a dificuldade de aceitar isto deve-se a uma resistência do analisando que se encontra incapacitado de compreender sua realidade naquele momento, por isso projeta-a nos outros  por meio  do arquétipo sombra. O arquétipo sombra segundo Mattanó tem seus significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, simbologias, linguagens, topografias, relações sociais, gestalts, insights e conteúdos de vésperas no caso dos sonhos. Mattanó acrescenta que todos os arquétipos são assim interpretados segundo suas teorias.

(Mattanó; 11/12/2018).

 

Não é apenas o lado da "sombra'' de nossas personalidades que dissimulamos, desprezamos e reprimimos. Podemos fazer o mesmo com nossas qualidades positivas. Um exemplo que me ocorre é o de um homem aparentemente modesto, apagado e de maneiras encantadoras. Parecia contentar-se com um lugar nas últimas filas de qualquer reunião, mas insistia discretamente com a sua presença. Quando convidado a falar tinha sempre uma opinião correta a dar, a despeito de nunca intrometer-se. Algumas vezes dava a entender que determinado assunto poderia ser tratado de melhor forma e num nível mais elevado apesar de nunca explicar como fazê-lo. Nos seus sonhos, no entanto, tinha encontros freqüentes com figuras históricas célebres, como Napoleão e Alexandre, o Grande. Estes sonhos compensavam, claramente, um complexo de inferioridade. Mas tinham ainda outras implicações. Que tipo de homem devo ser, perguntava o sonho, para receber a visita de personalidades tão ilustres? Neste particular o sonho assinalava uma secreta megalomania, que compensava o sentimento de inferioridade do paciente. Esta idéia inconsciente de grandeza isolava-o da realidade do seu ambiente, mantendo-o afastado de uma série de obrigações que seriam prementes para muitos outros. Não sentia necessidade alguma de provar — ou a si mesmo ou a outras pessoas — que a superioridade do seu autojulgamento estivesse fundamentada em méritos igualmente superiores. Na verdade, jogava inconscientemente um jogo insano e os sonhos buscavam, de uma maneira curiosa e ambígua, dar-lhe consciência disto. Ser íntimo de Napoleão e dar-se muito bem com Alexandre, o Grande é exatamente o tipo de fantasia produzido por um complexo de inferioridade. Mas por que, podemos perguntar-nos, não pode o sonho ser mais direto e aberto, dizendo o que tem a dizer sem tanta ambigüidade? Várias vezes já me fizeram esta pergunta. E eu também já a fiz a mim mesmo. Fico surpreso com os caminhos tortuosos que os sonhos seguem para evitar informações precisas ou omitir algum ponto decisivo. Freud supôs que existiria uma função especial da psique, a que ele chamou "censura". A censura, segundo ele, é que deformava as imagens do sonho tornando-as irreconhecíveis a fim de enganar a consciência que está sonhando sobre o objetivo real do sonho. Ocultando do sonhador o pensamento crítico, a "censura" protegeria o seu sonho do desfecho que provocado por reminiscências desagradáveis. Mas esta teoria que faz do sonho guardião do sono deixa-me cético. Os sonhos, na verdade, estão sempre a perturbar o sono. Parece-me, antes, que à aproximação da consciência o conteúdo subliminar da psique se "apaga". O estado subliminar conserva idéias e imagens a um nível de tensão bem menor do que o que elas possuem quando conscientes. Definem-se com menor clareza; as suas inter-relações são menos conseqüentes e repousam em analogias mais imprecisas; são menos racionais e, portanto, mais "incompreensíveis". Este mesmo fenômeno pode ser observado em todas as condições vizinhas do sonho, provocadas pelo cansaço, pela febre ou por tóxicos. Mas se alguma coisa acontece, trazendo maior tensão a qualquer destas imagens, elas se tornam menos subliminares e, porque mais próximas do limiar da consciência, mais nitidamente definidas. É esta observação que nos permite compreender por que os sonhos tantas vezes se expressam sob a forma de analogias, por que uma imagem onírica se funde numa outra, e por que nem a lógica nem a escala de tempo da nossa vida diária parecem ter neles qualquer aplicação. Os sonhos tomam um aspecto natural para o nosso inconsciente porque o material de que são produzidos é retido em estado subliminar, precisamente desta forma. Os sonhos não protegem o sono daquilo a que Freud chamou “desejo incompatível” e o que ele considerava "disfarce" do sonho é, na verdade, a forma que os impulsos tomam naturalmente no inconsciente. Assim, um sonho não pode produzir um pensamento definido. E se começar a fazê-lo, deixa de ser sonho na medida em que estará atravessando o limiar da consciência. É por isto que os sonhos sempre parecem passar por cima ou saltar exatamente os pontos mais importantes para o nosso consciente, e revelam apenas a "fímbria da consciência", como o brilho pálido das estrelas durante um eclipse total do Sol. Devemos entender que os símbolos do sonho são, na sua maioria, manifestações de uma parte da psique que escapa ao controle do consciente. Sentido e intenção não são prerrogativas da mente; atuam em toda a natureza vivente. Não há diferença de princípios entre o crescimento orgânico e o crescimento psíquico. Assim como uma planta produz flores, assim a psique cria os seus símbolos. E todo sonho é uma evidência deste processo. É, portanto através dos sonhos (além de todo tipo de intuições, impulsos e outras ocorrências espontâneas) que as forças instintivas influenciam a atividade do consciente. Que esta influência seja boa ou má depende do conteúdo atual do inconsciente. Se contiver muitas coisas que normalmente deveriam ser conscientes, então a sua função torna-se deformada e perturbada. Aparecem motivos que não se baseiam nos instintos autênticos, mas que devem sua existência e sua importância psíquica ao fato de terem sido relegados ao inconsciente em conseqüência de uma repressão ou uma negligência. Eles recobrem, por assim dizer, a psique inconsciente normal, e distorcem a sua tendência natural para expressar símbolos e motivos fundamentais. Portanto, é aconselhável que o psicanalista, ao buscar as causas de um distúrbio mental, comece por obter do seu paciente uma confissão e uma compreensão mais ou menos voluntária de tudo o que gosta ou teme. Este processo lembra a antiga confissão da Igreja católica que, em muitos pontos, antecipou-se às técnicas da moderna psicologia, pelo menos como regra geral. Na prática, no entanto, pode dar-se o contrário; um sentimento de inferioridade excessivo ou uma séria fraqueza podem tornar difícil ou quase impossível ao paciente enfrentar a evidência das suas deficiências pessoais. Por isso, muitas vezes preferi iniciar um tratamento dando ao doente uma perspectiva positiva, que vai provê-lo de um valioso sentido de segurança quando se aproximarem as revelações mais dolorosas.

Mattanó acrescenta que a compensação, o mecanismo de censura e o ¨desejo incompatível¨ (como um ¨disfarce¨) dos sonhos também tem seus significados, sentidos, conceitos, contextos, funcionalidades, comportamentos, topografias, simbologias, linguagens, relações sociais, gestalts, insights e conteúdos de vésperas.

(Mattanó; 11/12/2018).

 

