149.ALÉM DO ETNOCENTRISMO!

 

Osny Mattanó Júnior

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ALÉM DO

 

ETNOCENTRISMO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

20/05/2021

 

 

 

 

 

ÍNDICE

 

 

 

 

Pensando no caminho

 

Primeiros passos

 

                                         Ingressando numa...                                               

                                                      Asas te darei

 

O retorno

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PENSANDO NO CAMINHO

 

 

 

Além do Etnocentrismo, o Amor e a Cultura, é uma visão de mundo onde você tem uma voz que te leva para instâncias inferiores, direto para a infância, através do recalque, manifestado com o complexo de Édipo onde a moral finaliza o seu papel libidinal e estrutura a sua vontade enquanto desejo, porém persiste seu caminho até a autonomia depois de passar pela anomia e pela heteronomia moral. É uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência, existência pautada na experiência infantil reavivada na vida adulta. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas, pois nossas vidas constroem e elaboram as nossas sociedades através da aprendizagem, da cultura, da libido, da comunhão e da segurança. Pensar no caminho do etnocentrismo é pensar nesta trajetória construída sócio-econômicamente e na vida das pessoas.

 

Assim, a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós, pois temos que descobrir as suas relações com o passado infantil e suas histórias de vidas. Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade.

 

Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. Devemos ter em mente que estas diferenças comportamentais e sociais, rituais, devem-se ao aprendizado e a socialização, a educação e a experiência infantil de seus membros que partilham e reforçam os mesmos significados e sentidos, conceitos e contextos, comportamentos e funcionalidades, simbologias, linguagem, relações sociais, topografias, gestalts e insights, chistes, fantasias, sonhos e desejos, atos falhos, esquecimentos, pressupostos e subentendidos, arquétipos, afetividade, espiritualidade, genes, imunidade, homeostase, fenótipo e genótipo, inconsciente, conclusões e modos de realizar interpretações.                                                                        

 

Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. Grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural. O monólogo etnocêntrico pode, pois, seguir um caminho lógico mais ou menos assim: Como aquele mundo de doidos pode funcionar? Espanto! Como é que eles fazem? Curiosidade perplexa? Eles só podem estar errados ou tudo o que eu sei está errado! Dúvida ameaçadora?! Não, a vida deles não presta, é selvagem, bárbara, primitiva! Decisão hostil! Ir além do etnocentrismo é compreender o Amor e a Cultura, suas raízes e ramificações, de um povo primitivo ou avançado, ou até mesmo contemporâneo e descobrir as ligações com a infância, com os valores que foram gerados e vividos durante a vida infantil, sem desmerecer a ingenuidade das crianças que nada compreendem de sexo e de violência, nem tampouco de trabalho e de responsabilidade.

 

O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. Este processo resulta num considerável reforço da identidade do “nosso” grupo. No limite, algumas sociedades chamam-se por nomes que querem dizer “perfeitos”, “excelentes” ou, muito simplesmente, “ser humano” e ao “outro”, ao estrangeiro, chamam, por vezes, de “macacos da terra” ou “ovos de piolho”. De qualquer forma, a sociedade do “eu” é a melhor, a superior. representada como o espaço da cultura e da civilização por

excelência. É onde existe o saber, o trabalho, o progresso. A sociedade do “outro” é atrasada. E o espaço da natureza. São os selvagens, os bárbaros. São qualquer coisa menos humanos, pois, estes somos nós. O barbarismo evoca a confusão, a desarticulação, a desordem. Tanto o civilizado quanto o bárbaro ou atrasado evocam experiências infantis em seu seio, em seu desenvolvimento, no lidar com seu próprio corpo e com a educação e os semelhantes numa ingenuidade que se descobre e se desenvolve a desconstruí-la para formar a moral do adolescente, a moral autônoma que continua se desenvolvendo por toda a vida através da aprendizagem.