 Tomemos como exemplo um sonho de "exaltação pessoal" (mania de grandeza) no qual toma-se chá com a rainha da Inglaterra ou se conversa intimamente com o Papa. Se a pessoa que sonha não for esquizofrênica, a interpretação prática do símbolo depende muito do seu estado de espírito do momento — isto é, da condição do seu ego. Se for uma pessoa que superestima suas qualidades, será fácil mostrar-lhe (partindo do material produzido pela associação de idéias) o quanto suas intenções são infantis e incongruentes, e como provêm do desejo pueril de igualar-se ou ser superior a seus pais. Mas se for um caso de inferioridade — em que o indivíduo fica de tal maneira saturado por um sentimento de demérito que este conceito passa a dominar todos os aspectos positivos da sua personalidade — seria um erro deprimi-lo ainda mais mostrando-lhe o quanto é infantil, ridículo ou mesmo perverso. Seu sentimento de inferioridade seria cruelmente aumentado e haveria ainda uma resistência indesejável e desnecessária ao tratamento. Não existe uma doutrina ou uma técnica terapêutica de aplicação geral já que cada caso que se recebe para tratamento é o de um indivíduo particular, que possui condições específicas próprias. Lembro-me de um paciente a quem tratei durante nove anos. Eu só o via umas poucas semanas em cada ano, pois morava no estrangeiro. Desde o início verifiquei qual era o seu problema, mas vi também que a menor ten- tativa para chegar à verdade encontrava, da sua parte, uma violenta reação defensiva que poderia provocar uma ruptura entre nós. Gostasse eu ou não, precisava esforçar-me da melhor maneira para manter o nosso relacionamento, acompanhando suas inclinações e tendências, sustentadas por sonhos, e que sempre afastavam nossos diálogos das raízes da sua neurose. Nossas discussões perdiam-se em digressões tão longas que muitas vezes acusei-me de estar desviando meu paciente do caminho acertado. E só não o confrontei brutalmente com a verdade porque o seu estado melhorava clara, apesar de lentamente. No décimo ano de tratamento, no entanto, meu paciente considerou-se curado e liberto de todos os sintomas antigos. Surpreendi-me por que teoricamente seu estado era incurável. Notando o meu espanto ele sorriu e disse-me praticamente o seguinte: "Quero agradecer-lhe, sobretudo pelo seu tato infalível e pela paciência com que me ajudou a contornar minha neurose. Agora posso dizer-lhe tudo sobre ela. Se conseguisse falar livremente a seu respeito eu lhe teria contado na primeira consulta. Mas teria assim destruído toda a harmonia da nossa relação. E que seria de mim? Estaria moralmente arrasado. Nestes 10 anos aprendi a confiar no senhor; e à medida que a minha confiança aumentava, melhorava o meu estado mental. Consegui melhorar porque este processo lento restituiu-me a confiança em mim mesmo. Agora sinto-me forte o bastante para discutir o problema que me estava destruindo.'' Confessou-me então o seu problema de uma maneira totalmente franca, que me confirmou por que o nosso tratamento teve, realmente, de seguir aquele determinado curso. O seu choque inicial tinha sido de tal ordem que não conseguira enfrentá-lo sozinho. Precisava da ajuda de outra pessoa e o trabalho terapêutico indicado era, muito mais do que a demonstração de uma teoria clínica, o lento restabelecimento da sua confiança. Casos como esse ensinaram-me a adaptar meus métodos às necessidades de cada paciente, em lugar de me entregar a considerações teóricas gerais que talvez não se aplicassem a nenhum caso particular. O conhecimento da natureza humana, que acumulei em 60 anos de experiência prática, ensinou-me a considerar cada caso como um caso novo para o qual, em primeiro lugar, precisava encontrar um meio de aproximação particular e especial. Não hesitei, algumas vezes, em mergulhar num estudo minucioso de ocorrências infantis e de fantasias. Outras vezes, comecei do alto, mesmo quando isto me obrigava a elevar-me às mais abstratas especulações metafísicas. Tudo depende de aprender-se a linguagem própria do paciente e de seguir-se as sondagens do seu inconsciente em busca de luz. Alguns casos pedem um determinado método, outros exigem um outro. Isto é especialmente verdadeiro quando se procura interpretar sonhos. Dois indivíduos diferentes podem ter quase exatamente o mesmo sonho (o que na experiência clínica vem-se a descobrir que é bem mais comum do que o leigo pensa). Mas se, por exemplo, uma das pessoas que sonha for jovem e a outra velha, o problema que aflige a cada uma delas há de ser diferente e, logicamente, cometeríamos um absurdo interpretando os dois sonhos da mesma maneira. Um exemplo de que me recordo é o de um sonho em que um grupo de jovens a cavalo atravessa um extenso campo. O sonhador é quem comanda o grupo e salta um valado cheio de água, vencendo o obstáculo. O resto do grupo cai na água. O jovem que primeiro me contou este sonho era um tipo cauteloso e introvertido. Mas também ouvi o mesmo sonho de um velho de temperamento ousado, que tivera uma vida ativa e arrojada, mas que na época do sonho achava -se inválido e dava imenso trabalho a seu médico e à sua enfermeira. Naquele momento, por desobedecer às prescrições médicas, sua saúde se agravara. Estava claro que o sonho dizia ao jovem o que ele devia fazer. Já ao velho expressava o que ele ainda fazia. Enquanto o jovem hesitante estava sendo encorajado, o velho não necessitava do mesmo tipo de estímulo — o espírito ativo que ainda o sacudia interiormente era, na verdade, seu maior problema. Este exemplo nos mostra o quanto a interpretação de sonhos e de símbolos depende, em grande parte, das circunstâncias individuais de quem sonha e do seu estado de espírito.

Mattanó explica que além da capacidade técnica do analista de interpretar aos sonhos do analisando ele deve também ter boa relação com o analisando, para desenvolver boa empatia e sentimento de amor e de confiança, de segurança, de credibilidade no trabalho do analista que terá em suas mãos o material onírico e assim inconsciente do analisando para trabalhar e interpretar e devolver para a paciente. Mas deve ele saber que deve ter conhecimento também da realidade atual do paciente, dos seus contextos, da sua vida atual, de como ele vive e se sente, de como vão seus relacionamentos, para não prejudicá-lo como interpretações equivocadas ou inadequadas para o contexto, inclusive referentes aos significados, sentidos, conceitos, contextos, comportamentos, funcionalidades, simbologias, linguagens, topografias, relações sociais, gestalts, insights e conteúdos de vésperas, pois o bem-estar do paciente é o seu maior patrimônio.

(Mattanó; 11/12/2018).

 

 

 

 

O arquétipo no simbolismo do sonho

 

 

 

 

 

Já sugeri  que  os  sonhos  servem  a um  pro -

mista ou do biólogo encontra nos nossos corpos

pósito de compensação. Tal suposição significa

muitos  traços  deste  molde  original .  O  pes-

que o sonho é um fenômeno psíquico normal,

quisador experiente da mente humana também

que  transmite  à  consciência  reações  incons -

pode  verificar  as  analogias  existentes  entre  as

cientes ou impulsos espontâneos. Muitos sonhos

imagens oníricas do homem moderno  e as ex-

podem  ser interpretados  com o auxílio  do so-

pressões  da mente primitiva,  as suas "imagens

nhador,  que  providencia  tanto  as  associações

coletivas" e os seus motivos mitológicos.

quanto o contexto da imagem onírica por meio

Assim   como   o   biólogo   necessita   da

dos quais podemos  explorar  todos os seus as-

anatomia comparada, também  o psicólogo não

 

pectos.

 

Este método convém a todos os casos co-muns — aqueles em que um parente, um amigo ou um paciente conta um sonho no decorrer de uma conversa. Mas quando é um caso de sonho obsessivo ou de sonhos com grande carga emo-cional, as associações pessoais produzidas pelo sonhador não são , em regra, suficientes para uma interpretação satisfatória. Em tais casos pre-cisamos levar em conta o fato (primeiramente observado e comentado por Freud) de que num sonho muitas vezes aparecem elementos que não são individuais e nem podem fazer parte da ex-periência pessoal do sonhador. A estes elemen-tos, como já mencionei antes, Freud chamava "resíduos arcaicos" — formas mentais cuja pre-sença não encontra explicação alguma na vida do indivíduo e que parecem, antes , formas pri - mitivas e inatas, representando uma herança do espírito humano.

 

Assim como o nosso corpo é um verdadeiro museu de órgãos, cada um com a sua longa evo-lução histórica, devemos esperar encontrar tam-bém na mente uma organização análoga. Nossa mente não poderia jamais ser um produto sem história , em situação oposta ao corpo em que existe. Por "história" não estou querendo me re-ferir àquela que a mente constrói através de re-ferências conscientes ao passado, por meio da lin-guagem e de outras tradições culturais; refiro-me ao desenvolvimento biológico, pré-histórico e inconsciente da mente no homem primitivo , cuja psique estava muito próxima à dos animais.

 

Esta psique , infinitament e antiga , é a base da nossa mente, assim como a estrutura do nosso corpo se fundamenta no molde anatômico dos mamíferos em geral. O olho treinado do anato-

 

pode prescindir da "anatomia comparada da psique". Em outros termos, o psicólogo precisa, na prática, ter experiência suficiente não só de sonhos e outras expressões da atividade inconsc- iente, mas também da mitologia no seu sentido mais amplo. Sem esta bagagem intelectual ninguém pode identificar as analogias mais importantes; não será possível, por exemplo, verificar a analogia existente entre um caso de neurose compulsiva e a clássica possessão de-moníaca sem um conhecimento exato de ambos.

 

O meu ponto de vista sobre os "resíduos ar-caicos", a que chamo "arquétipos" ou "imagens primordiais", tem sido muito critica do por aqueles a quem falta conhecimento suficiente da psicologia do sonho e da mitologia. O termo "arquétipo" é muitas vezes mal compreendido, julgando-se que expressa certas imagens ou mo-tivos mitológicos definidos. Mas estes nada mais são que representações conscientes: seria absur-do supor que representações tão variadas pudes-sem ser transmitidas hereditariamente.

 

  • arquétipo é uma tendência para formar estas mesmas representações de um motivo — representações que podem ter inúmeras varia - ções de detalhes — sem perder a sua configura - ção original. Existem, por exemplo, muitas re-presentações do motivo irmãos inimigos, mas o motivo em si conserva-se o mesmo. Meus críticos supuseram, erradamente, que eu desejava referir-me a "representações herdadas" e, em con-seqüência , rejeitar am a idéia do arquétip o como se fosse apenas uma superstição. Não levaram em conta o fato de que se os arquétipos fossem representações originadas em nossa consciência (ou adquiridas por ela) nós certamente os com-preenderíamos, em lugar de nos confundirmos e

 

 

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As imagens arquetípicas do homem são tão instintivas quanto a habilidade

dos gansos para emigrar (em

formação); como a das formigas para se organizarem em sociedades; como

 

a dança das abelhas (acima), que com

 

um movimento traseiro comunicam à colmeia a localização exata de

alimento.

 

Um professor contemporâneo teve uma "visão" exatamente igual à de

 

uma xilogravura de um velho livro que não conhecia. À direita, a página

de rosto do livro e uma outra gravura

 

simbolizando a união dos elementos masculino e feminino. Estes símbolos

 

arquetípicos vêm de uma base coletiva milenária da psique.

 

espantarmos quando se apresentam. O arquétipo é, na realidade , uma tendência instintiva , tão marcada como o impulso das aves para fazer seu ninho ou o das formigas para se organizarem em colônias.

 

  • preciso que eu esclareça, aqui, a relação entre instinto e arquétipo. Chamam os instintos aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sen-tidos. Mas, ao mesmo tempo, estes instintos po-dem também manifestar-se como fantasias e re-velar, muitas vezes, a sua presença apenas a - través de imagens simbólicas. São a estas ma-nifestações que chamo arquétipos. A sua origem não é conhecida; e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo — mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por "fecundações cruzadas" resultantes da migração.

 

Recordo-me de muitos casos de pessoas que vieram consultar-me porque estavam confusas e perdidas com os seus sonhos ou com os de seus filhos. Encontravam-se perturbadas com os ter-mos dos sonhos. Tratava-se de sonhos que con-tinham imagens que aqueles pacientes não con-seguiam relacionar com nenhuma das suas lembranças ou com idéias que pudessem ter transmitido aos filhos. No entanto, muitas des-tas pessoas possuíam instrução superior e havia mesmo, entre eles, alguns psiquiatras.

 

Lembro-me especialmente do caso de um professor que teve de repente uma visão e julgou ter enlouquecido. Veio ver-me em estado de pâ-nico. Apanhei da estante um livro de 400 anos e mostrei-lhe uma velha xilogravura que retratava exatamente a visão que tivera. ''Não há razão al-guma para que se creia louco", disse-lhe. "Sua visão já era conhecida há 400 anos.'' Depois disso sentou-se, abatido, numa cadeira, mas já no seu estado normal.

 

Um caso muito importante foi o de um psi - quiatra que veio procurar-me. Trouxe-me um pequeno caderno manuscrito que recebera da sua filha de 10 anos como presente de Natal. Continha uma série de sonhos que ela tivera aos oito anos de idade. Foi a série de sonhos mais fantástica que já vi e pude bem entender por que deixaram o pai tão intrigado. Apesar de infantis, os desenhos tinham algo de sobrenatural e a origem de suas imagens era absolutamente incompreensível para o meu cliente. Seguem abaixo os motivos principais da série de sonhos:

 

  1. A "fera malvada", um monstro com for - ma de serpente e muitos chifres, mata e devora todos os outros animais. Deus, no entanto, açode vindo de quatro cantos (sendo na realidade quatro deuses separados) e ressuscita todos os animais mortos.

 

  1. Uma ascensão aos céus onde se celebram

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

69

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

danç as pagãs; e uma descida ao in ferno, on de os anjos estão prat icando boas ações .

 

  1. Uma hord a de pequenos an i ma i s a me - dr on ta a me ni na qu e so nh a. Os an im ai s cr es ce m as su st ad or am en te e um de le s de vo ra a me ni na .

 

  1. U m p e q u e no c a mu n d o n g o é i n va d i d o po r ve rm es , se rp en te s, pe ix es e se re s hu ma no s. E, as si m, to rn a -se hu ma no . Es te so nh o re pr es en-

 

ta as quat ro et ap as da or ig em da hu ma ni da de .

 

  1. Um a go ta d' ág ua ap ar ec e co mo se ob se r - va da ao mic ro sc óp io . A me ni na vê qu e a go ta es -

 

tá ch ei a de ga lh os de ár vo re . O so nh o re pr es en ta a or ig em do mu nd o.

 

  1. Um me ni no mau te m na s mã os um to r - rã o de te rr a e jo ga pe qu en os fr agm en to s em to - do s os qu e pa ss am . De st e mo do , to do s os tr an - se un te s ta mb ém se to rn am ma us .

 

  1. Um a mu lh er bê ba da ca i na ág ua e sa i re - gen er ad a e sób ri a.
  2. A ce na pa ss a -se na Amé ri ca , on de mu it as pe ss oa s ro la m so br e um fo rm ig ue ir o, at ac ad as pe la s fo rm ig as . A me ni n a, em pâ ni co , ca i de n-tr o de um ri o.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. Um de se rt o da lu a, em cu jo so lo a me - ni na pe ne tr a tã o pr of un da me nt e qu e ch eg a ao in fe rn o.

 

  1. Ne st e so nh o, a me ni na te m a vi sã o de um a bo la lu mi no sa e a to ca . Sa em va po re s de st a bo la . Ch eg a um ho me m qu e a ma ta .

 

  1. A me n i ni n ha so n h a q ue e s t á gr a v e - me nt e do en te .
    1. En xa me s de mo sq uit os es cu re ce m o so l , a lua e tod as as est rel as, com exc eçã o de uma . Es - ta es tr el a ca i em ci ma da me ni na .

 

No  te xt o

al em ão

or ig in al  ca da

so nh o  co -

me ça

co m

as

tr ad ic io na is

pa la vr as

do s

ve lh os

co nto s

de

fad a:  "E ra

uma

vez .. ."  Co m

iss o,  a

               

me ni ni nh a su ge re qu e ca da so nh o é um a es pé ci e de co nt o de fad as , qu e el a qu er co nta r ao pa i co - mo pr es en te de Na ta l. O pa i te nt ou en co nt ra r exp li ca ção par a os so nho s em te rm os do se u co n-te xto . Ma s não con se gui u, po is não pa rec ia hav er nel es qu alq uer as so ci açã o pe sso al.

 

A po ss ib il id ad e de qu e es te s so nh os fo sse m pr od ut os de um a el ab or aç ão co ns ci en te só po-de ri a, é cl ar o, se r af as ta da po r al gu ém qu e co -

 

 

70

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Algumas referências semelhant es aos moti vos arquetípicos do primeiro sonho da menina (pág. 70): á esquerda, na Catedral de Strasburgo, Cri sto

cru cificad o sob re o túmulo de Adão — simboli zando o tema da reencarnação (Cristo é considerado o segundo Adão). Acima, numa pintu ra navajo em areia , as cabeças com ch ifres representam os quatro cantos do mun do. Na cerimônia da coroação, na Inglaterra, o mon arca (á direita, a Rainha Elizabeth II em 1953) é aprese ntado ao povo diante das quatro portas da Abadia de Westminster.

 

nhecesse suficientemente a criança para ter certe-za da sua sinc erida de (mes mo send o ima-ginários, no entanto, continuariam a desafiar a nossa compreensão). Neste caso, o pai estava convencido da autenticidade dos sonhos, e não tenho razões para duvidar disto. Conheci a me-nina antes da época em que deu os sonhos ao pai, por isso não lhe pude fazer perguntas a res-peito. Ela vivia no estrangeiro e morreu de uma doença infecciosa um ano depois desse Natal.