 

O selvagem é o que vem da floresta, da selva que lembra, de alguma maneira, a vida animal. O “outro” é o “aquém” ou o “além”, nunca o “igual” ao “eu”. O selvagem e o ¨outro¨ evocam experiências infantis que desencadeiam respostas no ¨eu¨ levando a acreditar que ele é diferente do ¨outro¨ ou do selvagem, num retrato do passado infantil quando a criança entra em contato com outras crianças e sente estranheza.

 

O que importa realmente, neste conjunto de idéias, é o fato de que, no etnocentrismo, uma mesma atitude informa os diferentes grupos. O etnocentrismo não é propriedade, como já disse, de uma única sociedade, apesar de que, na nossa, revestiu-se de um caráter ativista e colonizador com os mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de outros povos. Ir além do etnocentrismo, com Amor e Cultura é abandonar o comportamento de conquista e destruição dos outros povos e pessoas diferentes, mas é adotar uma postura de acolhimento, de Amor para com o ¨outro¨ e sua cultura sem destruí-la.

 

A atitude etnocêntrica tem, por outro lado, um correlato bastante importante e que talvez seja elucidativo para a compreensão destas maneiras exacerbadas e até cruéis de encarar o “outro”. Existe realmente, paralelo à violência que a atitude etnocêntrica encerra, o pressuposto de que o “outro” deva ser alguma coisa que não desfrute da palavra para dizer algo de si mesmo.

 

Creio que é necessário examinar isto melhor e vou fazê-lo através de uma pequena estória que me parece exemplar.

 

Ao receber a missão de ir pregar junto aos selvagens um pastor se preparou durante dias para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho de evangelização e catequese. Muito generoso, comprou para os selvagens contas, espelhos, pentes, etc.; modesto, comprou para si próprio apenas um moderníssimo relógio digital capaz de acender luzes, alarmes, fazer contas, marcar segundos, cronometrar e até dizer a hora sempre absolutamente certa, infalível. Ao chegar, venceu as burocracias inevitáveis e, após alguns meses, encontrava-se em meio às sociedades tribais do Xingu distribuindo seus presentes e sua doutrinação. Tempos depois, fez-se amigo de um índio muito jovem que o acompanhava a todos os lugares de sua pregação e mostrava -se admirado de muitas coisas, especialmente, do barulhento, colorido e estranho objeto que o pastor trazia no pulso e consultava freqüentemente. Um dia, por fim, vencido por insistentes pedidos, o pastor perdeu seu relógio dando-o, meio sem jeito e a contragosto, ao jovem índio.

 

A surpresa maior estava, porém, por vir. Dias depois, o índio chamou-o apressadamente para mostrar-lhe, muito feliz, seu trabalho. Apontando seguidamente o galho superior de uma árvore altíssima nas cercanias da aldeia, o índio fez o pastor divisar, não sem dificuldade, um belo ornamento de penas e contas multicolores tendo no centro o relógio. O índio queria que o pastor compartilhasse a alegria da beleza transmitida por aquele novo e interessante objeto. Quase indistinguível em meio às penas e contas e, ainda por cima, pendurado a vários metros de altura, o relógio, agora mínimo e sem nenhuma função, contemplava o sorriso inevitavelmente amarelo no roso do pastor. Fora-se o relógio.

 

Passados mais alguns meses o pastor também se foi de volta para casa. Sua tarefa seguinte era entregar aos superiores seus relatórios e, naquela manhã, dar uma última revisada na comunicação que iria fazer em seguida aos seus colegas em congresso sobre evangelização. Seu tema: “A catequese e os selvagens”. Levantou-se, deu uma olhada no relógio novo, quinze para as dez. Era hora de ir. Como que buscando uma inspiração de última hora examinou detalhadamente as paredes do seu escritório. Nelas, arcos,

flechas, tacapes, bordunas, cocares, e até uma flauta formavam uma bela decoração. Rústica e sóbria ao mesmo tempo, trazia-lhe estranhas lembranças. Com o pé na porta ainda pensou e sorriu para si mesmo. Engraçado o que aquele índio foi fazer com o meu relógio.