 

Estes sonhos da menina apresentavam um caráter decididamente singular. As idéias do-minantes são de natureza marcadamente filosó-fica. O primeiro sonho, por exemplo, fala de um monstro mau que mata todos os outros animais, mas Deus os ressuscita a todos por meio de um Apokatastasis, ou restituição.

 

No mundo ocidental esta é uma idéia co-nhecida graças à tradição cristã. Pode ser en-contrada nos Atos dos Apóstolos III, 21: "[Cris-to] , a quem o céu deve conter até os tempos da restitui ção de todas as coisas... " Os primitivo s

 

padres gregos da Igreja (como Orígenes, por exemplo) insistia m especia lmente que, no final dos tempos, tudo seria restituí do ao seu estado perfeito e original pelo Redentor. Mas, de acor-do com São Mateus XVII, 11, havia uma velha tradição judaica de que Elias "em verdade virá primeir o, e restaur ará todas as coisas" . En-contramos a mesma idéia na I Epístola aos Co-ríntio s (XV, 22): "Porque assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vi-vificados em Cristo.' '

 

Pode-se supor que a criança terá encontrado este pensamento na sua educação religiosa. Mas tin ha uma cul tur a rel igi osa mui to peq uen a. Seus pais eram protestantes, mas na verdade conhe ciam a Bíbli a "de ouvir falar ". E muito pouc o prov ável , també m, que a image m re-côndita da Apokatast asis tenha sido explicad a à menina. E, certament e, seu pai nunca ouvira fa-lar deste mito.

 

Nove dos doze sonhos estavam influencia - dos pelo tema de destruiç ão e restaura ção. E nenhum deles revela qualqu er traço de uma educaç ão ou de uma influê ncia especi ficamen te

 

cristã. Ao contrário, estão mais relacionados com mitos primi tivos . Esta rel ação se confir ma em um out ro moti vo — o mit o cos mogô nic o (a criação do mundo e do homem), que aparece no quarto e quinto sonhos. A mesma conexão é en-contr ada na Epíst ola aos Corín tios, que citei . Nesta passa gem, també m Adão e Cristo (mort e e ressurreição) estão ligados.

 

A idéia geral de um Cristo Redentor per - tence ao tema universal e pré-cristão do herói e salv ador que, apes ar de ter sido devor ado por um monstro, reaparece de modo milagroso, ven-cendo seja qual for o animal que o engoliu . De onde e quando este motivo surgiu , ninguém sa-be. E tampouco sabemos de que maneira condu-zir a investigação deste assunto. A única certeza aparente é que este motivo parece ter sido co-nhecido tradicio nalmente em cada geração, que por sua vez o recebeu de gerações precedentes. Assim, podemos supor, sem risco de erro, que a sua "orige m" vem de um períod o em que o ho-mem ainda não sabia que possuí a o mito do he-rói ; numa époc a em que nem mesm o ref let ia, de maneir a consc iente , naqui lo que dizia . A fi-

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acima, o deus-herói Raven (dos índios

 

Haida, da costa do Pacífico) no ventre de uma baleia — correspondendo ao

 

motivo do "monstro devorador" do primeiro sonho da menina (pág, 70).

 

O segundo sonho da menina, a respeito dos anjos e demônios no céu, parece

 

representar a idéia da relatividade da moral. O mesmo conceito está

expresso no duplo aspecto do anjo

decaído que é, a um tempo, Satanás, o demônio, e (á direita) Lúcifer, o

resplandecente portador da luz. Estes

caracteres opostos podem também ser observados à extrema direita no

desenho de Blake, onde Deus aparece

a Jó, num sonho, com os cascos fendidos do demônio.

 

 

72

 

gura do heró i é um arqu étip o, que exis te há tempos imemoriais.

 

A produção de arquétip os por crianças é especia lmente importa nte porque, algumas ve-zes, podemos ter certeza de que a criança não te-rá tido nenhum acesso direto à tradição em jogo. Neste último caso, por exemplo, a família da menina possuía um conhecime nto muito super-ficial das tradições cristãs.

 

Os temas cristãos podem, naturalmen te, ser rep res enta dos atr avés de idé ias de anj os, de Deus, de céu, do infern o e do mal. Mas a ma-neira por que foram tratados por esta criança não indica, absoluta mente, uma origem cristã.

 

Observe mos o primeir o sonho de um Deus que, na verda de, é const ituído por quatro deu-ses, que vêm de ''quatro cantos''. Cantos de que lugar? Não há nenhum aposento mencionado no sonho. Nem mesmo caberia a imagem de um quart o naquel e acont eciment o evide ntemen te cósmic o, em que o própri o Ser Supremo in-te rvi nh a. A pr óp ri a id éi a de um a "q ua - tern idad e" (o eleme nto "qua tro" ) é estr anha , apesar de ocupar um lugar de relevo em muitas

 

religiões e filosofias. Na religião cristã este ele-ment o foi subs titu ído pela trin dade , noçã o que

 

  • crian ça provave lment e conhe cia. Mas quem, de uma família comum da classe média, teria ouvido falar em uma quaternidade divina? Já foi uma imag em bas tant e fami liar entr e os es-tudante s da filoso fia do Hermeti smo, na Idade Média, mas no início do século XVIII já estava esgotada como idéia e há bem uns 200 anos tor - nou-se obsoleta . Então, onde a terá ido buscar a meninazinh a? Na visão de Ezequiel? Mas ne - nhum ensin amento crist ão ident ifica o serafi m com Deus.

 

Pode -se fazer a mesma pergunta a respeito da serpente de chifres. Na Bíblia, é certo, exis-tem muitos animais com cornos, como no Apo-calips e. Mas todos parecem ser quadrú pedes, apesar de terem como senhor um dragão, cujo nome grego (drak ori) tamb ém sign ific a ser - pente. A serpente de chifres aparece na alquimia latina do século XVI como a quadricornutus ser-pens (a serpent e de quatro cornos) , símbolo de Mercúrio e adversária da trindade cristã. Mas esta

 

  • uma ref erê nci a bas tan te vaga . Tan to quan to

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

73

 

conse gui desco brir, ela só foi mencio nada por um único autor. E a esta criança teria sido impossível qualquer conhecimento do assunto.

 

No se gun do so nho , apa re ce um mot iv o qu e, decididamente, não é cristão e contém uma verdadeira inversão de valores — por exemplo, danças pagãs executadas pelos homens no céu e boas ações praticadas por anjos no inferno. Este símbolo sugere uma relatividade de valores morais. Onde teria a criança buscado noções tão revolucionár ias, dignas da genialida de de um Nietzsche?

 

Estas perguntas levam-nos a outra: qual o significado compensador destes sonhos, a que a menina obviamente atribuía tant a importânci a a ponto de oferec ê -los ao pai como present e de Natal?

 

Se a pessoa que os sonhou fosse o feiticeiro de alguma tribo primiti va, podia -se supor que represe ntass em varia ções sobr e os temas fi - losóf ico s da mor te, da res sur rei ção ou res - tit uição, da origem do mundo, da criação do homem e da relativi dade dos valores . Mas interpre tados num nível pessoal tinha -se que desistir de analisá-los devido à sua invencível dificuldade. Contêm, sem dúvida, "imagens coletivas", e são, de certo modo, análogos às doutrinas de iniciação ministra das aos rapazes nas tribos primi tivas . Nest a époc a, ensi nam - lhes o

 

que Deus, ou os deuses, ou os animais "fun - dadores" fizeram, como o mundo e os homens foram criados, como ocorrerá o fim do mundo e qual o significado da morte. Existe alguma cir-cunstância, na nossa civilização, em que se pres-te est e tipo de ens ina ment o? Sim; na ado - lescência. Mas muitas pessoas só chegam a re-memorar estas coisas na velhice, ao sentirem a aproximação da morte.

 

Ora, acontece que a menina encontrava-se, a um tempo, nestas duas situações. Aproximava-se da puberdade e, ao mesmo tempo, do fim de sua vida. Quase nada no simbolismo dos seus sonhos indicava o início de uma vida adulta nor-mal, mas exi sti am inú mera s alu sõe s a des - truiçõ es e a reconst ituiçõe s. Quando pela pri-meira vez tomei conhecimento dos seus sonhos tive, na verdade, a sensação perturbadora de que sugeriam um desastre iminente. A razão para is-to estava na natureza tão peculiar da compensa-ção que percebi no seu simbolismo. Era o oposto do que se poderi a encontr ar na consciê ncia de uma menina daque la idade.

 

Estes sonhos revelam -nos um aspecto novo e bastante aterrador da vida e da morte. Podia-se esperar este tipo de imagem em uma pessoa en - velhe cida, de olhos volta dos para o passa do, e não numa crianç a que normal mente olha à sua fre nte . A sua atm osf era lem bra mui to mai s o

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os sonhos da menina (á pág. 70)

 

contêm símbolos da criação, da

morte e do renascimento, lembrando os ensinamentos ministrados aos

 

adolescentes nos ritos primitivos de

 

iniciação. À esquerda, o final de uma cerimônia navajo: uma menina,

 

tendo-se feito mulher, vai ao deserto meditar.

 

velho ditado romano, segundo o qual "a vida é

fecho fatal. Apesar de sua maneira específica de

um curt o sonho ", do que  a alegr ia e a exu -

expressão ter características mais ou menos pes-

berância da idade primaveril. Para esta criança, a

soais,  o  seu  esquema  geral  é  coletivo.  Estas

vida era o ver sacrum vovendum (o voto de sa-

formas de pensament o são encontrad as em todas

crif ício  vern al)  de  que  fala  o  poet a.  A  ex-

as épocas e em todos os lugares e, exatamen te

periência nos mostra que a aproximação impres-

como  os

insti ntos

animai s,

varia m  muito

de

sentida da morte lança um adumbratio (sombra

uma espécie para outra, apesar de servirem aos

antecipadora) sobre a vida e os sonhos da vítima.

mesmos propósit os gerais. Não acredita mos que

Mesmo o altar das igrejas cristãs representa, de

cada  animal  recém-nascido  crie  seus  próprios

um lado, o sepulcro e, de outro, a ressurrei ção

instint os

como  uma  aqui siçã o  indi vidua l,  e

— isto é, a transformação da morte em vida eter-

tampouco podemo s supor que cada ser humano

na.

invente ,

a   cada

novo

nasci mento,

um

 

Foram estas as idéias que os sonhos trouxeram

 

  • criança. Eram uma preparação para a morte, expressa através de pequenas histórias, como os contos narrados nas cerimônias primitivas de ini-ciação ou os Koans, do Zen-budismo. Foi uma mensagem em nada parecida com a doutrina or-todoxa cristã, e sim com o pensamento da gente primitiva. Deve ter-se originado fora da tradição histórica, em fontes psíquicas há muito esqueci-das e que, desde os tempos pré-históricos, têm alimentado a especulação religiosa e filosófica a respeito da vida e da morte.

 

Foi como se acontecimentos ainda por vir projetassem de volta a sua sombra, despertando na criança certas formas de pensamento que, apesar de habitualmente adormecidas, descre-vem ou acompanham a aproximação de um des-

 

compor tamento específi co. Como os instinto s, os esquemas de pensamentos coletivos da mente humana também são inatos e herdados. E agem, quando necessár io, mais ou menos da mesma forma em todos nós.

 

Manifestações emocionais, a que pertencem estes esquemas de pensamento, são reconhecida - mente as mesmas em toda parte. Podemos iden-tificá-las até nos animais que, por sua vez, as ide nti fic am ent re ele s, mes mo qua ndo per - tencem a espécies diferentes. E os insetos, com suas complicadas funções simbióticas? A maioria deles nem conhe ce os pais e não tem ningu ém para ensinar -lhes nada. Então por que supor que ser ia o homem o único ser vivo privado de ins-tint os espe cífi cos, ou que a sua psiq ue des - conheça qualquer vestígio da sua evolução?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Simbolismos da morte e do

 

renascimento também aparecem nos

 

sonhos finais, quando a aproximação

da morte lança a sua sombra sobre o

presente. Ao lado, um dos últimos

 

quadros de Goya: a estranha criatura,

aparentemente um cão, que emerge

da escuridão pode ser interpretada

como uma premonição que o artista

teve de sua morte. Em muitas

mitologias, os cães aparecem como

guias para o país dos mortos.

 

Natur alment e, se ident ifica rmos a psiqu e com a consciência, poderemos formar a idéia fal-sa de que o homem vem ao mundo com uma psique vazia e que, anos depois, ela irá conter, apenas, o que aprendeu na sua experiênc ia indi-vidual. Mas acontece que a psique é mais do que a consciência. Apesar de a consciência dos ani-mais ser muito limitada, inúmeros dos seus impul sos e reaç ões demo nstr am a exis tênc ia de uma psique; e povos primiti vos pratic am uma série de atos cuja significação ignoram totalmente.

 

Podemo s pergunt ar, em vão, a muita gente civilizada sobre o significado da árvore de Natal ou do ovo de Páscoa. A verdade é que fazemos inúmeras coisas sem saber por quê. Inclino -me a pensar que, geralmente, as coisas eram feitas em

 

gens da capacidad e de reflexão do homem ve - nham das dolorosas conseqüências de choques emocionais violentos. Tomemos, à guisa de sim - ples ilus traç ão, o caso de um home m rús tico que, num moment o de raiva e desapon tamento por não ter conseguido pescar um só peixe, es - trangula o seu único filho, e então, enquanto se - gura nos braços o pequeno cadáver, enche-se de remorsos. Este homem vai lembrar-se deste mo-mento de dor o resto de sua vida.

 

Não podemo s saber se este tipo de ex - periênci a foi, efetivament e, motivo inicial do desenv olvime nto da consci ência humana. Mas não resta dúvida de que um choqu e de nature za emocional é muitas vezes necessário para que as pes soas acor dem e se dêem cont a da mane ira que est ão ag ind o. Há o cas o famo so de um

 

pri meir o luga r, e só depo is de muit o temp o é

fidalg o espanh ol do século  XIII, Raimon  Lull,

que alguém indaga va por quê. O psicól ogo en -

que  cons egui u  marc ar  (de poi s  de  uma  ver -

contra , com freqüên cia, pacient es de grande in -

dadei ra "caça da")  um encon tro  secre to com  a

teligência que se comportam de maneira singular

dam a  a  que m  adm ira va.  Na  oca siã o  do  en -

 

e imprevisí vel, não guardando a menor idéia do que dizem ou fazem. De repen te, entram numa crise de humor irracion al e despropos itado, que não conseguem explicar.

 

Estas reações e impulsos parecem ser, apa-rente mente, de nature za pessoal muito íntima, e nós os consideramos apenas uma forma de com - portamento idiossin crásico. Na verdade, fun - damenta -se num sistema instin tivo pré-formado e sempre ativo, característico do homem. Formas de pensament o, gestos de compreens ão univer - sal e inúmeras atitudes seguem um esquema es-tabel ecido muito antes de o homem ter de - senvolvido uma consciência reflexiva.

E mesmo poss ível que as lon gínq uas ori -

 

contro, ela abriu silenciosa mente o vestido e mostrou-lhe o seio, roído pelo câncer. O choque mudou por comple to a vida de Lull; torno u-se um teólo go emine nte e um dos mais import an-tes missionários da Igreja. Num destes casos de mudanç a drástic a de comport amento pode -se, inúmeras vezes, provar que um arquétip o tra-balhava já há muito tempo no inconsci ente, ar-ranjando habilmente as circunstâncias que leva-riam a este tipo de crise.

 

Estas experiências parecem revelar que as estruturas arquetípicas não são apenas formas es-táticas, mas fatores dinâmicos que se manifes - tam por meio de impu lso s, tão espo ntân eos quan to os ins tin tos . Cert os sonh os, visõ es ou

 

Alguns sonhos parecem predizer o

 

futuro (talvez devido a um

conhecimento inconsciente das

possibilidades que estão por vir) e é

por isso que foram, durante muito

tempo, utilizados como vaticínios.

Na Grécia, os doentes pediam a

Esculápio, o deus da medicina, um

sonho para indicar-lhes a cura. À

esquerda, um alto-relevo

representando esta terapêutica do

sonho: uma serpente (símbolo do

 

deus) morde o ombro doente de um homem e o deus (á esquerda) o cura.

 

  • direita (num quadro italiano, aproximadamente de 1460), Constantino sonha, antes de uma batalha que deveria fazê-lo imperador de Roma. Sonhava com a cruz, símbolo de Cristo, quando uma voz lhe disse: "Sob este signo vencerás." Tomou aquele sinal como emblema, ganhando a batalha e convertendo-se, assim, ao cristianismo.