 

Esta estória, não necessariamente verdadeira, porém, de toda evidência, bastante plausível, demonstra alguns dos importantes sentidos da questão do etnocentrismo.

 

Em primeiro lugar, não é necessário ser nenhum detetive ou especialista em Antropologia Social (ou ainda pastor) para perceber que, neste choque de culturas, os personagens de cada uma delas fizeram, obviamente, a mesma coisa. Privilegiaram ambos as funções estéticas, ornamentais, decorativas de objetos que, na cultura do “outro”, desempenhavam funções que seriam principalmente técnicas. Para o pastor, o uso inusitado do seu relógio causou tanto espanto quanto o que causaria ao jovem índio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e flecha. Cada um “traduziu” nos termos de sua própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original foi forjado na cultura do “outro”. O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”.

 

Em segundo lugar, esta estória representa o que se poderia chamar, se isso fosse possível, de um etnocentrismo “cordial”, já que ambos – o índio e o pastor – tiveram atitudes concretas sem maiores conseqüências. No mais das vezes, o etnocentrismo implica uma apreensão do “outro” que se reveste de uma forma bastante violenta. Como já vimos, pode colocá -lo como “primitivo”, como “algo a ser destruído”, como “atraso ao desenvolvimento”, (fórmula, aliás, muito comum e de uso geral no etnocídio, na matança dos índios).

 

Assim, por exemplo, um famoso cientista do início do século, Hermann von Ihering, diretor do Museu Paulista, justificava o extermínio dos índios Caingangue por serem um empecilho ao desenvolvimento e à colonização das regiões do sertão que eles habitavam. Tanto no presente como no passado, tanto aqui como em vários outros lugares, a lógica do extermínio regulou, infinitas vezes, as relações entre a chamada “civilização ocidental” e as sociedades tribais. Isso lembra o comentário, tristemente exemplar, de uma criança, de um grande centro urbano, que, de tanto ouvir absurdos sobre o índio, seja em casa, seja nos livros didáticos, seja na indústria cultural, acabou por defini-los dizendo: “o índio é o maior amigo do homem”.

 

Em terceiro lugar, a estória ainda ensina que o “outro” e sua cultura, da qual falamos na nossa sociedade, são apenas uma representação, uma imagem distorcida que

 

  • manipulada como bem entendemos. Ao “outro” negamos aquele mínimo de autonomia necessária para falar de si mesmo. Tudo se passa como se fôssemos autores de filmes e livros de ficção científica onde podemos falar e pensar o quanto é cruel, grotesca e monstruosa uma civilização de marcianos que capturou nosso foguete. Também, porque somos os autores destes filmes e livros, nada nos impede de criarmos um marciano simpático, inteligente e super-poderoso que com incrível perícia salva a Terra de uma colisão fatal com um meteoro gigante. Claro, como o marciano não diz nada, posso pensar dele o que quiser.

 

Assim, de um ponto de vista do grupo do “eu”, os que estão de fora podem ser brabos e traiçoeiros bem como mansos e bondosos. Aliás, “brabos e “mansos” são dois termos que muitas vezes foram empregados no Brasil para designar o “humor” de determinados animais e o “estado” de várias tribos de índios ou de escravos negros.

A figura do louco, por exemplo, na nossa sociedade, é manipulada por uma série de representações que oscilam entre estes dois pólos, sendo denegrida ou exaltada – como o marciano – ao sabor das intenções que se tenha. Isto não só ao longo da história, mas também em diferentes contextos no presente. A expressão “fulano é muito louco” pode ser elogiosa em certos casos e pejorativa em outros. Em alguns momentos da história o louco foi acorrentado e torturado, em outros, foi feito portador de uma palavra sagrada e respeitada.