 

 

 

 

Como mostramos no sonho acima a mente, ao utiliza r o arquéti po, resolv eu a situaç ão do

pensame ntos podem aparece r de repent e e, por

dem adqui rir um aspec to de antec ipaçã o ou de

mais cuidadosa mente que se investigue , não se

prognóstico, e quem os for interpretar deve levar

descob re o que os motivou . Não quer dizer que

isto em conta , sobre tudo quand o um sonho que

não exista  uma causa;  certament e há,  mas tão

tenha um sentid o evident e não oferece um con-

remota e obscura que não se consegue distingui -

texto que o explique satisfat oriamente. Este tipo

la. Neste caso, deve -se esperar até compreender

de sonh o pode surg ir do nada e a gente se per -

melhor o sonho e seu signifi cado, ou até que al -

gunta o que o motivou. Se conhecêss emos a sua

guma ocorrência externa aconteça, explicando o

mensagem  posterio r,  logicamente  esclarec ería-

sonho.

mos as suas causas. Porque só a nossa consciência

No momento do sonho tal ocorrên cia ainda

é que ainda nada sabe a seu respe ito; o incon s-

pode pertencer ao futuro. Mas, assim como nos-

ciente  está infor mado e já chegou  a uma con-

sos  pensamentos  conscientes  muitas  vezes  se

clusão — que é expressa no sonho. Na verdade,

ocupam do futuro e de suas possibil idades, tam-

parec e que o incon scien te tem a capac idade de

 

bém ocorre o mesmo com o inconsciente e seus sonh os. Duran te muito temp o acred itou -se que a principal função do sonho era prever o futuro. Na anti güida de e até a Idade Médi a, os sonh os faziam parte do prognóstico dos médicos. Posso

 

examin ar e concl uir, da mesma maneir a que o conscient e. Pode mesmo utilizar certos fatos e antecipar seus possíveis resultados, precisamente porque não estamos conscientes deles.

Tanto  quant o podemos  julga r através  dos

 

confir mar por um sonho atual este mesmo ele -

sonhos,  o  inconsci ente  toma  suas  delibera ções

mento  de  progno se  (ou  premon ição)  que  en -

insti ntiva mente .  Esta  disti nção  é  impo rtant e.

cont ramo s num  ant igo  son ho,  cit ado  por Ar -

Uma anális e lógica é prerro gativa da consciê n-

temído res de Daldis,  no século  II. Um homem

cia: selecionamos de acordo com a razão e o co-

sonhou  que seu pai  morria  nas chamas  do in -

nhecim ento. O inconsc iente, no entant o, parece

cêndi o de sua casa. Não muito tempo depoi s, o

ser dirigi do princip alment e por tendê ncias ins-

própri o homem morria com um phleg mone (fo -

tintivas, represen tadas por formas de pensamen -

go ou febre elevada), que presumo fosse pneu -

to  cor res pond ent es  — isto  é,  por  arq uét ipo s.

 

monia.

 

Aconte ceu a um colega meu ter uma febre gangre nosa fatal — um verdade iro phlegmo ne.

 

Um médico a quem se pede que descreva a mar-cha de uma doença vai empregar conceitos racio-nai s, como "in fec ção" ou "fe bre ". O sonh o é

 

Um antig o pacient e seu, que nada sabia a res -     mais poéti co: ele apres enta  o corpo  doent e do

peit o do que sofr ia o meu cole ga, sonh ou que    homem como se fosse a sua casa terrestre, e a fe -

ele morrera em meio a um grande incêndi o. Na-   bre como o fogo que a destrói.

quela ocasião, o médico acabara de ser levado ao

 

hospital e sua doença ainda estava em fase ini-cial. A pessoa que teve o sonho não sabia que ele estava doente nem intern ado num hospit al. Três semanas mais tarde o médico morreu.

Como mostr a este exempl o, os sonho s po -

 

 

mes mo modo que o faz ia na époc a de Ar - temídores. Algo de natureza mais ou menos des-conhe cida foi intui tivame nte domina do pelo in-cons cie nte e sub meti do à açã o dos arq uét ipo s.

 

 

 

 

No sonho de Artemídores, citado

 

nesta página, uma casa em chamas simboliza a febre. O corpo humano

é, muitas vezes, representado como

 

uma casa; á esquerda, em uma enciclopédia hebraica do século

 

XVIII, um corpo humano e uma casa são comparados detalhadamente -os

 

torreões são as orelhas, as janelas os olhos, um forno o estômago etc. Â

 

direita, numa caricatura de James Thurber, um marido reprimido vê sua

 

mulher e sua casa como se fossem um único ser.

 

Isto sugere que em lugar do processo de raciocí-nio que o pensamento consciente teria emprega-do a mente arquetíp ica o substitu i, assumindo uma tare fa de prog nost icaç ão. Os arqu étip os são, assim, dotados de iniciativa própria e tam-bém de uma energia específica, que lhes é pecu-liar. Podem, graças a esses poderes, fornecer in-terpretações significativas (no seu estilo simbóli-co) e interferir em determinadas situações com seus próprios impulsos e suas próprias formações de pensamento. Neste particular, funcionam co-mo complexos; vão e vêm à vontade e, muitas vezes, dificultam ou modificam nossas intenções conscientes de maneira bastante perturbadora.

 

Pode-se perceber a energia específica dos arquétipos quando se tem ocasião de observar o fascínio que exercem. Parecem quase dotados de um feitiço especial. Qualidade idêntica caracte-riza os complexos pessoais; e assim como os complexos pessoais têm a sua história indivi - dual, também os complexos sociais de caráter ar-quetípico têm a sua. Mas enquanto os comple - xos individuais não produzem mais do que sin-gularidades pessoais, os arquétipos criam mitos, religiões e filosofias que influenciam e caracteri-zam nações e épocas inteiras. Consideramos os complexos pessoais compensações de atitudes unilaterais ou censuráveis da nossa consciência; do mesmo modo, mitos de natureza religiosa podem ser interpretados como uma espécie de terapia mental generalizada para os males e an-siedades que afligem a humanidade — fome, guerras, doenças, velhice, morte.

 

O mito universal do herói, por exemplo, re-fere-se sempre a um homem ou um homem - deus poderoso e possante que vence o mal, a-presentado na forma de dragões, serpentes, monstros, demônios, etc. e que sempre livra seu

 

povo da destruição e da morte. A narração ou re-citação ritual de cerimônias e de textos sagrados

 

  • o culto da figur a do herói , compre enden do danças, música, hinos, orações e sacrifícios, prendem a audiência num clima de emoções nu-minosas (como se fora um encantame nto mági-co), exaltand o o indivíduo até sua identific ação com o herói.

 

Se tentarmos ver este tipo de situação com olhos de crente talvez possamos compreende r como o homem comum pôde se liberta r da sua impotência e da sua miséria para ser contempla - do (ao menos temporari amente) com qualidade s quase sobre-humanas. Muitas vezes, uma con - vicção assim pode sustentá-lo por longo tempo e dar um certo estilo à sua vida. Poderá até mesmo caracter izar uma sociedade inteira. Temos um excepcional exemplo disto nos mistérios de Eleu-sis -, que foram por fim extintos no começo do século VII da era cristã. Expressavam, juntamen-te com o oráculo de Delfos, a essência e o espí-rito da antiga Grécia. Numa escala muito maior, a própria era cristã deve seu nome e sua signifi - cação ao velho mistério do homem-deus, cujas raízes procedem do mito arquetípico de Osíris e Orus, do antigo Egito.

 

Supõ e-se, habi tual mente , que numa oca-sião qualquer da época pré -histórica as idéias mitol ógica s funda mentais foram "inve ntada s" por algum sábio e velho filósofo ou profeta e, depois disso, então, "acredit adas" por um povo crédulo e pouco crítico. Diz-se também que his-tórias contadas por algum sacerdote ávido de po-der não são "verdades", mas simples "raciona-lizações de desejos". Entretanto, a própria pala-vra "inventar" deriva do latim invenire e signi-fica "enc ontr ar" e, porta nto, enco ntrar "pro cu -

 

 

 

 

 

A energia dos arquétipos pode ser concentrada (através de ritos e outros apelos à emoção das massas) com o objetivo de levar as pesso as a ações coletivas. Os nazistas sabiam disto e utilizavam diversas vers ões de mit os teutônicos para arre gimentar o povo para a sua causa. À extrema direita, um cartaz de propaganda retrata Hitler como um heróico cruzado. Ao lado , uma festa de solstício de verão, celebrada pela Juventude Hitleri sta - res surrei ção de uma antiga solenidade pagã.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao alto, desenho infantil sobre o Natal, incluindo a tradicional árvore enfeitada de velas. A árvore conífera está ligada a Cristo pelo simbolismo do solstício do inverno e do "ano novo" (a nova era da Cristandade).

 

Há muitas conexões entre Cristo e o símbolo da árvore: a cruz é muitas

 

vezes representada por uma árvore, como se vê no afresco medieval italiano, á esquerda, onde Cristo está crucificado na árvore da sabedoria. As velas, nas cerimônias de Natal, simbolizam a luz divina, como na festa sueca de Santa Lúcia (acima), onde as jovens usam coroas de velas iluminadas.

 

 

 

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rando". No segundo caso, a própria palavra su-gere uma certa previsão do que se vai achar.

 

Retornemos às estranhas idéias contidas nos sonhos da menina. Parece pouco provável que ela as tenha procurado já que se surpreendeu ao achá-las. É mais fácil que lhe tenham ocorrido apenas como histór ias bizarr as e inespe radas, que lhe pareceram importantes o bastante para que as desse de presente de Natal ao pai. Mas ao fazer isto, no entanto, ela as elevou à esfera do mistério cristão eterno — o nascimento do Se-nhor, associado ao segredo da árvore sempre ver-de, portadora da Luz que acaba de nascer (alusão ao quinto sonho).

 

Apesar de haver ampla evidência histórica na relação simbólica entre Cristo e a árvore, os pais da menininha haviam de ficar seriamente embaraçados se lhes perguntassem o que signifi-cava enfeitar uma árvore com velas para celebrar o nascimento de Cristo. "Ora, é apenas um cos-tume cristão!" teriam respondido. Uma resposta mais cuidada envolveria uma dissertação profun-da sobre o antigo simbolismo da morte de um deus e sua relação com o culto da Mãe Grande e seu símbolo, a árvore — isto para mencionar apenas um dos aspectos deste intrincado proble-ma.

 

Quan to mais pesq uisa mos as orig ens de uma "imagem coletiva" (ou, para nos expres-sarmos em linguagem eclesiástica, de um dog-ma) mais vamos descobrindo uma teia de esque-mas de arquétipos aparentemente interminável que, antes dos tempos modernos, nunca haviam sido objeto de qualquer reflexão mais séria. As-sim, paradoxal mente, sabemos mais a respeito de símbolos mitológicos que qualquer outra das gerações que nos precederam. A verdade é que os homens do passado não pensavam nos seus símbolos. Viviam-nos, e eram inconscientemente estimulados pelo seu significado.

 

Posso dar como exemplo uma experiência que tive com tribos primitivas do Monte Elgon, na África. Todos os dias, ao amanhecer , saem das suas cabanas, sopram ou cospem nas mãos e as erguem em direção aos primeiros raios do sol, como se estivessem oferecendo o seu sopro ou a sua saliva ao deus nascente — mungu. (Este termo do dialeto swahili, usado para explicar um ato ritual, deriva de uma raiz polinésica equivalente a mana ou mulungu . Esta e outras palavras semelhantes designam um ''poder'' de extra ord iná ria efi các ia e pene tra ção, a que

 

poderíamos chamar divino. Assim, a palavra mungu equi vale ao nosso Deus ou a Alá.) Quan do lhes perguntei qual o sentido deste ato e por que o praticava m, ficaram totalmente confusos. Só sab iam resp onde r: "Se mpre fize mos assi m. Sempre se faz isto quando o sol se levanta." Riram-se qua ndo conc luí que o sol

 

  • mung u. O sol, na verdade, não é mungu quando está acima da linha do hori zonte . Mung u é, preci samen te, o nascer do sol.

 

O sentid o do que fazia m estava claro para mim, mas não para eles. Simple smente pratic a - vam aquele ato sem nunca refleti r a respeito. E, port anto , não cons eguia m expl icá -lo. Concl uí que oferecia m suas almas a mungu , porque o so-pro (da vida) e a saliva significa m "a substânci a da alm a". Sop rar ou cus pir em alg uma coi sa tem um efe ito "mág ico" como , por exe mplo , quand o Crist o utili zava a sua saliva para curar um cego ou quan do um filh o aspi ra o últi mo hausto do pai agonizante para, assim, receber a alma paterna. É pouco provável que esses africa - nos, mesmo num passado remoto, soubessem al - guma coisa sobre a significação daquela cerimô - nia. E, com certeza, seus antepassados ainda de-viam saber menos.

 

O Faust o de Goethe diz muito acert ada - ment e: "In Anf ang war die Tat " (No com eço era o ato). "Atos" nunca foram invent ados, fo - ram feitos. Já os pensamentos são uma descober - ta relat ivamen te tardi a do homem. Pri meiro ele foi levado, por fatores inconscientes, a agir; só muit o temp o depo is é que come çou a refl etir sobre as causas que motivaram a sua ação. E gas - tou muito mais tempo ainda para chega r à idéia absurda e disparatada de que ele mesmo se devia ter motiv ado, desde que seu espírito era incapaz de identif icar qualqu er outra força motriz senão a sua própria.

 

A idéia de uma plant a ou de um animal se inventa rem a si própri os nos faz rir; no entant o, muit a gente acred ita que a psiqu e, ou a mente ,

 

inventa ram-se a elas mesmas e foram, portant o, o seu próprio criador. Na verdade, a nossa mente desenvolve u-se até o seu atual estado de cons - ciência da mesma forma por que a glande se tor-na um carvalho e os sáurios mamíferos. Da mes-ma maneira que se desenvo lveu por muito tem-po, continua ainda a desenvolve r-se e assim so-mos conduzidos por forças interiores e estímulos exteriores.

Est as for ças int eri ore s pro ced em de uma

 

 

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fonte profun da que não é alimen tada pela cons - ciência nem está sob seu controle . Na mitologia antiga chamavam-se a essas forças mana, ou es-píritos, demônios e deuses. Estão tão ativos hoje em dia como no passado. Se se ajustam aos nos-sos desejos, falamos em boa sorte ou inspiração feliz, e congrat ulamo-nos por sermos "pesso as tão sabidas". Se as forças nos são desfavoráveis referimo-nos à nossa pouca sorte, dizemos que alguém está contra nós ou que a causa dos nossos infortúnios deve ser patológica, etc. A única coi-sa que nos recusa mos a admitir é que depende - mos de ''forças" que fogem ao nosso controle.

 

  • verdad e, no entant o, que nestes últimos tempos o homem civiliza do adquiriu certa dose de força de vonta de que pode aplic ar onde lhe parecer melhor. Aprendeu a realizar eficiente-mente o seu trabalho sem precisar recorrer a cân-ticos ou batuque s hipnóti cos. Consegu e mesmo dispensar a oração cotidiana em busca de auxílio

 

divino. Pode executar aquilo a que se propõe e, aparentemente, traduzir suas idéias em ação sem maiores obstácul os, enquant o o homem primiti - vo parece estar a cada passo, tolhido por medos, superstições e outras barreiras invisíveis. O lema "quere r é poder" é a superst ição do homem modern o.

 

Para sustentar esta sua crença, no entanto, o homem contemporâne o paga o preço de uma in-crível falta de introspecção. Não consegue perce-ber que, apesar de toda a sua racionalização e to-da a sua eficiênci a, continua possuído por "for-ças" fora do seu cont role . Seus deus es e de-môn ios abs ol uta men te não des apa re cer am; têm, apenas, novos nomes. E o conservam em cont ato ínti mo com a inqu ietu de, com apre en-sões vagas, com complicações psicológicas, com uma insaciável necessidade de pílulas, álcool, fumo , ali ment o e, aci ma de tud o, com uma enorme coleção de neuroses.

 

Dois exemplos de crença nas propriedades "mágicas" do sopro: á

 

esquerda, um feiticeiro zulu cura um paciente soprando dentro do seu ouvido

através de um chifre de boi (para

 

afastar os espíritos); ao lado, uma pintura medieval sobre a criação mostra

Deus insuflando vida em Adão. Á

 

direita, pintura italiana do século Xlll onde Cristo cura um cego com saliva

 

— que, tal como o sopro, foi considerada durante muito tempo capaz de dar vida.