 

Aqueles que são diferentes do grupo do eu – os diversos “outros” deste mundo – por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela ótica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos. Sou louco mas quem não é? Sou diferente mas quem não é? Sou igual mas quem não é? Sou doente mas quem não é? Sou saudável mas quem não é? Para saber o que você é depende da análise do cientista ou do pesquisador! Ninguém tem autonomia neste mundo, todos nós vivemos vigiados, ou seja, não sabemos quem somos, poucos sabem quem realmente são! Eu sou como uma Hóstia Viva ou uma célula viva que se transforma milagrosamente e age pela consciência através da atenção e da intenção deixando de se importar com a literalidade, as razões e o controle, ou seja, o comportamento, a funcionalidade e o inconsciente, os significados e os sentidos, o S – R – C, estímulo – resposta – consequência, simbologia, contextos, de modo a compreender a vida pela eternidade e pelo tempo, onde nada se perde e nada se ganha, pois tudo se transforma na Criação, ou seja, é na consciência que o indivíduo deslumbra a eternidade e o tempo e se transforma na Criação!

 

PT.2

 

 

Na nossa chamada “civilização ocidental”, nas sociedades complexas e industriais contemporâneas, existem diversos mecanismos de reforço para o seu estilo de vida através de representações negativas do “outro”. O caso dos índios brasileiros é bastante ilustrativo, pois alguns antropólogos estudiosos do assunto já identificaram determinadas visões básicas, determinados estereótipos, que são permanentemente aplicados a estes índios,  contudo podemos determinar suas diferenças a partir do genótipo e do fenótipo, do meio ambiente, do contexto e da história de vida que geram através da ontogênese, raíz da filogênese que gera a cultura e a espiritualidade através da vida e do universo. É a ontogênese quem determina as experiências infantis através da filogênese que se transforma em cultura e em educação familiar, marcando o crescimento das crianças e o seu desenvolvimento marcado pela ingenuidade e pela fragilidade diante do homem e da mulher que tem malícia em seus comportamentos, mas a criança não a tem, e por isso ocorrem crimes e violência contra as crianças e as famílias em todo o mundo através do contato do adulto com as crianças, seja por meio da cultura, da educação, da segurança, da ciência, do trabalho, dos esportes, da justiça, da saúde, da escola, das instituições, das comunicações, do comércio, da administração pública e privada, do marketing e da propaganda, das artes, da música, do cinema, da televisão, das novelas, da fotografia, do rádio, do jornal, das revistas, das mensagens em bilhetes, da fofoca, do dinheiro e do capital, dos modos de gestão, do capitalismo e do socialismo, da política, da materialidade, da fama, do poder, do sexo, da pornografia, da sedução, da Igreja, do Estado, das comunidades, das favelas, da pobreza e da miséria, da riqueza, do saber e do conhecimento, da ignorância e da doença, da saúde e dos transtornos mentais que contribuem para mascarar a violência oferecendo uma outra face da violência, uma violência doente e transtornada onde o doente está impotente e incapaz de se organizar e reorganizar, mas não porque buscou esse comportamento, mas porque foi vítima de violência e de malícia e essa doença é a expressão dessa experiência infantil vivida ou imaginada, sonhada ou desejada intensamente, muito ou pouco que produziu marcas em sua mente inconsciente e em seu mapa cognitivo, marcando um caminho cognitivo ao qual responderá ao encontrar os rastrores determinantes para a sua resposta. Sua organização e reorganização, ou entropia e neguentropia marcará sua consciência e sua transformação em movimento devido a atenção e a intenção oriundas da eternidade e do tempo que desenvolvem noção de imortalidade e de vida e morte, ou de vida após a morte e de vida e morte que produzem a noção de existência e de essência no ser humano, donde ele extrai sua natureza e sua localização no mundo e no universo para se comportar como uma Hóstia Viva ou uma célula viva que tudo transforma através do milagre da renúncia ao controle, a literalidade e as razões e ao contexto e dos significados e dos sentidos, conceitos, funcionalidades e comportamentos, inconscientes, arquétipos, conclusões e interpretações para exercer sua liberdade para viver e sua liberdade para aprender e ensinar a viver.

 

PT.3

 

 

Os livros didáticos, em função mesmo do seu destino e de sua natureza, carregam um valor de autoridade, ocupam um lugar de supostos donos da verdade. Sua informação obtém este valor de verdade pelo simples fato de que quem sabe seu conteúdo passa nas provas. Nesse sentido, seu saber tende a ser visto como algo “rigoroso”, “sério” e “científico”. Os estudantes são testados, via de regra, em face do seu conteúdo, o que faz com que as informações neles contidas acabem se fixando no fundo da memória de todos nós. Com ela se fixam também imagens extremamente etnocêntricas.

 

Alguns livros colocavam que os índios eram incapazes de trabalhar nos engenhos de açúcar por serem indolentes e preguiçosos. Ora, como aplicar adjetivos tais como “indolente” e “preguiçoso” alguém, um povo ou uma pessoa, que se recuse a trabalhar como escravo, numa lavoura que não é a sua, para a riqueza de um colonizador que nem sequer é seu amigo: antes, muito pelo contrário, esta recusa é, no mínimo, sinal de saúde mental.

 

Outro fato também interessante é que um número significativo de livros didáticos começa com a seguinte informação: os índios andavam nus. Este “escândalo” esconde, na verdade, a nossa noção absolutizada do que deva ser uma roupa e o que, num corpo, ela deve mostrar e esconder. A estória do nosso amigo missionário serviu para a constatação das dificuldades de definir o sentido de um objeto – o relógio ou o arco – fora dos seus contextos culturais. Da mesma maneira, nada garante que os índios andem nus a não ser a concepção que eles mesmos teriam de nudez e vestimenta.

 

Assim, como o “outro” é alguém calado, a quem não é permitido dizer de si mesmo, mera imagem sem voz, manipulado de acordo com desejos ideológicos, o índio é, para o livro didático, apenas uma forma vazia que empresta sentido ao mundo dos brancos. Em outras palavras, o índio é “alugado” na História do Brasil para aparecer por três vezes em três papéis diferentes.

 

O primeiro papel que o índio representa é no capítulo do descobrimento. Ali, ele aparece como “selvagem”, “primitivo”, “pré-histórico”, “antropófago”, etc. Isto era para mostrar o quanto os portugueses colonizadores eram “superiores” e “civilizados”.

 

O segundo papel do índio é no capítulo da catequese. Nele o papel do índio é o de “criança”, “inocente”, “infantil”, “almas-virgens”, etc., para fazer parecer que os índios é que precisavam da “proteção” que a religião lhes queria impingir.

 

O terceiro papel é muito engraçado. E no capítulo “Etnia brasileira”. Se o índio já havia aparecido como “selvagem” ou “criança”, como iriam falar de um povo – o nosso

 

– formado por portugueses, negros e “crianças” ou um povo formado por portugueses, negros e “selvagens”? Então aparece um novo papel e o índio, num passe da mágica etnocêntrica, vira “corajoso”, “altivo”, cheio de “amor à liberdade”.

 

Assim são as sutilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo. Os exemplos se multiplicam nos nossos cotidianos. A “indústria cultural” – TV, jornais, revistas, publicidade, certo tipo de cinema, rádio – está freqüentemente fornecendo exemplos de etnocentrismo. No universo da indústria cultural é criado sistematicamente um enorme conjunto de “outros” que servem para reafirmar, por oposição, uma série de valores de um grupo dominante que se auto-promove a modelo de humanidade.