 

 

        Jung chama aos arquétipos de instintos e os instintos de percepções, mas Mattanó chama os arquétipos de formações do inconsciente, formações instintivas que nada tem de relação com a consciência, a não ser o motivo para desencadear suas respostas inconscientes e arquetípicas. Os arquétipos são construções da nossa mente inconsciente que prevalecem sobre a psique individual e sobre o meio ambiente, inclusive sendo desencadeados em forma de diversas línguas, mas com o mesmo significado e o mesmo sentido, com o mesmo conceito, variando à consciência e a realidade, mas não ao prazer.

(MATTANÓ; 17/07/2022).

       

            Para Jung a psique não desconhece os vestígios da nossa evolução e eles aparecem em nossos sonhos, avisando-nos, por exemplo, de desastres, tragédias e da morte. Para Mattanó a psique é produto da evolução e carrega consigo os vestígios dela, tanto funcionalmente, quanto fisiologicamente, morfologicamente e comportamentalmente, pois herdamos estas características de nossos antepassados e de nossos ancestrais que foram se descobrindo e tendo a experiência dos sonhos em meio a tragédias, desastres e mortes sem explicações, mas que com o conhecimento e a sabedoria adquiriram outro significado e outro sentido, tornando-se janela do mundo inconsciente para o mundo consciente e comportamental.

(MATTANÓ; 17/07/2022).

 

            Os sonhos servem para prognóstico e para nos avisar de alguma doença, conforme seus significados e sentidos e sua simbologia.

            Os arquétipos servem para criar mitos, civilizações e nações, conforme seus significados e sentidos, conceitos, contextos, comportamentos e relações, e suas simbologias.

(MATTANÓ; 17/07/2022).

 

            Os arquétipos foram construídos através dos seus significados e dos seus sentidos ao longo da história evolutiva do Homo Sapiens.

(MATTANÓ; 17/07/2022).

 

 Mattanó aponta que o sonho é um processo psíquico e neurológico normal, que transmite à consciência reações e informações inconscientes ou impulsos espontâneos e involuntários. Que os sonhos são interpretados com o auxílio do sonhador que providencia todas as associações e explorações. Mas que existem casos onde aparecem ¨resíduos arcaicos¨, que são formas primitivas e inatas que representam uma herança do espírito humano, da nossa ancestralidade e dos nossos antepassados. Que os sonhos e os resíduos arcaicos têm um ou, geralmente, mais de um, significado, sentido, conceito, contexto, comportamento, funcionalidade, simbologia, topografia, linguagem, relações sociais, gestalt, insight, pensamento e conteúdo de véspera, desejos e desejo de dormir, história de vida,  conteúdo manifesto, conteúdo latente, conclusão e interpretação final.

(Mattanó: 28/04/2019).

 

 Mattanó aponta que o ser humano possui desde o início de seu processo evolutivo uma mente animal e que foi se tornando próxima à dos animais, ou seja, uma mente primitiva que evoluiu e se torna progressivamente, por meio da evolução, próxima dos animais e nunca distante ou diferente da mente dos animais em termos científicos. O que nos torna próximos psicológicamente aos animais é justamente a mente e as faculdades psíquicas conscientes e inconscientes, coletivas e individuais, e de desenvolvimento da personalidade.

(Mattanó; 29/04/2019).

 

 Mattanó aponta que os arquétipos fazem parte da mente coletiva de todos nós, são imagens simbólicas que se repetem em qualqer época e lugar do mundo, sem explicação genética ou nem pela aprendizagem, nem através da psicosexualidade  e nem pelo condicionamento.

(Mattanó; 29/04/2019)

 

Mattanó aponta que muitas vezes os sonhos causam aflição, medo, dor psicológica, terror, angústica, pânico tanto no conteúdo manifesto e nada podemos fazer, como no conteúdo latente e na interpretação do sonho, nos pensamentos do sonho e o que podemos fazer é a dessensibilização do sonho, compreendendo que não devemos interpretá-lo literalmente, não devemos manter sobre ele um controle e nem dar razões sobre ele, mas compreender o contexto, isto é, que era um sonho e que você estava dormindo, e então deixar a sonho ¨passar¨ como um desfile militar com soldados que passam por você e vão e vão e vão cada vez mais e mais longe de você, até que você não se vê mais sobre a influência ou domínio desse sonho. Se você não tiver como analisá-lo esta pode ser a melhor prática para lidar com os sonhos em geral, não somente com os que causam sofrimento.

(Mattanó; 29/04/2019).

 

 

Mattanó mostra que a produção de arquétipos tem outra função muito importante, a de educar as crianças, os deficientes, os psicóticos, os neuróticos,  os transtornados, os adultos e os idosos, os doentes, os internados em hospitais e manicômios, os que correm perigo, etc., cada ser humano em situações onde o herói seja ele, e em que condição bio-psico-social estiver, pois a figura do herói existe há tempos e a tradição fez dele um arquétipo que facilita, desencadeia e opera mudanças e aprendizagem comportamental, psicológica e social, oferecendo as  regras do jogo conforme a tradição, como nos rituais de iniciação, de passagem, de casamento e de morte.

(Mattanó; 29/04/2019).

  

Mattanó acrescenta que as crianças em seus sonhos apresentam o que aprenderam associado  a sua criatividade imprevisível dos sonhos e das próprias crianças, pois não há nenhum conhecimento formado tradicionalmente na mente e no inconsciente pessoal das crianças.

(Mattanó; 28/05/2019).

 

Mattanó aponta que os sonhos mostram a aprendizagem das crianças, seus valores morais e o conflito deles com sua base biológica sexual, que para Mattanó é o motivo para o conflito no mundo real, onírico e simbólico da criança que sugere uma relatividade de valores morais, pois ela só adquirirá uma certa relatividade dos valores morais a partir dos 10 anos de idade quando passar pelo período de construção da cognição que lhe facultará comportamento para relativizar moralmente de forma hipotética e dedutiva e também após os 10 anos quando ela passar pela fase da autonomia moral que lhe possibilitará independeência para significar, dar sentido, conceituar e contextualizar moralmente seus valores em tranformação moral.

(Mattanó; 28/05/2019).

 

 

Mattanó aponta que a mente e os arquétipos que podem ou não serem incorporados a experiência pessoal e coletiva, desde que mantenham-se conscientes e num espaço psíquico e comportamental lúdico, pois é através do lúdico que podemos lidar com o niilismo no processo de individuação e assim experimentarmos uma total ausência de significados e de sentidos em nossas representações, relações, arquétipos e em nosso processo de individuação, sobretudo que hoje, através das artes, do cinema introjetamos  arquétipos com novos significados e novos sentidos, que não escolhemos, pois não conhecemos a trama dos filmes e os introjetamos em nosso processo de individuação, como por exemplo, em filmes de super-heróis e alienígenas onde nossa experiência psíquica se vê em ¨trevas¨ e orgulhosa das proezas e maravilhas comportamentais desses personagens, a saída para lidar com isto é o niilismo!

(Mattanó; 05/04/2020).

 

Mattanó aponta que o sonho não tem apenas valores morais ou lúdicos, mas também afetivos e xamãnicos, que aborda o tema da morte, da ressurreição ou restituição, da origem do mundo e da gênese, da criação do mundo e do homem, da criação da vida e da relatividade dos valores e que eles quando interpretados num nível pessoal representam uma invencível dificuldade ministrada pelos poderes do coletivo e das imagens coletivas coletadas, por exemplo, através das experiências das tribos primitivas. Foi a partir daqui que se originou e se desenvolveu o processo de atribuir significado, sentido, conceito, comportamento, funcionalidade, simbologia, topografia, linguagem, relações sociais, Gestalt, insights, sonhos e interpretações dos sonhos, efeito despertador do sonho, dramatização e ritualização, mitificação, historicidade, história de vida, de grupo e de coletividade, pressupostos e subentendidos, conclusão e interpretação final dos sonhos e finalmente, cura através dos sonhos.

(Mattanó; 05/04/2020).

 

 Mattanó aponta que assim como a vida o sonho é tão curto quando ela e retrata a vida e a morte, inclusive a ressurreição e os rituais de sacrifício e de transformação da morte em vida, por exemplo, os sonhos com Igrejas, pois a tradição histórica, religiosa e filosófica, antropológica e psicológica trata e retrata a vida e a morte a partir de diversas especulações que os sonhos lançam no seu curto espaço de manifestação onírica e de vida para a elaboração e cura dos traumas da vida e da morte.

(Mattanó; 05/04/2020).