 

O etnocentrismo  está hoje na televisão e na análise jornalística e judiciária por parte de quem criou este procedimento de análise e investigação por meio de telepatia, sem exames médicos, clínicos, de personalidade (a Psicóloga do CAPS de 2001 que me atendia em seu consultório queria me aplicar o exame Roscharch mas resolveu não aplicar pois ficou com algum temor, não sei de quê?), de inteligência, de memória, de concentração, de atenção, de percepção, de motivação, de habilidades, do caso de Osny Mattanó Júnior, pois através da televisão como um indivíduo problemático que o judiciário não julgou assim, mas apenas como incapaz de trabalhar, para saber se eu sou incapaz de trabalhar segundo a Psicologia devemos aplicar exames que nos indicarão com maior precisão como é a personalidade, o comportamento e como são e estão as  habilidades e capacidades motivacionais e motoras do investigado, eu já escrevi mais de 1000 livros e fiz mais de 10000 músicas e sou incapaz de trabalhar? Eu fui torturado na UEL e fui vítima de tentativas de estupro e de roubo, então surtei e fiquei doente, mas não me vejo incapaz de trabalhar e de aprender coisas novas, não sei! Para mim isto é etnocentrismo! Me julgam a partir dos seus valores e não compreendem os meus valores e qualidades, potencialidades e habilidades, distorcem a minha vida e a minha realidade desde criança por causa de preconceito ou conceitos pré-concebidos e de etnocentrismo!

MATTANÓ
        (04/06/2021)

 

PT. 4

 

Nossas próprias atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos nas grandes cidades são, muitas vezes, repletas de resquícios de atitudes etnocêntricas. Rotulamos e aplicamos estereótipos através dos quais nos guiamos para o confronto cotidiano com a diferença. As idéias etnocêntricas que temos sobre as “mulheres”, os “negros”, os “empregados”, os “paraíbas de obra”, os “colunáveis”, os “doidões”, os “surfistas”, as “dondocas”, os “velhos”, os “caretas”, os “vagabundos”, os gays e todos os demais “outros” com os quais temos familiaridade, são uma espécie de “conhecimento” um “saber”, baseado em formulações ideológicas, que no fundo transforma a diferença pura e simples num juízo de valor perigosamente etnocêntrico.

 

Mas, existem idéias que se contrapõem ao etnocentrismo. Uma das mais importantes é a de relativização. Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando. Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta mas no contexto em que acontece: estamos relativizando. Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença.

 

Mattanó criou a dessensibilização através da Teoria da Abundância de Mattanó, para ir além da relativização que se contrapõe ao etnocentrismo. Pela Teoria da Abundância de Mattanó o indivíduo não faz etnocentrismo e nem relativiza coisa alguma, ele apenas dessensibiliza as coisas através da compreensão de que ele é a sua consciência que é motivada pela sua atenção e intenção que são movidas pela eternidade e pelo tempo, essa consciência não segue regras ou contingências, não se deixa influenciar e nem se dominar por controle, razões e literalidade, significados, sentidos, conceitos, contextos, comportamentos, funcionalidades, simbologias, linguagens, topografias, gestalts e insights, relações sociais, sonhos, atividades, espiritualidade, afetividade, história de vida, chistes, fantasias, pressupostos e subentendidos, atos ilocucionários e atos perlocucionários, piadas e humor, atos falhos, esquecimentos, inconscientes, arquétipos, interpretações, história de vida, mas se vê como uma Hóstia Viva ou uma célula viva que age milagrosamente através da sua consciência promovendo liberdade para se adaptar e transformar a realidade e para aprender a se adaptar e transformar a realidade, sem exercer influência e controle do S – R – C, estímulo – resposta – consequência, funcionalidade, comportamento e inconsciente, nem mesmo influência e controle da condensação do inconsciente este indivíduo sofrerá, pois estará livre para exercer sua própria consciência que é motivada pela atenção e pela intenção, pela eternidade e pelo tempo.

(MATTANÓ)

(16/07/2021)

 

PT.5